ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

BRASIL:  Copom reduz a Selic para 2,25% a.a. Atividade sofre nova retração em abril

 

MUNDO: Atividade na China segue retomada gradual e nos EUA o comércio surpreende

 

O Comitê de Política Monetária (Copom) reduziu a taxa Selic em 75 p.b e reconheceu que o espaço para novos ajustes é incerto e deve ser pequeno. Em decisão unânime, a Selic passou de 3,00% para 2,25% a.a., corte em linha com a expectativa de mercado. No comunicado, o Comitê ressalta que a pandemia causada pelo novo coronavírus está provocando desaceleração pronunciada da atividade global. Além disso, mesmo com a provisão significativa de estímulos monetários e fiscais, e a relativa moderação na volatilidade dos ativos financeiros, o cenário permanece desafiador para as economias emergentes. O Copom também destacou que a queda do PIB do 1º trimestre foi a maior desde 2015 e que indicadores apontam para retração ainda maior no 2° trimestre, frisando a alta incerteza quanto ao ritmo de recuperação econômica ao longo do restante do ano.

Sobre as projeções do BC, a inflação foi novamente revisada para baixo em 2020 e 2021. Considerando o cenário híbrido, com trajetória para a taxa de juros extraída da pesquisa Focus e taxa de câmbio constante em R$4,95/US$, as projeções do Copom situam-se em 2,0% em 2020 (ante 2,4% em maio) e 3,2% em 2021 (ante 3,4% em março). No cenário com taxa de juros constante a 3,00% a.a. e taxa de câmbio constante, as projeções situam-se em 1,9% para 2020 e 3,0% para 2021. Vale notar que, em qualquer cenário do horizonte de projeções, a inflação encontra-se abaixo da meta. Acreditamos que a continuidade da ociosidade elevada, agravada pela crise atual, permitirá uma trajetória benigna de inflação para os horizontes de médio prazo.

A respeito do balanço de riscos para a inflação, o BC ressalta que permanecem riscos em ambas as direções. De um lado, a pandemia acarreta aumento de incerteza e maior poupança precaucional, e com isso, potencial redução da demanda ainda maior e mais prolongada do que a estimada. Por outro lado, medidas fiscais em resposta à pandemia que gerem deterioração da trajetória fiscal de forma prolongada, aliadas à incerteza sobre a continuidade das reformas, podem elevar os prêmios de risco. Além disso, as políticas de recomposição da renda e estímulo creditício podem fazer com que a queda da demanda agregada seja menor que a esperada, implicando uma trajetória de inflação acima a cima do projetado no horizonte relevante para a política monetária.

Para o Banco Central, esse cenário prescreve estímulo monetário extraordinariamente elevado, mas reconhece que o espaço remanescente de política monetária é incerto e deve ser pequeno. O Copom considerou que o atual nível de juros parece compatível com estímulo apropriado na contenção dos impactos da COVID-19. Mas considerou que na próxima reunião, em que o comitê contará com mais informação em um ambiente de balanço de riscos de alta variância, haverá possibilidade de reavaliação do grau de estímulo. A possibilidade e magnitude de novo ajuste dependerá principalmente da velocidade de recuperação econômica em junho e julho com o relaxamento de restrições à mobilidade, assim como do grau de incerteza quanto à necessidade de novas restrições no futuro. Em nossa avalição, a perspectiva de retomada lenta da atividade permitirá um ajuste adicional de 25 p.b na taxa Selic, encerrando 2020 em 2% a.a.

As vendas do varejo sofreram queda de 16,8% na margem em abril. O resultado foi abaixo da nossa expectativa (-14,6%) e da mediana do mercado (-12,1%). A maior contribuição para a queda decorreu de tecidos, vestuários e calçados (-60,6%) e supermercados (-11,8%), que devolveram parte da alta de março gerada pela mudança do padrão de consumo das famílias. O varejo ampliado, que inclui vendas de automóveis e material de construção, apresentou recuo de 17,5% na margem em abril, acima do esperado (-20%). O desempenho do varejo ampliado em abril em relação aos dois primeiros meses do ano, período anterior ao coronavírus, corresponde a uma queda de 28,5% do setor. Dados de alta frequência, indicam que abril deve ter sido o pior mês para o comércio varejista, com uma perspectiva de forte recuperação em maio e continuidade em junho.

Serviços recuaram 11,7% na margem no mês de abril. Na comparação anual, a variação foi de -17,3%, abaixo das nossas projeções e da mediana do mercado (-16,5%). Todos os setores apresentaram retração no mês. As maiores contribuições negativos na margem vieram de serviços de transporte (-17,8%) e serviços prestados às famílias (-44,1%), puxados por alojamento e alimentação (-46,5%). As menores quedas foram observadas em serviços profissionais e administrativos (-8,6%) e serviços de informação e comunicação (-3,6%). Assim como no comércio, o resultado de abril representa queda de 18,8% em relação à média de janeiro e fevereiro. Indicadores antecedentes também apontam recuperação em maio e junho.

O Índice do Banco Central de atividade (IBC-Br) recuou 9,7% em abril. O indicador prévio do PIB apresentou queda em linha com o esperado, refletindo os recuos da indústria (-18,8%), do comércio (-16,8%) e dos serviços (-11,7%) no mês. Na comparação interanual, houve queda expressiva de 15,1%. O dado de abril revela uma queda de 15,5% frente ao período anterior ao coronavírus. Nas próximas divulgações, os dados devem apresentar melhora com a retomada gradual das atividades iniciada em maio. Com esses dados de atividade nosso tracking do PIB do 2º trimestre é de -10% na margem.

Nos EUA, as vendas no varejo registraram alta acima do esperado em maio. As vendas do varejo avançaram 17,7% no mês, ante queda de 16,7% em abril, o que representou a maior alta desde o início da série histórica em 1992. O resultado foi superior ao dobro da expectativa de mercado, de 7,5%. Na comparação interanual, as vendas no varejo passaram de -21,6% em abril para -6,1% em maio. A produção industrial nos EUA também apresentou expansão na margem. O avanço de 1,4% em maio foi menor que a expectativa de mercado (2,9%), mas representou melhora relevante ante a queda de 12,5% em abril.  Os resultados de maio para comércio e indústria nos EUA são compatíveis com retração da ordem de 5% do PIB no ano.

Indicadores econômicos de maio para China apontam para retomada gradual. A produção industrial aumentou 4,4% na comparação anual, abaixo do esperado (5,0%). As vendas no varejo recuaram 2,8%, após queda de 7,5% em abril. Os investimentos em capital fixo passaram de -10,3% em abril para -6,3% em maio, todos em relação ao mesmo período de 2019. Essa retomada gradual das atividades no país, expressa nos indicadores de maio,  é compatível com crescimento em torno de 2% do PIB em 2020.

Na próxima semana

No Brasil, destaque para a divulgação da ata do COPOM, na terça-feira, e para a divulgação do Relatório Trimestral de inflação e da prévia do IPCA-15 (BRAM: -0,08%), na quinta-feira. No cenário internacional, destaque para a divulgação dos dados de confiança (PMI) da Zona do Euro e dos EUA, na terça-feira.

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