NOSSA VISAO CREDITO E MERCADO

Nossa Visão – 09/03/2020
Retrospectiva
O pânico tomou conta dos mercados, com os investidores buscando proteção em ativos chamados de “porto seguro”, como o dólar e ouro, que encerraram a semana testando seus limites. Tudo isso é efeito da disseminação do “coronavírus”, que já registrou casos em quase 100 países e infectou mais de 100 mil pessoas mundo afora.
Nem mesmo as ações desenvolvidas pelos governos têm tranquilizado os mercados. Nos EUA, o Congresso aprovou uma medida emergencial que destina US$ 8,3 bilhões em recursos para combate à epidemia. O governo italiano também anunciou uma ajuda de 3,6 bilhões de euros em medidas para ajudar os setores mais afetados na Itália.
Além da ajuda em recursos monetários pelos orçamentos dos governos, os bancos centrais têm atuado no sentido de prover estímulos as economias.
Em reunião extraordinária, o Federal Reserve (FED, na sigla em inglês) decidiu por cortar a taxa de juros para o intervalo entre 1,00% e 1,25% – antes o intervalo ia de 1,00% a 1,75% – em resposta aos riscos econômicos que a epidemia representa para o país. Conforme declarou o presidente do FED, Jerome Powell, a epidemia mudou o cenário para a economia dos EUA este ano, que era de crescimento moderado. Para a autoridade monetária, que não via necessidade de atuação até semana passada, o cenário mudou com a disseminação da doença por lá, que já soma mais de 500 casos e 20 mortes. A paralisação de centenas de fábricas na China tem afetado a cadeia produtiva norte-americana, que já dá sinais de enfraquecimento. Nem mesmo a divulgação do “payroll” animou os investidores. O relatório apontou para a criação de 273 mil postos de trabalho em fevereiro, acima das estimativas preliminares.
Na esteira do FED, anunciaram corte de juros os bancos centrais do Canadá, Austrália, Argentina, Malásia e Arábia Saudita. Além disso, teremos em março a decisão das reuniões ordinárias do FED, BOE, BoJ e BCE, só para citar os maiores.
Além disso, o Fundo Monetário Internacional – FMI anunciou a liberação de US$ 50 bilhões em linha de crédito emergencial para países atingidos pela epidemia. O anúncio veio um dia após o FMI antecipar que cortará a projeção de crescimento mundial para 2020, de 3,3% previstos em janeiro para menos do que foi o crescimento em 2019, de 2,9%.
Para os mercados de ações internacionais, a semana seguiu em queda. Enquanto o Dax, índice da bolsa alemã, recuou -2,93%, o FTSE-100, da bolsa inglesa, caiu -1,79%, o índice S&P 500, da bolsa norte-americana, avançou 0,61% e o Nikkei 225, da bolsa japonesa, perdeu -1,86%.
Em semana de agenda fraca por aqui, destaque para a divulgação do PIB pelo IBGE, que fechou com crescimento de 1,1% em 2019, totalizando R$ 7,3 trilhões, engatando a terceira alta anual consecutiva após as quedas verificadas em 2015 e 2016. A maior contribuição para o avanço do PIB veio do consumo das famílias, que cresceu 1,8%. Pelo lado da oferta, destaque para o setor de serviços que cresceu 1,3% e responde por 2/3 da economia.
Em relação à epidemia do “coronavírus” no Brasil, o número de casos vem aumentando, porém segue sem registrar óbitos.
Para a bolsa brasileira a semana fechou em forte queda, com o clima de aversão a risco seguindo os mercados internacionais. O Ibovespa recuou -5,93% na semana, aos 97.997 pontos, acumulando desvalorização no ano de -15,26%. O dólar comercial encerrou a sessão de sexta-feira cotado a R$ 4,634 para a venda, mesmo após várias intervenções do Banco Central no mercado de câmbio. Na semana, a moeda avançou 3,42% frente ao real, enquanto no ano acumula alta de 15,49%. Já o IMA-B Total encerrou a semana com valorização de 0,27%, acumulando valorização de 0,98% no ano e 18,38% em 12 meses.

Relatório Focus
No Relatório Focus revelado hoje, os economistas que militam no mercado financeiro ajustaram pra cima a estimativa para o IPCA deste ano. Após nove reduções consecutivas, a projeção agora é de que o IPCA encerre o ano em 3,20%, ante 3,19% da semana passada. O resultado continua abaixo da meta de inflação fixada pelo CMN para este ano, de 4,00%. Para 2021, o mercado financeiro manteve a estimativa de inflação em 3,75%. No ano que vem, a meta central de inflação é de 3,75% e será oficialmente cumprida se o índice oscilar de 2,25% a 5,25%.
Para a Selic, o mercado financeiro manteve nesta semana suas apostas em relação à taxa de juros, informando que ao final de 2020 a taxa estará em 4,25%. Um mês atrás a previsão era os mesmos 4,25%. Para 2021, a previsão para a Selic foi ajustada pra baixo, para 5,50%, uma redução de 0,25 ponto percentual em relação à semana anterior. Há quatro semanas a estimativa era de 6,00%.
Entre os economistas que mais acertam as previsões, reunidos no chamado “top 5”, as estimativas para a taxa Selic em 2020 já foram reduzidas de 4,75% para 3,50%, isso após parte do mercado embutir um novo corte no juro já na próxima reunião do COPOM, em 18 de março.
A expectativa de crescimento da economia em 2020, medida pelo PIB, foi reduzida para 1,99%, ante projeção de 2,17% da semana anterior, sendo a quarta semana consecutiva de previsão pra baixo. Um mês atrás, a estimativa era de crescimento de 2,30%. Para 2021, o mercado financeiro manteve a previsão de expansão do PIB em 2,50%. Quatro semanas atrás, a expectativa estava nos mesmos 2,50%. Em dezembro o BACEN atualizou, por meio do Relatório Trimestral de Inflação (RTI), sua projeção para o PIB em 2020, de alta de 1,80% para elevação de 2,20%.
A projeção para o dólar no fim de 2020 foi mantida em R$ 4,20 nesta semana. Um mês atrás a estimativa era de R$ 4,10. Para o ano de 2021, a projeção para o câmbio foi elevada para R$ 4,20, ante projeção de R$ 4,15 no relatório anterior. Um mês atrás era de R$ 4,10.
Para o Investimento Estrangeiro Direto, caracterizado pelo interesse duradouro do investimento na economia, a mediana das previsões para 2020 foi mantida em US$ 80,00, mesmo número de um mês atrás. Para 2021, a expectativa foi elevada para R$ 84,50, enquanto na semana anterior era de US$ 84,05 bilhões.

Perspectiva
Os investidores permanecem em alerta após novos levantamentos indicarem a propagação do contágio pelo “coronavírus” na população mundial, atingindo novas regiões e países. As principais economias mundiais têm agido no sentido de estimular suas economias e conter um provável movimento de letargia que certamente afetará a economia global. As empresas do segmento de transporte e turismo são as mais afetadas neste momento.
Os efeitos do “coronavírus” sobre a demanda tem feito o preço do barril do petróleo recuar aos níveis de 2016. Na abertura dos mercados asiáticos hoje, o petróleo tipo Brent chegou a atingir US$ 31,02, um recuo de 31% sobre o fechamento de sexta-feira, após a Arábia Saudita surpreender ao anunciar um corte no preço do óleo, além de prometer elevar a produção para ganhar participação no mercado. Isso tudo após a Rússia se recusar a aderir ao corte na produção proposto pela OPEP na semana passada. A ruptura significa a desintegração da OPEP+, formada pela OPEP, Rússia e outros países produtores, que mantinham um estado de cooperação que durava três anos.
Mantemos nossa opinião de que os mercados deverão continuar oscilando nos próximos dias, devido à continuidade dos motivos que levaram os mercados às quedas recentes, assim como as incertezas em relação à evolução do contágio mundo afora e suas consequências sobre a economia global.
Por outro lado, Lembramos que o movimento de materializar perdas em momentos de “stress” não é o comportamento que se espera de gestores de recursos previdenciários, que devem se orientar no horizonte de longo prazo. É fato que os efeitos da diminuição da atividade causarão, em alguma medida, impactos nos resultados das empresas por algum tempo, porém quando imaginamos que essas mesmas empresas são precificadas pelos longos ciclos de vida, não é razoável compactuar da premissa de que perderam mais de 20% do seu valor em duas semanas.
Além disso, os formuladores de política monetária dos bancos centrais, em um movimento quase que coordenado, têm atuado no sentido de mostrar ao mercado seu arsenal monetário para ajudar a impulsionar a atividade e normalizar os mercados.
Com isso, continuamos vislumbrando uma janela de oportunidade diante da aversão que tomou conta dos mercados, se analisarmos a questão com a amplitude necessária e de maneira racional.
Na agenda da semana, destaque para a reunião do BCE, o banco central europeu, que definirá a política monetária do bloco. A expectativa é por mais injeção de recursos no sistema via corte no juro. Enquanto nos EUA, o destaque fica para a divulgação da inflação medida pelo CPI, o índice de preços ao consumidor.
Por aqui, destaque também para a divulgação de dados inflacionários. O IBGE divulga o IPCA de fevereiro, que deverá mostrar uma inflação comportada, na casa dos 0,15%.
Em relação às aplicações dos RPPS aconselhamos o investimento de 25% dos recursos em fundos de investimento em títulos públicos que possuem a gestão do duration, em razão da capacidade do gestor em alterar de maneira dinâmica a composição da carteira do fundo, adequando-a ao cenário à frente.
Para os vértices de longo prazo (especificamente o IMA-B Total) recomendamos exposição de 15%, em razão da baixa volatilidade devido à taxa básica de juros se situar na mínima histórica, e do potencial de prêmio que poderá ser capturado com o avanço das reformas estruturais em benefício do quadro fiscal do país.
Para os vértices médios (IMA-B 5, IDkA 2A e IRF-M Total), a recomendação é para uma exposição de 20%, e para os vértices de curto prazo, representados pelos fundos DI, pelos referenciados no IRFM-1 e pelos CDBs, a alocação sugerida é de 5%. Ambas as estratégias estão relacionadas à taxa de juros doméstica, situadas na mínima histórica, onde o prêmio de risco encontra-se em patamar reduzido.
Quanto à renda variável, recomendamos uma exposição máxima de 30%, por conta da melhora do ambiente econômico que já se refle em um melhor comportamento nos lucros das empresas e, consequentemente, nos mercados de ações, e também pelo fato da importância do produto como fator de diversificação de portfólio, em um momento em que as taxas de juros dos títulos públicos não mais superam a meta atuarial.
Para a alocação em fundos multimercado, a nossa sugestão é para uma exposição de 5% dos recursos e de 2,5% a alocação em FII e FIP, respectivamente, dada a pouca disponibilidade de produtos no mercado enquadrados para os RPPS. Para o investimento em ações, a nossa recomendação é de uma exposição de 20% dos recursos, tendo em vista o potencial de crescimento das empresas neste e nos próximos anos em uma conjuntura favorável ao mercado acionário, num ambiente de baixa inflação e taxas de juros nas mínimas históricas.
Para aqueles clientes que já contam com investimento de 5% tanto em FII, quanto em FIP, o ajuste das recomendações se dará através da redução no teto dos investimentos em ações.
Para o segmento de investimentos no exterior, recomendamos um percentual máximo de 5%, devido à necessária diversificação da carteira na busca por investimentos descorrelacionados da taxa de juros doméstica, além do recente surgimento de produtos direcionados a este segmento.

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