NOSSA VISÃO CREDITO E MERCADO

Nossa Visão – 06/07/2020
Retrospectiva
Os mercados de risco fecharam a semana no azul, com os investidores dando mais peso a recuperação da economia global após a divulgação de uma bateria de dados econômicos animadores, além de mais sinalizações de apoio financeiro por parte da autoridade monetária norte americana, que anunciou que irá comprar mais títulos de divida corporativa diretamente dos emissores, ou seja, mais injeção de liquidez para empresas. Os pontos de cautela ficaram em segundo plano e não influenciaram os mercados financeiros, em especial o avanço de novos casos do “coronavírus” nos EUA, uma possível segunda onda de contágio na Europa, além de tensões entre China, EUA e agora o Reino Unido, após aprovação de uma lei de segurança para o território semiautônomo de Hong Kong.
Nos EUA, o Departamento de Trabalho divulgou o relatório de emprego não agrícola do país, denominado “payroll”. O documento revelou a criação de 4,8 milhões de vagas em junho, bem acima do inicialmente previsto. A taxa de desemprego recuou para 11,1% em junho, ante 13,3% em maio, com o número de desempregados registrando 17,8 milhões de pessoas.
Ainda por lá, foi divulgada a ata da última reunião do Federal Reserve (FED, o banco central local), que manteve o juro perto de zero. O documento revelou que a autoridade monetária espera a pior contração econômica desde a Segunda Guerra Mundial e mantém o compromisso de oferecer suporte a economia, com a utilização das ferramentas à disposição do banco central para ajudar na recuperação da atividade e o pleno emprego.
Na região do euro, foi revelado que o índice de gerente de compras (PMI, na sigla em inglês) composto, que engloba os setores da indústria e de serviços, avançou para 48,5 pontos em junho, ante os 31,9 pontos registrados em maio. O resultado foi puxado pelo setor de serviços que avançou de 30,5 pontos em maio para 48,3 pontos em junho.
Na China, a atividade seguiu crescendo com a retomada do comércio. O PMI composto chinês registrou 55,7 pontos em junho, com a oferta e a demanda interna e externa em franca ascensão. O número foi puxado também pelo setor de serviços, que cresceu a 58,4 pontos em junho, ante os 55,0 pontos registrados em maio.
Para os mercados de ações internacionais, a semana foi de movimentos mistos. Enquanto o Dax, índice da bolsa alemã, avançou 3,63%, e o FTSE-100, da bolsa inglesa, desvalorizou -0,03%, o índice SP 500, da bolsa norte-americana, subiu 4,02% e o Nikkei 225, da bolsa japonesa, recuou -0,91%.
No Brasil, destaque para a divulgação do PMI, índice que mede o nível de saúde da atividade na região. O PMI composto, que engloba os setores industrial e de serviços, subiu de 28,1 pontos em maio para 40,8 pontos em junho, ainda abaixo dos 50 pontos que separam contração de recessão. O setor de serviços saltou de 27,6 pontos em maio para 35,9 pontos em junho, reflexo do fechamento do comércio devido às medidas de distanciamento social.
Em relação ao nível de emprego, foi divulgado pelo CAGED que foram fechados 331.901 pontos de trabalho com carteira assinada em maio, uma melhora em relação a abril, quando foram destruídas 902.841 vagas. Dos cinco grupos de atividades medidos, apenas na agropecuária houve contratação.
Conforme divulgou o IBGE, a produção industrial cresceu 7% em maio, recuperando em parte as quedas consecutivas de março (-9,2%) e abril (-18,8%). A maior alta na produção foi observada entre os bens de consumo duráveis, que cresceram 92,5%, seguida pelos bens de capital, isto é, as máquinas e equipamentos usados no setor produtivo, que cresceram 28,7%.
Em relação aos preços, conforme divulgou a FGV, o Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) registrou inflação de 1,56%, ante alta nos preços de 0,28% em maio, pressionado pelo aumento nos preços dos combustíveis.
Para a bolsa brasileira a semana foi de alta, acompanhando os movimentos das bolsas internacionais. O Ibovespa encerrou a semana com avanço de 3,12%, aos 96.764 pontos, acumulando valorização de 1,80% no mês, e desvalorização de -16,32% no ano. O dólar comercial encerrou a sessão de sexta-feira cotado a R$ 5,321 para a venda. Na semana, a moeda recuou -2,65% frente ao real, enquanto no ano acumula alta de 31,63%. Já o IMA-B Total encerrou a semana avançando 2,17%, enquanto no mês acumula alta de 1,35% e no ano desvalorização de -0,33%. Em 12 meses a valorização é de 5,99%.

Relatório Focus
No Relatório Focus revelado hoje, os economistas que militam no mercado financeiro mantiveram as estimativas para a inflação deste ano, ainda em meio à economia doméstica fragilizada. O documento revela que a expectativa, na mediana das projeções, para o IPCA deste ano foi mantida em 1,63%. Um mês atrás a previsão para o IPCA deste ano era de 1,53%. O resultado continua distante da meta de inflação fixada pelo CMN para este ano, de 4,00%. Para 2021, o mercado financeiro manteve novamente a estimativa da inflação em 3,00%. Quatro semanas atrás, a previsão era de que a inflação do ano que vem seria de 3,10%. Em 2021, a meta central de inflação é de 3,75% e será oficialmente cumprida se o índice oscilar de 2,25% a 5,25%.
Para a Selic, o mercado manteve pela segunda semana consecutiva a estimativa da taxa em 2,00% ao ano. O número projeta um novo corte da Selic na próxima reunião do Copom, em agosto, o que implicaria em uma redução de 0,25 ponto percentual frente ao atual patamar. Para o encerramento de 2021, a previsão para a taxa Selic foi mantida em 3,00% pela quarta semana consecutiva. Há quatro semanas a estimativa era de 3,50%.
Entre os economistas que mais acertam as previsões, reunidos no chamado “top 5”, as estimativas para a taxa Selic ao final do ano foram mantidas em 2,00% na mediana das coletas, uma previsão de corte adicional de 25 pontos bases até o final do ano. Para 2021 as apostas são de que a taxa Selic encerre o ano em 2,25% na mediana das coletas, mesma previsão da semana passada.
Após dezoito semanas consecutivas de aprofundamento na perspectiva de queda do PIB, e uma semana de estagnação no pessimismo, os analistas voltaram a reduzir ligeiramente a expectativa de encolhimento do PIB. O mercado estima que o PIB brasileiro encolha -6,50% neste ano, ante expectativa de -6,54% da semana passada. Há quatro semanas, a estimativa era de queda de -6,48%. Para 2021, o mercado financeiro manteve a previsão do PIB em 3,50%. Quatro semanas atrás, estava nos mesmos 3,50%. Este mês, o Bacen atualizou, por meio do Relatório Trimestral de Inflação (RTI), sua projeção para o PIB em 2020, de variação zero para retração de -6,4%.
O relatório mostrou que a projeção dos economistas para o câmbio ao final de 2020 foi mantida em R$ 5,20. Um mês atrás a projeção era de R$ 5,40. Para 2021, a projeção para o câmbio foi ajustada para R$ 5,05, ante estimativa de R$ 5,00 na semana passada. Um mês atrás a projeção para o câmbio era de R$ 5,08.
Para o Investimento Estrangeiro Direto, caracterizado pelo interesse duradouro do investimento na economia, o mercado projeta mais queda no ingresso de recursos de fora do país. A mediana das previsões para 2020 é de um ingresso de US$ 55,00 bilhões, ante projeção de US$ 57,50 bilhões semana passada, enquanto que para 2021 a expectativa foi alterada para US$ 70,00 bilhões, uma redução ante aos US$ 72,50 bilhões estimados há sete dias. Há quatro semanas, a estimativa era de ingressos da ordem de US$ 60,00 bilhões e US$ 75,00 bilhões, respectivamente.

Perspectiva

Os mercados de risco seguem avançando diante dos números que confirmam uma recuperação do comércio mundial. O otimismo foi potencializado diante da expectativa de uma recuperação mais rápida do que o esperado anteriormente. O viés otimista também tem respaldo na expectativa pelo desenvolvimento de uma vacina eficaz contra o “coronavírus” num prazo menor do que o esperado, diante de uma série de laboratórios em estágio avançado de ensaios com resultados promissores.
Por aqui, os mercados abrem a semana no otimismo, seguindo os movimentos internacionais, e precificando a fala do ministro Paulo Guedes sobre possíveis privatizações ainda este ano, além de projetos para a indústria brasileira crescer de maneira sustentável.
O cenário político manteve-se fora do radar dos investidores, o que não deixa de ser positivo para os mercados. Destaque para a aprovação, pelo Congresso Nacional, do adiamento das eleições municipais de outubro para novembro deste ano.
Na agenda da semana, destaque para a divulgação do IPCA, considerado a inflação oficial do país, que deve acompanhar o movimento do IGP-M e mostrar um aumento nos preços em junho, diante da inflação de 0,38% registrada em maio. Além de dados do setor de veículos e vendas no varejo.
Lá fora, destaque para a divulgação da inflação ao produtor nos EUA (PPI, na sigla em inglês), além de dados da produção industrial e vendas no varejo na região do Euro.
Outro ponto de atenção, a ser acompanhado de perto, refere-se a atmosfera de incertezas entre China e EUA, diante de um maior controle chinês na região semiautônoma de Hong Kong, que podem deteriorar para sanções multilaterais.
Mantemos nossa recomendação de adotar cautela nos investimentos e acompanhamento diário dos mercados e estratégias. Mantemos a sugestão para que os recursos necessários para fazer frente às despesas correntes sejam resgatados dos investimentos menos voláteis (CDI, IRF-M1, IDkA IPCA 2A). Os demais recursos mantenham-os em “quarentena” esperando um melhor momento para realocar. Tomar decisões precipitadas enseja realizar uma perda decorrente da desvalorização dos investimentos sem possibilidades de recuperar na retomada do mercado. Para aqueles que enxergam uma oportunidade de investir recursos a preços mais baratos, municie-se das informações necessárias para subsidiar a tomada da decisão.

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