INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

No Brasil: Copom corta taxa Selic para 5,0% a.a. e sinaliza cautela sobre próximos passos.

Nos EUA: Fed corta juros em  25 p.b. e sinaliza manutenção em dezembro.

O Comitê de Política Monetária (Copom) reduziu a taxa Selic pela 3ª vez consecutiva e sinalizou cautela no grau de novos estímulos monetários. Em decisão unânime, a Selic passou de 5,5% para 5,0% a.a., conforme o esperado. No comunicado, manteve-se a avaliação de que o cenário é benigno para a inflação e permite ajuste adicional de 0,50 p.p. na reunião de dezembro. As projeções de inflação do Banco Central (BC) permaneceram abaixo da meta nesse e no próximo ano. Sobre os passos seguintes, o Copom sugere cautela em eventuais novos ajustes no grau de estímulo, já que os efeitos da política monetária têm impactos defasados​​na atividade e nos preços, o que eleva o risco da trajetória de inflação chegar a níveis acima da meta. Diante disso, mantemos nossa projeção de que a Selic irá encerrar o ano em 4,5% e permanecerá nesse patamar em 2020.

No comunicado, o Copom menciona continuidade no processo de recuperação da atividade. Os dados recentes reforçam a melhora da economia brasileira, embora em ritmo gradual. Com relação ao nível de preços, a inflação e os seus núcleos seguem em níveis confortáveis, bem como as expectativas ancoradas. No âmbito global, o cenário segue favorável para os países emergentes, com os estímulos monetários nas principais economias. No entanto, no balanço de risco para inflação, permanece a incerteza acerca de uma desaceleração global mais intensa. Por sua vez, as reformas estruturais apresentaram avanço, mas a sua continuidade é importante para a consolidação da taxa de juros em níveis mais baixos.

Sobre as projeções do BC, a inflação permanece abaixo da meta em 2019, 2020 e 2021. Considerando os cenários de inflação com trajetórias de taxas de juros e câmbio da pesquisa de mercado (Focus), a inflação se situa em torno de 3,4% em 2019, 3,6% em 2020 e 3,5% em 2021. No cenário híbrido, com taxa de câmbio constante e trajetória de juros da pesquisa Focus, a inflação atinge 3,4% para 2019, 3,7% para 2020 e 3,6% para 2021. Vale notar que, em qualquer cenário do horizonte de projeções, a inflação se encontra abaixo da meta. Acreditamos que a continuidade da ociosidade elevada permitirá uma trajetória benigna de inflação para os horizontes de médio prazo.

A produção industrial cresceu 0,3% na margem em setembro, abaixo do esperado. Apesar do 2º mês consecutivo de crescimento da indústria, o resultado foi abaixo da nossa expectativa e do mercado, ambas em +0,9%. O crescimento da indústria de transformação (+0,9%) foi parcialmente compensado pelo recuo de 1,2% da parte extrativa (após alta de 6,4% em agosto). Em 2019, a indústria acumula queda de 1,4%, com o 3º trimestre apresentando alta de 0,3% ante o 2º trimestre. Diante desse resultado, nosso tracking do PIB do 3º trimestre permanece em 0,3% na margem, com leve viés de baixa.

O setor público consolidado apresentou déficit de R$ 20,5 bilhões em setembro. Em 12 meses, o déficit primário acumulado foi de R$ 91,4 bilhões (1,3% do PIB). O resultado nominal, que inclui o cálculo dos juros, encontra-se deficitário em R$ 451,5 bilhões (6,4% do PIB). A dívida bruta, por sua vez, recuou para 79,0% do PIB no mês, reflexo das devoluções do BNDES e da venda de reservas internacionais. Para o ano, avaliamos que o déficit primário consolidado encerrará em R$  85 bilhões (1,1% do PIB), ante meta estipulada pelo governo de R$ 132 bilhões (1,8% do PIB), já considerando os recursos dos leilões de petróleo desse final de ano. Já a dívida bruta deverá alcançar o patamar 77,3% do PIB, incluindo devoluções do BNDES de cerca de RS 120 bilhões.

Nos EUA, o Fed reduziu a taxa de juros e sinalizou que novos ajustes dependerão da evolução das condições econômicas. O Fed reduziu a taxa de juros em 0,25 p.p., passando para o intervalo entre 1,50% e 1,75% ao ano. Em seu comunicado, afirmou que a atividade segue robusta e sem pressão inflacionária, enquanto a incerteza global permanece. A respeito dos próximos passos, o comunicado excluiu a frase que revelava a disposição dos membros em ‘sustentar a expansão’, o que, em nossa avaliação, sinalizava manutenção dos juros em dezembro. Em sua entrevista após a reunião, o presidente do Fed, Jerome Powell, sinalizou que novos ajustes dependerão da evolução das condições econômicas, destacando que um novo corte ocorrerá somente se houver uma piora ‘material’ nas perspectivas. Por outro lado, Powell afastou qualquer possibilidade de aumento de juros no curto prazo diante da inflação ‘persistentemente’ abaixo da meta. Com dados mais favoráveis de atividade e a perspectiva de melhora na relação comercial entre EUA e China, o Fed deverá manter inalterado os juros na próxima reunião em dezembro.

O crescimento do PIB dos EUA no 3º trimestre surpreendeu as expectativas, com crescimento robusto do consumo. Na margem, em termos anualizados, o PIB teve alta de 1,9%, acima da expectativa (1,6%), e levemente abaixo do registrado no 2º trimestre (2,0%). O consumo das famílias cresceu 2,9%, permanecendo sólido, apesar de ter desacelerado após a alta de 4,6% no trimestre anterior. O consumo do governo, por seu turno, acelerou, expandindo 2,0%, ante alta de 1,6% no trimestre anterior. O investimento segue fraco diante das incertezas, apresentando recuo de 3%. Em linhas gerais, o PIB mostra que, apesar da desaceleração esperada, o crescimento segue próximo do potencial.

Ainda nos EUA, houve geração de vagas acima do esperado em outubro e os salários seguem contidos. No mês, 128 mil vagas de trabalho foram geradas, resultado acima do esperado pelo mercado (85 mil). O resultado torna-se ainda mais forte considerando que a indústria fechou 36 mil vagas, impactada por uma greve que atingiu o setor automotivo. Os salários, por seu turno, tiveram alta de 0,1% na margem, ante expectativa de 0,3%. Por fim, diante do aumento da taxa de participação (63,3%), a taxa de desemprego aumentou de 3,5% para 3,6%. Se, por um lado, a geração de vagas não mostra sinais preocupantes de desaceleração após o aumento da tensão comercial entre China e EUA, por outro lado, a dinâmica comedida de salários resulta em menor pressão inflacionária. Esse cenário corrobora a manutenção dos juros pelo Fed em dezembro.

Na Zona do Euro, a prévia do PIB do 3º trimestre mostra a continuidade de um crescimento fraco, enquanto a inflação ao consumidor (CPI) permanece baixa. Na margem, o PIB expandiu 0,2%, acima da expectativa (0,1%), e manteve o mesmo ritmo do trimestre anterior. Esse crescimento, compatível em termos anualizados com expansão de 0,8%, segue abaixo do potencial de 1,2%, o que resulta em ausência de pressão inflacionária. Com relação à dinâmica de preços, o CPI registrou alta de 0,7% em outubro na variação anual, em linha com o esperado, desacelerando ligeiramente com relação ao dado de setembro (0,8%). Esses indicadores reforçam a postura acomodatícia do Banco Central Europeu no contexto de desaceleração da atividade na região, que sofre com sua maior exposição ao cenário de incerteza global e inflação distante da meta de 2,0%.

Na próxima semana:

Na agenda local, os destaques ficam por conta da Ata do Copom na terça-feira e para a inflação ao consumidor (IPCA) na quinta-feira, para a qual projetamos alta de 0,06%. Além disso, está prevista a divulgação da agenda pós previdência na terça-feira e o leilão da Cessão Onerosa na quarta-feira. Na agenda global, destaque para os indicadores de inflação e comércio da China ao longo da semana. A produção industrial da Alemanha de setembro será divulgada na quinta-feira.

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