NOSSA VISAO CREDITO E MERCADO

Nossa Visão – 15/06/2020
Retrospectiva
Após uma sequencia de altas expressivas nas últimas semanas, os mercados de risco sofreram pesadas baixas na medida em que foram renovadas as preocupações de uma nova onda de contágios nos países que abriram os mercados e relaxaram as regras de distanciamento social, especialmente na região sul dos EUA, onde nos estados da Flórida, Texas e Califórnia voltaram a apresentar altas recordes de novos casos de contágio pelo “coronavírus”. Nada que não estivesse fora do radar dos investidores, mas acabou sendo o mote para a realização de lucros.
Os dados mais recentes do contágio pelo “coronavírus” no mundo mostram uma resistência na curva de novos casos e óbitos, tendo a região sul da Ásia como novo epicentro do contágio, com a Índia somando mais de 10 mil casos diários, atrás apenas do Brasil e EUA. São pouco mais de 7,8 milhões de pessoas infectadas no mundo, que levaram a mais de 432 mil óbitos. Os números mostram um crescimento de 11% no número de contágios e de 7% no número de óbitos em uma semana, indicando manutenção no avanço de contágios e óbitos em relação aos dados de sete dias atrás.
Em relação à preocupação com a recuperação das economias, a semana trouxe uma série de indicadores relevantes e previsões importantes.
Destaque para o encontro do Federal Reserve (FED, na sigla em inglês). O colegiado reuniu-se nos dias 09 e 10 de junho e decidiu pela manutenção do juro no patamar entre 0% e 0,25% e o prosseguimento do programa de apoio financeiro a economia local. No comunicado pós-reunião, o colegiado disse que as taxas permanecerão nesse nível pelo tempo suficiente para que a economia se recupere, dando a entender que a adoção de juros negativos está fora de propósito. Entretanto, afirmou que usará todas as ferramentas necessárias para atingir o melhor nível de emprego e inflação no centro da meta.
Ainda por lá, foi divulgado pelo Departamento do Trabalho que os novos pedidos de auxílio desemprego caíram para 1,5 milhões na semana encerrada em 06 de junho, ante 1,9 milhões da semana anterior, e afastando-se do recorde de 6,8 milhões de solicitações registradas no final de março, o que mostra uma diminuição das demissões e reforça a visão de que o mercado de trabalho pode ter chegado ao pior momento.
A OCDE, órgão de fomento da economia mundial, estima que a economia mundial encolha -6% neste ano na melhor das hipóteses, ou -7,6% em caso de uma segunda onda de contágios. Para 2021, a organização prevê uma forte recuperação em caso de controle da pandemia, na ordem de 5,2%, ou crescimento de 2,8% num cenário pessimista de disseminação do “coronavírus”.
Para os mercados de ações internacionais, a semana foi de perdas. Enquanto o Dax, índice da bolsa alemã, recuou -7,0%, o FTSE-100, da bolsa inglesa, desvalorizou -5,9%, O índice S&P 500, da bolsa norte-americana, caiu -4,8% e o Nikkei 225, da bolsa japonesa, perdeu -2,4%.
Por aqui, destaque para a divulgação do IPCA do mês de maio, que registrou deflação de -0,38%, enquanto um mês atrás o índice recuou -0,31%. No ano, o índice acumula queda de -0,16%. O maior impacto negativo veio do grupo de “Transportes”, cuja queda foi de -1,9%. Os grupos “Vestuário” e “Habitação” também contribuíram para a queda do indicador. Do lado das altas, destaque para os grupos “artigos de residência” e “Alimentação e Bebidas”, que subiram 0,58% e 0,24%, respectivamente.
No campo da política, destaque para a suspensão do julgamento sobre a cassação da chapa Bolsonaro/Mourão após um pedido de vista do ministro Alexandre de Moraes, quando o placar apontava 3 votos a 2 a favor da reabertura de investigações policiais em ações que pedem a cassação da chapa.
Para a bolsa brasileira a semana foi de baixa, acompanhando os movimentos das bolsas internacionais. O Ibovespa encerrou a semana com queda de -1,9%, aos 92.795 pontos, acumulando valorização de 6,2% no mês, e desvalorização de -19,8% no ano. O dólar comercial encerrou a sessão de sexta-feira cotado a R$ 5,045 para a venda. Na semana, a moeda avançou 1,2% frente ao real, enquanto no ano acumula alta de 25,7%. Já o IMA-B Total encerrou a semana com valorização de 0,2%, enquanto no mês a alta é de 1,7% e no ano acumula desvalorização de -2,0%. Em 12 meses a valorização é de 7,4%.

Relatório Focus
No Relatório Focus revelado hoje, os economistas que militam no mercado financeiro ajustaram a tendência e reviram as estimativas para a inflação deste ano, ainda em meio à economia doméstica fragilizada. Nesta semana, as previsões para a inflação foram ajustadas para cima, revelando que a expectativa é de que o IPCA encerre o ano em 1,60%, ante 1,53%, encerrando um ciclo de treze semanas consecutivas de projeção em queda. Um mês atrás a previsão para o IPCA deste ano era de 1,59%. O resultado continua distante da meta de inflação fixada pelo CMN para este ano, de 4,00%. Para 2021, o mercado financeiro reduziu a estimativa da inflação para 3,00%, ante 3,10% estimados da semana anterior. Quatro semanas atrás, a previsão era de que a inflação do ano que vem seria de 3,20%. Em 2021, a meta central de inflação é de 3,75% e será oficialmente cumprida se o índice oscilar de 2,25% a 5,25%.
Para a Selic, o mercado manteve a projeção da semana anterior. O boletim mostrou que a expectativa dos economistas é de que o Bacen deve cortar a taxa Selic em 0,75 pontos percentuais na próxima reunião, que ocorrerá nos dias 16 e 17 de junho, levando a Selic dos atuais 3,00% para 2,25% ao ano, e estacionando nesse patamar até dezembro. Para o encerramento de 2021, a previsão para a taxa Selic foi reduzida para 3,00%, enquanto na semana anterior a expectativa era de 3,50%. Há quatro semanas a estimativa era de 3,50%.
Entre os economistas que mais acertam as previsões, reunidos no chamado “top 5”, as estimativas para a taxa Selic em 2020 foram ajustadas para 2,25% na mediana das coletas, ante 2,13% da estimativa semanal anterior. Para 2021 as apostas são de que a taxa Selic encerre o ano em 2,25% na mediana das coletas, ante previsão de 2,75% da semana passada.
Os efeitos da pandemia do “coronavírus” sobre a economia brasileira continuam fazendo os economistas aprofundarem os cortes nas projeções para o PIB em 2020, pela décima oitava semana seguida. Conforme o Relatório de Mercado Focus, a expectativa para a economia este ano passou de retração de -6,48% para -6,51%. Há quatro semanas, a estimativa era de queda de -5,12%. Para 2021, o mercado financeiro manteve a previsão do PIB em 3,50%. Quatro semanas atrás, estava em 3,20%. Em março, na esteira da pandemia pelo “coronavírus”, o BC atualizou, por meio do Relatório Trimestral de Inflação (RTI), sua projeção para o PIB em 2020, de alta de 1,8% para variação zero. O próprio BC, no entanto, já reconheceu que o cenário está se alterando rapidamente e que, por isso, a projeção do RTI não reflete, necessariamente, a situação atual.
O relatório mostrou que a projeção dos economistas para o câmbio ao final de 2020 foi alterada, de R$ 5,40 da semana passada para R$ 5,20 na estimativa atual. Um mês atrás a projeção era de R$ 5,28. Para 2021, a projeção para o câmbio foi reduzida para R$ 5,00, ante cotação de R$ 5,08 da semana passada. Um mês atrás a projeção para o câmbio era de R$ 5,00.
Para o Investimento Estrangeiro Direto, caracterizado pelo interesse duradouro do investimento na economia, a mediana das previsões para 2020 é de um ingresso de US$ 60,00 bilhões, mesmo número da semana passada, enquanto que para 2021 a expectativa também foi mantida em US$ 75,00 bilhões. Há quatro semanas, a estimativa era de ingressos da ordem de US$ 65,00 bilhões e US$ 76,00 bilhões, respectivamente.

Perspectiva

Os temores com uma segunda onda de infecções pelo “coronavírus” mantêm os mercados de risco em alerta, na medida em que as notícias sobre o aumento de novos casos em países que aparentemente já haviam passado pelo pior momento da pandemia voltam a pesar. Parte dos ganhos recentes foi devolvido na semana passada, e aparentemente esse movimento de queda tende a se fixar com o noticiário negativo ganhando terreno.
Por aqui os mercados seguem contaminados pelo comportamento dos mercados globais, na medida em que a reabertura do comércio e relaxamento do distanciamento social em quase todas as regiões do país segue avançando, e um aumento no número de casos é mais do que esperado pelas autoridades sanitárias, com alguns especialistas prevendo um novo colapso do sistema de saúde em várias regiões.
O número de novos casos e de óbitos no Brasil segue avançando, porém em um ritmo menos intenso. Até agora são mais de 867 mil infectados e 43 mil óbitos, apontando um aumento de 26% nos casos de infectados e 19% nos casos de óbitos em uma semana.
Na agenda da semana, destaque para dois discursos programados pelo presidente do FED, Jerome Powell, no Senado e na Câmara, que poderão revelar mais informações da autoridade monetária, apenas alguns dias depois do FED decidir pela manutenção do juro norte-americano, e fazer previsões nada animadoras sobre a recuperação da economia no curto prazo. Os bancos centrais do Japão e Reino Unido também têm reuniões agendadas nesta semana, e na pauta estará a política monetária de seus países.
Por aqui, destaque para a reunião do COPOM programada para os dias 16 e 17 de junho. Apesar das apostas majoritárias para um corte de 0,75 pontos percentuais na taxa Selic e manutenção da taxa até o final do ano, o mercado não descarte um corte menor agora, acompanhado de mais um a frente. Também está prevista a divulgação do IBC-Br de abril pelo Bacen e o indicador de vendas no varejo pelo IBGE.
Mantemos nossa recomendação de adotar cautela nos investimentos e acompanhamento diário dos mercados e estratégias. Mantemos a sugestão para que os recursos necessários para fazer frente às despesas correntes sejam resgatados dos investimentos menos voláteis (CDI, IRF-M1, IDkA IPCA 2A). Os demais recursos mantenham-os em “quarentena” esperando um melhor momento para realocar. Tomar decisões precipitadas enseja realizar uma perda decorrente da desvalorização dos investimentos sem possibilidades de recuperar na retomada do mercado. Para aqueles que enxergam uma oportunidade de investir recursos a preços mais baratos, municie-se das informações necessárias para subsidiar a tomada da decisão.

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