ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS BRASIL: IPCA registra 11,9% no acumulado de doze meses até junho

ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

BRASIL: IPCA registra 11,9% no acumulado de doze meses até junho 

MUNDO: Fed e ECB compartilham preocupação com inflação ainda pressionada

 

No cenário internacional, o destaque foi a divulgação dos dados de mercado de trabalho e da publicação da ata de política monetária dos Estados Unidos. De forma geral, o comunicado do Federal Reserve reforçou a necessidade de novo aumento de juros em 50 ou 75 pb diante do ambiente de inflação pressionada e do aquecimento do mercado de trabalho. A ata do Banco Central Europeu indicou que o ajuste da política monetária deverá ter início com elevação de 25 pb na próxima reunião (dia 21 deste mês), mantendo a possibilidade de aceleração do passo caso não haja melhora das perspectivas para a inflação. Por último, na China, as atenções se voltaram novamente para a possibilidade de novos fechamentos de grandes cidades, com o aumento de casos na região de Xangai e em outras províncias mais afastadas avançando de forma considerável. Por outro lado, no cenário doméstico, as atenções do mercado se voltaram para a publicação dos dados de inflação do mês de junho e da retomada da divulgação pelo Banco Central do Brasil das expectativas do mercado no relatório Focus. A mediana das projeções para a inflação de 2022 e 2023 estão em 7,96% e 5,01%, respectivamente, e seguem superando a banda superior da meta de inflação.

A inflação medida pelo IPCA registrou variação de 0,67% em junho, acumulando 11,89% em 12 meses. O resultado ficou em linha com nossa projeção (0,68%) e abaixo da mediana do mercado (0,71%). A principal surpresa baixista ficou por conta de bens administrados, com recuo de Gasolina (-0,72%) e Energia Elétrica (-1,07%), ambos itens impactados pela redução de tributos federais e estaduais. Essa tendência prosseguirá no IPCA de julho, dado que diversos estados já aderiram à redução de ICMS em combustíveis, energia elétrica e telecomunicações. Alimentação no Domicílio (0,63%) registrou aceleração em relação ao IPCA-15 (0,48%), mas o recuo de Alimentos In Natura (-2,52%) representou contribuição baixista relevante para a leitura do mês.

A inflação do conjunto de serviços registrou novo avanço, com variação acumulada em 12 meses passando de 6,94% em maio para 8,74% em junho. Além de passagens aéreas, que já acumulam alta de mais de 120% em 12 meses, serviços subjacentes e alimentação fora do domicílio também apresentaram aceleração no mês, atingindo variação de 8,85% e 6,89% em 12 meses, respectivamente. Em relação a bens industrializados, seguimos com tendência de leve desaceleração puxada por bens duráveis, enquanto semiduráveis, como vestuário (1,67%), continua em patamar elevado, apresentando variação de 17,08% na média móvel de três messes dessazonalizada e anualizada. Os núcleos de inflação, que são métricas que excluem ou suavizam a variação de preços de itens voláteis, continuam bastante pressionados. A média dos núcleos dessazonalizados passou de 0,93% para 0,89% neste mês. Em 12 meses, o indicador atingiu 10,52%. Já o indicador de difusão que exclui alimentação e revela quantos itens apresentaram aumento de preços no mês, recuou de 78,0% em abril para 70,4% em junho.

O sinal de inflexão em preços de bens ainda é incipiente e concentrado em um subgrupo de bens duráveis. Por outro lado, serviços ainda não apresenta estabilização, devendo manter a inflação pressionada nos próximos trimestre. Para os próximos meses, com a redução de tributos, a expectativa é de deflação para o IPCA, mas com núcleos ainda em patamar elevado. Além disso, a perspectiva de novos estímulos fiscais deve renovar as pressões inflacionarias para 2022 e 2023. Nossa projeção de IPCA para 2022 e 2023 é de 7,8% e 5,2%, respectivamente.

Em maio a produção industrial avançou 0,3% na margem. O resultado veio abaixo da nossa projeção (0,7%) e da mediana das expectativas de mercado (0,6%). A maior contribuição negativa foi registrada pela indústria extrativa (-5,6%), puxada por minério de ferro e petróleo – seu nível de produção passou a se situar 5,2% abaixo do patamar pré-crise. A indústria de transformação, por sua vez, teve alta de 0,8%, quarta consecutiva, passando a se situar 0,2% abaixo do nível pré-crise. Dentre as atividades da transformação, as maiores contribuições positivas vieram de fabricação de veículos (3,7%), em linha com o dado divulgado pela Anfavea, de máquinas e equipamentos (7,5%) e da fabricação de produtos alimentícios (1,3%). Por sua vez, as maiores contribuições negativas vieram da fabricação de outros produtos químicos (-8,0%) e da fabricação de bebidas (-1,2%). O índice de difusão voltou a avançar e 75,0% das atividades tiveram crescimento em maio, ante 62,5% em abril. Nesse mês, houve evidência de problemas de insumos: o núcleo da indústria de transformação excluindo setores com problemas de oferta teve alta de 1,2% no mês, acima do dado cheio. Em linhas gerais, apesar do resultado aquém das expectativas em maio, a surpresa negativa se deveu à indústria extrativa. Na transformação, houve maior difusão entre as atividades, embora problemas de oferta ainda estejam presentes. Ao longo dos próximos meses, a indústria poderá continuar sendo impactada por problemas nas cadeias de fornecimento de insumos, especialmente em função da desaceleração chinesa.

Ainda com relação aos dados de abril, o indicador de atividade do Banco Central desapontou a expectativa no mês. Na margem, o IBC-Br (Índice de Atividade Econômica do Banco Central) teve queda de 0,4%, abaixo da nossa projeção (-0,3%). Em termos anuais, a alta foi de 2,2%, ante nossa projeção de 2,3%. O índice recuou mesmo com o avanço das vendas no varejo ampliado (0,7%), da produção industrial (0,2%) e do volume de serviços (0,2%) no mês. Com o resultado, o IBC-Br está 1,5% acima do nível pré-crise. Além disso, o dado de abril representa alta de 0,5% em relação à média do 1º trimestre. O resultado não muda nossa projeção para o crescimento do PIB no 2º trimestre, de 0,5% na comparação trimestral.

No cenário internacional, foram divulgadas as atas dos dois principais banco centrais. Nos EUA, a ata de junho — na qual o Fed elevou a taxa de juro para o intervalo entre 1,5% e 1,75% a.a. — revelou visão consensual a respeito da dinâmica pressionada de inflação, incluindo uma deterioração adicional de curto prazo desde a reunião de maio. No cenário prospectivo, os riscos de alta prevalecem para as projeções e expectativas de inflação. Além do risco de problemas de oferta relacionados ao conflito na Ucrânia, o comitê segue preocupado com os desdobramentos das novas restrições à mobilidade na China, que poderiam criar novos gargalos de oferta. No cenário interno, o crescimento robusto e a avaliação de um mercado de trabalho muito apertado também contribuem para a manutenção da inflação acima da meta estabelecida pelo Fed. Diante do ambiente de inflação pressionada, os membros julgam como cenário mais provável um novo aumento de 50 pb ou 75 pb na reunião de julho. Os membros reafirmaram que os ajustes futuros da política monetária são dependentes dos dados, enfatizando que a política monetária poderá ser ainda mais restritiva, caso persista a pressão inflacionária. A comunicação do Fed corrobora nossa visão de alcance da taxa de juros neutra no terceiro trimestre, com uma nova alta de 75 pb em julho, e alta de 50 pb em setembro. Acreditamos que atividade econômica seguirá exibindo resiliência e que a desinflação será bastante lenta, resultando em aperto adicional da taxa de juros, para acima do patamar neutro, para 4,5% ao final do ciclo.

Na Zona do Euro, a ata da última decisão do Banco Central Europeu reforçou a leitura de que os riscos de inflação são predominantemente altistas, ao mesmo tempo em que o viés para a atividade é para baixo. Somado a isso, a autoridade monetária trouxe a discussão sobre qual a melhor estratégia para a taxa de juros olhando à frente. Alguns membros entendem que a melhor estratégia consistia em sinalizar alta mais expressiva no início do ciclo, em reunião agendada para o final deste mês. Ainda assim prevaleceu a opção de iniciar com uma elevação de 25 pb, para depois acelerar o ritmo, caso as expectativas de médio prazo sigam em deterioração. Essa deve ser a decisão que de fato será adotada na próxima reunião. Mas diante da forte depreciação do Euro e dos riscos energéticos que continuam pressionando a inflação, não devemos descartar a possibilidade de uma alta de 50 pb neste início de ciclo.

Por fim, os EUA registraram criação de 372 mil vagas de emprego em junho. O resultado ficou acima da expectativa do mercado de 265 mil vagas. O setor privado gerou vagas em todos os setores, com destaque para a criação de 67 mil vagas no setor de lazer e 29 mil vagas na indústria. A taxa de desemprego ficou estável em 3,6%, sendo composta por uma queda no número de pessoas ocupadas e uma queda no número de pessoas à procura de emprego (a taxa de participação cedeu de 62,3% para 62,2%). A respeito dos salários, houve alta de 0,3% na margem, em linha com a expectativa de mercado. Em termos anuais, os salários desaceleraram de 5,3% para 5,1%. O relatório de emprego de junho segue compatível com a avalição do Fed de um mercado de trabalho “muito forte”, com a persistência dos problemas de oferta de mão de obra.  

Na próxima semana

Na agenda doméstica, destaque para a divulgação dos dados de atividade do setor de serviços e comércio, na terça e sexta-feira. No cenário internacional, destaque para a divulgação dos dados de inflação dos EUA na quarta-feira e dados de atividade da China na quinta-feira.

  

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