INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

BRASIL: Copom mantém Selic em 2,0% a.a e retira o forward guidance

MUNDO: PIB da China surpreende positivamente e encerra o ano com crescimento de 2,3%

O Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a taxa Selic, mas retirou o forward guidance, se desvencilhando, assim, do compromisso de manter a taxa inalterada à frente. Em decisão unânime, a Selic foi mantida em 2,00% a.a, em linha com a expectativa de mercado e a nossa projeção. No comunicado, o Comitê afirma que, embora as novas cepas do vírus devam impactar negativamente a economia global no curto prazo, a adoção de novos estímulos e o avanço dos programas de imunização devem contribuir para a recuperação sólida da atividade no médio prazo. A presença de ociosidade sugere que os estímulos monetários adotados pelos principais bancos centrais do mundo terão longa duração, permitindo um ambiente relativamente favorável para as economias emergentes. Em relação ao ambiente doméstico, o Copom também destacou que o ritmo de crescimento ao final do ano passado surpreendeu positivamente, mas ainda não contempla os possíveis efeitos do aumento mais recente do número de casos de coronavírus. Prospectivamente, o comunicado destaca a incerteza acima do usual sobre a atividade, em especial no primeiro trimestre, em decorrência do menor impulso do auxílio emergencial. O Copom ressalta que a elevação dos preços das commodities implica alta das projeções de inflação nos próximos meses. Ademais, ainda que os choques atuais sejam avaliados como temporários, o Comitê reconhece que os impactos têm sido mais persistentes do que o esperado. O Copom segue monitorando com especial atenção as medidas de inflação subjacente já que diversas dessas medidas se encontram acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta de inflação.

A respeito do balanço de riscos para a inflação, o BC ressalta que permanecem riscos em ambas as direções. De um lado, o maior nível de ociosidade, notadamente concentrada no setor de serviços, pode produzir trajetória de inflação abaixo do esperado, risco que se intensifica em ambiente de alta incerteza e maior poupança precaucional. Por outro lado, um prolongamento de medidas fiscais em resposta à pandemia que piore a trajetória fiscal do país ou frustrações em relação às reformas pode elevar os prêmios de risco. Nesse sentido, o risco fiscal gera uma assimetria altista no balanço de riscos.

As projeções de inflação do BC se aproximam da meta em 2021 e 2022. Considerando o cenário básico, com trajetória para a taxa de juros extraída da pesquisa Focus e taxa de câmbio partindo de R$ 5,35 e evoluindo segundo a paridade do poder de compra (PPC), as projeções do Copom situam-se em 3,6% em 2021 (ante 3,4% em dezembro) e 3,4% em 2022 (mesmo patamar de dezembro). Esse cenário supõe trajetória de juros que se eleva até 3,25% em 2021 e 4,75% em 2022.

O Comitê considera adequado o nível extraordinariamente elevado de estímulo monetário, mas as condições de manutenção do forward guidance deixaram de ser satisfeitas. Sobre essas condições, o Copom destaca as projeções e expectativas de inflação que já se encontram suficientemente próximas da meta para o horizonte relevante de política monetária. Com isso, o Copom deixa de se comprometer a não reduzir o grau de estímulo monetário, conduzindo a política monetária de acordo com a análise da inflação prospectiva e de seu balanço de riscos. O Banco Central defende, portanto, que a retirada do forward guidance não implica mecanicamente uma elevação da taxa de juros pois a conjuntura econômica ainda prescreve, nesse momento, estímulo extraordinariamente elevado. Diante de um cenário mais pressionado de inflação, antecipamos o início do ciclo de retirada do estímulo extraordinário de junho para maio. Para o encerramento do ano, mantivemos a Selic em 4%.

O Índice do Banco Central de atividade (IBC-Br) avançou 0,6% na margem em novembro. O indicador prévio do PIB apresentou crescimento um pouco abaixo da nossa projeção (0,7%) e acima da mediana do mercado (0,5%). O resultado refletiu as altas da indústria (1,2%), do comércio (0,6%) e do setor de serviços (2,6%) no mês. Na comparação interanual, o índice teve queda de 0,8%. O indicador se situa 1,5% abaixo do patamar pré-pandemia. Com os últimos dados de atividade divulgados, nosso tracking do PIB do 4º trimestre passou para 2,2% na margem. Para 2020, esperamos queda do PIB de 4,5%.

O PIB da China surpreendeu positivamente no 4º trimestre.  Houve alta de 6,5% na variação anual, ante alta de 4,9% no 3ª trimestre. O resultado veio acima da expectativa de mercado (6,2%). Com a variação, no ano o PIB avançou 2,3%. Segundo os nossos cálculos, o nível do PIB já se encontra em patamar acima do pré-crise. Reforçando a composição do ano, os indicadores de dezembro revelaram novo avanço da indústria e frustração com a demanda. A produção industrial avançou 7,3% em termos anuais, ante alta de 7% em novembro. As vendas no varejo apresentaram crescimento de 4,6%, após alta de 5% no mês anterior. Já o dado de investimento mostrou alta acumulada até dezembro de 2,9%, ante 2,6% até novembro. Em 2020, a atividade contou com uma política creditícia expansionista, além do impulso externo bastante favorável em decorrência da maior demanda global por bens. Nesse esse ano, a expectativa é que a normalização do consumo interno seja o principal vetor para o crescimento esperado de 8% do PIB.

A prévia dos índices de confiança (PMI) de janeiro revela continuidade da contração na Zona do Euro e manutenção da expansão nos EUA. O PMI Composto prévio da Zona do Euro, que incorpora as expectativas da indústria e dos serviços atingiu 47,5 pontos em janeiro ante 49,1 em dezembro, sinalizando contração da economia (nível abaixo de 50 pontos indica contração). A piora da atividade na região tem se concentrado no setor de serviços, afetado por novas medidas de restrição. Já nos EUA, o PMI Composto avançou de 55,3 pontos em dezembro para 58 pontos em janeiro. Ainda com incerteza quanto à contenção da pandemia e a velocidade de recuperação do mercado de trabalho, os estímulos fiscais e monetários deverão permanecer em ambas as regiões.

Após o anúncio de estímulos na reunião de dezembro, o Banco Central Europeu (BCE) manteve a política de juros e de compra de ativos. O BCE manteve o patamar da taxa de depósito em -0,5%, da taxa de refinanciamento em 0,0% e da taxa de empréstimo em 0,25%. O Programa Pandêmico de Compras Emergenciais (PEPP na sigla em inglês) foi mantido em € 1,85 trilhão em compra de ativos, com horizonte de compras até março de 2022 ou até o BCE julgar que a crise causada pelo coronavírus tenha se encerrado. Os demais programas de estímulos também não sofreram alteração. Na entrevista após a reunião, a presidente do BCE, Christine Lagarde, reconheceu que os riscos negativos prevalecem, mas se tornaram menos pronunciados. De um lado, os riscos positivos contemplam o início da vacinação, a resolução do Brexit e das eleições do EUA, bem como a resiliência da indústria. Do lado negativo, Lagarde pontou a extensão das medidas restritivas de mobilidade, a variante mais contagiosa do coronavírus e a inflação persistentemente baixa. Lagarde deixou claro que o BCE segue determinado a manter o grau necessário de acomodação da política monetária. Avaliamos que as medidas de restrição terão impacto menor sobre a atividade em relação ao que foi observado na primeira onda. Ainda assim, os estímulos serão mantidos por período prolongado.

Na próxima semana

No Brasil, destaque para a ata do Copom e a divulgação do IPCA-15 na terça feira, além dos dados de emprego (CAGED e PNAD), setor público e setor externo ao longo da semana. Na agenda internacional, destaque para a reunião do Fed, na quarta-feira.

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