Síntese Mensal BRAM – Março 2020

SÍNTESE ECONÔMICA DE MARÇO

Brasil: COPOM reduz a Selic em 50 p.b e anuncia medidas para ampliar liquidez

Mundo: OMS declara pandemia. Estímulos são anunciados para conter a desaceleração da atividade

Com o avanço do coronavírus, a OMS declarou pandemia. No dia 11 de março, a Organização Mundial da Saúde (OMS)  determinou status de pandemia para a contaminação de coronavírus, que, até o anúncio, havia registrado 125.260 casos confirmados e atingido 118 países. Segundo relatório da OMS divulgado dia 31 de março, o número total de casos totalizou 750.890, em 202 países ou territórios. Na Europa, a proliferação acelerou drasticamente, com diversos países determinando estado de quarentena. Nos Estados Unidos, o número de casos também aumentou, chegando a 140.640 no final do mês de março. Os efeitos negativos da interrupção das cadeias globais de produção, da maior incerteza e da queda na demanda global já têm sido sentidos nos diversos países. Nesse cenário, a economia global devera contrair esse ano, o que não ocorria desde a crise de 2008.

Em resposta aos riscos relacionados à epidemia do coronavírus, o FOMC realizou dois cortes na taxa de juros americana, reduzindo-a em 1,5 ponto percentual. No dia 3 de março, em reunião extraordinária, o FOMC reduziu a taxa de juros em 0,5 p.p., levando-a para o intervalo entre 1% e 0,75%. Em seguida, em reunião antecipada do dia 18 para o dia 15 de março, decidiu reduzir a taxa de juros em mais 1 ponto percentual para o intervalo entre 0% a.a. e 0,25% a.a.. Ademais, nessa reunião, o Fed anunciou um novo programa de compra de títulos no montante de pelo menos US$ 500 bilhões, além da compra de US$ 200 bilhões em hipotecas (MBS). O Fed também anunciou que irá comprar títulos de dívidas corporativas de curto prazo (‘commercial paper’) diretamente das empresas, em caráter de emergência. Como sinalização para os próximos passos, o Fed afirmou que manterá a taxa de juros até que a economia tenha superado o aumento recente da incerteza.

Ainda nos EUA, com a economia já mostrando sinais de perda de força, pacote fiscal avança no Congresso. Em esforço conjunto dos democratas e republicanos, o Congresso dos EUA fechou acordo para um pacote de aproximadamente US$ 2 trilhões, abrangendo entre outras medidas, ajuda aos setores mais atingidos, subsídio para empresas manterem os empregados e postergação do pagamento de impostos.

Diante de um cenário de contração da atividade em diversos países, o Banco Central Europeu (BCE) manteve a taxa de juros e aprovou medidas de estímulo em duas reuniões em março. O BCE anunciou um novo programa de compra de títulos no montante de €120 bilhões somente neste ano, além oferecer termos mais favoráveis para as operações de refinanciamento de longo prazo (TLTRO), com o objetivo especial de impulsionar o crédito para os setores mais afetados pelo coronavírus, em especial pequenas e médias empresas. Além disso, em reunião extraordinária, o Banco Central Europeu (BCE) anunciou um programa adicional de compras de títulos. O programa abrange a compra de € 750 bilhões em títulos públicos e privados até o final desse ano, com flexibilidade para alocar os recursos entre países e ativos. Em seu comunicado, o BCE se comprometeu a realizar o que for necessário, dentro do seu mandato, para assegurar suporte financeiro aos cidadãos e setores afetados pelo choque do coronavírus. Além do BCE e do Fed, outros bancos centrais adotaram estímulos para conter os efeitos da incerteza e das restrições de circulação sobre a economia. 

Adicionando incerteza ao cenário, a OPEP e a Rússia desencadearam uma guerra de preços do petróleo. A Arábia Saudita anunciou a redução em 20% seus preços de exportação de petróleo após a Rússia se negar a diminuir a produção, contrariando a decisão da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) com vista à manutenção de preços frente à redução de demanda provocada pelo coronavírus. Com o conflito, o preço do petróleo recuou cerca de 20%, elevando a vulnerabilidade tanto de países emergentes dependentes da receita de petróleo, como dos produtores de ‘shale gas’ nos EUA. Apesar de historicamente a economia global ser considerada ‘importadora líquida’ de petróleo, e a queda do preço resultar em mais atividade, o impacto da decisão árabe sobre os ativos implicou aperto das condições financeiras.  Por outro lado, o choque de oferta do petróleo somada à queda da demanda global compuseram um cenário de elevado potencial desinflacionário.

No Brasil, com a adoção de restrições ao comércio e à circulação em quase todos os estados, medidas de auxílio também foram anunciadas. Todos os estados da federação suspenderam as aulas das redes estaduais e municipais e aqueles mais afetados suspenderam atividades comerciais não essenciais. São Paulo, estado que registra o maior número de casos, decretou quarentena até o dia 7 de abril. Dentre as medidas de estímulo anunciadas, encontram-se desonerações, ampliação do crédito, realocação de recursos para o setor de saúde e auxílio econômico aos setores mais afetados. Estimamos que o valor total das medidas anunciadas se aproxime de R$ 550 bilhões, dos quais, R$130 bilhões devem ter impacto sobre o resultado primário do setor público.

O Comitê de Política Monetária (Copom), por sua vez, reduziu a taxa Selic em 50 p.b. e sinalizou cautela no grau de novos estímulos monetários. Em decisão unânime, a Selic passou de 4,25% para 3,75% a.a.. No comunicado, o Comitê avaliou que a pandemia do novo coronavírus está provocando desaceleração no crescimento global, queda nos preços das commodities e aumento da volatilidade nos preços de ativos financeiros, o que torna o ambiente desafiador para as economias emergentes. Os membros também avaliaram como adequada a manutenção da Selic em seu novo patamar, mas reconheceram que novas informações acerca da conjuntura serão essenciais para definir os próximos passos. Assim, diante da perspectiva de contração adicional da economia e de continuidade da inflação abaixo da meta, avaliamos que a Selic será reduzida para 3,00% a.a. nesse ano.

O BC também anunciou novas medidas para fortalecer a liquidez e a disponibilidade de capital no sistema financeiro durante a crise atual. Entre as medidas estão a redução do compulsório sobre depósitos a prazo de 25% para 17%, a criação de uma linha temporária de liquidez para empréstimos às instituições financeiras para aquisição de debêntures no mercado secundário e a autorização da captação de Depósito a Prazo com Garantia Especial do Fundo Garantidor de Crédito (FGC). Com essas medidas, o Banco Central estima prover capacidade adicional de crédito no sistema financeiro de até R$1,2 trilhão (equivalente a 16,7% do PIB).

Por fim, o PIB do 4º trimestre de 2019 registrou alta de 0,5%, em linha com a nossa expectativa. Em relação ao mesmo período de 2018, o crescimento foi de 1,7%. O resultado representou um crescimento de 1,1% no ano, ante 1,3% em 2018. Na comparação trimestral, pela ótica da demanda, houve crescimento do consumo das famílias (+0,8%), e do governo (+0,4%). Pela ótica da oferta, apresentaram crescimento o setor de serviços (+0,6%) e a indústria (+0,2%), enquanto a agropecuária apresentou contração (-0,4%). Apesar dos fundamentos positivos, o PIB do 1º e 2º trimestres de 2020 deverão ser afetados pela desaceleração global decorrente da epidemia de coronavírus.

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