NOSSA VISAO CREDITO E MERCADO

Nossa Visão – 08/06/2020
Retrospectiva
O noticiário positivo manteve o apetite dos investidores pelos mercados de risco. Aos poucos, as economias em diversos países do Hemisfério Norte e Ásia vão retornando as atividades, com alguns dados da atividade e emprego mostrando sinais de recuperação consistente. Tudo isso decorrente da retomada da economia nessas regiões, mostrando que o afrouxamento das regras de distanciamento e reabertura da convivência social vem surtindo efeitos positivos.
Os dados mais recentes do contágio pelo “coronavírus” no mundo mostram uma inflexão na curva de novos casos e óbitos. São pouco mais de 7,0 milhões de pessoas infectadas no mundo, que levaram a mais de 404 mil óbitos. Os números mostram um crescimento de 13% no número de contágios e de 8% no número de óbitos em uma semana, indicando manutenção no avanço de contágios e óbitos em relação aos dados de sete dias atrás.
O bom humor dos mercados veio na esteira da divulgação de dados sobre a atividade em diversos países e regiões.
Na China, foi divulgado que o Índice de Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês) da indústria caiu a 60,6 pontos em maio, ante 50,8 pontos em abril, mas ainda acima da marca de 50 pontos que separa crescimento de contração. Já o PMI de serviços subiu a 53,6 pontos em maio, sendo que em abril havia sido 53,2 pontos, o que sugere alta na confiança das empresas do setor.
Na região do Euro, também foram revelados dados sobre a expectativa da indústria e serviços, O PMI composto, que engloba os setores da indústria e de serviços dos países do bloco, saltou para 31,9 pontos em maio, ante 13,6 pontos em abril, revelando que a atividade cresceu fortemente puxada pelo setor de serviços, que avançou a 30,5 pontos em maio, ante a mínima recorde de 12 pontos em abril. A Itália teve o melhor desempenho dos países do bloco, com 33,9 pontos, seguida pela Alemanha (32,3 pontos) e França (31,1 pontos). A Espanha seguiu como o país com desempenho mais fraco, registrando 29,2 pontos.
Nos EUA, o PMI composto avançou a 37 pontos, bem acima dos 27 pontos registrados em abril, com destaque para o setor de serviços que avançou a 37,5 pontos em maio. Em abril o indicador teve sua mínima histórica ao registrar 26,7 pontos.
Ainda por lá, foi divulgado o relatório de emprego “payroll”, que surpreendeu ao mostrar criação de mais de 2,5 milhões de postos de trabalho em maio, ante previsão de destruição de 8 milhões de vagas, sinalizando que a economia vem se recuperando antes do previsto. Os dados revelaram que a taxa de desemprego recuo para 13,3% em maio. Em abril a taxa havia ficado em 14,7%.
Para os mercados de ações internacionais, a semana foi de alta generalizada. Enquanto o Dax, índice da bolsa alemã, avançou 10,9%, o FTSE-100, da bolsa inglesa, valorizou 6,7%, O índice S&P 500, da bolsa norte-americana, subiu 4,9% e o Nikkei 225, da bolsa japonesa, cresceu 4,5%.
Por aqui, destaque para uma acomodação nas tensões entre os “três poderes”, e também para o noticiário econômico. Conforme divulgou o IBGE, a produção industrial brasileira desabou 18,8% em abril, na comparação com março, evidenciando a dimensão do impacto da pandemia pelo “coronavírus” e das medidas de distanciamento social na atividade. Em março, a produção industrial já havia recuado 9% frente a fevereiro. No acumulado do ano, a produção industrial encolheu 8,2%. A maior influência no número de abril veio da paralisação quase que completa da indústria automobilística, que desabou 88,5% na comparação com o mês de março, e acabou impactando toda a cadeia produtiva do setor. Somente houve crescimento nas atividades relacionadas a itens essenciais em meio à pandemia, como produtos alimentícios e produtos farmacêuticos, que voltaram a crescer. O PMI da industrial voltou a crescer em maio, registrando 38,3 pontos ante 36 pontos em abril, enquanto o PMI de serviços quase não mexeu em maio, registrando 27,6 pontos ante 27,4 pontos em abril.
Para a bolsa brasileira a semana foi de alta, acompanhando as bolsas internacionais. O Ibovespa encerrou a semana com alta de 8,3%, aos 94.637 pontos, acumulando valorização de 8,3% no mês, e desvalorização de -18,2% no ano. O dólar comercial encerrou a sessão de sexta-feira cotado a R$ 4,988 para a venda, o primeiro fechamento abaixo de R$ 5 desde 26 de março. Na semana, a moeda recuou -6,6% frente ao real, enquanto no ano acumula alta de 24,3%. Já o IMA-B Total encerrou a semana com valorização de 1,5%, enquanto no ano acumula desvalorização de -2,2%. Em 12 meses a valorização é de 7,8%.

Relatório Focus
No Relatório Focus revelado hoje, os economistas que militam no mercado financeiro seguem ajustando pra baixo a estimativa para a inflação deste ano em meio à fragilidade da atividade brasileira. A projeção agora é de que o IPCA encerre o ano em 1,53%, ante 1,55% da semana passada, décima terceira semana consecutiva de projeção em queda. Um mês atrás a previsão para o IPCA deste ano era de 1,76%. O resultado se distancia ainda mais da meta de inflação fixada pelo CMN para este ano, de 4,00%. Para 2021, o mercado financeiro manteve a estimativa da inflação em 3,10%. Quatro semanas atrás, a previsão era de que a inflação do ano que vem seria de 3,25%. Em 2021, a meta central de inflação é de 3,75% e será oficialmente cumprida se o índice oscilar de 2,25% a 5,25%.
Para a Selic, o mercado manteve a projeção da semana anterior. O boletim mostrou que a expectativa dos economistas é de que o Bacen deve cortar a taxa Selic em 0,75 pontos percentuais na próxima reunião, que ocorrerá nos dias 16 e 17 de junho, levando a Selic dos atuais 3,00% para 2,25% ao ano, e estacionando nesse patamar até dezembro. Para o encerramento de 2021, a previsão para a taxa Selic foi aumentada para 3,50%, enquanto na semana anterior a expectativa era de 3,38%. Há quatro semanas a estimativa era de 3,50%.
Entre os economistas que mais acertam as previsões, reunidos no chamado “top 5”, as estimativas para a taxa Selic em 2020 foram reduzidas para 2,13% na mediana das coletas, ante 2,25% da estimativa semanal anterior. Para 2021 as apostas são de que a taxa Selic encerre o ano em 2,75% na mediana das coletas, ante previsão de 2,88% da semana passada.
Os efeitos da pandemia do “coronavírus” sobre a economia brasileira continuam fazendo os economistas aprofundarem os cortes nas projeções para o PIB em 2020, pela décima sétima semana seguida. Conforme o Relatório de Mercado Focus, a expectativa para a economia este ano passou de retração de -6,25% para -6,48%. Há quatro semanas, a estimativa era de queda de -4,11%. Para 2021, o mercado financeiro manteve a previsão do PIB em 3,50%. Quatro semanas atrás, estava em 3,20%. Em março, na esteira da pandemia pelo “coronavírus”, o BC atualizou, por meio do Relatório Trimestral de Inflação (RTI), sua projeção para o PIB em 2020, de alta de 1,8% para variação zero. O próprio BC, no entanto, já reconheceu que o cenário está se alterando rapidamente e que, por isso, a projeção do RTI não reflete, necessariamente, a situação atual.
O relatório mostrou que a projeção dos economistas para o câmbio ao final de 2020 se manteve em R$ 5,40 na mediana das estimativas. Um mês atrás a projeção era de R$ 5,00. Para 2021, a projeção para o câmbio foi mantida em R$ 5,08, ante R$ 4,83 de quatro pesquisas atrás.
Para o Investimento Estrangeiro Direto, caracterizado pelo interesse duradouro do investimento na economia, a mediana das previsões para 2020 é de um ingresso de US$ 60,00 bilhões, um recuou em relação à semana anterior que era de US$ 64,00 bilhões, enquanto que para 2021 a expectativa foi mantida em US$ 75,00 bilhões. Há quatro semanas, a estimativa era de ingressos da ordem de US$ 70,75 bilhões e US$ 79,00 bilhões, respectivamente.

Perspectiva

Os mercados de risco seguem contabilizando ganhos, em meio à retomada da economia mundo afora e as perspectivas de recuperação mais rápida do que antes se imaginava. Alguns dados revelados hoje cedo animavam os negócios.
No Japão, foi divulgado que o PIB do primeiro trimestre contraiu -2,2% anualizado, uma queda menor do que as estimativas, enquanto na China as exportações recuaram -3,3% na comparação com maio do ano passado, também superando as projeções que apontavam uma queda de -6,5%.
Por aqui os mercados seguem contaminados pelo comportamento dos mercados globais, apesar dos riscos maiores de um retardamento na retomada da atividade doméstica, na medida em que a reabertura do comércio e relaxamento do distanciamento social possam provocar um aumento no número de casos de pessoas infectadas pelo “coronavírus”, bem como no número de óbitos, o que faria as autoridades apertarem novamente as regras de mobilidade.
No campo político, as tensões entre os poderes deu uma trégua, enquanto o presidente Jair Bolsonaro tenha preferido não comentar sobre as manifestações “pela democracia” ocorridas no final de semana. Nem mesmo a mudança na divulgação de dados oficiais da doença pelo Ministério da Saúde foi capaz de crias novas tensões, além da indignação de uma ou outra entidade representativa do segmento da saúde.
O Brasil, alçado a novo epicentro da pandemia pelo “coronavírus”, segue contabilizando o numero de casos. Até agora são mais de 691 mil infectados e 36 mil óbitos, apontando um aumento de 34% nos casos de infectados e 24% nos casos de óbitos em uma semana. Com uma taxa média de quase 1.000 óbitos diários desde meados de maio, e em meio a medidas de afrouxamento das regras de distanciamento social e retomada gradual da economia que se multiplicam pelo país, de maneira aleatória e decorrente da falta de uma liderança no tema, o país segue com prognósticos nada animadores.
Na agenda externa da semana, destaque para a reunião do Comitê de Política Monetária do Federal Reserve – FED, o FOMC, que deverá anunciar sua decisão sobre política monetária. A expectativa majoritária é pela manutenção do juro norte-americano no intervalo entre 0% e 0,25%. Porém, o mercado ficará de olho no pronunciamento dos membros do FED, que podem dar pistas sobre os movimentos futuros da autoridade monetária.
Na Europa, destaque para a fala da presidente do Banco Central Europeu (BCE, na sigla em inglês), após o colegiado ter decidido na semana passada por ampliar o programa de recompra de títulos públicos e privados para estimular a economia da região, quase que dobrando o volume de recursos disponíveis, agora em 1,350 trilhões de euros, além de prorrogar o programa para até junho de 2021.
Por aqui, destaque para a divulgação do IPCA de maio pelo IBGE, além da votação pelo Tribunal Superior Eleitoral – TSE, de duas ações que pedem a cassação da chapa Bolsonaro-Mourão, com a tendência de arquivamento.
Mantemos nossa recomendação de adotar cautela nos investimentos e acompanhamento diário dos mercados e estratégias. Mantemos a sugestão para que os recursos necessários para fazer frente às despesas correntes sejam resgatados dos investimentos menos voláteis (CDI, IRF-M1, IDkA IPCA 2A). Os demais recursos mantenham-os em “quarentena” esperando um melhor momento para realocar. Tomar decisões precipitadas enseja realizar uma perda decorrente da desvalorização dos investimentos sem possibilidades de recuperar na retomada do mercado. Para aqueles que enxergam uma oportunidade de investir recursos a preços mais baratos, municie-se das informações necessárias para subsidiar a tomada da decisão.

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