ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

BRASIL: IPCA-15 supera as expectativas em fevereiro

MUNDO: Índices de confiança (PMI) apontam alta de serviços nos EUA e Zona do Euro

 

No mercado internacional, a escalada do conflito entre Rússia e Ucrânia, com posterior invasão do país na quinta-feira, continuaram sendo o foco e determinando o comportamento dos preços dos ativos de risco no mercado global. Nesse sentido, houve alta da cotação das principais commodities, com destaque para as elevações de preços do petróleo, grãos e gás natural. No mercado de renda variável, os mercados globais tiveram resultados difusos, com as principais quedas registradas nas bolsas europeias. Nesse contexto de maior aversão ao risco, no mercado local, foi observada depreciação do real frente ao dólar, queda no índice Ibovespa e alta da curva de juros. As repercussões do conflito sobre o ambiente internacional dependerão da sua extensão, das sanções adotadas em resposta e do impacto sobre a confiança de empresas e consumidores na Europa. Até o momento, os mercados têm reagido de forma compatível com efeitos limitados, mas o nível de incerteza permanece significativo.

Em fevereiro, a prévia da inflação ao consumidor (IPCA-15) variou 0,99%, ante avanço de 0,58% em janeiro. O resultado veio acima da nossa projeção (0,91%) e da expectativa do mercado (0,87%). A inflação acumulada em 12 meses apresentou aceleração, de 10,20% no IPCA-15 de janeiro para 10,76% em fevereiro. Os maiores desvios vieram tanto de alimentação no domicílio como de bens industriais, com destaque para automóveis. Em serviços, o principal destaque foi educação (5,64%), com avanço dos cursos regulares de 6,69%, além de  alimentação fora do domicílio (0,45%). Contrabalançando essas altas, passagens aéreas tiveram recuo na margem, de 5%.  Com isso, o núcleo de serviços subjacentes desacelerou de 0,94% no resultado fechado de janeiro para 0,89% em fevereiro. Com relação aos núcleos, que são métricas que excluem ou suavizam itens voláteis, a média anualizada de três meses com ajuste sazonal voltou a avançar, de 9,27% para 9,8%, refletindo a maior pressão em serviços. Em 12 meses, a média dos núcleos alcançou 8,31%. Nossa expectativa é que o IPCA encerre 2022 com variação de 5,7%.

O saldo de crédito totalizou R$ 4,7 trilhões em janeiro, atingindo 53,3% do PIB. Segundo os dados do Banco Central, o saldo de crédito total teve crescimento interanual de 16,4%, ante 16,3% no mês anterior. O maior crescimento do crédito a pessoas físicas, que acelerou de 21,0% para 21,5% em termos anuais, foi contrabalançado pela desaceleração do crédito às empresas, de 10,5% para 9,8%, movida pelo crédito livre, com destaque para desconto de duplicatas e antecipação de recebíveis. Na análise mensal, houve alta de 4,8% das concessões de crédito livre às famílias no conceito média diária real com ajuste sazonal, que passaram a se situar 2,4% acima do patamar pré-crise. Por trás dessa alta, a maior contribuição positiva foi proveniente de cartão de crédito à vista. No caso das empresas, as concessões de crédito livre tiveram alta de 16,5% nessa base de comparação e passaram a se situar 18,9% acima do nível pré-crise. Por fim, a taxa de inadimplência total se elevou de 2,3% para 2,5% em janeiro. Em resumo, os dados mostraram surpresa positiva com concessões crescendo de forma generalizada, mesmo frente à elevação da taxa Selic. No entanto, a continuidade do ciclo de aperto monetário deverá gerar desaceleração do crédito nos próximos meses.

A taxa de desemprego atingiu 11,1% no trimestre encerrado em dezembro. O resultado veio abaixo das expectativas de mercado (11,2%) e da nossa projeção (11,3%). Com isso, a taxa média de desemprego de 2021 foi de 13,2%, ante 13,7% em 2020. Na série com ajuste sazonal, a taxa passou de 12,1% em novembro para 11,8% em dezembro. A menor taxa de desemprego na margem pode ser atribuída à estabilidade da força de trabalho em meio à alta de 0,3% da população ocupada. Houve elevação tanto de trabalhadores formais (0,3%), com maior influência de empregados no setor privado, como informais (0,2%). Dentre os setores, as maiores contribuições positivas para o crescimento de ocupados foram de administração pública, educação e saúde (1,0%) e serviços prestados às empresas (0,5%). De outro lado, as principais contribuições negativas vieram de alojamento e alimentação (-0,7%) e construção civil (-0,4%). Estimando o que teria sido o comportamento mensal da PNAD, concluímos que a perda de massa de renda desde o início da pandemia (cerca de R$ 327,9 bilhões) até novembro foi mais do que compensada pelo montante de auxílio emergencial e benefício emergencial no período.

O saldo em conta corrente registrou déficit de US$ 8,1 bilhões em janeiro. O resultado foi inferior à nossa expectativa (-US$ 7,6 bi) e à expectativa do mercado (-US$ 7,8 bi). Esse resultado negativo no mês pode ser explicado principalmente pelo déficit comercial e pela contabilização do pagamento de juros dos títulos da dívida interna (ainda que não tenha havido efetivamente a saída desses recursos, há um duplo registro de saída pela conta corrente e ingresso pela conta financeira). Nos doze meses fechados em janeiro de 2022, o déficit em conta corrente somou US$ 27,7 bilhões (1,71% do PIB), ante US$ 21,9 bilhões (1,54% do PIB) em janeiro de 2021. Na conta financeira, o Investimento Direto no País (IDP) teve uma forte recuperação após a queda de – US$ 3,9 bilhões em dezembro de 2021, registrando no mês de janeiro US$ 4,7 bilhões e US$ 8,9 bilhões na prévia de fevereiro (até o dia 18 desse mês). Vale ressaltar o bom resultado do fluxo de portfólio observado, com  ingressos em renda fixa de US$ 3,5 bilhões e em renda variável em US$ 1,6 bi. De maneira geral, a vulnerabilidade externa do país continua em um patamar confortável, com nossa expectativa de IDP de US$ 55 bilhões para 2022 frente a déficit em transações correntes de US$ 32 bilhões.

O setor público consolidado registrou superávit primário de R$ 101,8 bilhões em janeiro. O resultado veio acima da nossa projeção de R$ 91 bi e da mediana do mercado (R$ 81 bi). Na composição do indicador, o Governo Central apresentou superávit de R$ 77,4 bilhões e os governos regionais, de R$ 20 bilhões. As empresas estatais foram superavitárias em R$ 4,4 bilhões. O resultado nominal do setor público consolidado, que inclui, além do resultado primário, os juros nominais apropriados, foi superavitário em R$ 84,1 bilhões no mês, embora acumule déficit de 3,6% do PIB nos últimos 12 meses. A dívida bruta atingiu R$ 7,0 trilhões (79,6% do PIB), redução de 0,7 pp do PIB em relação a dezembro. Os resultados positivos em janeiro contaram com forte desempenho da arrecadação. Em janeiro, a arrecadação federal apresentou resultado acima do esperado, atingindo R$ 235,3 bilhões (ante expectativa de R$ 233 bilhões), o que representou acréscimo real de 14,7%. Segundo nossos cálculos, após quedas consecutivas na margem no segundo semestre de 2021, a arrecadação recorrente (exclui fatores atípicos) voltou a avançar em janeiro.  Na margem, a alta é de 3% na média móvel dos últimos três meses.  Para o ano, nossa projeção para o déficit primário consolidado é de 0,7% do PIB, após superávit de 0,7% em 2021.

Os índices de confiança (PMI) de fevereiro apontam melhora nos EUA e Zona do Euro. O PMI Composto da Zona do Euro, que incorpora as expectativas da indústria e dos serviços, atingiu 55,8 pontos em fevereiro, ante 52,3 em janeiro. O índice da indústria apresentou queda na margem, de 58,7 para 58,4 em fevereiro, enquanto o de serviços teve avanço na margem de 51,1 para 55,8 no mês. Nos EUA, o PMI Composto apresentou alta, com avanço de 51,1 pontos para 56,0 pontos em fevereiro e se situa no nível de expansão econômica (nível acima de 50 pontos). Essa aceleração se concentrou em serviços, de 51,2 em janeiro para 56,7 pontos em fevereiro, depois de um recuo de 6,7 pontos no mês passado. O índice da indústria também apresentou avanço na margem (57,5 ante 55,5 em janeiro).

De modo geral, em ambas as regiões o que chama atenção é a resiliência da demanda e a dificuldade da oferta em atender os pedidos, principalmente pela falta de insumos e de mão de obra. Os novos casos de Covid-19 ainda têm influência no setor de serviços, mas já há indicação de melhora nesse mês, devido à redução de restrições nos Estados Unidos. Na indústria, embora menos acentuadas, as restrições para conter os novos casos da variante ômicron ainda resultam em atrasos na cadeia de suprimentos e congestionamento logístico. Os problemas de oferta implicaram novamente em pressões nos preços ao consumidor final, decorrente dos maiores custos das empresas, após arrefecimento no início do ano. Ademais, em especial na Zona do Euro, o aumento dos salários e dos custos de energia compensaram a menor pressão dos preços de insumos, frustrando as expectativas de moderação da inflação.

Na Zona do Euro, a inflação ao consumidor (CPI) apresentou variação em linha com as expectativas em janeiro. Em termos anuais, a inflação alcançou 5,1%. Destaque para os preços de energia, que registraram variação anual de 28,8%, ante aumento de 25,8% até dezembro. O núcleo da inflação, métrica que exclui a inflação com alimentos e combustíveis e costuma receber mais atenção por parte das autoridades monetárias, avançou 2,3% na comparação anual. A pressão sobre a cadeia de bens e a alta nos preços de energia tendem a manter a inflação em trajetória altista.

Na próxima semana

Na agenda doméstica, destaque para a divulgação do dado de PIB do 4T21 (BRAM: 0,3% T/T) na sexta-feira pelo IBGE. No cenário internacional, destaque para a divulgação do relatório do emprego nos Estados Unidos na sexta-feira e dados de inflação na Zona do Euro na quarta-feira.

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