ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

BRASIL: Dados de atividade ainda refletem substituição do consumo entre bens e serviços

MUNDO: Nos EUA, mercado de trabalho segue robusto e compatível com a avalição do Fed

Cenário econômico e perspectivas

A necessidade de redução da inflação segue como principal condicionante do cenário global e do comportamento dos preços dos ativos. Nas últimas semanas, os sinais de resistência da inflação levaram os bancos centrais e mercados a novamente reajustarem para cima as expectativas para as taxas terminais de juros. O Fed passou a indicar que provavelmente elevará a taxa básica para perto de 5%, enquanto dirigentes do Banco Central Europeu apontam para uma postura mais firme a ser concretizada já na reunião de outubro. O período recente também pode ser considerado como um marco do atual ciclo global de aperto monetário: foi a primeira vez que a elevação das curvas de juros ganhou contornos de uma crise financeira. Ao contrário de outros períodos na história, a crise não ocorreu em países emergentes, mas sim no Reino Unido. A elevação da curva de juros no país, impulsionada por surpresas com pacotes fiscais expansionistas, resultou em uma situação de emergência ao atingir fundos de previdência e requerer a atuação do Banco Central da Inglaterra. A intervenção do Banco Central do Japão em seu mercado de câmbio, uma atitude bastante atípica, também mostrou que o ajuste ao ciclo global de juros não está livre de solavancos. A causa econômica desses eventos, a nosso ver, é a maior inércia da inflação, especialmente por conta do aquecimento do mercado de trabalho (principalmente nos EUA). Naturalmente, para a Europa, a crise de energia é um fator crucial e adicional de pressão inflacionária. De outro lado, avaliamos que a inflação global de bens segue exibindo evidências de queda. Há melhora dos gargalos na indústria, queda de preços de logística e redução de pressões de custos (por exemplo, capturada pelos indicadores de confiança PMI). A perspectiva de juros em patamares significativamente elevados por um horizonte prolongado, portanto, foi reforçada no período recente.

A interrupção da elevação de ajuste da taxa de juros pelo Banco Central do Brasil, ainda que em linha com o esperado, marcou uma nova fase do ciclo de política monetária. Ingressamos, a nosso ver, em uma etapa na qual o Copom estará apenas em “modo de observação”, procurando aferir os impactos defasados do aperto da política monetária já realizado, os efeitos da recente expansão fiscal e o ambiente internacional ainda volátil. A discussão sobre a posição atual do hiato do produto também seguirá como parte desse processo de monitoramento. Passados dois meses desde a adoção das medidas de impulso fiscal, os dados de atividade de alta frequência têm indicado que o aperto da política monetária está prevalecendo. Os resultados de agosto e setembro apontam para desaceleração da atividade. A moderação por meio do canal do crédito parece corroborar essa avaliação. Para a política monetária, também foi favorável a queda das expectativas de inflação para o horizonte de 2023, a primeira queda relevante observada ao longo desse ciclo. Ainda que persistam muitas incertezas adiante e que estejamos ainda distantes do horizonte de início de queda da taxa de juros, mantemos a expectativa de começo do próximo ciclo (de queda) em maio de 2023. Avaliamos que, ao longo do ano, há espaço para a taxa Selic caminhar em direção a 10% a.a., nível que ainda manteria a política monetária em terreno restritivo.

Eventos da semana

No cenário externo, o destaque da semana foi a divulgação dos dados de setembro do mercado de trabalho nos Estados Unidos. A expressiva criação de vagas (mais de 263 mil postos) amplia a possibilidade de que o Fed mantenha a postura agressiva de elevação de juros para o combate à inflação. Com isso, os principais mercados de renda variável nos EUA apresentaram recuo significativo. Por outro lado, no Brasil, as atenções dos mercados se voltaram para o resultado do primeiro turno das eleições presidenciais e para os dados de atividade da indústria e do comércio em agosto. Com a aproximação do encerramento do ciclo eleitoral, a discussão sobre a política fiscal deverá voltar ao centro dos debates em relação à política econômica.

Em agosto, a produção industrial recuou 0,6% na margem. O resultado veio em linha com a mediana das expectativas de mercado, mas acima da nossa projeção (-1,0%). A queda refletiu tanto o recuo da indústria extrativa (-3,6% na margem), puxada por minério de ferro, como da indústria de transformação (-0,2%), que passou a se situar 0,4% abaixo do nível pré-crise. Dentre as atividades da transformação, as maiores contribuições negativas vieram de veículos (10,8%), máquinas e equipamentos (12,4%) e outros produtos químicos (9,4%). Por sua vez, as maiores contribuições negativas vieram do refino de petróleo e biocombustíveis (-4,2%) e produtos alimentícios (-2,6%). O índice de difusão teve elevação expressiva, 71% das atividades tiveram crescimento em agosto, ante 33,3% em junho. Dentre as categorias de uso, houve crescimento de bens de capital (5,2% na margem), recuperando-se da queda pronunciada em julho, com maior influência de máquinas e caminhões, e bens de consumo duráveis (6,1%) por conta de veículos. Bens intermediários tiveram queda de 1,4%, puxados pela indústria extrativa, e bens de consumo semi e não-duráveis (1,4%), com maior impacto de farmacoquímicos. Vale notar que a produção de bens de capital se situa 16% acima do nível pré-crise. Diferentemente dos últimos resultados, o dado deste mês não mostrou problemas de insumos: o núcleo da indústria de transformação que expurga setores com problemas de oferta recuou 1,5% no mês, embora tenha avançado 2,8% nos últimos 3 meses (contra 0,5% da transformação). O núcleo que expurga setores afetados pelo rebalanceamento do consumo de bens e serviços teve alta de 0,6% na mesma base de comparação, sugerindo problemas de demanda neste período. Em termos de carrego, a média de julho e agosto representa alta de 0,1% em relação ao segundo trimestre, com estabilidade da indústria extrativa e alta de 0,4% da indústria de transformação. Em linhas gerais, apesar de queda da indústria em agosto, o resultado traz mais setores com crescimento dentro da indústria de transformação. Nesse mês, não há evidência de problemas de oferta, mas de menor demanda decorrente do processo de substituição para o consumo de serviços. Por isso, mesmo com a normalização das cadeias de insumos, esperamos resultados da indústria com menor desempenho nas próximas leituras.

Ainda em relação à atividade, as vendas no varejo no conceito restrito tiveram queda de 0,1% na margem em agosto. O resultado veio acima de nossa projeção (-0,2%) e da expectativa mediana de mercado (-0,3%). A maior contribuição negativa veio de outros artigos de uso pessoal e doméstico (-1,2%), setor que engloba lojas de departamentos, óticas, joalherias, artigos esportivos e brinquedos. Demais quedas na margem foram observadas nos setores de artigos farmacêuticos (-0,3%), embora ainda se situem 21% acima do nível pré-crise, e equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (-1,4%). Por sua vez, as maiores contribuições positivas vieram de tecidos, vestuário e calçados (13,0%), compensando a queda de julho (embora as vendas do setor se situem 15% abaixo do pré-crise), e combustíveis e lubrificantes (3,6%), influenciados pela queda de preços no mês. As demais altas vieram de móveis e eletrodomésticos (1,0%), hiper e supermercados (0,2%) e livros, jornais e revistas (2,1%). O comércio ampliado, que inclui vendas de automóveis e material de construção, também registrou recuo de 0,6% no mês e queda de 0,7% na comparação anual. Houve alta de 4,8% das vendas de veículos na margem, em linha com os dados da Fenabrave, mas queda de 0,8% das vendas de materiais de construção e que passaram a se situar 1,3% acima do nível pré-crise. Com este resultado, o volume de vendas no varejo ampliado passou a se situar 2,9% abaixo do nível pré-crise. Em termos de desempenho trimestral, a média de julho e agosto do comércio ampliado representa queda de 2,3% em relação à média do 2º trimestre. Em linhas gerais, apesar de queda, o resultado do comércio restrito foi melhor que o esperado. Nas próximas leituras, ainda veremos sinais do processo de substituição no consumo entre bens e serviços e os resultados deverão seguir mostrando desaceleração das vendas no varejo.

A balança comercial encerrou o mês de setembro com saldo positivo de US$ 4 bilhões no mês, acumulando superávit de US$ 4,9 bilhões em 2022. O resultado representa queda de 9,3% em relação a setembro de 2021. Na composição do saldo, as exportações cresceram 18,8% na comparação interanual, ao passo que as importações cresceram 24,9% na mesma base de comparação. Em relação aos principais itens exportados, o destaque no mês se concentrou nas exportações de minérios, na indústria extrativa, e gorduras e óleos vegetais, além de óleos combustíveis de petróleo e celulose dentro da indústria de transformação. Nas importações, a maior contribuição veio de óleos de petróleo ou de minerais betuminosos. De forma geral, no acumulado de 12 meses, o saldo da balança comercial está próximo de US$ 50 bilhões, em linha com a nossa expectativa de US$ 49 bilhões para 2022.

Os EUA registraram criação de 263 mil vagas de emprego em setembro. O resultado ficou acima da expectativa do mercado de 250 mil vagas. O setor privado gerou vagas 288 mil vagas, com destaque para a criação de 83 mil vagas no setor de lazer. Na indústria, houve criação de 22 mil novas vagas, ante média de 30 mil nos últimos três meses. A taxa de desemprego recuou de 3,7% para 3,5% em setembro, sendo composta tanto por uma alta no número de pessoas ocupadas, como por um recuo no número de pessoas à procura de emprego (a taxa de participação cedeu de 62,4% para 62,3%). A respeito dos salários, houve alta de 0,3% na margem, em linha com as expectativas de mercado. Em termos anuais, os salários desaceleraram de 5,2% em agosto para 5,0% em setembro. Em linhas gerais, o mercado de trabalho não demonstra sinais de piora e é compatível com a avalição do Fed. Na nossa visão, o Fed realizará uma alta de 75 pb na próxima reunião e deverá encerrar o ciclo de aperto monetário com a  taxa de juros alcançando 4,75%.

Os resultados finais dos índices PMI de atividade econômica de setembro apontam melhora na margem para os Estados Unidos, enquanto na Zona do Euro a perda de tração segue acentuada pelas questões energéticas. O PMI Composto da Zona do Euro, que incorpora indústria e serviços, recuou de 48,9 para 48,1 pontos entre agosto e setembro, indicando atividade em contração (nível abaixo de 50 pontos), como apontado na prévia do mês. A composição revelou queda na margem da indústria, de 49,6 para 48,4 pontos, enquanto o setor de serviços recuou de 49,8 para 48,8 pontos no mês. Esse resultado, portanto, indica queda do PIB no quarto trimestre e, em conjunto com a diminuição de pedidos, a inflação de custos – causada principalmente pelos insumos energéticos – ainda não dá sinais de arrefecimento. Nos EUA, o PMI Composto avançou de 44,6 para 49,5 pontos em setembro. O resultado refletiu em maior grau a melhora da confiança no setor de serviços, passando de 43,7 pontos em agosto para 49,3 pontos no mês. Mesmo em nível contracionista, o bom desempenho na margem reflete um otimismo em relação ao aumento de novas vendas, derivada do processo de substituição do consumo entre bens e serviços e que deve perdurar nos próximos meses. Por fim, em relação à indústria, também houve alta de 51,5 pontos em agosto para 52 pontos no mês.

Na próxima semana

Na agenda doméstica, destaque para a divulgação do IPCA de setembro (BRAM: -0,32%) na terça-feira e do dado de atividade do setor de serviços (PMS) na sexta-feira. No cenário internacional, destaque para a divulgação dos dados de inflação ao consumidor e produtor dos EUA e da China na quarta e quinta-feira.

Selo-Gestao-Recursos-Positivo-01

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui