ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

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BRASIL: Balança comercial tem desempenho acima do esperado em abril

MUNDO: FMI revisou negativamente suas projeções de crescimento, devido às tensões globais

 

Os principais destaques da semana nos mercados se concentram no âmbito internacional. Na Europa, a leitura final dos dados de inflação de março elevou a pressão sobre os próximos passos de política monetária do Banco Central Europeu (BCE). Esse fato levou alguns membros do BCE a deixarem em aberto a possibilidade do encerramento do programa de compra de ativos, e de um eventual aumento de juros, já no mês de julho. Ainda na Europa, o índice de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) surpreendeu positivamente, com o setor de serviços sendo o principal responsável pela aceleração. Por outro lado, o discurso de Jerome Powell, presidente do Fed, reforçou a possibilidade de um aumento de 50 pp na taxa de juros básica em maio. Por último, na China, a manutenção das restrições de mobilidade em meio à alta de casos de COVID-19 eleva a preocupação dos mercados globais, principalmente por conta das potenciais consequências sobre a criação de novos gargalos na economia mundial.

A balança comercial encerrou a terceira semana de abril apresentando saldo positivo de US$ 5,48 bilhões, acumulando superávit de US$ 16,7 bilhões em 2022. De uma forma geral, mesmo com as incertezas do conflito entre Rússia e Ucrânia e seus efeitos sobre o comércio internacional, as exportações vêm sendo beneficiadas em boa parte pelos preços elevados das commodities (como petróleo) e alimentos. A média diária das exportações registrou, nas três primeiras semanas de abril, aumento de 19,5%, com crescimento de 38,6% nos bens da Indústria de transformação e de 12,5% em produtos da indústria extrativa. Em relação aos principais itens exportados, os destaques no mês de abril permanecem se concentrando nas vendas de óleos brutos de petróleo e carnes. Pelo lado das importações, destaque positivo para a indústria de transformação, com a maior contribuição vinculada às compras de adubos ou fertilizantes químicos com avanço de 225,5% na comparação interanual.

Na Zona do Euro, a inflação ao consumidor (CPI) apresentou variação de 7,4% em termos anuais em março, representando aceleração de 1,5 pp em relação a fevereiro. Destaque para os preços de energia, que tiveram variação anual de 44,4%, ante aumento de 32,3% registrado em janeiro. O núcleo da inflação, métrica que exclui a inflação com alimentos e combustíveis e costuma receber mais atenção por parte das autoridades monetárias, avançou para 2,9% na comparação anual, após variação de 2,7% no mês anterior.  A aceleração da inflação na região corrobora o cenário de encerramento do programa de ativos pelo Banco Central Europeu (BCE) e aumento de juros no segundo semestre.

Indicador prévio de confiança (PMI) de abril aponta resiliência da atividade na Zona do Euro e nos Estados Unidos. O PMI Composto da Zona do Euro, que incorpora as expectativas da indústria e dos serviços, subiu de 54,9 pontos em março para 55,8 em abril, ante 55,5 em fevereiro, indicando atividade em expansão (nível acima de 50). A composição foi mais favorável para o setor de serviços, que se beneficiou do fim das restrições à mobilidade, enquanto a indústria desacelerou na margem, com sinais de problemas na oferta de insumos. De modo geral, a atividade na região surpreende de maneira positiva, aumentando a pressão sobre a retirada de estímulos pelo BCE. Nos EUA, o índice composto perdeu força entre março e abril, cedendo de 57,7 para 55,1 pontos. Ao contrário da Zona do Euro a desaceleração ficou concentrada no setor de serviços, com maiores preocupações sobre o efeito do aumento da inflação no comportamento dos consumidores.

De modo geral, o conflito entre Rússia e Ucrânia impactou mais significativamente a percepção sobre a alta de custos na produção. As incertezas sobre o conflito e os impactos sobre o fornecimento de insumos implicaram novo aumento da percepção sobre o incremento de custos. A política de “Covid zero” na China também reforça o quadro de preocupação sobre a oferta global de produtos.  Diante da avaliação que a demanda supera a oferta tanto na indústria quanto em serviços, somado aos maiores preços de commodities e energia, o cenário de inflação pressionada deverá persistir, ensejando novas rodadas de aperto monetário pelos banco centrais nos próximos meses.

Essa avaliação sobre o impacto inflacionário do conflito foi compartilhada pelas autoridades monetárias em evento do FMI. O Presidente do Fed, Jerome Powell, defendeu que atual ciclo de aperto monetário seja mais rápido e que a alta de 50 pb na próxima reunião está em discussão. Já a presidente do BCE, Christine Lagarde, preferiu não indicar o momento de alta de juros, mas reforçou a preocupação com possíveis impactos secundários do aumento dos preços de energia sobre a inflação. Ao longo da semana, membros do BCE foram mais enfáticos sobre o início do aperto monetário na Zona Euro, sinalizando as reuniões de julho e setembro como possibilidades.

Justamente em virtude do conflito, o FMI revisou negativamente suas projeções de crescimento. Após expansão de 6,1% em 2021, o PIB global deverá crescer 3,6% nesse ano, ante previsão de 4,4% em janeiro. Entre as principais economias, a Zona do Euro foi a que sofreu a maior revisão negativa, de 3,9% para 2,8%, claramente mais exposta ao conflito. Para a China, o Fundo prevê alta de 4,4% (ante 4,8% anteriormente), enquanto os EUA deverá expandir 3,7% (ante 4% anteriormente). Em direção oposta, o Brasil teve sua projeção de PIB revisada para cima, de 0,3% para 0,8%. Comparado ao que projetamos, embora o PIB agregado seja similar, projetamos crescimento de 3,3% para EUA e 4,7% para a China.

Na China, os dados de atividade do primeiro trimestre mostraram sinais majoritariamente positivos, embora  ainda não reflitam as novas medidas de restrição em sua totalidade. O PIB do 1º trimestre teve alta de 4,8% na comparação interanual, acima das expectativas do mercado (4,2%). Na margem, o resultado significa avanço de 1,3% na série com ajuste sazonal, desaceleração em relação à alta de 1,5% no 4º trimestre de 2021. Os dados de atividade referentes a março tiveram resultados mistos. Na comparação interanual, a produção industrial teve alta de 5,0%, acima do esperado, mesmo com grande contribuição negativa da fabricação de veículos refletindo lockdowns em algumas regiões industriais. Da mesma forma, os investimentos em ativos fixos (FAI) se expandiram 7,2%, ante expectativa de 5,6%, puxados por investimentos em infraestrutura. Por sua vez, as vendas no varejo tiveram queda de 3,5% na mesma base de comparação, abaixo do esperado, refletindo as novas restrições por conta da evolução desfavorável da epidemia de Covid-19 no país. Ademais, os dados de setor imobiliário indicaram demanda mais fraca e a taxa de desemprego teve elevação em março. De maneira geral, os dados têm sancionado uma visão de consumo mais fraco por conta das restrições, mas efeitos ainda incipientes sobre as cadeiras de produção. Com a continuidade da política de “Covid zero” no país, a perspectiva de crescimento da China para este ano tem viés de baixa, ainda que seja parcialmente contrabalançado pelos sinais de ampliação dos estímulos de política econômica.

Na próxima semana

Na agenda doméstica, destaque para a divulgação do IPCA-15 (BRAM: 1,8%) na quarta-feira e dados de emprego — Caged e PNAD — na quinta e sexta-feira. No cenário internacional, destaque para a divulgação dos dados de PIB do primeiro trimestre dos Estados Unidos e da Zona do Euro, na quinta e sexta-feira.

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