Enfoque Macro Semanal – Bradesco Asset

ENFOQUE MACRO SEMANAL
19 de abril de 2024

BRASIL:  Comércio impulsionou a atividade em fevereiro

MUNDO: Juros devem permanecer elevados por mais tempo nos EUA

EVENTOS DA SEMANA

Em uma semana com muita volatilidade nos mercados globais, consolida-se a expectativa de que o início do ciclo de corte de juros nos EUA segue distante. O período recente também foi marcado por eventos adversos, com muitas incertezas decorrentes dos conflitos no Oriente Médio, e pela comunicação de diversos bancos centrais, por ocasião dos encontros do FMI. Ainda que os riscos advindos do ambiente geopolítico continuem presentes, o cenário para o Fed tem se consolidado, na direção da postergação do momento em que haverá condições para começar o corte de juros. Com isso, encerra-se esta semana com abertura das curvas de juros e valorização do dólar em relação à maioria das moedas. No Brasil, os destaques ficaram nas diversas manifestações de membros do Banco Central, que reforçaram o ambiente de incerteza dos mercados globais. Diante disso, a sinalização é que as próximas decisões estão abertas e condicionadas à evolução do cenário, que hoje reduz, na nossa visão, o espaço para cortes adicionais da Selic. Para a próxima reunião do Copom, a indicação é de redução do passo para 25 pb. Os preços dos ativos locais, consequentemente, reagiram com elevação dos juros embutidos nas curvas futuras, depreciação do real e queda nos mercados acionários.

Bom desempenho da economia em fevereiro foi favorecido especialmente pelo comércio. Consolidando os resultados já conhecidos do mês, o Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) registrou crescimento de 0,4% no mês, conforme divulgado pelo Banco Central nesta semana. O resultado refletiu o avanço das vendas do varejo ampliado (1,2%), que foi capaz de compensar a retração do volume de serviços (-0,9%) e da produção industrial (-0,3%). Na comparação interanual, o IBC-Br avançou 2,6%, desacelerando ante o observado em janeiro (3,3%). Em termos de carrego, a média de janeiro e fevereiro representa alta de 1,2% em relação à média do último trimestre do ano passado, reforçando a visão de atividade em ritmo forte e superando as expectativas no primeiro trimestre, dada a fase atual do ciclo de política monetária (de juros ainda no terreno contracionista).

Fed indicou a possibilidade de manter os juros inalterados por mais tempo, com implicações para outros bancos centrais. Após duas semanas com dados de atividade e inflação mais fortes nos Estados Unidos, o presidente do Fed, Jerome Powell, indicou que a taxa de juros deve permanecer estável no patamar atual por mais tempo. Os dados recentes não deram à autoridade monetária confiança de que a inflação está se movendo de forma sustentável em direção à meta de 2%. Nesse contexto, o presidente do Banco Central do Brasil também se pronunciou em uma série de reuniões que ocorreram ao longo da semana nos encontros do FMI. Roberto Campos Neto indicou que a elevação da incerteza nesse cenário poderia levar o Banco Central a alterar o ritmo de corte de juros. Na reunião de março, o Copom indicou que o próximo passo mais provável seria um corte de 50 pb da taxa Selic, no entanto, tanto o presidente quanto outros diretores do BCB que falaram ao longo da semana apontaram que este não era mais o cenário base, diante da forte reação do mercado ao cenário de juros americanos elevados por mais tempo. A indicação é que o mais provável é um passo de 25 pb para a reunião de maio. Por outro lado, diversos membros do Banco Central Europeu reforçaram que as condições para início de corte de juros na região estão se consolidando, mantendo a possibilidade mais provável da primeira redução ocorrer em junho. Vale destacar o discurso da presidente Christine Lagarde que reconheceu que a divergência da política monetária entre o Fed e o BCE poderia levar a uma depreciação do euro. Ainda assim, outras variáveis locais – em especial a desinflação em andamento na região – são mais relevantes neste momento para a autoridade monetária europeia.

Atividade econômica nos EUA segue aquecida, postergando as expectativas para início do corte de juros. Em março, as vendas no varejo registraram avanço de 0,7% no mês, acima da mediana do mercado (0,4%), porém desacelerando ante fevereiro (0,9%). O índice do grupo de controle, proxy para o consumo medido pelas contas nacionais (que exclui serviços de alimentação, automóveis, materiais de construção e combustíveis), por sua vez, acelerou de uma alta de 0,3% para outra de 1,1% em março, superando consideravelmente as expectativas (0,4%). A produção industrial, por fim, subiu 0,4%, mantendo o ritmo observado no mês anterior. Com esses resultados de março, o tracking do PIB aponta para crescimento anualizado próximo de 2,5% no primeiro trimestre, acima do crescimento de 1% estimado no início do ano. Diante da resiliência da atividade, o cenário de manutenção do atual patamar dos juros nos EUA foi reforçado.

Forte desempenho da economia chinesa observado no início deste ano deve moderar daqui para frente. O PIB chinês avançou 1,6% entre o último trimestre de 2023 e o primeiro de 2024, e na comparação interanual, o crescimento do PIB atingiu 5,3%, bem acima das expectativas (4,8%). Interessante notar que, para tanto, os dados do primeiro bimestre foram fortes, ainda contando com a melhora de serviços (sob efeito da reabertura da economia), mas com moderação já observada em março e os resultados da indústria e do comércio surpreenderam negativamente. De fato, os investimentos em ativos fixos subiram 4,5% no acumulado ao longo do ano e a produção industrial e as vendas no varejo registraram aumentos respectivos de 4,5% e 3,1% na comparação com o mesmo mês do ano passado. Os indicadores do setor imobiliário, por sua vez, continuaram mostrando fraco desempenho, com quedas próximas de 30% das vendas e dos lançamentos de imóveis residenciais, no acumulado deste ano. Em suma, se por um lado as exportações e, consequentemente, a indústria, seguem crescendo em ritmo forte, o segmento de construção de imóveis não tem dado sinais de melhora e entendemos que essa divergência seguirá presente neste ano. Por fim, incorporando a surpresa positiva com o resultado do PIB do primeiro trimestre e assumindo uma acomodação daqui para frente, ajustamos nossa expectativa para o crescimento deste ano, de 4,7% para 5,1%.

NA PRÓXIMA SEMANA

Na agenda doméstica, destaque para a divulgação do IPCA-15 de abril. No cenário internacional, as atenções se voltam para os dados de PIB e inflação nos EUA.

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