ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

BRASIL: Mercado de trabalho segue forte em termos de ocupação

MUNDO: Na Zona do Euro, houve nova surpresa de alta nos indicadores de inflação

 

Cenário econômico e perspectivas

Estamos em meio ao processo de transição para um novo equilíbrio na economia global. Com a economia desorganizada pelos efeitos da pandemia, o caminho deverá permanecer ruidoso e, em boa medida, com grau de previsibilidade abaixo do padrão histórico. A configuração desse “novo equilíbrio” para os próximos trimestres contempla juros mais elevados, substancial desaceleração do crescimento global e, depois de algum tempo, queda da inflação. Contudo, será um desafio para os bancos centrais calibrarem suas políticas monetárias e para os modelos econômicos de projeções mensurarem a intensidade desse processo.

Na reunião de junho, o Fed surpreendeu ao elevar a taxa básica em 75 pb, em decisão com característica de emergência (evidenciada pela comunicação extraoficial a poucos dias da reunião). As expectativas para a taxa básica de juros no final do ciclo passaram do patamar de 3% para 4%, mas retornaram gradualmente para nível mais baixo por conta de sinais iniciais de desaceleração da atividade. Os últimos indicadores divulgados para os EUA mostraram acomodação do consumo das famílias, redução das encomendas à indústria e certo alívio dos gargalos de oferta, além de sinais de que a demanda por combustíveis começou a ser afetada pela elevação substancial de preços. Ainda é cedo para conclusões definitivas, mas são sinais iniciais de que o aperto das condições financeiras e o rebalanceamento da demanda entre bens e serviços podem estar exibindo seus efeitos. Olhando adiante, mantemos a avaliação que o processo de desaceleração da atividade nas principais regiões deverá perdurar por mais alguns trimestres e que a inflexão da inflação ainda levará algum tempo. O Banco Central Europeu deverá confirmar o início, em julho, do processo de ajuste de sua política monetária. Entre os riscos a serem monitorados no curto prazo, destacamos a possibilidade de deterioração adicional da crise de energia na Europa, frente às dúvidas sobre nova redução da oferta de gás.

No quadro doméstico, o Banco Central confirmou a expectativa de elevação da taxa de juros em 50 pb, para 13,25% a.a. A sinalização apontava para nova alta na reunião de agosto, de 50 ou 25 pb. Os indicadores correntes de atividade também seguiram exibindo desempenho mais firme do que seria esperado para esse momento do ciclo de aperto monetário. O principal destaque para o cenário doméstico, contudo, esteve concentrado na política fiscal. A adoção de novas medidas de estímulo, tanto em relação a desonerações para diferentes setores quanto do lado da despesa do setor público implicam em impulso fiscal relevante para o segundo semestre. Em particular, há efeitos relevantes para a renda disponível das famílias, o que tende a produzir impactos sobre o consumo das famílias. Com isso, revisamos nossa projeção para o PIB do ano para 1,9% em 2022. De outro lado, consideramos que os sinais correntes de atividade mais firme, maior aquecimento do mercado de trabalho e novos impulsos fiscais poderão levar o Banco Central a reavaliar a situação atual e as projeções para hiato do produto para uma posição mais apertada. Com menor ociosidade da economia, avaliamos que passou a ser possível que o Copom prolongue por mais uma reunião o ciclo de política monetária, com a Selic terminal se deslocando de 13,75% para 14,00% em nosso cenário base.

Eventos da semana

No cenário internacional, a semana contou com a divulgação dos dados do CPI na Zona do Euro e de atividade nos EUA e na China. Em doze meses, a taxa de inflação ao consumidor da zona do euro atingiu a máxima histórica de 8,6%, superando o recorde de 8,1% de maio. Em termos do núcleo, quando extraímos os componentes de energia e alimentos, impactados pela continuidade do conflito entre Rússia e Ucrânia, a taxa anual de inflação atingiu 3,7% em junho, abaixo das expectativas do mercado de 3,9%. Nos Estados Unidos, os dados de confiança do ISM revelaram desaceleração da indústria em junho, com o resultado abaixo do esperado pelo mercado. Por sua vez, o sub-índice da pesquisa sobre preços apresentou desaceleração, aumentando as expectativas do mercado em relação à divulgação da inflação ao consumidor (CPI) na próxima semana. Na China, índices de confiança das empresas (PMI, sigla em inglês), mostraram forte avanço em junho, impulsionados pela suspensão de lockdowns contra a Covid-19. Em termos de política monetária, a semana foi marcada por alta de juros por bancos centrais em diversas economias, com destaque para o Banco Central da Colômbia, que elevou a taxa de juros em 150pb (de 6,00% para 7,50%), e para o Banco Central da Suécia, que elevou a taxa de juros de 0,25% para 0,75%, anunciando a redução do programa de compras de títulos do país. No Brasil, a semana ficou marcada pelos dados de emprego, mais uma vez mostrando um forte desemprenho da atividade. Com o ajuste sazonal, a taxa de desemprego atingiu 9,1% da população, o menor patamar desde agosto de 2015.

A taxa de desemprego atingiu 9,8% no trimestre encerrado em maio. Na série com ajuste sazonal, a taxa recuou de 10,1% em abril para 9,5% em maio. A menor taxa de desemprego na margem pode ser atribuída à alta de 1,3% da população ocupada, que mais do que compensou o avanço da força de trabalho na margem (0,6%). Com isso, a taxa de participação com ajuste sazonal avançou de 62,5% para 62,8%. Houve elevação na margem tanto de trabalhadores formais (1,2%), com maior influência de empregados no setor privado com carteira assinada, como de informais (1,4%), com maior contribuição de empregados no setor privado sem carteira assinada e empregados por conta própria sem CNPJ. Dentre os setores de atividade, as maiores contribuições positivas para o crescimento dos ocupados vieram de comércio (1,8%), indústria (1,6%) e alojamento e alimentação (2,6%). O rendimento médio real habitual teve recuo de 0,2% na margem em maio, por efeito nível. Com isso, a massa de rendimento real teve alta de 1,1% no mês.

Em linha com a evolução da ocupação registrada na PNAD, o Caged registrou a criação líquida de 277 mil vagas em maio. Com ajuste sazonal, o saldo foi positivo em 229 mil postos de trabalho, ante média de 200 mil vagas nos três meses anteriores. Vale lembrar que a média de janeiro e fevereiro de 2020 (pré-crise) tinha sido de 120 mil. Na abertura por atividade, cinco dos nove setores registraram resultado positivo. Destaque para serviços (138 mil, ante 86 mil em abril), comércio (63 mil, ante 43 mil) e indústria de transformação (39 mil, ante 11 mil). Por trás do maior saldo de maio está a queda na margem de admissões (-5,4%) em ritmo inferior ao de demissões (-7,9%). Ainda assim, o patamar de admissões supera em 32% o nível pré-crise. Tanto os dados da PNAD quanto os do Caged evidenciam um mercado de trabalho muito forte em termos de ocupação e força de trabalho, que já superou nível pré-crise. No entanto, vale notar que a massa de rendimento real segue abaixo do nível pré-crise, isso é, os salários seguem com perda real como fruto da queda de qualidade das ocupações e reajustes salariais aquém da inflação nesse período.

O Governo Central foi deficitário em R$ 39,4 bilhões em maio, ante déficit de R$ 21 bilhões no mesmo período em 2021. Comparado a maio do ano passado, houve aumento real de 5,6% das receitas, com destaque para o aumento de R$ 3,4 bilhões do Imposto sobre a Renda (7,4% em termos reais). Entre as receitas não administradas pela Receita Federal, destaque para dividendos e participações, com alta de R$ 3,2 bilhões (33,1% em termos reais). Do lado das despesas, o avanço real foi de 7,9%, liderado pelo aumento de R$ 20,7 bilhões nos benefícios previdenciários (30,3% em termos reais) em decorrência da antecipação do pagamento do 13º salário, e aumento de R$ 6,4 bilhões nas despesas obrigatórias com controle de fluxo (49,6). Em 12 meses, o Governo Central acumula déficit de R$ 21,3 bilhões (0,3% do PIB). O ritmo mais forte da atividade e o preço elevado de commodities continuam a contribuir para resultados favoráveis para a arrecadação. Apesar da perspectiva de aumento de despesas que não estavam previstas ao longo do segundo semestre, o governo central deverá ter déficit de R$ 10 bilhões nesse ano.

Na Zona do Euro, houve nova surpresa de alta dos indicadores de inflação. No acumulado em 12 meses, o CPI variou 8,6%, ante expectativa de 8,4% pelo mercado. O destaque mais uma vez foram os preços de energia, que tiveram variação anual de 42% em junho. O núcleo da inflação, métrica que exclui alimentos e combustíveis e costuma receber mais atenção por parte das autoridades monetárias, avançou para 3,7% na comparação anual, abaixo das expectativas do mercado (3,9%) e da leitura do mês anterior (3,8%). Essa desaceleração do núcleo ocorreu essencialmente em virtude do corte temporário de tarifas pela Alemanha. De forma geral, a região segue com pressão de custos na cadeia de bens e alta nos preços de energia derivados do conflito entre Rússia e Ucrânia. Os problemas de oferta, somados ao crescimento forte ao longo do primeiro semestre, pressionam ainda mais o Banco Central Europeu a iniciar um ciclo de aperto monetário. Esperamos alta de 0,25 pb na reunião de julho, com sinalização de alta de 50 pb na reunião de setembro.

Os dados de confiança (PMI oficial) na China mostraram melhora parcial da atividade com o fim das medidas de restrição. O PMI da Indústria passou de 49,6 em maio para 50,2 pontos em junho, enquanto o PMI de Serviços passou de 47,8 para 54,7 pontos no mês. Ambos passaram para o território expansionista (acima de 50 pontos), com o setor industrial desapontando as expectativas de mercado (50,5 pontos) e o de serviços superando a mediana das projeções (50,1 pontos). Com este resultado, o PMI Composto passou de 48,4 para 54,1 pontos em junho. A melhora na margem pode ser explicada pelo fim das medidas de restrição no início de junho nos principais centros do país. Entretanto, vale destacar que o setor industrial ainda conta com atrasos nas entregas de acordo com a sondagem, o que pode acentuar gargalos de oferta global. Ademais, o fraco desempenho do mercado imobiliário e a desaceleração da demanda podem implicar em novas revisões baixistas para o PIB, para o qual projetamos crescimento de 4,1%.

 

Na próxima semana

Na agenda doméstica, destaque para a divulgação do IPCA de junho (BRAM: 0,75%) na sexta-feira e dos dados de produção industrial de maio na terça-feira. No cenário internacional, destaque para a divulgação da ata do FOMC na quarta-feira e para o relatório do emprego dos EUA na sexta-feira.

 

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