ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

BRASIL:  Indicadores de atividade de junho apontam para gradual recuperação econômica

MUNDO: PIB do 2º trimestre do Reino Unido apresenta contração histórica

As vendas no varejo apresentaram alta de 8,0% na margem em junho. Houve elevação generalizada dentre os setores, à exceção de artigos farmacêuticos (-2,7%). As maiores contribuições para a alta decorreram de tecidos, vestuário e calçados (+53,2%), que tiveram queda expressiva nos meses anteriores, e móveis e eletrodomésticos (+31,0%). O varejo ampliado, que inclui vendas de automóveis e materiais de construção, apresentou avanço de 12,6% na margem em junho, acima da nossa projeção (7,0%) e da mediana do mercado (6,7%). As vendas de automóveis tiveram crescimento de 35,2% no mês. O dado de junho do varejo ampliado se situa 4,5% abaixo do patamar pré-crise (média de janeiro e fevereiro), muito embora alguns setores tenham superado tal marca, como material de construção, supermercados e móveis e eletrodomésticos. As próximas leituras devem seguir mostrando recuperação do setor.

Após quatro meses de queda, serviços avançaram 5,0% na margem no mês de junho. Na comparação anual, a variação foi de -12,0%, próximo a nossa projeção (-12,4%) e à mediana do mercado (-12,7%). As maiores contribuições positivas vieram de serviços de transporte (6,9%) e serviços prestados às famílias (14,9%), favorecidos pelo aumento da circulação de pessoas no mês. A média do índice geral no 2º trimestre apresentou retração de 15,4% em relação ao 1º trimestre. O volume total de serviços ainda se situa 15% abaixo do patamar pré-crise, com todos os setores se situando abaixo da média de janeiro e fevereiro. Por sofrerem maior impacto das medidas de isolamento social  em relação a outros setores, os serviços devem ter recuperação mais lenta e gradual, dependente da evolução da epidemia e do retorno da circulação irrestrita de pessoas.

O Índice de atividade econômica do Banco Central (IBC-Br) avançou 4,9% em junho. O indicador prévio do PIB apresentou crescimento em linha com a nossa projeção e próximo à mediana do mercado (5,0%), refletindo as altas da indústria (8,9%), do comércio (12,6%) e do setor de serviços (5,0%) no mês. Na comparação interanual, o índice recuou 7,1%. A média do 2º trimestre do indicador representa contração de 10,9% em relação ao 1º trimestre. Com os últimos dados de atividade divulgados, revisamos nossa projeção para do PIB do 2º trimestre para -8,4% na margem. Como apontado por indicadores de alta frequência, o 3º trimestre do ano deve contar com maior ritmo de recuperação. Para 2020, esperamos queda de 5,2% do PIB.

O Comitê de Política Monetária (Copom) reforçou que não antevê alterações no grau de estímulo, mas reconheceu que o espaço remanescente para a política monetária, se houver, deve ser pequeno. Na ata da última reunião, na qual a taxa Selic foi reduzida de 2,25% para 2,00% a.a., os membros reforçaram a avaliação de que a pandemia do Covid-19 está provocando a maior retração econômica global desde a Grande Depressão, mesmo com a provisão de estímulos monetários e fiscais. Isso torna o ambiente desafiador para as economias emergentes. Em relação à inflação, o Comitê avalia que existem riscos em ambas as direções. O nível elevado de ociosidade e de incerteza devem produzir trajetória abaixo do esperado, efeito que se intensifica em caso de prolongamento do isolamento social, podendo elevar a poupança precaucional. Por outro lado, a deterioração da trajetória fiscal, em função do aumento de gastos para arrefecer a crise atual e da incerteza em relação às reformas, pode elevar os prêmios de risco aumentando a taxa de juros estrutural. Além disso, as políticas de recomposição da renda e estímulo creditício podem fazer com que a queda da demanda agregada seja menor que a esperada, implicando em trajetória de inflação acima do projetado no horizonte relevante para a política monetária.

O Copom reforçou a ideia de “forward guidance” indicada no comunicado, de que a Selic deve permanecer nesse patamar até que a expectativa de inflação esteja próxima da meta no horizonte relevante para a política monetária (2021 e, em menor grau, 2022). Se houver espaço para novos cortes, devem ser feitos de forma gradual e a depender da percepção sobre a trajetória fiscal e as expectativas de inflação. Avaliamos que a Selic deve permanecer no atual patamar até o 2° semestre de 2021.

 Dados da PNAD-Covid apontam para deterioração adicional do mercado de trabalho em julho. Segundo a pesquisa, que busca avaliar semanalmente o impacto da pandemia sobre as variáveis de emprego e renda, a taxa de desemprego teria se elevado cerca de 0,6 p.p. entre a terceira e quarta semanas de julho. Para essa elevação contribuíram não apenas a redução do número de empregos como também a volta ao mercado de trabalho de pessoas que tinham deixado de procurar emprego por conta do Covid. A pesquisa também revelou nova redução do percentual de pessoas afastadas de sua ocupação por causa do distanciamento social (7,1% do total de ocupados), o que sinaliza gradual volta ao trabalho.

 O PIB do Reino Unido sofreu queda histórica de 20,4% no 2º trimestre. A retração foi a maior já registrada para a região e veio após recuo de 2,2% no 1º trimestre. Com a contração por dois trimestres consecutivos, a região entra oficialmente em recessão técnica. Na comparação anual, a queda foi de 21,7%.   Já na Zona do Euro, a produção industrial avançou 9,1% ante 12,4% em maio, sinalizando continuidade da retomada gradual da indústria após queda de 17,1% na margem em abril. Em termos anuais, a contração foi de 12,3%. Com a flexibilização de medidas de isolamento na região, a indústria deve seguir se recuperando nas próximas leituras.

Indicadores econômicos de julho apontam incerteza quanto ao ritmo de retomada da atividade na China. As vendas no varejo recuaram 1,1%, após queda de 1,8% em junho, na comparação anual. O resultado veio abaixo das expectativas de mercado (0,1%) e com ele o país completou o 7º mês consecutivo de retração do comércio em termos interanuais. A produção industrial se elevou 4,8% na comparação anual, abaixo do esperado (5,1%). Os investimentos em capital fixo passaram de -3,1% em junho para -1,6% em julho, todos em relação ao mesmo período de 2019. Embora os dados de atividade da China tenham apresentado recuperação desde o início do segundo trimestre, o ritmo lento de recuperação das vendas do varejo, principalmente, gera incerteza quanto à velocidade da retomada do crescimento no país. De toda forma, os indicadores são compatíveis com crescimento em torno de 2% do PIB em 2020.

 Nos EUA, dados de atividade de julho apontam para recuperação gradual. As vendas do varejo avançaram 1,2% no mês, abaixo da mediana do mercado (1,9%). Na comparação com julho de 2019, o resultado também significou alta de 2,7%, ante alta de 2,1% em junho na mesma métrica. O resultado aponta recuperação consistente do setor varejista, se aproximando do patamar de 4,4% de crescimento nos 2 meses anteriores à crise. A produção industrial também avançou na margem em 3,0%, em linha com a expectativa de mercado. Entretanto, na comparação interanual o resultado da indústria ainda representou queda de 8,2%, melhora em relação à queda de 10,8% no mês anterior, mas ainda distante do patamar pré-crise. Os resultados de julho para comércio e indústria nos EUA são compatíveis com retração da ordem de 5% do PIB no ano.

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