NOTA EXPLICATIVA 001/2020

NOTA EXPLICATIVA INVESTIMENTOS 001/2020 Cuiabá ‐ MT, 23 de março de 2020
RECESSÃO DA ECONOMIA MUNDIAL/2020
Prezados Senhores;
Desde o fim do carnaval, no dia 26 de fevereiro, o mercado financeiro e de capitais vem
sofrendo forte deterioração, conforme exposto no gráfico abaixo.
1‐ÍNDICES ACUMULADOS – 2019 a 2020
26/02 – Quarta‐feira de Cinzas
11/03 – OMS Declara
Pandemia de COVI‐19
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1 – QUARTA FEIRA DE CINZAS
Por conta da disseminação descontrolada do COVID‐19 na Europa, mais
especificamente na Itália, tivemos forte desvalorização das Bolsas de Valores no mundo. Como
o fato ocorreu na semana do carnaval, o nosso mercado esteve fechado e a semana turbulenta
no mundo a fora foi represada e despejada tudo de uma só vez, em um dia, na quarta‐feira de
cinzas, longo após o reinicio das atividades do mercado brasileiro (momento 1 do gráfico).
Para piorar, na quarta‐feira de cinzas, o Ministério da Saúde confirmou o primeiro caso
de Coronavírus no Brasil, pressionando mais ainda a desvalorização do IBOVESPA e dos índices
de Longo Prazo, como IMA – B, IMA – B 5+ e etc.
Mas, ainda assim, mesmo com a devolução dos ganhos alcançados em fevereiro, os
índices conseguiram apresentar rentabilidade positiva, com exceção da Bolsa de Valores.
Somente o IMA – B 5+, chegou a rentabilizar +2,98% em fevereiro, mas devolveu boa parte
dos ganhos e fechou o mês com retorno de +0,32%.
2‐Retorno mês de fevereiro e acumulado/2020
PERFIL Conservad. Moderado (do menos) Arrojado (para o mais)
ÍNDICE IRF – M 1 IDKA 2 IMA – B 5 IMA –
GERAL IRF – M IMA – B IRF – M
1+ IMA – B 5+
IBOVESPA
FEVEREIRO 0,38% 0,69% 0,64% 0,45% 0,65% 0,45% 0,80% 0,32% ‐8,43%
Acumulado/2020 0,82% 1,22% 1,20% 1,01% 1,53% 0,71% 1,92% 0,35% ‐9,92%
Até então, somente a Bolsa de Valores vinha sofrendo maior impacto com relação aos
demais investimentos no Brasil, devido a maciça fuga de capital estrangeiro, que já vinha
ocorrendo desde 2018. Em momentos de incerteza, o investidor estrangeiro retira os recursos
aplicados no Brasil (no caso da Bolsa) e leva esse recurso de volta para o seu país de origem.
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Outra consequência dessa retirada de recursos é a valorização do Dólar (por diminuir a oferta
de moeda estrangeira), que será relembrado ao final desta Nota Explicativa.
FONTE: G1 ‐ Investidores estrangeiros retiram volume recorde de R$ 44,5 bilhões da bolsa brasileira em 2019
O Gráfico acima, mostra a movimentação de recursos na Bolsa de Valores, pelo
investidor estrangeiro. Nota‐se que em 2018, o saldo da movimentação foi negativo de R$ 11
Bilhões e em 2019, o saldo da movimentação foi negativo em R$ 44 Bilhões, demonstrando
que o investidor estrangeiro esteve mais “vendendo” do que comprando ações na Bolsa de
Valores Brasileira, o que ajuda a derrubar o preço.
Esse saldo negativo de R$ 44 Bilhões em 2019 foi histórico e superou até mesmo o
recorde anterior, que era o volume negativo de 2008, ano da crise financeira global, quando o
fluxo de movimentação de recursos estrangeiro fechou negativo em R$ 24 Bilhões.
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No dia 28/02/2020, a Bolsa de Valores bateu outro recorde (negativo) de maior saída
diária de capital estrangeiro da história: R$ 3 Bilhões em um só dia e o IBOVESPA fechou
negativo em ‐7%.
Mas, com tanta fuga de capital estrangeiro na Bolsa de Valores do Brasil, porque o
IBOVESPA fechou 2019 com alta de +32%? Por conta do crescente numero de pessoas físicas
que passaram a investir na Bolsa.
Segundo trecho retirado da reportagem da Folha de São Paulo ‐ Brasileiro garante alta
de 32% da Bolsa em 2019, “aos poucos, porém, o pequeno poupador começou a elevar sua
participação. Dobrou o número de brasileiros que investem em ações, de 813 mil para 1,6
milhões. Os investidores pessoas físicas já representam 18,1%, enquanto os investidores
institucionais (empresas e Fundos de Investimento) corresponderam a 31,5%.” Os RPPS que
investem em ações, fazem parte dos Fundos de Investimento em Ações.
Os pequenos poupadores (brasileiros) passaram a investir mais em ações por dois
motivos. Primeiro por conta da sequência de redução da Taxa Selic, que torna desinteressante
o retorno cada vez menor da Renda Fixa, mais especificamente dos investimentos pós‐fixados
(DI). E segundo, havia uma aposta que teríamos um crescente aporte de recursos estrangeiros
na Bolsa oriundo da mudança de governo e o compromisso com as reformas e a consequente
retomada do crescimento econômico.
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2 – PANDEMIA DE COVID‐19
E constatando a máxima de que “nada é tão ruim, que não possa piorar”, no dia
11/03/2020, a OMS ‐ Organização Mundial da Saúde declara Pandemia mundial de Coronavírus
e passa a recomendar que os países atuem para conter o seu avanço.
O mercado financeiro brasileiro, que até então vinha apresentando ganhos positivos,
desabou a partir do dia 11/03, conforme demonstrando no instante 2 do gráfico 1‐ÍNDICES
ACUMULADOS – 2019 a 2020 e exposto também no gráfico abaixo.
3‐ÍNDICES RENDA FIXA ACUMULADOS – MARÇO/2020
Já a Bolsa Brasileira que já estava fragilizada pelo baque do final de fevereiro/2020,
tomou outro revés após a decretação de pandemia do COVID‐19. Enquanto para a Renda Fixa,
isso foi um fato relevante, para o mercado de Renda Variável foi mais uma notícia ruim que
entrou na fila. O baque na bolsa foi o mesmo que bater em bêbado, que já havia sofrido um
11/03 – OMS Declara
Pandemia de COVID‐19
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baque dois dias antes, por conta do desentendimento entre Russos e Sauditas sobre a
definição do preço e produção do Barril de Petróleo.
4‐ÍNDICES RENDA VARIÁVEL ACUMULADOS – MARÇO/2020
3 – EFEITOS DA PANDEMIA SOBRE A ECONOMIA MUNDIAL
3.1 – PARALISAÇÃO DA ATIVIDADE ECONÔMICA E PIB
MUNDIAL
Para conter a Pandemia do Coronavírus os governos tomaram medidas drásticas,
proibindo a movimentação e aglomeração de pessoas em locais públicos como praças, praias,
cinemas, teatros, museus e etc. Para conter o avanço do vírus, em muitos países e Estados no
Brasil foi decretado estado de calamidade pública e a orientação de isolamento domiciliar,
11/03 – OMS Declara
Pandemia de COVID‐19
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para se evitar propagar o vírus de forma comunitária, além do fechamento de fronteiras,
aeroportos, comércio e diminuição do transporte coletivo. Nesse contexto, com essa
interrupção abrupta da atividade econômica, a tendência será a falência de companhias
aéreas, hotéis, restaurantes e todas as empresas ligadas ao setor de turismo.
No mundo dos esportes, a maioria das competições foram paralisadas e algumas
adiadas, como é o caso da Eurocopa e a Copa América, que seriam disputadas em 2020 e foram
transferidas para 2021. Até mesmo os Jogos Olímpicos marcados para acontecer em meados
deste ano no Japão, já sofre a ameaça de ser transferido para outra data. Enquanto o Comitê
Olímpico Internacional não se pronuncia sobre o fato, alguns países como o Canadá, já
anunciaram boicote as Olimpíadas realizadas este ano, informando que não permitirão que
seus atletas participem dos jogos, se a data for mantida.
Essa paralisação forçada da atividade econômica mundial vai jogar o mundo inteiro em
uma recessão em 2020 e, segundos economistas, ela terá dois impactos. No curto prazo, o PIB
dos países vai diminuir. No longo prazo, governantes e empresas tenderão a mudar a forma
como produzem, compram e vendem produtos e serviços.
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5‐PROJEÇÃO DO PIB (RECESSÃO EM 2020)1
FONTE:https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2020/03/23/coronavirus‐vai‐concentrar‐
riqueza‐e‐mudar‐cadeia‐global‐de‐producao.htm
Nota‐se que a previsão para o PIB Mundial em 2020 era de crescimento de +2,3%. Após
a decretação da pandemia, essa projeção foi revista e passou a projetar recessão de ‐3,1%.
No dia 10/03, um dia anterior ao anúncio da Pandemia, o Governo Brasileiro havia
revisado a projeção do PIB, diminuindo a projeção de crescimento de +2,4% para +2,1%. No
dia 20/03, 10 dias depois, essa revisão de crescimento foi reduzida a +0,02%. Um estudo do
Centro de Macroeconomia Aplicada da FGV ‐ Fundação Getúlio Vargas, indica que a pandemia
pode provocar uma perda de até ‐4,4% no PIB brasileiro em 2020.
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BRICS – Economia dos 5 maiores países emergentes: Brasil, Rússia, Índia, China e Arábia Saudita. A
projeção do PIB do grupo se mostra positiva, puxada pelo crescimento da China.
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3.2 – GLOBALIZAÇÃO E COMÉRCIO EXTERIOR
Diferente da recessão de 2008, onde tivemos a quebra de importantes instituições
financeiras, o estimulo encontrado pelos governos para a recuperação econômica foi o
salvamento dessas Instituições, através de empréstimos ou até mesmo estatizando‐as, aliada
a uma política de redução drástica de taxa de juros pelos Banco Centrais nos países
desenvolvidos, afim de dar liquidez aos mercados. No caso da crise deste ano, a diferença é
que estamos “proibindo” a atividade econômica por questões de saúde, o que trará
consequências como a quebra de pequenas e médias empresas e perda do emprego pela falta
de atividade econômica.
No longo prazo, nações com menor poder financeiro deverão ter mais casos de falência
de empresas, principalmente de países emergentes como Brasil, Argentina, México e as de
economia fragilizada como Espanha e Itália. Estas deverão perder espaços para empresas de
países mais ricos, como Estados Unidos e China, cujas nações conseguirão ajudar suas
empresas que também terão dificuldades financeiras.
Da mesma forma, as empresas de grande porte como as Estatais, com mais recursos
em caixa e maior acesso às linhas de financiamento, vão se aproveitar do espaço deixado no
mercado pelas pequenas e médias empresas, conquistando novos mercados.
Segundo a reportagem Mundo vai parar, empresa pequena quebra e ricos dominam
do site UOL, “Segundo a Organização Mundial do Comércio, em 2018, as pequenas e médias
empresas representavam cerca de 70% do emprego global no mundo. Nas economias em
desenvolvimento, caso do Brasil, esse segmento responde por mais de 55% do PIB.” É uma
parcela considerável do PIB, que pode mudar de mãos.
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Segundo a OIT ‐ Organização Internacional do Trabalho, a pandemia pode acabar com
até 24,7 milhões de empregos em todo o mundo, excedendo os efeitos da crise financeira de
2008, que desencadeou a eliminação de 22 milhões de postos de trabalho.
Visando ajudar o comércio local a não sucumbir com a forte paralisação da atividade
econômica, a Editora Globo lançou uma campanha “Apoie o negócio Local”, em detrimento ao
consumo pelas grandes incorporações, como uma forma de amenizar o impacto na economia
local. Confesso que ainda não entendi onde a Globo quer chegar com essa campanha. Mas é
louvável.
Segundo Oliver Stuenkel, coordenador do programa de pós‐graduação da Escola de
Relações Internacionais da FGV, mestre em Políticas Públicas e doutor em Ciências Políticas,
“não acredito em reversão da globalização, mas sim em um processo que vai perder velocidade
e no qual o peso político das decisões de investimento será revisto. Vejo a possibilidade de
maior concentração econômica, e nesse processo os países emergentes tendem a sofrer mais.”
Nossa opinião, a consequência da concentração de renda (acredito que parecida com o que
vimos no auge dos anos de 1970 e 1980), fomentará a Luta de Classes e manifestações
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populares, que exigirão mudanças nos marcos regulatórios atuais, visando estimular a
distribuição de renda.
3.3 – AJUDA FINANCEIRA DOS GOVERNOS
Para se evitar a demissão em massa de trabalhadores e quebra generalizada de
empresas, os governos estão oferecendo ajuda financeira e fiscal, para manter a liquidez dos
mercados. Os líderes europeus disseram que estão prontos para investir “o que for preciso”
para salvar as economias de uma grande catástrofe. Lembramos que estamos paralisando a
economia e não que as empresas estão com problema de caixa simplesmente.
Por aqui, o governo anunciou um auxílio mensal de R$ 200,00 para trabalhadores
autônomos e a publicação de uma Medida Provisória no domingo, dia 22/03, flexibilizando a
relação de trabalho entre empregador e empregado, onde permite o teletrabalho, a
antecipação de férias individuais, a concessão de férias coletivas e outras opções. A medida
provisória 927/2020, inclusive, já teve o artigo 18 revogado, um dia após sua publicação.
No entanto, a grande questão é o limite dessa ajuda governamental. Até quando os
orçamentos fiscais, já deficitários, resistirão se a pandemia não diminuir nas próximas semanas
e durar meses? Segundo projeções do Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, teremos
um colapso no sistema de saúde por conta da transmissão do Coronavírus no mês de abril e
uma queda brusca na curva em setembro/2020.
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4 – A CRISE DO COVID‐19 É PIOR DO QUE A CRISE DE 2008?
A pergunta que mais ouvi nos últimos dias foi: “A crise causada pela pandemia do
COVID‐19 é pior do que a crise do sub‐prime de 2008? (Quando tivemos a quebra de
Instituições do mercado imobiliário americano).
Bom, são crises com focos distintos. Enquanto a crise de 2008, o foco foi a quebra de
importantíssimas instituições financeiras ligadas ao setor imobiliário americano, de confiança
sobre as agências de rating e principalmente a falta de liquidez, a “crise” do COVID‐19 não é
bem uma crise financeira, e sim, uma paralisação obrigatória da atividade econômica. Crises
financeiras nos mercados ocorrem pela falta de liquidez, pela falta de dinheiro rodando na
praça, diferente da situação que estamos passando agora. Em 2008, tínhamos o carro, mas
não tínhamos dinheiro para colocar combustível. Hoje, temos o carro, dinheiro e o tanque
cheio, só que com o governo pedindo para ficarmos em casa.
O professor Fábio Astrauskas, mestre em Administração pela USP, com foco em
planejamento e administração na recuperação judicial, afirma que “Por enquanto, estamos
sentindo apenas os efeitos financeiros dessa crise, com as perdas nas Bolsas e nos mercados.
Mas logo vamos começar a sentir os efeitos na economia real, com mais perdas de vendas,
falta de produtos e mais desemprego”.
Nas palavras do professor, os efeitos sobre a economia ainda não foram sentidos e esse
efeito provavelmente irá alterar o posicionamento estratégico dos negócios entre empresas e
governos. Com a paralisação forçada da atividade por semanas, o estrago pode ser recuperado
em questão de meses. O problema que essa paralisação forçada da atividade econômica pode
levar mais tempo do que o esperado, o que dificultará na corrida contra o prejuízo. Ao longo
dos meses, algumas empresas podem não aguentar tanto tempo de estagnação e sucumbirem,
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abrindo espaço para empresas maiores engolirem sua fatia no mercado, conforme já explicado
nessa nota explicativa.
4.1 – É HORA DE RESGATAR OU APLICAR?
Resgatar em hipótese alguma e ficar atento a janela de oportunidades. Crises não
deixam de apresentar novas oportunidades. Sempre que o mundo se encontra em crise, seja
financeira ou política o que existe é uma nova ordem social. Um novo desenho político e novos
líderes. O dinheiro nunca some, apenas, muda de lugar. A priori, o investidor deve ficar atento
as janelas de oportunidade que estão se abrindo. Nesse momento, empresas ligadas ao setor
de saúde estão lucrando com produtos de assepsia. Profissionais da Saúde se tornaram
requisitados. E os de serviços funerários estão se planejando para atender a “demanda”
reprimida. Enquanto uns choram, outros vendem lenço.
O recomendável pelas próximas semanas é evitar tomar riscos, até que se desenhe um
controle sobre a disseminação do vírus. Até se saber os impactos e até onde vai a
contaminação, os governos, para evitar descontrole, decretaram paralisações e isolamento
social até o fim de abril. A partir daí, deverão decretar novas ordens ou restabelecer o
equilíbrio econômico e social. O próprio governo demonstra receio com o que está por vir,
alertando para o colapso que o sistema de saúde terá, com o aumento de casos que estão
sendo projetados para o crescimento exponencial de abril. O receio do governo não é a
contaminação em si, até porque a taxa de letalidade do vírus é baixa e o chamado grupo de
risco, atinge na sua maioria uma faixa etária que já não se encontra em fase laborativa. A
preocupação do Governo é se o sistema de saúde público irá conseguir atender a demanda de
infectados, que poderão ser muitos e ao mesmo tempo.
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A máxima de “comprar na baixa e vender na alta” nunca esteve tão gritante como
neste momento. Mas, não é porque a Bolsa quase rompeu a barreira dos 120 mil pontos e hoje
se encontra estacionada na casa dos 60 mil, que ela não possa cair mais um pouquinho e
chegar a 50 mil pontos (E pensar que muitos viam a Bolsa rompendo a casa de 130 mil pontos
em 2020….. Mas 2020 ainda está longe de acabar).
Mas, para aquele investidor que tem capacidade financeira e visão de longo prazo para
assumir riscos neste momento, a Bolsa á 60 mil pontos não deixa de ser uma ótima
oportunidade. Não deixa de estar muito barata, voltando aos preços verificados em 2017.
Atenção também aos índices IMA.
Por mais que o IBOVESPA caia um pouco mais, os analistas de mercado acreditam que
ela rompa a casa de 100 mil pontos em 2021. Quiçá, segundo semestre de 2020. Tudo vai
depender do desenrolar do vírus e a da cooperação da população.
4.2 – RECUPERAÇÃO DA DESVALORIZAÇÃO. NÃO EXISTE
OUTRA OPÇÃO, QUE NÃO SEJA INVESTIMENTOS DE
LONGO PRAZO
Se a Taxa Selic se mantiver a 3,75% a.a. nos próximos 12 meses, isso significa que a
poupança irá render em 1 ano; 2,63% a.a.. E a quem aposte (inclusive nós), que teremos mais
redução da Taxa Selic, se a paralisação se estender por mais tempo. Só de comparação, a Taxa
Selic do Peru foi reduzida para 1,25%. No Brasil, caso a Selic chegue a 1,25% a.a., significa que
a poupança irá render no ano, 0,88% a.a.
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Por mais que a Bolsa de Valores tenha sofrido forte desvalorização, não existe outro
lugar para o investidor recuperar o “dinheiro perdido” ou conseguir superar a inflação, que
não seja na própria Bolsa ou nos investimentos de Longo Prazo como os Títulos Públicos e
índices IMA.
4.3 – MOMENTO DA ESTAGNAÇÃO E RECUPERAÇÃO
Segundo alguns analistas, embora haja pouca visibilidade sobre a extensão e duração
da pandemia, tomemos como parâmetro a evolução da situação na China, que já apresenta
relatos de dias sem registro de contaminação local e a economia apresenta recuperação,
podendo ter uma reação rápida em “V”, a partir do segundo semestre.
Assim como ocorreu, por exemplo, na greve dos caminhoneiros, onde o mercado
sofreu uma forte desvalorização no mês de abril/2018 e 6 meses depois (outubro/2018) já
tinha recuperado o tombo. No dia 17/05/2017, data rotulada como “Joesley Day”, a bolsa
levou 3 meses para se recuperar (7/08/2017).
É claro, deve‐se tomar o cuidado de observar que a comparação utilizada aconteceu
em apenas 1 dia, enquanto o Coronavírus permanecerá nos incomodando por mais tempo.
Como a demanda está forçadamente sendo obrigada a se manter reprimida, quando o
surto da pandemia passar e voltarmos a normalidade, o mercado virá ferozmente como um
tsunami atrás do tempo perdido. Essa “crise” não se trata de falta de dinheiro, e sim, obrigação
de paralisação da atividade econômica.
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4.4 – CRISE PASSAGEIRA E QUANDO A JANELA DE
OPORTUNIDADE ABRIR
A crise provocada pelo Coronavírus freou o otimismo com a economia, mas, os
fundamentos de aplicação de visão de longo prazo permanecem, principalmente com uma
Taxa de juros baixa (3,75%) e com possibilidade de mais redução. Dependendo do desenrolar
da paralisação da atividade econômica, o Banco Central pode se ver obrigado a reduzir mais
ainda a Taxa Selic, afim de estimular a recuperação rápida da economia. Essa semana, o Banco
Central já anunciou a redução da Taxa do Depósito Compulsório de 25% para 17%, visando
manter mais dinheiro disponível nas Reservas Bancárias.
Outra ação realizada pelo Banco Central foi a injeção de R$ 1 trilhão e 200 milhões na
economia. Essa quantia é equivalente a 16,7% do PIB. Para efeito de comparação, na crise
financeira de 2008, o governo injetou na época, R$ 117 bilhões, equivalente a 3,5% do PIB na
época. O governo está injetando dinheiro no mercado, visando ajudar as empresas a se
manterem firme pelos próximos meses, evitando demissão.
Mas perceba como a crise de 2008 e a “crise” de 2020 são diferentes. De que adianta
crédito disponível na praça, com juros baixos, se não podemos sair de casa para utilizá‐lo?
Literalmente, estamos forçando uma demanda reprimida. Em 2008 estava faltando dinheiro
na praça, agora, estamos proibidos de frequentar a praça. O dinheiro disponível tem o intuito
de manter a remuneração dos funcionários, em momento de demanda reprimida.
Outra diferença entre as duas crises: Atualmente, os bancos possuem carteiras de
crédito mais robustas e saudáveis, com o nível de inadimplência controlado. Isso mostra que
as Instituições Financeiras terão maior capacidade para alongar as dívidas de empresas que
passarão por problemas de caixa no decorrer da pandemia. E do lado das empresas, elas se
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encontram menos endividadas e com planos de expansão. Este ano, 4 empresas realizaram
IPO (abriram capital na Bolsa). 27 estavam previstas, mas deverão adiar por um tempo. Desde
2008, o máximo de abertura de capital na bolsa em um ano eram de 10 empresas.
Quanto a janela de oportunidade se abrir (e há quem diga que já se abriu), o investidor
deverá priorizar ações de grandes empresas, que são as que mais recebem ajuda do governo
para reaquecer a economia. Do Setor Financeiro também, por serem importantíssimas no
momento de recuperação. As ações de empresas que pagam dividendos também devem estar
no radar, pois, a tendência será o governo auxiliar as empresas que possuem grande
participação no PIB. E as empresas que exportam para a China, pois, conforme demonstrado
na página 8 desta Nota Explicativa, único país que deverá apresentar um PIB positivo. Por
enquanto, as ações estão muito voláteis, tombando ‐10% em um dia, recuperando +7% no
outro, tombando mais ‐10% no seguinte…
 Segunda‐feira (09/03): ‐12,17%
 Terça‐feira (10/03): +7,14%
 Quarta‐feira (11/03): ‐7,64%
 Quinta‐feira (12/03): ‐14,78%
 Sexta‐feira (13/03): +13,91%
4.5 – COMPARAÇÃO COM A GRIPE ESPANHOLA
A última grande pandemia que tivemos no país foi em 1918, com a gripe espanhola
trazida de um navio oriundo da Europa. Em setembro/1918, o navio desembarcou em Recife,
Salvador e Rio de Janeiro infestado de passageiros com a Influenza Espanhola. Com o fim da
1º Guerra Mundial, muitos soldados retornaram para os seus países de origem, levando a gripe
que foi contraída nas trincheiras dos campos de batalha. Estima‐se que a Gripe Espanhola
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tenha vitimado entre 50 a 100 milhões de pessoas no mundo, matando até mais do que a 1º
guerra mundial (8 milhões e 500 mil mortos) e mais do que a 2º guerra mundial (60 milhões
de mortos).
Segundo a FGV, estima‐se mais de 35 mil mortes em todo o Brasil da Gripe Espanhola.
O Rio de Janeiro, maior núcleo urbano do país, apresentou o número de óbitos mais elevado.
Em dois meses faleceram cerca de 12.700 pessoas. Entre suas vítimas ilustre, temos o
presidente eleito do Brasil, para um segundo mandato (não era reeleição), que não chegou a
tomar posse, vitimado pela gripe.
Nos subúrbios do Rio de Janeiro, as ruas ficavam cheias de mortos porque seus
familiares tinham receio de serem infectadas com eles dentro de casa. Essa medida facilitou o
trabalho de remoção das carroças da limpeza pública, que passavam nas ruas recolhendo os
corpos deixados na rua. Em um só dia, o Rio de Janeiro chegou a contabilizar mais de 1.000
mortos.
Para combater a epidemia que se instalou nas principais capitais do país, o governo
decretou toque de recolher, mandou fechar o comércio e fábricas, suspendeu as aulas e
decidiu graduar os estudantes de medicina que cursavam o último semestre. Clubes de futebol
disponibilizaram suas sedes para atender os enfermos. Como não haviam coveiros suficientes,
a polícia obrigava os homens encontrados na rua, considerados fortes a enterraram os mortos.
Sem contar os remédios milagrosos que eram vendidos em Farmácia, que diziam curar da
Influenza.
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FONTE: jornal A Noite ‐ critica a prefeitura do Rio por forçar cidadãos comuns a enterrar cadáveres
durante a epidemia de 1918 / BIBLIOTECA NACIONAL DIGITAL
A devastação da gripe Espanhola pode ser dimensionada pelas ausências na eleição
para o Senado, que ocorreram na capital federal (Rio de Janeiro), em novembro de 1918. A
capital federal tinha 36 mil eleitores registrados, mas apenas 5 mil foram às urnas. Como
comparação, oito meses antes, na eleição presidencial, compareceram 22 mil.
Do mesmo modo abrupto com que chegou ao Brasil, a gripe espanhola desapareceu
repentinamente. Em dezembro, três meses após o registro dos primeiros casos, já eram raros
os contágios. Foram tantas as pessoas infectadas em um curto período de tempo (setembro a
novembro/1918) que o vírus praticamente não tinha mais a quem atacar.
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Em fevereiro de 1919, os cariocas foram as ruas de forma maciça festejar o Carnaval
como forma de exorcizar o fantasma da gripe espanhola. A Gripe espanhola matou mais do
que a 1º guerra mundial e ainda sim teve carnaval.
No mais, com vírus, desvalorização de comodities, guerra comercial, atrito político…, a
cartilha é sempre a mesma:
1. PROVISÃO DE CAIXA: Para não resgatar recursos que estejam desvalorizando
e realizar o prejuízo.
Não aplique o dinheiro que você irá usar neste exercício em mercado de
risco. Tenha sempre dinheiro disponível voltado para emergências. Você
nunca saberá o que pode acontecer e estamos à mercê de riscos por toda
parte.
Separe os recursos do exercício, aplique em índices conservadores (IRF – M
1, DI…) e os chame de PROVISÃO DE CAIXA. Essa informação valiosíssima
consta em sua Política Anual de Investimentos;
2. DIVERSIFICAÇÃO: Diversifique seus investimentos. Aplique um pouco em
tudo (ou quase tudo), pois dificilmente todos os ativos cairão de uma vez.
Assim, você equilibra sua carteira, mantendo um mínimo de ganho,
espalhando em investimentos que rendem negativo aqui, positivo lá…
3. JANELA DE OPORTUNIDADES: Sempre que o mercado tombar, observe se
não foi criada uma janela de oportunidades. O momento de comprar é
quando o produto está mais barato.
4. REBALANCEAR A CARTEIRA: Proteja os ganhos. Nossa Bolsa é altamente
especulativa. A cada 3 ou 6 meses, revise sua carteira e resgate o excesso de
ganho. Ganhos em excesso é sinal de devolução em algum momento. Use
bom senso e tenha como parâmetro a poupança ou o CDI.
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5. DÓLAR: Tenha Dólar. Quando o bicho pega na economia é o ativo que mais
se valoriza (ouro também, mas nem sempre). Pena que a Resolução CMN não
permite os RPPS aplicarem em Fundo Cambial.
Paciência para aqueles que não precisam dos recursos no curto prazo.
“Não há mal

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