NOSSA VISAO CREDITO E MERCADO 03/03/2020

Nossa Visão – 03/03/2020
Retrospectiva
Em semana encurtada devido aos feriados do Carnaval, a bolsa de valores retomou seu funcionamento na quarta-feira à tarde. Em meio período o Ibovespa caiu 7,00%, ajustando-se as perdas dos mercados internacionais enquanto o mercado aqui não funcionava. As ações que mais caíram foram aquelas que tinham alguma relação com a disseminação do “coronavirus” pelo mundo, que atingiu fortemente o velho continente esta semana com a explosão de casos confirmados no norte da Itália: as ações das empresas aéreas Gol e Azul caíram mais de 13%, enquanto as ações da empresa de turismo CVC recuaram 11,33%. Já as ações das empresas exportadoras de produtos siderúrgicos Gerdau e CSN, perderam mais de 10%.
A contaminação atingiu a economia, na medida em que empresas têm paralisado seus negócios, sugerindo que a economia como um todo deverá se contrair.
Esse temor levou os ativos considerados “porto seguro” a expressivas valorizações. O ouro encerrou o mês de fevereiro com uma valorização de 5,53%, seguido pelo dólar PTax, que avançou 5,37%.
Em semana de agenda fraca, destaque para os bancos centrais que tem se mobilizado para flexibilizar ainda mais suas políticas monetárias, ajustando-as ao cenário atual. Foi divulgada a ata do último encontro do Federal Reserve (FED, na sigla em inglês), que manteve a taxa de juros norte-americana entre 1,50% e 1,75% ao ano. Na avaliação dos membros, a política monetária está alinhada ao atual estágio de fortalecimento da economia dos EUA, com a inflação convergindo para o centro da meta, força de trabalho robusta e crescimento da economia sustentado. Entretanto, não se descarta novo corte no juro devido ao efeito do “coronavirus” na economia.
Na China, o Banco do Povo da China (PBoC, na sigla em inglês) baixou a taxa de empréstimo de cinco anos, de 4,80% para 4,75%, em medida complementar ao corte da taxa de empréstimo de um ano anunciada mês atrás.
Para os mercados de ações internacionais, a semana foi de fortes quedas devido à disseminação do “coronavirus” de maneira mais acentuada pra fora da China. Enquanto o Dax, índice da bolsa alemã, recuou -12,43%, o FTSE-100, da bolsa inglesa, caiu -11,12%, o índice S&P 500, da bolsa norte-americana, perdeu 11,49% e o Nikkei 225, da bolsa japonesa, despencou -9,59%.
Por aqui, além dos temores com o “coronavirus” após a confirmação de 2 infectados e elevação do número de casos suspeitos para 252, além de 89 suspeitas descartadas desde o início do monitoramento, o cenário político também influenciou no humor dos mercados.
A disputa por dinheiro deflagrou nova crise entre executivo e legislativo. Ao vetar parcialmente um projeto de lei aprovado pelo Congresso, que inclui o chamado orçamento impositivo na Lei de Diretrizes Orçamentárias – LDO, o governo cortou a verba destinada na lei a emendas parlamentares, da ordem de R$ 30 bilhões para este ano. Este veto, dentre outros, será analisado pelo Congresso que poderá mantê-lo ou derrubá-lo. Com isso, ganhou força a convocação para o dia 15 de março de ato público contra o Congresso.
Para a bolsa brasileira a semana fechou em forte queda, com o clima de aversão a risco seguindo os mercados internacionais. O Ibovespa despencou -8,36% na semana, aos 104.171 pontos, acumulando desvalorização no ano de -9,92%. O dólar comercial encerrou a sessão de sexta-feira cotado a R$ 4,481 para a venda, mesmo após várias intervenções do Banco Central no mercado de câmbio. Na semana, a moeda avançou 2,00% frente ao real, enquanto no ano acumula alta de 11,67%. Já o IMA-B Total encerrou a semana com desvalorização de -0,81%, acumulando valorização de 0,45% no fechamento de fevereiro, 0,71% no ano e 18,03% em 12 meses.

Relatório Focus
No Relatório Focus revelado hoje, os economistas que militam no mercado financeiro reduziram a estimativa para o IPCA deste ano pela nona semana consecutiva, para 3,19% ante os 3,20% da pesquisa anterior, sendo que há um mês estava em 3,40%. O resultado continua abaixo da meta de inflação fixada pelo CMN para este ano, de 4,00%. Para 2021, o mercado financeiro manteve a estimativa de inflação em 3,75%. No ano que vem, a meta central de inflação é de 3,75% e será oficialmente cumprida se o índice oscilar de 2,25% a 5,25%.
Para a Selic, depois da sinalização do COPOM de que o ciclo de reduções chegou ao fim, o mercado financeiro manteve nesta semana suas apostas em relação à taxa de juros, informando que ao final de 2020 a taxa estará em 4,25%. Um mês atrás a previsão era os mesmos 4,25%. Para 2021, a previsão para a Selic foi ajustada pra baixo, para 5,75%, uma redução de 0,25 ponto percentual em relação à semana anterior. Há quatro semanas a estimativa era de 6,00%.
A expectativa de crescimento da economia em 2020, medida pelo PIB, foi reduzida para 2,17%, ante projeção de 2,20% da semana anterior, sendo a terceira semana consecutiva de previsão pra baixo. Um mês atrás, a estimativa era de crescimento de 2,30%. Para 2021, o mercado financeiro manteve a previsão de expansão do PIB em 2,50%. Quatro semanas atrás, a expectativa estava nos mesmos 2,50%. Em dezembro o BACEN atualizou, por meio do Relatório Trimestral de Inflação (RTI), sua projeção para o PIB em 2020, de alta de 1,80% para elevação de 2,20%.
A projeção para o dólar no fim de 2020 foi novamente elevada. Agora, o mercado vê o dólar encerrando o ano em R$ 4,20. Um mês atrás a estimativa era de R$ 4,10. Para o ano de 2021, a projeção para o câmbio foi mantida em R$ 4,15. Um mês atrás era de R$ 4,05.
Para o Investimento Estrangeiro Direto, caracterizado pelo interesse duradouro do investimento na economia, a mediana das previsões para 2020 foi mantida em US$ 80,00, mesmo número de um mês atrás. Para 2021, a expectativa também recuou para R$ 84,05, enquanto na semana anterior era de US$ 84,75 bilhões.

Perspectiva
Os mercados de risco começaram a semana mais calmos, entretanto não é possível afirmar que os preços irão se recuperar nos próximos dias. Afinal, os motivos que levaram os mercados a quedas fortes permanecem, assim como as incertezas em relação à evolução do contágio mundo afora e suas consequências sobre a economia global.
Entretanto, o movimento de materializar perdas em momentos de “stress” não é o comportamento que se espera de gestores de recursos previdenciários, que devem se orientar no horizonte de longo prazo. É fato que os efeitos da diminuição da atividade causarão, em alguma medida, impactos nos resultados das empresas por algum tempo, porém quando imaginamos que essas mesmas empresas são precificadas pelos longos ciclos de vida, não é razoável compactuar da premissa de que perderam mais de 10% do seu valor em poucos dias.
Além disso, os formuladores de política monetária vêm sinalizando que irão incrementar seus programas de flexibilização monetária na medida em que o cenário assim exija, para impulsionar a atividade e normalizar os mercados.
Com isso, vislumbramos uma janela de oportunidade diante da aversão que tomou conta dos mercados, se analisarmos a questão com a amplitude necessária e de maneira racional.
Na agenda da semana, destaque para o relatório de emprego dos EUA (payroll) e declarações dos dirigentes do FED, após a fala do presidente da instituição, Jerome Power, dando sinais de que poderá haver corte no juro na reunião de março, caso os riscos em evolução persistam. Na mesma linha os presidentes do BOJ (Japão) e do BOE (Inglaterra) se manifestaram. A Organização dos Países Exportadores de Petróleo – OPEP deve se reunir para tratar de um possível corte na produção do petróleo, após o preço do produto enfrentar perda de aproximadamente 25% este ano.
Em relação às aplicações dos RPPS aconselhamos o investimento de 25% dos recursos em fundos de investimento em títulos públicos que possuem a gestão do duration, em razão da capacidade do gestor em alterar de maneira dinâmica a composição da carteira do fundo, adequando-a ao cenário à frente.
Para os vértices de longo prazo (especificamente o IMA-B Total) recomendamos exposição de 15%, em razão da baixa volatilidade devido à taxa básica de juros se situar na mínima histórica, e do potencial de prêmio que poderá ser capturado com o avanço das reformas estruturais em benefício do quadro fiscal do país.
Para os vértices médios (IMA-B 5, IDkA 2A e IRF-M Total), a recomendação é para uma exposição de 20%, e para os vértices de curto prazo, representados pelos fundos DI, pelos referenciados no IRFM-1 e pelos CDBs, a alocação sugerida é de 5%. Ambas as estratégias estão relacionadas à taxa de juros doméstica, situadas na mínima histórica, onde o prêmio de risco encontra-se em patamar reduzido.
Quanto à renda variável, recomendamos uma exposição máxima de 30%, por conta da melhora do ambiente econômico que já se refle em um melhor comportamento nos lucros das empresas e, consequentemente, nos mercados de ações, e também pelo fato da importância do produto como fator de diversificação de portfólio, em um momento em que as taxas de juros dos títulos públicos não mais superam a meta atuarial.
Para a alocação em fundos multimercado, a nossa sugestão é para uma exposição de 5% dos recursos e de 2,5% a alocação em FII e FIP, respectivamente, dada a pouca disponibilidade de produtos no mercado enquadrados para os RPPS. Para o investimento em ações, a nossa recomendação é de uma exposição de 20% dos recursos, tendo em vista o potencial de crescimento das empresas neste e nos próximos anos em uma conjuntura favorável ao mercado acionário, num ambiente de baixa inflação e taxas de juros nas mínimas históricas.
Para aqueles clientes que já contam com investimento de 5% tanto em FII, quanto em FIP, o ajuste das recomendações se dará através da redução no teto dos investimentos em ações.
Para o segmento de investimentos no exterior, recomendamos um percentual máximo de 5%, devido à necessária diversificação da carteira na busca por investimentos descorrelacionados da taxa de juros doméstica, além do recente surgimento de produtos direcionados a este segmento.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui