ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

BRASIL: Serviços têm alta em maio, mas índice de atividade do Banco Central registra queda

MUNDO:  Vendas no varejo e inflação ao consumidor de junho surpreendem nos EUA

 

Em maio o volume total de serviços cresceu 1,2% na comparação com abril. Na comparação anual, a variação foi positiva em 23,0%, resultado inferior à nossa projeção (23,6%) mas superior à mediana do mercado (22,2%). Com isso, o volume total de serviços permanece abaixo do nível pré-crise, 0,6% abaixo da média de janeiro e fevereiro de 2020. Dentre os setores, a maior contribuição positiva foi proveniente de serviços prestados às famílias (17,9%), atividade que abrange hospedagem e alimentação e foi beneficiada pela maior mobilidade no mês, embora ainda se situe 29,4% abaixo do patamar pré-crise. Também tiveram crescimento o volume de serviços de transporte (3,7%) e serviços profissionais, administrativos e complementares (1,0%), ambos beneficiados pela maior atividade da indústria no mês. Por outro lado, as contribuições negativas vieram de serviços de informação e comunicação (-1,0%) – ainda que seu volume se situe 5,8% acima do pré-pandemia – e outros serviços (-0,2%), setor que contempla, dentre outros, serviços financeiros e seguros. A tendência para os próximos meses é de continuidade da recuperação gradual do setor em meio ao avanço da vacinação.

O Índice do Banco Central de atividade (IBC-Br) recuou 0,4% na margem em maio. O indicador prévio do PIB registrou resultado abaixo de nossa expectativa (0,5%) e da mediana do mercado (1,1%). O indicador registrou queda mesmo em um mês no qual houve alta das vendas no varejo ampliado (3,8%), da produção industrial (1,4%) e do volume de serviços (1,2%), contrabalançados pela menor produção agrícola. Com o resultado, a média do índice em abril e maio representa queda de 0,2% em relação à média do 1º trimestre. Na comparação interanual, o índice teve alta de 14,2%. O IBC-Br passou a se situar 0,2% acima do patamar pré- pandemia (média de janeiro e fevereiro de 2020). Em junho, os dados de atividade devem ser beneficiados por maior montante pago do auxílio emergencial e pelo menor grau de restrições de mobilidade.

O mercado revisou para cima a projeção de crescimento e inflação para este ano. Segundo o último Relatório Focus, a mediana das projeções para o PIB de 2021 subiu de 5,18% para 5,26% na semana passada. A revisão reflete, dentre outros fatores, a surpresa positiva com os dados de atividade na entrada do segundo trimestre. Para 2022, o consenso de mercado é de crescimento de 2,09%. Sobre os índices de inflação, houve elevação da mediana para o IPCA de 2021, de 6,07% para 6,11%, refletindo a elevação esperada de preços administrados. Dentre os analistas que atualizaram a projeção nos 5 dias anteriores, a elevação foi ainda maior: a mediana passou de 6,10% para 6,32%, substancialmente acima teto da meta de inflação para o ano, de 5,25%. Já para o IPCA de 2022, a mediana do mercado mudou marginalmente, de 3,77% para 3,75%, ainda representando desvio em relação ao centro da meta, de 3,50%. Como consequência de expectativas de atividade e inflação mais elevadas, o mercado revisou também as projeções para a trajetória da taxa de juros. A mediana para a taxa Selic ao final deste ano passou de 6,5% para 6,63% a.a., ao passo que a projeção para 2022, se deslocou de 6,75% para 7,0% a.a..

 No cenário internacional, a China mostrou crescimento em linha com o esperado no segundo trimestre. Na comparação com igual período do ano anterior, o PIB expandiu 7,9%, o que representou uma desaceleração ante o avanço de 18,3% no trimestre anterior, atipicamente elevado em virtude da base de comparação deprimida pelos efeitos da pandemia em 2020. A série com ajuste sazonal, que compara o momento atual da economia com o primeiro trimestre de 2021, mostra tendência de alta do crescimento. Em termos anualizados, o crescimento na margem foi de 6%, frente ao avanço de 5% no primeiro trimestre. O desempenho no trimestre contou com avanço acima do esperado dos indicadores de atividade em junho, após dois meses de frustração. Destaque para o consumo que cresceu 12,1% em termos anuais, ante expectativa de 10,8%. Na margem, segundo nossos cálculos, o avanço foi de 1%, após alta de 0,7% em maio. No investimento, a surpresa positiva foi liderada pela indústria privada, enquanto os investimentos em infraestrutura seguem em contração. Em nossa avaliação, os dados revelam trajetória consistente de expansão do PIB de cerca de 8% em 2021, e afastam o temor de uma desaceleração pronunciada no segundo semestre. Nesse sentido, avaliamos que o recente corte da taxa de depósito compulsório em 0,5 p.p pelo banco central mantém relação com problemas pontuais de liquidez ao invés de um problema estrutural de crescimento.

Nos EUA, os indicadores refletem o cenário de retomada robusta do consumo com a reabertura da economia. As vendas no varejo tiveram crescimento acima do esperado em junho. Considerando a série com ajuste sazonal, o avanço foi 0,6% frente ao mês anterior. O grupo de controle, uma métrica que exclui categorias com comportamento bastante volátil, também mostrou variação robusta, de 1,1% na mesma base de comparação. A abertura mostrou melhora mais disseminada entre os componentes se comparada ao mês de maio, com destaque para o crescimento de gastos com restaurantes, vestuário e combustíveis. A indústria de transformação, por sua vez, recuou 0,1% na margem em junho, comprometida pelo recuo de 6,6% na produção de automóveis e partes. O indicador que exclui esse setor, impacto por problemas na cadeia de insumos, registrou avanço de 0,4%. De modo geral, os resultados consolidam uma retomada do consumo no país, fruto dos incentivos governamentais e da retirada de restrições à mobilidade. No lado da oferta, o cenário ainda é de cautela diante dos problemas no fornecimento de insumos.

Alinhado com o cenário de expansão do consumo, o mês de junho contou com forte surpresa inflacionária. O índice de preços ao consumidor (CPI) variou 0,9% na comparação mensal, resultado acima do consenso de mercado, de 0,5%. O núcleo da inflação, métrica que exclui a inflação com alimentos e combustíveis e costuma receber mais atenção por parte das autoridades monetárias, também avançou 0,9% frente a maio, acima da expectativa (0,4%) e acumulando alta de 4,5% nos últimos 12 meses. O núcleo da inflação de serviços avançou 0,4%, contando com avanço de 7% em hospedagem. Já o núcleo de bens teve alta de 2,2%, impactado pela alta de 10,5% nos preços de carros usados. Passagem aérea, hospedagem e carros usados foram responsáveis em média por 50% da variação do CPI nos últimos três meses. À medida que a economia retorne ao nível de atividade usual, deverá ocorrer um movimento de realinhamento de preços, com o conjunto de serviços mais impactados pela pandemia mostrando inflação mais pressionada. Até o momento, avaliamos que as surpresas altistas do CPI seguem concentradas em componentes não estruturais.

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