Enfoque Macro Semanal – Bradesco Asset

ENFOQUE MACRO SEMANAL
12 de abril de 2024

BRASIL:  IPCA registrou variação abaixo das expectativas em março

MUNDO: Inflação nos EUA continua elevada

EVENTOS DA SEMANA

O destaque dos mercados globais nesta semana foi reavaliar mais uma vez as expectativas em relação ao início de corte de juros nos EUA. A surpresa com o resultado da inflação no país, que avançou 0,38% na passagem de fevereiro para março, consolidou a visão de que a economia norte-americana, ainda aquecida e com inflação acima da meta, não oferece condições para uma redução de juros no curto prazo. Com isso, as curvas de juros nos EUA – e na grande maioria dos países – abriram, o que levou a um fortalecimento do dólar em relação à maioria das moedas. Essa tendência ainda foi reforçada pela decisão do Banco Central Europeu que sinalizou que deve, em breve, iniciar a redução da taxa de juros – provavelmente em sua reunião de junho. Com isso, a divergência entre a política monetária da Área do Euro e dos EUA em relação ao momento de início do ciclo de normalização dos juros deve acontecer nos próximos meses, lembrando que nosso cenário indica que o primeiro corte de juros nos EUA deve acontecer em setembro ou depois disso. No Brasil, os resultados dos dados trouxeram sinais mistos. De um lado, com surpresas baixistas, o IPCA de março trouxe uma composição mais benigna e o resultado de serviços de março mostrou retração do setor; de outro, as vendas do comércio vieram expressivamente acima das expectativas em fevereiro. Como resultado dos eventos da semana, nos mercados domésticos, predominaram os fatores externos: houve depreciação do real e alta dos juros longos refletindo a preocupação com um cenário de inflação futuro mais pressionado e de postergação do corte de juros nos EUA.

Inflação mostrou quadro mais benigno em março. O IPCA registrou variação de 0,16% na margem, abaixo da expectativa do mercado (0,25%) e da nossa projeção (0,23%), interrompendo uma sequência de três meses com surpresas altistas. A maior contribuição partiu do setor de alimentação e bebidas (0,53%), embora ele tenha desacelerado em relação a fevereiro. Em relação às nossas projeções, a maior surpresa baixista ficou concentrada em Energia Elétrica e Alimentação no domicílio. Para a maior parte do mercado, a agregação de Bens Industrializados ficou abaixo das expectativas, com uma deflação de 0,14% no mês, com recuo importante de bens duráveis. Em relação a serviços, o avanço também ficou abaixo das expectativas, com uma elevação de 0,10% no mês. O núcleo de Serviços Subjacentes, que exclui itens mais voláteis e tem maior correlação com o ciclo econômico, avançou 0,45%, com forte alta de Cinema, teatro e concertos (5,14%), devolvendo a deflação do mês anterior, quando houve uma semana de descontos. Mesmo com esse movimento, o avanço da média móvel de três meses dessazonalizada dos Serviços Subjacentes foi modesto, saindo de 5,3% para 5,5%. Em relação à média dos núcleos de inflação do Banco Central, medidas que excluem ou suavizam itens voláteis, a medida interrompeu sua tendência de aceleração, passando de 4,2% para 3,7% na média móvel anualizada de três meses dessazonalizada. Nesse contexto, mantivemos nossa projeção de 3,7% para o IPCA de 2024.

Vendas no varejo registraram crescimento acima do esperado em fevereiro. De acordo com os dados do IBGE, o volume de vendas no varejo restrito teve avanço de 1,0% no mês, substancialmente acima da expectativa do mercado (-1,5%). A maior parte dos itens que compõem o indicador registraram crescimento na margem, com destaque para artigos farmacêuticos (9,9%), outros artigos de uso pessoal e doméstico (4,8%) e móveis e eletrodomésticos (1,2%). O varejo ampliado, que inclui vendas de automóveis, materiais de construção e atacado de alimentos, por sua vez, teve acréscimo de 1,2% em fevereiro, também superior à projeção do mercado. Na segregação por setores ligados a crédito e setores ligados à renda, o resultado do varejo ampliado no mês veio do segundo grupo. Por isso, a nosso ver, o resultado do comércio no mês está ligado a uma maior renda disponível, tanto pela aceleração salarial como pelo pagamento dos precatórios no final do último ano. Esperamos, no entanto, crescimento mais moderado do varejo nas próximas leituras.

Na contramão do varejo, o setor de serviços surpreendeu negativamente ao se retrair em fevereiro. Conforme os dados do IBGE, o volume total de serviços prestados registrou queda de 0,9% no mês, abaixo da expectativa do mercado (0,2%). Dos cinco grandes setores, quatro apresentaram recuo, devolvendo o bom resultado de janeiro. A principal contribuição negativa partiu de serviços profissionais, administrativos e complementares (-1,9%), seguido por serviços de informação e comunicação (-1,5%), serviços de transporte (-0,9%) e outros serviços (-1,0%). Por sua vez, os serviços prestados às famílias tiveram crescimento de 0,4%, puxados por alojamento e alimentação, fruto da alta da renda real disponível no início deste ano. Nos próximos meses, o patamar ainda aquecido do mercado de trabalho deverá sustentar o crescimento do segmento de famílias.

Inflação nos EUA permaneceu elevada em março. O índice de preços ao consumidor (CPI) variou 0,4% no mês, acima da mediana do mercado (0,3%), e avançou na comparação interanual, passando de 3,2% para 3,5%. O núcleo da inflação, por sua vez, subiu 0,36%, mesmo número observado no mês anterior, também acima das expectativas (0,3%). Na comparação interanual, o indicador interrompeu sua tendência de queda, permanecendo em 3,8%. A composição do indicador tem mostrado resiliência da inflação de aluguéis e aceleração dos preços de serviços, o que deve aumentar a postura cautelosa por parte do Fed. Com isso, em nosso cenário, o início do ciclo do corte de juros deverá ser postergado para setembro, com possibilidade concreta de postergação adicional.

A ata da última reunião do Fed não trouxe novidades a respeito do início do ciclo de corte de juros. No documento, os membros qualificaram o crescimento econômico no primeiro trimestre como robusto, e avaliam que as condições de oferta e demanda no mercado de trabalho estão ficando mais equilibradas. A respeito da inflação, o Fed considerou que houve progresso significativo na desinflação, porém ressaltou que as leituras recentes foram mais fortes do que esperado. Em relação aos próximos passos da política monetária, quase todos os participantes julgaram como apropriado reduzir a taxa de juros em algum momento desse ano, à medida que houver maior confiança de que a inflação esteja convergindo para a meta de 2%. Os membros concordaram com a importância de comunicar claramente a dependência dos dados para as próximas decisões e compreenderam que o atual nível da taxa de juros está bem-posicionado para responder às condições econômicas, seja através da manutenção desse patamar restritivo em que se encontra caso o processo desinflacionário desacelere ou pela redução da restrição se houver uma perda de força do mercado de trabalho. A respeito do balanço de ativos, a maioria dos membros concorda que em breve será necessário reduzir o ritmo de redução do balanço. Em linhas gerais, apesar de reconhecerem a piora do cenário nesse início de ano, o comitê ainda mantém um cenário de corte de juros.

Banco Central Europeu (BCE) manteve suas taxas de juros inalteradas, mas reforçou que as condições para o início do ciclo de cortes estão se consolidando. A autoridade monetária da Área do Euro manteve a taxa de depósito em 4,0%, de acordo com as expectativas. Mais importante que isso, foi o ajuste do comunicado, indicando que o momento da redução da taxa de juros está se aproximando. Na coletiva de imprensa, após a decisão, a presidente da instituição reconheceu que o BCE vem ganhando confiança de que o cenário atual – dado pelas perspectivas da inflação, pela dinâmica dos núcleos e a força da transmissão da política monetária – garante a convergência da inflação para a meta de 2% em meados de 2025. Além disso, ressaltou que as decisões do BCE não dependem do que acontecerá com o Fed e que levarão em conta diversas métricas de inflação (mesmo que serviços sigam mais elevados). Diante disso, entendemos que o corte de juros na região deve acontecer em junho, quando a autoridade monetária europeia terá mais informações e divulgará suas projeções atualizadas.

Surpresas baixistas com os dados de comércio exterior e crédito de março indicam possíveis limites para a melhora da economia chinesa nos trimestres à frente. As exportações chinesas recuaram 7,5% em março em relação ao mesmo mês do ano passado, ante expectativa de queda de 1,9%. Na mesma direção, as importações recuaram 1,9%, frustrando o consenso de mercado que esperava alta de 1,0%. Tentando eliminar parte da volatilidade advinda do feriado do ano novo lunar, no primeiro trimestre, exportações e importações acumulam respectivas quedas de 2% e expansão de 1% e as vendas externas seguem exibindo melhora dos volumes e retração dos preços. Conhecemos nesta semana também os indicadores de inflação, que continuam bastante baixos, com alta interanual de 0,1% dos preços ao consumidor e queda de 2,8% dos preços no atacado. Por fim, os dados de crédito referentes a março foram moderados, com o estoque total de financiamentos desacelerando de uma alta de 9% em fevereiro para outra de 8,7% no mês passado, refletindo em grande medida a normalização das emissões de títulos públicos e a queda de 11% das concessões nos três primeiros meses deste ano na comparação com mesmo período do ano passado.  De todo modo, mantemos nossa avaliação mais favorável para a China neste ano, em função das perspectivas ainda positivas para as exportações e, portanto, para a indústria. O setor imobiliário e o consumo, por sua vez, devem manter dinâmica mais moderada.

NA PRÓXIMA SEMANA

Na agenda doméstica, destaque para a divulgação do IBC-Br de fevereiro. No cenário internacional, as atenções se voltam para dados de atividade nos EUA e na China.

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