SÍNTESE ECONÔMICA DE AGOSTO

No Brasil, o PIB registrou alta no 2º trimestre e a reforma da previdência foi aprovada em 2º turno na Câmara dos Deputados. No âmbito global, a tensão comercial teve nova escalada.

O PIB do 2º trimestre registrou alta acima do esperado, mantendo a perspectiva de recuperação gradual da atividade. A economia cresceu 0,4% com relação ao 1º trimestre, acima da nossa expectativa e do mercado, ambas de 0,2%. Pela ótica da demanda, o destaque foi o forte crescimento de 3,2% dos investimentos, surpreendendo a nossa expectativa de alta de 2,6%. O consumo das famílias cresceu 0,3%, refletindo o cenário de lenta recuperação do mercado de trabalho formal, e os gastos do governo contraíram 1,0%. A partir da ótica da oferta, a indústria foi o destaque positivo, com alta de 0,7%. O resultado do 2º trimestre afasta o risco de crescimento mais baixo no ano, levando a um viés de alta para a nossa projeção de crescimento de 0,6%.

A prévia da inflação ao consumidor (IPCA-15) de agosto registrou alta abaixo do esperado e quadro segue benigno. No mês, a leitura do IPCA-15 foi de alta de 0,08%, abaixo da nossa expectativa (0,15%) e do mercado (0,16%). A maior surpresa em relação à nossa projeção ocorreu no grupo Alimentação no Domicílio, que registrou deflação de 0,45%, ante expectativa de -0,02%. O grupo Habitação apresentou o resultado mais elevado, influenciado pelo aumento em energia elétrica (4,9%). Em 12 meses, o IPCA-15 atingiu 3,2% em agosto e a média dos núcleos segue em patamar confortável (3,1%). Com relação ao ano, projetamos alta de 3,5%, abaixo da meta do Banco Central para 2019, de 4,25%.

A reforma da Previdência foi aprovada em 2º turno na Câmara dos Deputados. Após 1º turno aprovado com 379 votos, o 2º turno encerrou com 370 votos favoráveis e 124 contra. Nenhum destaque supressivo ao texto da reforma foi aprovado. Assim, a economia prevista em 10 anos com a reforma segue em R$ 933 bilhões em 10 anos, segundo cálculo do governo. Esse valor é próximo da nossa estimativa de  R$ 865 bilhões, de acordo com o nosso modelo. A proposta segue em análise no Senado Federal e há a expectativa de que seja aprovada até meados de outubro.

No ambiente global, a tensão comercial teve nova escalada em agosto. No início do mês, Donald Trump anunciou novas tarifas de 10% sobre o restante das importações chinesas, cerca de US$ 300 bilhões. Essa nova rodada, vale mencionar, abrange bens de consumo finais. No dia 23 de agosto, a tensão comercial ganhou novos contornos com o anúncio da China de novas tarifas de 10% sobre US$ 75 bilhões de produtos americanos importados. Na sequência, Trump decidiu elevar novamente as tarifas sobre todas as exportações chinesas, tanto sobre os US$ 250 bilhões anunciados em maio (de 25% para 30%), como sobre os US$ 300 bilhões anunciados em agosto (de 10% para 15%). O aumento da tensão comercial tem prejudicado a confiança dos investidores, com implicações diretas sobre os investimentos. Nesse cenário, o crescimento global para 2019 tem se aproximado de 3%, ante expectativa de 3,5% no início do ano.

Diante da piora do cenário global, o discurso do presidente do Fed sinalizou a continuidade do corte da taxa de juros. Em seu discurso, Jerome Powell, presidente do Fed, afirmou que os membros do comitê (FOMC) estão monitorando cuidadosamente as implicações da piora do ambiente global sobre a economia norte-americana, defendendo que agirão de modo a sustentar a expansão da economia doméstica. Vale mencionar que a ata da reunião, que precedeu a última rodada de aumento de tarifas, havia mostrado uma maior divisão entre os membros do comitê sobre a necessidade de estímulos. Ainda assim, o FOMC reconhecia os riscos e incertezas com relação ao cenário internacional, além de sinais de desaceleração dos investimentos e da produção industrial no país. Em nossa avaliação, a escalada da tensão comercial e a continuidade da fraqueza da indústria e investimento nos EUA permitirão nova redução da taxa de juros em 25 p.b. na reunião de setembro.

As eleições primárias para presidente elevaram o grau de  risco na Argentina, implicando postergação dos pagamentos da dívida junto a seus credores. Nas eleições primárias realizadas no dia 12 agosto, o candidato oposicionista de esquerda, Alberto Fernandez (vice Cristina Kirchner) obteve 47% das intenções de votos, superando em mais de 15 pontos percentuais o 2º colocado, atual presidente Mauricio Macri. A probabilidade de retorno da coalizão kirchnerista ao poder em 27 de outubro (1º turno) se tornou amplamente majoritária. O aumento do risco derivado das dúvidas acerca da continuidade dos ajustes econômicos repercutiu negativamente sobre os ativos argentinos. Diante do cenário turbulento, o governo de Maurício Macri requisitou a renegociação dos pagamentos das dívidas de curto e longo prazo, incluindo o FMI. Nesse contexto de restrição externa, a recessão na Argentina deverá ter continuidade em 2020, impactando negativamente as exportações do Brasil.

 

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