ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

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BRASIL: IPCA registra variação acima do esperado em março 

MUNDO: Ata do FOMC reforça o cenário de ajuste acelerado da política monetária

 

No mercado local, o grande evento da semana foi a divulgação do IPCA do mês fechado de março. A alta de 1,62% no mês (acumulando aumento de 11,30% em 12 meses) representou substancial surpresa de alta ante a expectativa de mercado de 1,35%. A curva de juros prefixada sofreu abertura significativa, principalmente nos vértices mais curtos. No cenário externo, o destaque da semana ficou para a ata do comitê de política monetária dos Estados Unidos, na qual o Fed indicou um ritmo mais acelerado de retirada dos estímulos da economia. Ademais, possíveis novas sanções contra a Rússia e a continuidade das restrições à mobilidade na China têm contribuído para o aumento da aversão a risco nos mercados globais.

A inflação medida pelo IPCA registrou variação de 1,62% em março, com nova aceleração no acumulado de 12 meses de 10,53% para em 11,30%. O resultado ficou acima do consenso de mercado (1,35%), após alta de 1,01% registrada em fevereiro. Em relação à nossa projeção, a principal surpresa ficou por conta de alimentação no domicílio (3,09%), que foi bastante impactado por preços de alimentos in natura e industrializados. Entre os itens com maior impacto no resultado de março estão gasolina (6,95%) e gás de botijão (6,57%), com aceleração mais forte que o esperado após os últimos reajustes de preços.

Indicadores qualitativos da inflação mostraram arrefecimento apenas em bens duráveis. Neste grupo, destaque para automóvel novo (recuando de 1,68% para 0,47%) e aparelhos eletroeletrônicos (de 1,92% para -0,29%). Por outro lado, os núcleos de inflação, que são métricas que excluem ou suavizam a variação de preços de itens voláteis, continuam em patamares elevados. A média dos núcleos passou de 0,99% em fevereiro para 0,92% em março. Em 12 meses, o indicador atingiu 8,98%. Já o indicador de difusão dessazonalizado, que revela quantos itens apresentaram aumento de preços no mês, subiu de 72,7% para 75,1% (exclui alimentação) entre janeiro e fevereiro.

O cenário de inflação é desafiador e ainda não apresenta sinais de inflexão. Em linhas gerais, o IPCA demonstra persistência mais elevada do que o esperado na parte de bens, apesar do resultado de hoje indicar uma melhora. Serviços, por sua vez, vem demonstrando movimento já esperado de aceleração, por conta da inércia do ano passado. Para esse ano projetamos inflação de 7,4%.

Nos EUA, o Fed divulgou a ata da reunião de março, na qual iniciou o processo de alta de juros. A ata revelou que apesar da escolha pelo aumento de 25 pb, muitos membros defenderam uma alta de 50 pb, mas na decisão final pesou a incerteza relacionada ao contexto da invasão da Rússia na Ucrânia. Sobre o ciclo de juros, os membros afirmam a necessidade de um processo contínuo de altas, levando a taxa de juros para o patamar neutro de forma rápida. A principal novidade do documento ficou por conta dos detalhes acerca da redução do balanço de ativos. Os membros concordaram em limitar a redução passiva do balanço em US$ 95 bilhões ao mês (US$ 60 bilhões em títulos públicos e US$ 35 bilhões em títulos do mercado imobiliário), sendo que esse limite será alcançado de forma faseada em três meses. A redução do balanço deverá ter início em maio. Ademais, o comitê se comprometeu a vender ativamente títulos imobiliários quando o processo de redução passiva do balanço estiver em estágio avançado. Em linhas gerais, os parâmetros de redução do balanço de ativos vieram em linha com a expectativa de um processo acelerado em relação ao verificado no processo anterior de redução do balanço (entre 2017 a 2019).

Sobre o cenário econômico, entre os membros persiste a avaliação de um quadro de inflação disseminada e mercado de trabalho muito apertado. Segundo o comitê, a inflação excede significativamente a meta e o balanço de riscos tem viés de alta, como a continuidade do rompimento das cadeias globais e a alta de preços de energia. No mercado de trabalho, a percepção é de pressão salarial ampla entre os setores. O cenário revelado na ata do Fed reforça a aceleração no ritmo de alta da taxa de juros para 50 pb na reunião de maio, seguido por mais duas altas de mesma magnitude em junho e julho, e taxa ao final do ciclo acima do patamar neutro. Os riscos seguem de alta para esse cenário.

Os índices de confiança (PMI) de março apontam resiliência da atividade na Zona do Euro e nos Estados Unidos. O PMI Composto da Zona do Euro, que incorpora as expectativas da indústria e dos serviços, recuou para 54,9 pontos em março, ante 55,5 em fevereiro, ainda indicando atividade em expansão (nível acima de 50 pontos). O índice da indústria também apresentou queda na margem e passou de 58,2 para 56,5 pontos em março. Por sua vez, o setor de serviços avançou de 55,5 para 55,6 pontos no mês, surpreendendo positivamente diante dos choques recentes na região. Nos EUA, o PMI Composto apresentou alta, com avanço de 55,9 para 57,7 pontos em março, ante prévia do índice em 58,5. Esse descolamento entre a prévia e o índice se deu, em maior parte, em serviços, de 58,9 na prévia para 58,0 pontos no dado final. O índice da indústria também apresentou avanço (58,8 ante 57,3 em fevereiro).

De modo geral, o conflito entre Rússia e Ucrânia impactou mais significativamente a percepção sobre a alta de custos na produção. As incertezas sobre o conflito e os impactos na produção sobre o fornecimento de insumos implicaram novo aumento da percepção sobre os custos. Diante da avaliação que a demanda supera a oferta tanto na indústria quanto em serviços, somado aos maiores preços de commodities e energia, o cenário de inflação pressionada deverá persistir nos próximos meses.

Essa avaliação sobre o impacto inflacionário do conflito foi compartilhada também por vários membros no Banco Central Europeu (BCE), como revelada na ata da última reunião. Segundo o documento, um grande número de membros, diante do alto nível da inflação, defendeu o avanço imediato no processo de normalização da política monetária. A comunicação é compatível com o fim do programa de compras no terceiro trimestre e alta de juros no fim desse ano. Na próxima semana o BCE se reúne novamente e deve dar novos sinais sobre a retirado dos estímulos monetários.

Na próxima semana

Na agenda doméstica, destaque para a divulgação dos dados de atividade dos setores de serviços e de comércio, na terça e quarta-feira. No cenário internacional, destaque para os dados de atividade e inflação nos Estados Unidos e a reunião do Banco Central Europeu que acontecerá na quinta-feira.

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