ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

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BRASIL: Sondagem Focus mostrou aumento da projeção de inflação 2023

MUNDO: BCE elevou a taxa de juros pela primeira vez em mais de uma década

 

No cenário internacional, os destaques foram a decisão de política monetária do BCE (Banco Central Europeu) e a divulgação dos índices PMI. A decisão do BCE de elevar a taxa de juros em 50 pb surpreendeu a expectativa do mercado de elevação de 25 pb. Em entrevista após a reunião, a presidente da instituição, Christine Lagarde, afirmou que o principal motivo para a decisão de adoção de um passo maior do que o sinalizado foi a deterioração da inflação corrente (houve surpresa para cima na última divulgação da inflação ao consumidor). Os indicadores de confiança (PMI) na Zona do Euro e EUA frustraram no mês de julho, tanto para o setor de serviços como para o setor industrial, sinalizando contração da atividade no terceiro trimestre. A composição dos indicadores revela queda na expectativa de demanda e alguns sinais de aumento de estoques, implicando algum arrefecimento na pressão de preços. No Brasil, os destaques ficaram para a divulgação dos dados do relatório Focus e do anúncio da Petrobras da redução de cerca de 5% no preço da gasolina nas refinarias. Segundo o Focus, a mediana das projeções para a inflação de 2022 e 2023 se situa em 7,54% e 5,20%, respectivamente, e seguem superando a banda superior da meta de inflação.

Relatório Focus exibe revisão para cima das projeções de inflação para 2023. Embora as revisões para o IPCA deste ano tenham passado de 8,89% no início do mês de junho para 7,54% nesta semana – em virtude da redução de impostos sobre combustíveis, energia elétrica e telecomunicações -, o cenário inflacionário continua desafiador. Para a inflação de 2023, horizonte com maior relevância para a próxima decisão de juros do Banco Central, as projeções de mercado estão em 5,20%, acima da meta de 3,25%. Para 2024, a projeção de inflação volta a convergir para o redor da meta de 3,00%. Nossa estimativa é que a inflação encerre o ano de 2022 em 7,6%, com deflação nos meses de julho e agosto gerada por medidas tributárias, principalmente em preços administrados. A mediana das projeções para o crescimento do PIB de 2022, por sua vez, sofreu revisões relevantes para este ano, situando-se em 1,75%. Nossa projeção, acima da mediana do mercado, contempla um PIB de 2,1% para 2022, incorporando impactos positivos das medidas fiscais de governo, além da liberação de renda disponível via redução do ICMS.

Por fim, em relação à expectativa para a taxa Selic, esperamos a continuidade do ciclo de alta de juros até a reunião de setembro, com taxa terminal de 14,00% em 2022,  ao passo que o mercado espera 13,75% para o fim do ciclo. Por outro lado, o mercado mantém uma taxa de juros elevada por um período mais longo, com taxa de juros em 10,75% no final do ano e 8,00% para final de 2024. Nossa expectativa é que a partir de meados de 2023, com um sinal mais claro de desaceleração da inflação, juntamente com um com uma desaceleração da atividade e com praticamente todos países do mundo com a política monetária no campo restritivo, o Banco Central inicie um ciclo de cortes.

A arrecadação federal apresentou resultado acima do esperado em junho. A arrecadação total atingiu R$ 181 bilhões (ante expectativa de R$ 175 bilhões), o que representa alta de 18% em termos reais na comparação com 2021. No ano, a arrecadação já somou R$ 1,09 trilhão e representa um avanço de 11% em termos reais ante 2021. Em junho, destaque para o recolhimento do Imposto de Renda de Pessoa Jurídica (IRPJ) com R$ 23 bilhões e da Contribuição Social Sobre o Lucro Líquido (CSLL) com R$ 11,3 bilhões. Mesmo frente às políticas de redução de impostos, o desempenho da arrecadação continua apresentando surpresa para cima. Desconsiderando fatores não recorrentes e alterações na legislação, o avanço das receitas em termos reais foi de 18,7% em junho e de 9,4% nos primeiros seis meses do ano. O desempenho positivo da arrecadação no ano pode ser explicado pela surpresa da atividade e pela alta da inflação.  Apesar do quadro positivo no curto prazo, políticas de desoneração tributária, reversão do ciclo de alta das commodities e desaceleração da inflação inserem um viés de baixa para a arrecadação no médio prazo.

O Banco Central Europeu (BCE) elevou a taxa de juros pela primeira vez em mais de uma década. As taxas de juros de refinanciamento, liquidez e depósito foram elevadas em 50 pb, migrando para 0,5%, 0,75% e 0%, respectivamente. A expectativa de mercado era de uma alta de 25 pb, embora nas últimas semanas a possibilidade de um aperto mais intenso tenha ganhado força com declarações de dirigentes sobre a necessidade de uma normalização mais rápida da política monetária. Sobre os próximos passos, o BCE avalia como apropriado a continuidade do aperto monetário nas próximas reuniões. Ademais, a autoridade monetária anunciou a criação de um novo programa para lidar com o risco de fragmentação dos títulos na região, denominado Instrumento de Proteção à Transmissão (TPI, sigla em inglês). O TPI será utilizado para combater dinâmicas desordenadas de mercado e contemplará essencialmente a compra de títulos públicos, embora a compra de títulos privados seja possível. De forma discricionária, o acionamento do TPI dependerá de uma avaliação do BCE sobre as condições de mercado e de transmissão da política monetária. Em termos de abrangência, todos os membros são elegíveis ao programa, desde que sigam as regras fiscais da União Europeia. Após a divulgação da decisão, a presidente do BCE, Chirstine Lagarde, destacou que o risco inflacionário segue altista na região, apesar da expectativa de desaceleração da atividade nos próximos meses. Avaliamos que o BCE deverá elevar as taxas de juros novamente em 50 pb na reunião de setembro.  

As prévias dos índices de confiança (PMI) de julho indicam contração na atividade para o terceiro trimestre, tanto na Zona do Euro quanto nos Estados Unidos. O PMI Composto da Zona do Euro, que incorpora as expectativas da indústria e dos serviços, recuou para 49,4 pontos em julho, ante 52,0 em junho, indicando atividade em contração (nível abaixo de 50 pontos). A composição revelou queda na margem da indústria, de 52,1 para 49,6 pontos em julho, enquanto o setor de serviços recuou de 53,0 para 50,6 pontos no mês. Nos EUA, o PMI Composto recuou de 52,3 para 47,5 pontos em julho, com recuo da indústria de 52,7 para 52,3 pontos, e redução da confiança do setor de serviços de 52,7 para 47,0 pontos no mês. De modo geral, os resultados refletem a insegurança frente ao risco de desaceleração mais intensa da atividade nos próximos meses. O declínio mais intenso de novos pedidos resulta em um aumento dos estoques, o que sinaliza algum arrefecimento na inflação de bens nos próximos meses.

Na próxima semana

Na agenda doméstica, destaque para a divulgação do IPCA-15 (BRAM: 0,16%) na terça-feira e dados de emprego — Caged e PNAD — na quinta e sexta-feira, respectivamente. No cenário internacional, destaque para a reunião de decisão da taxa de juros do FOMC na quarta-feira (expectativa de 75 pb).

 

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