SÍNTESE ECONÔMICA DE MARÇO

SÍNTESE ECONÔMICA DE MARÇO

BRASIL: Banco Central mantém taxa Selic em 13,75% a.a.

MUNDO: Fed aumenta taxa de juros mesmo com incertezas no sistema bancário

O Banco Central manteve a taxa de juros básica em 13,75% a.a., em decisão anunciada em março. De forma geral, levando em conta tanto o comunicado da decisão como os documentos publicados posteriormente, a sinalização é de cautela em relação aos seus próximos passos. O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central enfatizou as incertezas e a volatilidade dos mercados derivadas dos recentes eventos envolvendo bancos nos EUA e na Europa. Nesse sentido, o Copom destacou que o impacto sobre as condições financeiras e consequentemente sobre o crescimento global desses episódios ainda é incerto, mas tem viés negativo. No âmbito doméstico, o Comitê reconheceu a desaceleração esperada do crescimento, com moderação dos indicadores de atividade e do mercado de crédito, além de estabilização da taxa de desemprego. Apesar disso, o BCB enfatizou que a inflação segue elevada, com núcleos de inflação mais resilientes e apresentando menor velocidade de desinflação nas últimas divulgações. Não obstante o tom mais cauteloso apresentado pelo Banco Central, indicando que a fase atual do ciclo da política monetária demanda “serenidade e paciência”, avaliamos que a atividade econômica tende a desacelerar de forma mais importante daqui para frente, com potencial de reforçar o processo de queda da inflação. Com isso, revisamos o cenário de Selic terminal de 13,00% para 12,50% para o final de 2023, com início dos cortes previsto para o terceiro trimestre.

O Banco Central revisou sua projeção de crescimento do PIB, de 1,0% para 1,2% para 2023, embora nossa avaliação seja de maior desaquecimento na economia. A revisão foi justificada pela expectativa mais forte para o setor agropecuário no primeiro trimestre. No crédito, o BCB fez uma leve revisão baixista, mas destacou que esse cenário já estava delineado em virtude do atual estágio da política monetária. No entanto, avaliamos que a atividade econômica tende a desacelerar de forma mais acentuada nos próximos meses.

Em termos de dados de atividade, o CAGED registrou saldo de positivo em 127 mil vagas em fevereiro, considerando os ajustes sazonais, após 107 mil em janeiro. Porém, houve desaceleração da geração de vagas nos setores de comércio, construção civil e administração pública. A taxa de desemprego em fevereiro caiu de 8,5% para 8,1% na série com ajuste sazonal, em função principalmente do recuo de 0,7% da força de trabalho. Além disso, o saldo de crédito desacelerou em fevereiro, com maior influência do volume concedido às empresas. Segundo dados do Banco Central, a variação interanual do volume de crédito total passou de 13,8% para 12,6% entre janeiro e fevereiro. O resultado refletiu a redução acentuada do crédito às empresas (de 8,0% para 5,9% na comparação) e às famílias (de 17,9% para 17,4%). Diante do aperto das condições de crédito, esperamos desaceleração mais intensa dos empréstimos nos próximos meses.

Em relação à evolução dos preços, a prévia da inflação ao consumidor (IPCA-15) apresentou alta de 0,69% em março. Com isso, a variação acumulada em 12 meses chegou a 5,36%, abaixo do registrado no período anterior (5,63%). Com relação aos núcleos da inflação, que são métricas que excluem ou suavizam itens voláteis, a média anualizada de três meses com ajuste sazonal registrou elevação de 5,8%. Do ponto de vista qualitativo, o IPCA-15 reforça que a tendência da inflação continua sendo de desaceleração, de tal forma que a surpresa altista observada em fevereiro foi um ponto fora da curva.

O governo apresentou as principais diretrizes do Novo Arcabouço Fiscal. Segundo a proposta, a evolução da despesa real estará limitada a 70% da receita primária, considerando o realizado nos últimos 12 meses. A despesa, no entanto, terá bandas, podendo ser expandida no máximo 2,5% ao ano, e no mínimo 0,6% ao ano. A regra também contemplará o estabelecimento de metas de resultado primário. As metas estabelecidas foram -0,5% do PIB (2023), 0% do PIB (2024), 0,5% do PIB (2025) e 1% do PIB (2026), com bandas de 0,25%. Caso o resultado primário fique acima do teto banda, o excedente será utilizado para investimentos, ao passo que se o resultado ficar abaixo da banda o crescimento da despesa no exercício seguinte estará limitado a 50% da receita primária. Avaliamos que o estabelecimento de uma regra é de fundamental importância para a consolidação da confiança dos agentes no médio prazo. Embora todos detalhes da proposta ainda não sejam conhecidos, podemos destacar elementos positivos como a utilização da receita realizada (evitando superestimação da receita), as poucas exceções na regra, a presença de um mecanismo de correção dos desvios do resultado primário e o incentivo para a reavaliação das desonerações. Por outro lado, outros aspectos demandam alguma cautela, como o incentivo para a criação de impostos em momentos de desaceleração econômica e a possibilidade de receitas extraordinárias serem utilizadas para o uso de despesas permanentes. De modo geral, a regra contribui para aumentar a previsibilidade da política fiscal nos próximos anos.

Nos EUA, a taxa de juros básica foi elevada em 25 pb para o intervalo entre 4,75% e 5,00%. Em relação ao cenário, a instituição considerou que os indicadores recentes sinalizam um crescimento modesto no consumo e na produção, embora tenha havido aumento na criação de vagas e a taxa de desemprego permaneça baixa, além de apontar que a inflação permanece elevada. O comunicado apontou que as incertezas relacionadas ao sistema bancário devem provocar uma contração no crédito, a qual deve impactar atividade, mercado de trabalho e inflação, tendo reconhecido, no entanto, que a extensão desses efeitos é incerta. O comitê indicou que, diante do novo quadro no sistema financeiro, apenas algum incremento adicional na taxa de juros poderá de aperto monetário pode ser necessário

para levar a inflação à meta de 2%, em oposição à previsão da necessidade de ajustes mais fortes na taxa de juros levantada nas reuniões anteriores do FOMC. Contudo, as próximas decisões permanecem em aberto e dependerão dos reflexos das atuais turbulências no sistema bancário norte-americano. Em nosso cenário consideramos um último aumento de 25 pb na reunião de maio, e a manutenção da taxa de juros no intervalo entre 5%-5,25% por todo o ano.

As pressões inflacionárias ainda demandam elevação de juros na Área do Euro. Segundo resultado prévio, o índice de inflação ao consumidor desacelerou de uma alta interanual de 8,5% em fevereiro para outra de 6,9% em março, levemente abaixo do esperado (7,1%). Esse alívio se deu em grande medida pela queda dos preços de energia. Por outro lado, o núcleo da inflação segue pressionado, avançando 5,7% em março, após alta de 5,6% em fevereiro. Olhando à frente, esperamos desinflação do índice cheio, mas os riscos altistas seguirão presentes, em função dos preços de alimentos, dos reajustes salariais e de um alívio mais lento dos preços de bens. Dessa forma, acreditamos que o Banco Central Europeu deverá anunciar pelo menos mais duas elevações de 25 pb das taxas de juros, em maio e junho.

Consumo doméstico e retomada do setor de construção têm sido os propulsores para o crescimento da economia chinesa neste ano. Entre fevereiro e março, o índice PMI agregado da China avançou de 56,4 para 57,0 pontos, superando as expectativas. Para tanto, o indicador que considera o setor não manufatureiro subiu, com melhora tanto em serviços como em construção. De fato, além da retomada esperada para o consumo das famílias, em função da reabertura da economia, chama atenção a recuperação das atividades de construção, influenciadas por infraestrutura, mas também pelo setor imobiliário. Do lado industrial, contudo, o indicador recuou, o que pode ser explicado em grande medida pela menor demanda global. Esse resultado, portanto, reforça nossa expectativa mais favorável para a China neste ano, que deve registrar expansão de 5,8%.

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