ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

BRASIL: Produção industrial manteve desaceleração em fevereiro

MUNDO: Recuperação da economia chinesa se consolidou no primeiro trimestre

Eventos da semana

No mercado doméstico, as atenções se concentraram na apresentação do texto do novo arcabouço fiscal para o Congresso, através de um projeto de lei complementar. Embora as prerrogativas do novo arcabouço tenham sido praticamente mantidas em relação ao que foi apresentado pelo governo no mês anterior, avaliações mais cautelosas sobre a proposta foram consideradas. Com isso, refletindo a expectativa de que o espaço para redução de juros é menor, as curvas de juros futuros do mercado de renda fixa local mostraram ligeira abertura em quase todos os vértices, revertendo boa parte do fechamento observado nas últimas semanas, além de uma depreciação do real frente ao dólar. Também foram divulgados os dados da produção industrial de fevereiro, com queda na margem de 0,2%, reforçando a tendência de desaceleração. Por outro lado, no ambiente externo, o destaque ficou para a divulgação dos dados de atividade na China, reforçando a forte recuperação em curso no primeiro trimestre. Além disso, gradualmente, as preocupações com as questões bancárias nos EUA vão se reduzindo e, diante disso, o dólar tem se apreciado em relação à maioria das moedas e as curvas de juros futuros têm subido lentamente, mesmo que permaneçam abaixo do nível observado antes das tensões ligados aos bancos norte-americanos no início do mês passado.

Ligeira desaceleração da atividade econômica em janeiro refletiu desempenho negativo da indústria e de serviços. Em janeiro, o índice de atividade econômica do Banco Central (IBC-Br), proxy mensal do PIB, registrou queda de 0,04% na margem, após avançar 0,5% em dezembro, superando as expectativas (-0,2%). Na comparação interanual, o indicador subiu 3,0%. Em termos de carrego, o dado de janeiro representa queda de 0,1% em relação à média do quarto trimestre de 2022. O resultado refletiu a queda da produção industrial (-0,3%) e do volume de serviços (-3,1%), contrabalançados pela alta de 0,2% do comércio ampliado no mês. Em linhas gerais, o dado confirma um incipiente movimento de desaceleração da atividade econômica, refletindo o efeito da política monetária contracionista. No entanto, é importante ter em mente que o bom desempenho do setor agropecuário deverá contribuir para o resultado do PIB no primeiro trimestre (e no ano como um todo), para o qual esperamos crescimento de 0,6%.

Já indicando o desempenho da economia em fevereiro, destacamos a desaceleração da indústria, em função da menor demanda, e a superação dos problemas de fornecimento dos insumos industriais. Segundo os dados do IBGE, a produção industrial registrou queda de 0,2% no mês, em linha com a nossa projeção e a mediana das expectativas do mercado. O resultado refletiu o recuo de 0,5% da indústria de transformação, compensado parcialmente pela alta da indústria extrativa (4,6%), decorrente do avanço de minério de ferro e petróleo e corrigindo as quedas do final do ano passado. Dentre as atividades de transformação, as maiores contribuições negativas na margem derivaram de produtos alimentícios (-1,1%), outros produtos químicos (-1,8%) e produtos farmacoquímicos e farmacêuticos (-4,5%). Compensando parcialmente essas quedas, a maior contribuição positiva veio da fabricação de bebidas (3,6%). Mesmo com a queda no mês, o índice de difusão da atividade industrial subiu de 52,2% para 65,2%. Em relação às categorias de uso, o resultado pode ser atribuído ao recuo de bens de consumo (-0,3%), com maior contribuição de duráveis (-1,4%), devido a veículos e equipamentos de informática. Contrabalançando os resultados negativos, a maior contribuição positiva veio de bens intermediários (0,5%), influenciados pelo desempenho da indústria extrativa. Por sua vez, a produção de insumos típicos da construção civil (ITCC) ficou estável na margem, mas ainda se situa 0,5% abaixo do patamar pré-pandemia. Duas dinâmicas que explicam o resultado da produção industrial merecem atenção: a menor demanda das famílias por bens e a normalização das cadeias produtivas. De fato, o núcleo da indústria de transformação que expurga setores com problemas de oferta apresentou uma queda de 1,9% no mês, acima do dado cheio (-0,5%). Já o núcleo que exclui setores afetados pelo rebalanceamento do consumo de bens e serviços avançou 0,3%, sugerindo que a menor produção está relacionada à demanda. Em termos de carrego, a média de janeiro e fevereiro indica recuo de 0,5% em relação ao quarto trimestre de 2022. Dessa forma, a leitura de fevereiro evidencia a perda de força da produção industrial, resultado de uma menor demanda por bens, causada pelo processo de substituição para o consumo de serviços, tendência que deve ser mantida nos próximos meses.

O governo apresentou o texto do Novo Arcabouço Fiscal. Em linha com o que havia sido apresentado no final de março, a evolução da despesa real estará limitada a 70% do crescimento real da receita primária. A despesa em termos reais, no entanto, terá bandas, podendo ser expandida no máximo 2,5% ao ano, e no mínimo 0,6% ao ano. A regra também contemplará o estabelecimento de metas de resultado primário. As metas estabelecidas foram -0,5% do PIB (2023), 0% do PIB (2024), 0,5% do PIB (2025) e 1% do PIB (2026), com bandas de 0,25%. Caso o resultado primário fique acima do teto banda, o excedente será utilizado para investimentos, ao passo que se o resultado ficar abaixo da banda o crescimento da despesa no exercício seguinte estará limitado a 50% da receita primária. Com o texto, o governo esclareceu alguns pontos. Para o cálculo do crescimento da despesa real, a receita  observada será aquela líquida de transferência para estados e munícipios, da receita de concessões e dividendos, e da receita de exploração de recursos naturais. O cálculo da receita será o acumulado em 12 meses até junho. As despesas, que não estarão sujeitas à regra, são semelhantes àquelas presentes no Teto de Gastos após a aprovação de emendas constitucionais nos últimos anos. No campo das penalizações, o não cumprimento da meta de primário demandará explicações do presidente ao Congresso. Por outro lado, a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) deixa de ser infringida ao descumprir a meta. Entre outros pontos, caso o resultado primário exceda a banda superior da meta, o limite do investimento será de R$ 25 bilhões, corrigidos pela inflação.

Avaliamos que o estabelecimento de uma regra é de fundamental importância para a consolidação da confiança dos agentes no médio prazo. Como pontos positivos do texto destacamos a utilização da receita realizada, excluindo receitas atípicas (evitando superestimação da receita), a presença de um mecanismo de correção dos desvios do resultado primário e o incentivo para a reavaliação das desonerações para o alcance das metas. Por outro lado, outros aspectos demandam alguma cautela, como o incentivo para a criação de impostos em momentos de desaceleração econômica, o estabelecimento de meta apenas para o ano subsequente (para os anos subsequentes são elaboradas apenas projeções para o resultado primário) e mecanismos modestos de ajuste caso haja rompimento dos limites. De modo geral, a regra contribui para aumentar a previsibilidade da política fiscal nos próximos anos, embora o texto tenha aberto uma maior possibilidade de discricionariedade por parte do governo no médio prazo.

Surpresa positiva com o desempenho da economia chinesa foi explicada pelo consumo das famílias. Confirmando os sinais mais favoráveis que têm se acumulado nos últimos meses, o PIB da China avançou 4,5% no primeiro trimestre deste ano na comparação com mesmo período do ano passado, superando o esperado (4,0%) e a expansão de 2,9% verificada nos últimos três meses do ano. Considerando a variação na margem e em termos anualizados, o crescimento chinês no início de 2023 chegou a 9,1%. Para tanto, há uma melhora significativa do consumo das famílias, especialmente de serviços após a reabertura ocorrida no final de 2022. Destacamos os resultados referentes a março: (i) a produção industrial avançou 3,9% na comparação com mesmo período do ano passado, frustrando as expectativas (4,4%), mas acelerando ante o primeiro bimestre (2,4%); (ii) os investimentos ativos fixos registraram alta de 5,1% no acumulado do ano, ainda impulsionados pelo segmento de infraestrutura e manufatura; (iii) as vendas do varejo subiram 10,6% ante mesmo mês de 2022, com destaque para gastos como restaurante, superando o esperado (7,5%) e o verificado em janeiro e fevereiro (3,5%). Além disso, vale chamar atenção para a melhora em curso do setor imobiliário residencial, em especial dos imóveis completados, com expansão de 16,8% no acumulado deste ano, ao passo que as vendas e, principalmente, os lançamentos exibem retomada mais lenta, ainda com quedas respectivas de 0,2% e 17,8% no mesmo período. Olhando para o restante do ano, entendemos que o consumo das famílias e a retomada do setor imobiliário ainda devem contribuir positivamente para o crescimento. Por outro lado, as exportações e, consequentemente, a indústria devem avançar mais de forma mais moderada. Combinando esses vetores e acreditando que a confiança será gradualmente restabelecida, esperamos crescimento do PIB de 5,7% em 2023.

Inflação ainda em níveis elevados, combinada com a resiliência da economia europeia, sugere que juros devem seguir em elevação por mais alguns meses. Ao longo dos últimos dias, diversos indicadores de atividade econômica na região têm apontado para crescimento mais forte no primeiro trimestre deste ano, refletindo a redução dos riscos relacionados ao abastecimento energético. Chamamos atenção para o índice Zew de sentimento econômico, cuja avaliação da situação corrente melhorou passagem de março para abril. Ao mesmo tempo, confirmando o resultado prévio, o índice de preços ao consumidor subiu 6,9% em março, na variação interanual, aliviando em relação aos meses anteriores, mas ainda apontando variação elevada na margem (0,9%). O núcleo, por sua vez, – influenciado em grande medida pela aceleração em curso dos preços de serviços – avançou 5,7% na comparação com mesmo período do ano passado. Mesmo que os membros do Banco Central Europeu reconheçam que os riscos para atividade são assimétricos para baixo, as preocupações com a inflação devem ter peso maior nas próximas decisões do comitê, ainda mais diante da redução das tensões nos mercados globais. Dessa forma, mantemos nossa expectativa de que a taxa de juros subirá, pelo menos mais 2 vezes, em 25 bps.

Na próxima semana

Na agenda doméstica, destaque para os dados do mercado de trabalho, com a divulgação da taxa de desemprego pela PNAD e criação de emprego pelo Caged, além do resultado do IPCA-15 de abril. Na agenda internacional, as atenções estarão voltadas para a publicação dos dados de inflação ao consumidor nos EUA e do PIB dos EUA e da Área do Euro, referente ao primeiro trimestre.

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