ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

BRASIL: Prévia da inflação cede em fevereiro, mas riscos à frente seguem elevados.

MUNDO: Fed reafirma manutenção de estímulos monetários até a superação da crise.

 

Em fevereiro, a prévia da inflação ao consumidor (IPCA-15) ficou ligeiramente abaixo do esperado. Nessa divulgação, o índice subiu 0,48% na comparação mensal, resultado um pouco aquém da nossa expectativa (0,51%) e da mediana do mercado (0,50%). A abertura entre os grupos mostrou, por um lado, uma inflação de alimentos mais pressionada, com destaque para itens como tomate, leite e frutas. No sentido contrário, a alta do grupo Educação, dada a perspectiva de reajuste de matrículas escolares após a retomada das aulas, foi menor que a prevista. Isso sugere uma inflação de serviços mais amena nesse começo de ano, de forma que a normalização de preços relativos desse setor deve acontecer de maneira mais evidente no segundo semestre, quando esperamos diminuição das restrições à mobilidade. Em termos de núcleos, que são métricas que excluem ou suavizam itens com inflação volátil, a leitura de fevereiro mostrou alguma melhora, em especial das medidas de inflação subjacente acompanhadas pelo Banco Central. Nos últimos 12 meses, a média dos núcleos acumula alta de 3,0%, um nível ainda confortável.

O cenário de médio prazo, contudo, evoluiu desfavoravelmente. Os recentes movimentos de depreciação do câmbio e de alta de preços de commodities impõem uma trajetória menos benéfica para a inflação nos próximos meses. Além disso, há uma incerteza sobre a capacidade da indústria de suprir a demanda aquecida por bens, em um cenário de baixos estoques, elevação de custos de produção e perspectiva de novos incentivos ao consumo por parte do governo. Tendo em vista esses fatores, elevamos nossa projeção do IPCA de 2021 de 3,6% para 4,0%.

O setor público consolidado registrou superávit primário de R$ 58,4 bilhões em janeiro. O resultado veio acima da nossa expectativa (R$ 52 bilhões) e da mediana de projeções do mercado (R$ 49,6 bilhões). Na composição do indicador, o Governo Central apresentou superávit de R$ 43,2 bilhões, enquanto os governos regionais foram superavitários em R$ 14,8 bilhões e as estatais em R$ 446 milhões. Nos 12 meses encerrados em janeiro, o resultado primário do setor público consolidado foi deficitário em R$700,9 bilhões, equivalente a 9,4% do PIB). A dívida bruta alcançou o patamar de 89,7% do PIB, aumento de 0,5 p.p. em relação ao mês anterior. Já o resultado nominal, que inclui, além do resultado primário, os juros nominais, foi superavitário em R$17,9 bilhões em janeiro. No acumulado em 12 meses, o déficit nominal alcançou 13,7% do PIB.  O cenário segue desafiador do ponto de vista fiscal. A retomada da atividade econômica será importante para a recuperação das receitas e redução do déficit primário adiante.

No setor externo, o saldo em conta corrente registrou déficit de US$ 7,3 bilhões em janeiro. O resultado foi superior a nossa expectativa (US$ -7,9 bilhões), mas inferior ao déficit de US$ 10,3 bilhões registrado em igual mês do ano anterior. O déficit acumulado em 12 meses passou de 0,9% do PIB em dezembro para 0,7% em janeiro. O saldo comercial no mês foi negativamente impactado por importações fictas de plataformas de petróleo, que contribuíram para o resultado negativo em US$ 1,9 bilhão. No entanto, houve menor déficit de renda primária em relação a janeiro de 2020, em especial a rubrica de despesas com lucros reinvestidos, bem como um déficit menor na conta de serviços,  dada a redução das despesas com viagens e fretes de transporte. Quanto ao fluxo financeiro, os investimentos diretos no país (IDP) somaram US$1,8 bilhão no mês, acumulando 2,4% do PIB em 12 meses. Ao longo dos próximos trimestres, a recuperação da demanda doméstica e, consequentemente, das importações deverá resultar em gradual piora do resultado de conta corrente.

A taxa de desemprego atingiu 13,9% no trimestre encerrado em dezembro. De acordo com os dados da PNAD, a taxa com ajuste sazonal se elevou de 14,6% para 14,7% na margem. Essa elevação foi causada por uma alta da população ocupada (0,1%) em ritmo inferior ao aumento da força de trabalho (0,2%). A maior contribuição para o crescimento do número de ocupados veio do trabalho informal, que avançou 0,7% na margem, compensando a queda da população ocupada no setor formal (-0,3%). Dentre os setores, os destaques positivos vieram de serviços e agricultura, muito embora a população ocupada no comércio apresentado redução. Por fim, a massa de rendimento real efetivo, que capta as reduções salariais ocorridas durante a pandemia, teve queda de 1,4% em novembro (há defasagem de um mês na série). Projetamos que a taxa de desemprego continue pressionada à medida que mais pessoas reingressem no mercado de trabalho ao longo de 2021.

Saldo de crédito superou R$4 trilhões e atingiu patamar de 54,1% do PIB em janeiro. Esse resultado, segundo nota do Banco Central, representa um crescimento interanual de 16,0% no saldo de crédito total, uma aceleração frente à variação de 15,7% registrada em dezembro. O crescimento segue mais forte no crédito destinado às empresas, cuja alta de 23,1% na comparação com o mesmo mês do ano anterior foi liderada pelo crédito livre, embora a carteira de recursos direcionados ainda contemple empréstimos de programas especiais de mitigação dos efeitos da pandemia. O crescimento do crédito às famílias desacelerou de 11,2% para 10,9% na mesma base comparação. Na análise mensal, houve recuo das concessões de crédito livre às famílias no conceito média diária real com ajuste sazonal, o que corrobora a percepção de atividade mais fraca no início de 2021. No caso das empresas, embora tenha havido elevação das concessões de crédito livre nessa base de comparação, houve redução expressiva das concessões de crédito direcionado por conta do fim do Pronampe. Por fim, a inadimplência permaneceu em 2,1% no mês, beneficiada por medidas de postergação de pagamentos por parte das instituições financeiras.

 No cenário internacional, o presidente do Fed reafirmou que os estímulos monetários em vigor serão mantidos até a superação plena da crise. Em discurso nas duas casas legislativas dos Estados Unidos, Jerome Powell reconheceu a perda de ímpeto da atividade econômica no país durante as últimas semanas, destacando a desaceleração do setor de serviços, em especial aquelas categorias mais relacionadas à mobilidade, como lazer e acomodação. Olhando à frente, Powell demonstrou otimismo com a perspectiva de retomada da atividade à medida que o programa de vacinação avance. Com relação à inflação e à política monetária, o presidente voltou a argumentar a favor de permitir que a alta de preços fique moderadamente acima da meta por algum tempo, alertando que qualquer modificação nos estímulos monetários em vigor, inclusive o ritmo de compra de ativos, seria previamente informada.

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