ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

BRASIL: Nova elevação da expectativa de mercado para o IPCA em 2022

MUNDO: Dados de atividade nos EUA surpreendem positivamente em janeiro

 

No mercado internacional, as discussões sobre o ciclo de aperto monetário do Fed e a tensão entre Rússia e Ucrânia continuaram no foco. A divulgação da ata da última reunião do Fed e os discursos dos dirigentes do banco central dos EUA não trouxeram informações novas. Segue uma avaliação de elevada preocupação com a inflação e necessidade de aumento de juros a partir de março, mantendo as taxas de juros globalmente pressionadas. A respeito da possível invasão da Ucrânia pela Rússia, o quadro de indefinição foi refletido no comportamento dos ativos. O petróleo cedeu cerca de 3,5% na semana, ao mesmo tempo em que o S&P teve nova retração moderada. No mercado local, o destaque da semana foi novamente o descolamento do Ibovespa que registrou leve alta, se beneficiando do fluxo positivo de ingresso de investidores estrangeiros. Nesse sentido, a taxa de câmbio seguiu o movimento do mês e valorizou cerca de 2% na semana. No mercado de juros, a ausência de dados importantes e a indefinição sobre os projetos de redução dos preços dos combustíveis contribuíram para a manutenção do cenário de taxas pressionadas, ainda que com leve moderação na semana.

O mercado revisou as projeções econômicas em meio aos desafios inflacionários para este ano. No Relatório Focus, a mediana das projeções para o crescimento do PIB de 2022 continuou estável em 0,3%. Entretanto, a expectativa para o ano de 2023 passou de 1,75% na segunda semana de janeiro para 1,5%. Para a inflação medida pelo IPCA, espera-se alta de 5,5% em 2022 e de 3,5% em 2023. No ano, essa é a quinta revisão consecutiva para a inflação de 2022. Por fim, a expectativa para a taxa Selic teve novo aumento, passando para 12,25% em 2022 (ante 11,75% no relatório anterior) e 8,0% no próximo ano.

A balança comercial registrou superávit de US$ 1,035 bilhão na segunda semana de fevereiro, acumulando saldo positivo de US$ 1,753 bilhão no mês. Esse resultado é fruto do maior crescimento de exportações dessa semana em relação ao crescimento das importações, com alta nas exportações de 21,9% na comparação da média diária interanual contra 11,6% das importações. Para o ano, os maiores riscos para a balança comercial estão atrelados a uma possível redução dos preços internacionais de commodities e continuidade do elevado nível das importações no primeiro semestre do ano. Nossa projeção para o final do período é de superávit comercial de US$ 41,8 bilhões.

Nos EUA, o Fed divulgou a ata da reunião de janeiro, na qual sinalizou alta de juros em breve. Em linhas gerais, o comitê comunicou que, diante de uma leitura de inflação mais persistente e elevada, somada ao quadro de mercado de trabalho bastante apertado, o processo de normalização da taxa de juros deverá ocorrer em breve. Além de ressaltarem que o atual cenário econômico prescreve um ciclo de alta de juros mais rápido do que em 2015, os membros destacam que a retirada dos estímulos poderá ser acelerada caso o processo de desinflação esperado não se confirme. Em linha com o comunicado, o comitê defende que a redução do balanço patrimonial deva ocorrer de modo mais rápido do que o observado entre 2017 e 2019. Como novidade, muitos membros mostraram preferência pela redução da participação relativa dos títulos imobiliários (MBS) no balanço.

Sobre o cenário econômico, os membros se mostraram mais preocupados com a evolução recente dos indicadores, em especial da inflação de salários. A respeito do mercado de trabalho, a percepção é de um avanço robusto do emprego, com demanda por trabalho forte e relatos de restrições na oferta de mão de obra. Nesse contexto, os membros apontam alta recorde de salários. Na inflação, o comitê nota maior disseminação do aumento de preços, impulsionado pelas condições firmes de consumo. Portanto, o cenário revelado na ata do Fed segue compatível com alta de 25 pb da taxa de juros nas sete reuniões restantes em 2022, com início em março. Reconhecemos que o viés é de aceleração desse aperto monetário, dependendo das próximas leituras da inflação ao consumidor (CPI).

Em relação aos indicadores de atividade econômica, a produção da indústria nos EUA surpreendeu positivamente em janeiro, avançando 1,4% e com alta de 0,2% da indústria de transformação. O resultado ficou acima da mediana do mercado (0,4%), após recuo de 0,1% do índice em dezembro. A indústria de transformação, com o resultado positivo no mês, segue 1,8% acima do patamar pré-crise. Já a utilização da capacidade instalada (NUCI) aumentou, passando de 76,6% em dezembro para 77,6% em janeiro. Em virtude de baixos estoques e impulso da demanda, a trajetória da indústria deve continuar apresentando recuperação, apesar das dificuldades ainda impostas pela desorganização das cadeias globais de suprimento durante a pandemia.

Acompanhando a surpresa da indústria, as vendas no varejo nos EUA tiveram alta na margem de 3,8% no mês, ante expectativa de 1,8%. O núcleo do indicador de vendas (que exclui automóveis, gasolina, materiais de construção e serviços alimentícios) avançou 4,8% na comparação mensal. Entre os componentes, destaque para a alta nas vendas de autos (5,7%), após queda em dezembro (-1,6%). Em relação ao patamar das vendas em dezembro de 2019, o indicador nominal se situa 25% acima do nível pré-crise. De modo geral, o forte resultado de janeiro das vendas no varejo reforça o cenário de robustez da demanda nos EUA que, diante dos problemas de oferta de insumos para a indústria e oferta de mão de obra, deve implicar a manutenção da inflação elevada no médio prazo.

Nesse contexto de demanda aquecida e problemas no quadro de oferta global, a inflação ao produtor (PPI) nos EUA apresentou variação acima da expectativa em janeiro. O PPI variou 1,0% na comparação mensal com ajuste sazonal, enquanto o núcleo da inflação, métrica que exclui a inflação de alimentos, energia e serviços comerciais, avançou 0,8% ante expectativa de 0,4%. Em termos anuais, o núcleo do PPI teve variação de 8,3%, acima das expectativas de mercado (7,9%). O indicador de janeiro revelou alta de preços disseminada entre os componentes.

Na contramão do tônica global, os números de inflação na China seguem contidos. A inflação ao consumidor (CPI) apresentou alta de 0,9% em janeiro na comparação anual. O resultado ficou abaixo do esperado pelo mercado (1,0%), representando desaceleração em relação ao mês de dezembro, contando com deflação de alimentos. O núcleo da inflação (que exclui os itens mais voláteis da amostra) apresentou alta de 1,2%, mesma variação do mês anterior. A inflação ao produtor (PPI), por sua vez, registrou desaceleração no índice para 9,1% em termos anuais ante 10,3% em dezembro, também abaixo da expectativa do mercado de 9,5%. A transmissão da inflação mais alta ao produtor para os preços ao consumidor segue bastante comedida e o núcleo de inflação estável, abaixo da meta de 2%. Com problemas de demanda interna, as autoridades chinesas deverão adotar novas medidas de estímulo fiscal e monetário nos próximos meses.

Na próxima semana

Na agenda doméstica, destaque para a divulgação do IPCA-15 (BRAM: 0,82%) na quarta-feira e dados de emprego na segunda e quinta-feira. No cenário internacional, destaque para a divulgação dos dados PMI dos EUA e Zona do Euro.

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