ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

BRASIL: Ata do Copom reforça juro em terreno expansionista por tempo prolongado

MUNDO: PMIs dos EUA e Zona do Euro apontam para continuidade da recuperação da atividade

A prévia da inflação ao consumidor  (IPCA-15) apresentou resultado acima do esperado em setembro.  No mês, o índice variou 0,45%, vindo de 0,23% na leitura de agosto.  Entre os grupos, a maior surpresa veio de alimentação no domicílio (+1,48%), puxada principalmente por carnes (3,42%), leites e derivados (3,54%) e arroz (10%). Também contribuíram para a aceleração do índice  as menores quedas do grupo educação( -0,11%), com dissipação dos descontos concedidos durante a pandemia e do grupo vestuário (-0,27%), bem como as maiores altas de artigos de residência  (0,79%) e despesas pessoais (0,09%). A média dos núcleos de inflação (exclui itens voláteis) recuou para 0,12% no mês e 1,9% em 12 meses. Em linhas gerais, ainda que a alta de preços no atacado deva seguir pressionando o grupo alimentação nos próximos meses, o cenário de inflação segue benigno. Uma retomada da demanda de forma mais robusta pode trazer alguma pressão adicional, porém os repasses devem continuar limitados. Com esse resultado, nossa projeção para o IPCA de 2020 passou para 2,2%, abaixo do piso da meta do Banco Central (2,5%).

O Comitê de Política Monetária (Copom) reforçou que não antevê alterações no grau de estímulo, mas reconheceu que o espaço remanescente para a política monetária, se houver, deve ser pequeno. Na ata da última reunião, na qual a taxa Selic foi mantida em 2,00% a.a., os membros reforçaram a avaliação de que a recuperação da atividade nas principais economias, ainda que concentrada no mercado de bens, tem ocorrido de modo mais favorável, mas ressalta que o cenário ainda é de incerteza frente a uma possível redução dos estímulos governamentais e à própria evolução da pandemia. O Copom também destacou que a economia brasileira demonstra sinais de recuperação parcial, porém não de forma homogênea entre os setores. Ainda, ressaltou a incerteza acima do usual quanto ao ritmo de recuperação econômica, principalmente no final deste ano, com o possível fim ou arrefecimento das medidas de estímulo fiscal, notadamente o auxílio emergencial. A inflação de curto prazo, por sua vez, deverá contar com pressão temporária de alimentos e normalização parcial de alguns preços de serviços.

 A respeito do balanço de riscos para a inflação, o BC ressalta que permanecem riscos em ambas as direções. De um lado, a elevada ociosidade, concentrada no setor de serviços,  pode produzir trajetória de inflação abaixo do esperado, o que se intensifica em caso de reversão mais lenta da pandemia e aumento da poupança precaucional. Por outro lado, medidas fiscais em resposta à pandemia que gerem deterioração da trajetória fiscal de forma prolongada, aliadas à incerteza sobre a continuidade das reformas, podem elevar os prêmios de risco. Além disso, as políticas de recomposição da renda e estímulo creditício podem fazer com que a queda da demanda agregada seja menor do que a esperada, implicando trajetória de inflação acima do projetado no horizonte relevante para a política monetária.

O Copom reforçou o forward guidance introduzido na última reunião, de que a Selic deve permanecer nesse patamar até que a expectativa de inflação, bem como as projeções de inflação de seu cenário básico, estejas próximas da meta no horizonte relevante para a política monetária (2021 e, em menor grau, 2022).  Além disso, o comitê condicionou sua intenção para a política de juros a dois outros fatores: manutenção do regime fiscal e ancoragem das expectativas de inflação de longo prazo. Se houver espaço para novos cortes, devem ser feitos de forma cautelosa e gradual por conta de questões de natureza prudencial. Avaliamos que a Selic deva permanecer nesse patamar até pelo menos o 2° semestre de 2021.

O Relatório Trimestral de Inflação reforça quadro benigno, apesar das incertezas. Em todos os cenários considerados, a projeção de inflação situa-se abaixo da meta para 2020 (4,0%) e 2021 (3,75%) e próxima do centro em 2022 (3,5%). A projeção do PIB do Banco Central teve elevação, passando de -6,4% no último relatório para –5,0%.  Para 2021, a instituição projeta alta de 3,9%, num cenário de elevação da mobilidade e volta ao padrão de consumo vigente antes da pandemia. Sobre esse assunto, a publicação explora a relação entre auxílio emergencial e consumo das famílias para concluir que houve pouca poupança das famílias de renda mais baixa que receberam o benefício. No entanto, em outro boxe, a partir de dados de cartão de crédito e pagamento de boletos, é mostrado que o retorno aos níveis pré-pandemia do consumo das famílias pertencentes ao quartil de renda mais alta ainda não ocorreu, o que sugere uma elevação de poupança que pode atenuar o fim dos estímulos fiscais no início do próximo ano.

O saldo em conta corrente registrou superávit de US$ 3,7 bilhões em agosto. O resultado foi superior ao déficit de R$ 3,0 bilhões registrado em igual mês de 2019 e representa o quinto superávit consecutivo. A melhora se deu tanto pelo maior saldo comercial como pela redução do déficit de renda (principalmente remessas de lucros e dividendos) e serviços (viagens). O saldo comercial no mês alcançou US$ 6,0 bilhões, ante US$3,6 bi em agosto de 2019, com queda de 9,8% das exportações e de 26,8% do total de importações. Com esses resultados, o déficit somou 1,6% do PIB em doze meses. Quanto ao fluxo financeiro, os investimentos diretos no país (IDP) somaram US$ 1,4 bilhões, acumulando entrada de US$ 54,5 bilhões em 12 meses. O fluxo de investimento em portfólio no mercado doméstico foi positivo em US$ 2,3 bilhão, ante saída de US$ 6,6 bilhões em agosto de 2019. Avaliamos que, com o aumento das exportações e a redução dos efeitos da pandemia, o déficit acumulado em conta corrente deverá continuar em trajetória de queda nos próximos meses.

Dados da Pnad Covid mostram redução da taxa de desemprego na primeira semana de setembro. De acordo com a pesquisa, o crescimento da população ocupada em relação à última semana de agosto (0,2%) combinado ao recuo das pessoas buscando emprego (-0,5%), fez com que a taxa de desemprego recuasse de 14,3% para 13,7%. Por sua vez, a taxa de desemprego ajustada, que considera aqueles que deixaram de buscar emprego por causa da pandemia, recuou de 23,8% para 23,5% na semana. O percentual de pessoas ocupadas mas afastadas de seu trabalho devido ao distanciamento social cedeu de 4,4% para 4,2% no período, mostrando uma gradual volta da mobilidade.

A prévia dos índices de confiança (PMI) da Zona do Euro e dos EUA de setembro demonstra que a atividade permanece em patamar expansionista. O PMI Composto prévio da Zona do Euro, que incorpora as expectativas da indústria e dos serviços atingiu 50,1 pontos em setembro ante 51,9 em agosto. Apesar da desaceleração, em especial no setor de serviços, o PMI sinaliza expansão da economia puxada pela indústria (acima de 50 pontos indica expansão). Já nos EUA, o PMI Composto dos EUA avançou de 53,1 pontos em agosto para 53,5 pontos em setembro. Os índices corroboram o cenário atual de reabertura econômica, mesmo que ainda com incerteza quanto à contenção da pandemia e a velocidade na retomada dos serviços. Os países mantêm estímulos monetários e fiscais que devem ajudar na continuação do processo de recuperação. O PIB global deverá recuar cerca de 3% em 2020.

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