ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS BRASIL: Banco Central elevou a taxa básica de juros de 10,75% para 11,75%

ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

BRASIL: Banco Central elevou a taxa básica de juros de 10,75% para 11,75%

MUNDO: Fed faz primeira elevação da taxa de juros em 0,25 pp

 

No âmbito internacional, além do conflito entre Rússia e Ucrânia, a decisão do FOMC e a nova onda de casos de Covid na China foram os principais temas. Ainda que as negociações de um cessar-fogo não tenham avançado substancialmente, a percepção de uma redução do risco de uma escalada no conflito contribuiu para que o petróleo cedesse novamente na semana ( queda ao redor de 5%). A expectativa de uma menor demanda global à frente também contribuiu para esse movimento. Nesse sentido, a alta de juros pelo Fed e sua comunicação mais dura que o esperado fez com que as taxas de juros apresentassem elevação (+20 pb na taxa de juros de 2 anos), enquanto a manutenção da política zero Covid na China gerou temores acerca da perda de ritmo de crescimento no país em virtude do aumento das restrições à mobilidade. No mercado local, o destaque foi a reunião do Copom, que sinalizou a possibilidade de encerramento do ciclo nas próximas reuniões, fazendo com que os contratos de DI recuassem de 20 a 30 pb em relação à semana passada. Por fim, a taxa de câmbio chegou a se desvalorizar cerca de 2% ao longo da semana, diante da expectativa para a reunião do Fed e algumas incertezas domésticas geradas pelos reflexos internos da alta de commodities internacionais. Todavia, após as reuniões dos bancos centrais na quarta-feira, o real voltou a se valorizar, retornando para patamar próximo ao do final da semana passada.

O Banco Central elevou a taxa básica de juros em 100 pb. Em decisão unânime, a autoridade monetária elevou a taxa Selic de 10,75% para 11,75%, confirmando as expectativas. O Copom indicou que a elevação de 100 pb é adequada para garantir a convergência da inflação para as metas ao longo do horizonte relevante, que inclui o ano de 2022 e, principalmente, de 2023. De acordo com o comunicado, o Banco Central avalia que o ambiente externo se deteriorou significativamente com o conflito entre Rússia e Ucrânia, o qual gerou aperto das condições financeiras e aumento da incerteza, posto que o choque de oferta pode exacerbar a pressão inflacionária que já existia globalmente. Domesticamente, a inflação ao consumidor seguiu surpreendendo negativamente e a incerteza sobre o arcabouço fiscal mantém o risco de desancoragem das expectativas de inflação como ponto de atenção.

O Copom frisou que sua atuação busca combater os efeitos secundários do atual choque de oferta em commodities. Nesse sentido, o comitê trabalhou com dois cenários nas simulações: um com a média dos preços do petróleo vigentes na semana anterior à reunião (USD 115) e outro em que o preço segue aproximadamente a curva futura apreçada no mercado, que considera um preço mais baixo que o utilizado no primeiro cenário (USD 100). As projeções de inflação no primeiro cenário seriam de 7,1% e 3,4% para 2022 e 2023, enquanto no segundo cenário, apontado como mais provável pelo Banco Central, as projeções para a inflação em 2022 e 2023 se situam em 6,3% e 3,1%, respectivamente. Nota-se que no primeiro caso a projeção romperia o centro da meta no próximo ano, mas com efeitos secundários relativamente limitados.

Para os próximos passos, o Banco Central indicou alta de mesma magnitude na reunião de maio. O Copom afirmou ser apropriado que a taxa de juros avance significativamente no território contracionista, sendo que o ciclo nos cenários avaliados (12,75%) se mostra suficiente para a convergência da inflação em torno da meta. Com isso, o comitê avalia que o momento atípico exige serenidade para avaliação da extensão e duração dos atuais choques de forma a ajustar tamanho do ciclo para além desse patamar. Na nossa avaliação, o Banco Central deverá promover alta de 100 pb da taxa Selic em maio e uma elevação final de 50 pb em junho, levando a Selic para 13,25%.

A atividade do setor de serviços apresentou queda em janeiro. O volume total de serviços teve recuo de 0,1% na margem em dezembro, após alta de 1,7% em dezembro. Na comparação anual, a variação foi de 9,5%, acima da nossa projeção (9,0%) e da mediana das expectativas de mercado (9,3%). Em termos de crescimento trimestral, o dado de janeiro representa alta de 2,0% em relação à média do quarto trimestre de 2021. Dentre os setores que compõem o índice, apenas serviços de transportes (1,4%) e serviços profissionais, administrativos e complementares (0,6%) tiveram alta no mês. As maiores contribuições negativas vieram de serviços da informação e comunicação (-4,7%), com queda pelo segundo mês consecutivo, mas que no entanto, deve ser encarado como uma correção, posto que o volume de serviços desse setor ainda se situa 6,9% acima do nível pré-crise. A seguir, serviços prestados às famílias tiveram queda de -1,4% e outros serviços, setor que contempla, dentre outros, serviços financeiros e seguros, teve queda de 1,1%. Em linhas gerais, o mês de janeiro contou com nova piora nos indicadores da pandemia e apenas os setores relacionados a empresas tiveram desempenho favorável. Embora parte do rebalanceamento do consumo de bens e serviços ainda esteja incompleto, os dados para os próximos meses devem ser influenciados negativamente por um nível de demanda agregada mais moderado.

Incorporando as quedas do setor de serviços, indústria e comércio em janeiro, o Índice de atividade econômica do Banco Central (IBC-Br) teve retração de 1,0% na margem. Na comparação interanual, o índice se manteve estável. O indicador repercutiu a queda na margem do volume de serviços (-0,1%), da produção industrial (-2,4%) e das vendas do varejo ampliado (-0,3%) no mês. Com o resultado, o IBC-Br se encontra 0,5% abaixo do nível pré-crise. O dado de janeiro representa queda de 0,6% em relação à média do 4º trimestre de 2021. De forma geral, apesar do início de trimestre com sinais de arrefecimento, dados de alta frequência de fevereiro e março apontam um quadro mais favorável para o crescimento da atividade neste trimestre.

Nos EUA, o Fed elevou a taxa de juros básica para o intervalo entre 0,25% e 0,5% ao ano. A respeito do cenário, prevalece a leitura de inflação elevada e com pressão disseminada, refletindo choques de oferta e demanda relacionados à pandemia. Ainda sobre cenário, o mercado de trabalho permanece forte na avaliação do comitê. No comunicado, os membros demonstraram preocupação adicional com o conflito entre Rússia e Ucrânia pois pode criar pressão adicional sobre a inflação e pesar negativamente sobre a atividade. A respeito dos próximos passos,  o comitê antecipou que novos aumentos serão apropriados. Ademais, o comunicado também contou com a sinalização de possível redução do balanço nas próximas reuniões.

Em termos de projeções, destaque para a revisão altista de inflação e da trajetória de juros. Para 2022, a projeção para o núcleo de inflação saltou de 2,7% em dezembro para 4,1%, enquanto que para 2023 a projeção subiu de 2,3% para 2,6%. No mercado de trabalho, a taxa de desemprego permaneceu em 3,5% em 2022 e 2023. Por fim, a perspectiva sobre a trajetória de juros dos membros sofreu alterações relevantes. A mediana dos votos indicou uma taxa de juros básica em 1,9% ao final de 2022 (alta de 25 pb em todas as reuniões) e 2,8% em 2023, permanecendo nesse patamar em 2024. Vale destacar que isso sinaliza que o Fed considera um aperto de juros acima da taxa neutra (2,5%). Nas projeções de dezembro, a mediana da taxa de juros  apontava 0,9% em 2022, 1,6% em 2023 e 2,1% em 2024.

Na entrevista após a reunião, o presidente do Fed, Jerome Powell, corroborou a visão mais preocupada com a inflação. Diante do quadro inflacionário, Powell afirmou que se for preciso, o Fed elevará os juros de forma expressiva para evitar que a inflação mais alta se torne mais persistente, abrindo a possibilidade de altas maiores do que 25 pb nas reuniões desse ano. Em nosso cenário, contemplamos a possibilidade de elevação de 0,50 pb em algumas das próximas reuniões, com a taxa básica ultrapassando o nível neutro de 2,5%. 

Em relação aos indicadores de atividade econômica, a produção da indústria nos EUA avançou 0,5% na margem, com alta de 1,2% da indústria de transformação. O resultado ficou em linha com a expectativa mediana do mercado (0,4%), após avanço de 1,4% do índice em janeiro. A indústria de transformação, com o resultado positivo no mês, segue 2,5% acima do patamar pré-crise. Já a utilização da capacidade instalada (NUCI) aumentou, passando de 77,3% em janeiro para 77,6% em fevereiro. Em virtude de baixos estoques e impulso da demanda, a trajetória da indústria deve continuar apresentando recuperação, apesar das dificuldades ainda impostas pela desorganização das cadeias globais de suprimento durante a pandemia.

Em relação às vendas no varejo, houve alta na margem de 0,3% em fevereiro, em linha com as expectativas de mercado. O núcleo do indicador de vendas (que exclui automóveis, gasolina, materiais de construção e serviços alimentícios) recuou 1,2% na comparação mensal, ante expectativa de alta de 0,3%. Entre os componentes, destaque para a queda nas vendas on-line (3,7%), com contribuição de 0,5 p.p. na queda do núcleo. Em seguida, vendas de produtos eletrônicos recuaram 0,6%. Em relação ao patamar das vendas em dezembro de 2019, o indicador nominal se situa 25% acima do nível pré-crise. De modo geral, o fraco resultado de fevereiro das vendas no varejo reflete tendência de desaceleração no consumo de bens nos próximos meses, dado que o consumo deverá migrar para os serviços.

Na China, os dados de atividade referentes ao bimestre de janeiro e fevereiro mostraram crescimento acima do esperado. Na comparação interanual, a produção industrial do bimestre cresceu 7,5%. Esse movimento pode ser explicado por um possível impulso estatal com investimentos em empresas estatais. As vendas no varejo tiveram expansão de 6,7% na mesma base de comparação, ainda antes das novas restrições por conta da variante Ômicron do Covid-19, indicando um componente sazonal. De maneira geral, os próximos resultados serão influenciados negativamente pelo novo surto da pandemia, que tem implicado em redução da mobilidade no país. Nossa expectativa é de crescimento de 5,0% para este ano, embora a desaceleração do setor imobiliário mantenha presente viés de baixa para as projeções sobre a atividade econômica, contrabalançado pelos sinais de ampliação dos estímulos de política econômica.

Na próxima semana

Na agenda doméstica, destaque para a divulgação do IPCA-15 (BRAM: 0,83%) na sexta-feira e para o Relatório Trimestral de Inflação do Banco Central na quinta-feira. No cenário internacional, destaque para a divulgação dos dados parciais de PMI dos EUA e Zona do Euro.

Selo-Gestao-Recursos-Positivo-01

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui