ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

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BRASIL: IPCA tem deflação de 0,29% em setembro, acumulando 7,17% em 12 meses

MUNDO: Inflação ao consumidor nos EUA segue exibindo surpresa de alta

No cenário internacional, o destaque ficou para os dados de inflação nos Estados Unidos. O CPI (Índice de preços ao consumidor, sigla em inglês) de setembro surpreendeu novamente ao registrar inflação acima das expectativas. O dado reforça a preocupação com a necessidade de ajustes adicionais da taxa de juros pelo Fed. Além disso, a volatilidade dos mercados internacionais foi explicada pelo conturbado noticiário dos fundos de pensão do Reino Unido, que levou à necessidade de intervenção do Banco Central da Inglaterra no mercado de títulos públicos nas últimas semanas. No Brasil, o destaque também ficou para a divulgação dos dados de inflação do IBGE, que mostrou mais um mês de deflação no IPCA de setembro. No entanto, os núcleos de inflação, que são métricas que excluem ou suavizam a variação de preços de itens voláteis, continuam em níveis elevados.

A inflação medida pelo IPCA registrou deflação de 0,29% em setembro, acumulando 7,17% em 12 meses. O resultado ficou acima da nossa projeção (-0,32%) e da mediana do mercado (-0,33%). A principal contribuição baixista ficou por conta do grupo de comunicação, com recuo de 2,08%, enquanto a maior contribuição altista veio do grupo de Vestuário, com avanço de 1,77%. Alimentação no Domicílio (-0,86%) registrou desaceleração ante estabilidade (0,01%) no mês anterior. Mesmo com a contribuição altista de Alimentos In Natura (1,97%), as fortes deflações em Leite (-13,71%) e leguminosas como feijão-preto (-3,41%) foram capazes de contrabalancearam tal elevação.

A inflação do conjunto de serviços registrou leve desaceleração, com variação acumulada em 12 meses passando de 8,76% em agosto para 8,50% em setembro. O recuo teve contribuição da queda de preços em serviços de telecomunicação, devido à redução tributária. No entanto, quando observamos uma métrica mais restrita, que exclui esses itens, como o conjunto de Serviços Subjacentes, notamos uma aceleração de 9,27% pra 9,53%. Em relação a bens industrializados, seguimos com tendência de leve desaceleração puxada por bens duráveis (1,38% ante 5,00% em agosto na média móvel de três messes dessazonalizada e anualizada). Enquanto semiduráveis, como vestuário, continua em patamar elevado, apresentando variação de 16,57% na mesma base de comparação. Os núcleos de inflação, que são métricas que excluem ou suavizam a variação de preços de itens voláteis, continuam bastante pressionados. A média dos núcleos dessazonalizados passou de 0,68% para 0,58% neste mês. Em 12 meses, o indicador atingiu 10,24%. Já o indicador de difusão que exclui alimentação e revela quantos itens apresentaram aumento de preços no mês, recuou de 70,33% em agosto para 64,11% em setembro.

Os sinais de inflexão nos núcleos ainda são incipientes, com exceção do subgrupo de bens duráveis que apresenta um movimento mais persistente de desaceleração. A principal expectativa segue sendo pela estabilização e desaceleração em bens semiduráveis, principalmente vestuário, que apesar de apresentar preços mais acomodados na indústria, ainda não refletiu nos preços ao consumidor. Além disso, o núcleo de serviços subjacentes já indica ter atingido seu pico, devendo iniciar um processo de desaceleração da variação acumulada em 12 meses no final de 2022 e início de 2023. A velocidade e o momento desses dois movimentos será crucial para que tenhamos mais conforto em projeções para 2023 dentro das bandas da meta de inflação do Banco Central. Nossa projeção de IPCA para 2022 e 2023 é de 5,6% e 4,7%, respectivamente.

Em agosto, o volume total de serviços teve avanço de 0,7% na margem. Na comparação anual, a variação foi de 8,0%, acima de nossa projeção (7,3%) e da mediana das expectativas de mercado (6,8%). Com isso, o volume total de serviços passou a se situar 10,1% acima do nível pré-crise. A média de julho e agosto representa alta de 2,4% em relação à média do segundo trimestre de 2022. Todos os setores tiveram crescimento na margem, com exceção de serviços de transporte (-0,2% na margem), puxado por transporte terrestre. No mês, houve queda tanto do transporte de cargas como do fluxo de passageiros. A maior contribuição positiva veio de outros serviços (6,7%), setor que contempla, dentre outros, serviços financeiros e seguros, e reverteu as quedas dos meses anteriores. A seguir, serviços de informação e comunicação tiveram nova alta (0,6%), e passaram a se situar 12,7% acima do nível pré-crise. Os serviços prestados às famílias – setor que abrange alojamento e alimentação – avançaram 1,0% em agosto. Apesar do crescimento, o setor é o único que ainda não se recuperou e se situa 4,7% abaixo do nível pré-crise. Por fim, em linha com o fraco desempenho da indústria, serviços profissionais, administrativos e complementares apresentaram estabilidade no mês. Em linhas gerais, a leitura mostrou um desempenho acima do esperado e pode ser atribuído tanto as modalidades relacionadas a famílias como a empresas. Os serviços às famílias têm sido beneficiados pelo rebalanceamento entre o consumo e bens de serviços. No entanto, pelos dados de alta frequência, a atividade do setor deve desacelerar nas próximas leituras.

Nos EUA, a ata da reunião de julho — na qual o Fed elevou a taxa de juros para o intervalo entre 3% e 3,25% a.a. — revelou visão consensual a respeito da dinâmica pressionada de inflação, qualificando-a como “inaceitavelmente” alta, com poucas evidências de arrefecimento. O mercado de trabalho, na visão do comitê, permanece apertado no curto prazo, com a expectativa de melhora no balanço entre oferta e demanda por mão de obra ao longo do tempo, refletindo os efeitos da política monetária. No cenário prospectivo, os riscos de alta prevalecem para as projeções e expectativas de inflação, enquanto na atividade o balanço de risco é baixista, com destaque nesse caso para eventos de ordem global, como recessão na Europa e desaceleração na China. Com relação aos próximos passos, o comitê reforçou a necessidade de novos ajustes na política monetária, sendo que o ritmo e a extensão do ciclo dependerão dos dados. Embora exista a preocupação em torno de realizar um aperto excessivo da política monetária, o risco majoritário avaliado pelos membros é o de realizar um ajuste abaixo do necessário para a estabilizar a inflação, tornando o processo de desinflação mais doloroso à frente. Acreditamos que atividade econômica seguirá exibindo resiliência e que a desinflação ocorrerá de forma lenta, resultando em aperto adicional da taxa de juros para 4,75% ao final do ciclo.

O ambiente de inflação dos EUA segue surpreendendo negativamente as expectativas de mercado. Em setembro, a inflação ao consumidor (CPI) variou 0,4% na comparação mensal, acima da expectativa de mercado (0,2%). Já o núcleo da inflação, métrica que exclui a inflação com alimentos e energia e recebe mais atenção por parte das autoridades monetárias, avançou 0,6% no mês, ante expectativa de alta de 0,4%. Entre as principais pressões, destaque no mês os preços de transportes que avançaram 1,9% no mês, ante 0,5% em agosto. Em seguida, a inflação de aluguéis, que corresponde a um terço do CPI, avançou 0,75% na margem e 8,2% na média móvel de 3 meses anualizada. Em termos anuais, o índice cheio variou 8,2%, enquanto o núcleo do CPI teve variação de 6,6%, com alta de 6,7% em serviços e de 6,6% em bens. Em linhas gerais, o quadro inflacionário continua bastante pressionado. Embora a inflação de bens apresente sinais de arrefecimento, a inflação de serviços revela uma tendência de alta mais forte nas últimas leituras.

Por fim, na China, resultados da inflação não se colocam como restrição à política econômica e reforçam tendência em curso da desinflação no mundo. O índice de preços ao consumidor avançou 2,8% em setembro em relação ao mesmo mês de 2021, acelerando ante a alta de 2,5% registrada em agosto. O núcleo da inflação (que exclui os itens mais voláteis da amostra) apresenta trajetória de desaceleração, subindo 0,6% ante 0,8% em agosto. A inflação ao produtor, por sua vez, foi o destaque da leitura, mantendo a tendência de descompressão dos últimos meses, passando de uma alta de 9,1% no começo do ano para 0,9% neste mês, em termos anuais. Em linhas gerais, a desaceleração da inflação ao produtor reflete a normalização dos gargalos de oferta e a queda dos preços das commodities, em linha com alívio de preços de bens no mundo. Pelo lado do consumidor, a demanda interna ainda continua fraca e a pressão nos preços tem se concentrado em alimentos. Dessa forma, a desaceleração da atividade segue como o principal determinante para a política econômica.

Na próxima semana

Na agenda doméstica, destaque para a divulgação do IBC-Br de agosto. No cenário internacional, destaque para a divulgação dos dados de atividade na China na segunda-feira e para os dados de indústria dos EUA na terça-feira.

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