ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

BRASIL: IPCA-15 tem avanço acima das expectativas em janeiro

MUNDO: Fed sinaliza iminente início de ciclo de alta de juros nos EUA

 

No mercado internacional, a reunião do Fed foi o principal evento da semana. Em seu comunicado, o banco central norte-americano confirmou o encerramento do programa de compras de ativos em março e sinalizou elevação de juros a partir da próxima reunião, em março. Ainda no exterior, as tensões geopolíticas entre Rússia e EUA se intensificaram em relação ao território ucraniano. A sinalização do Fed resultou em abertura da curva de juros na parte mais curta e impacto bastante limitado sobre os prazos mais longos. A percepção de juros mais elevados contribuiu para novo recuo do S&P, acumulando perdas superiores a 7% no ano. No mercado doméstico, o foco do mercado se dividiu entre as discussões sobre a PEC dos combustíveis e a divulgação dos dados do IPCA-15 na quarta-feira, que mostrou inflação elevada e persistente. Em relação aos dados de mercado, houve nova valorização do real frente ao dólar e alta do Ibovespa.  Na próxima semana, as atenções se voltam para a reunião do Copom, na qual esperamos um novo aumento de 150 pb, fazendo com que a taxa Selic atinja 10,75% a.a.

Em janeiro, a prévia da inflação ao consumidor (IPCA-15) variou 0,58%, ante avanço de 0,78% em dezembro. O resultado veio acima da nossa projeção (0,50%) e da expectativa do mercado (0,44%). A inflação acumulada em 12 meses apresentou aceleração, de 10,06% no IPCA fechado de dezembro para 10,20% em janeiro. A leitura ainda teve influência da volta de preços de itens contemplados na Black Friday, ainda que em menor grau. O maior desvio altista veio no núcleo de bens industriais, com altas disseminadas. Destaque para o avanço do grupo de eletrodomésticos e equipamentos (2,26%) e veículo próprio (1,6% ). Em serviços, destaque para a queda menos intensa de passagens aéreas (-18,2%) e para as altas de aluguel (1,55%) e pacote turístico (2,75%).  Nesse sentido, a medida de serviços subjacentes acelerou em relação aos últimos meses, para 0,99%. Com relação aos núcleos, que são métricas que excluem ou suavizam itens voláteis, a média de três meses com ajuste sazonal anualizada voltou a avançar, de 8,91% para 9,11%, refletindo a maior pressão em bens industriais. Em 12 meses, a média dos núcleos alcançou 7,46%. Nossa expectativa é que o IPCA deverá encerrar 2022 com variação de 5,25%.

A taxa de desemprego atingiu 11,6% no trimestre encerrado em novembro. O resultado veio abaixo das expectativas de mercado (11,7%) e ligeiramente acima da nossa projeção (11,5%). Na série com ajuste sazonal, a taxa passou de 12,3% em outubro para 12,1% em novembro. A menor taxa de desemprego na margem pode ser atribuída à estabilidade da força de trabalho em meio à alta de 0,2% da população ocupada. A elevação de empregados formais (0,3%), com maior influência de empregados no setor privado, foi parcialmente compensada pelo recuo de empregos informais (-0,1%). Dentre os setores, a maior parte teve contribuição positiva para o crescimento do número de ocupados, com maior destaque de outros serviços (2,0%) e serviços prestados às empresas (0,7%). Estimando o que teria sido o comportamento mensal da PNAD, concluímos que a perda de massa de renda desde o início da pandemia (cerca de R$ 327,9 bilhões) até outubro foi mais do que compensada pelo montante de auxílio emergencial e benefício emergencial no período.

O saldo em conta corrente registrou déficit de US$ 5,9 bilhões em dezembro. O resultado foi ligeiramente inferior à nossa expectativa (-US$ 5,8 bi) mas superior à expectativa do mercado (-US$ 6,2 bi). O resultado foi puxado pela balança comercial, com saldo positivo de US$ 2,7 bi, ante déficit de US$1,9 bi em dezembro de 2020, puxada pela alta de exportações. As contas de serviços e de renda primária apresentaram saldo negativo de US$ 1,9 bi e US$ 6,9 bi, respectivamente. No fechado de 2021, o déficit em conta corrente somou US$ 28,1 bilhões (1,75% do PIB), ante déficit de US$ 24,5 bilhões (1,69% do PIB) em 2020.  Quanto ao fluxo financeiro, os investimentos diretos no país (IDP) registraram queda de US$ 3,9 bilhões no mês, mas acumularam ingressos líquidos de US$46,4 bilhões (2,89% do PIB) em 12 meses. Ainda, os ingressos líquidos de investimentos em carteira no mercado doméstico totalizaram US$ 25,4 bilhões nos doze meses finalizados em dezembro de 2021. De maneira geral, os dados do setor externo continuam positivos, com a parcela de IDP financiando o déficit em transações correntes. Para 2022, projetamos déficit em conta corrente de US$ 30,6 bilhões (1,8% do PIB) e IDP de US$ 54,0 bilhões.

A arrecadação federal apresentou resultado acima do esperado em dezembro. A arrecadação total atingiu R$ 193,9 bilhões (ante expectativa de R$ 191,5 bilhões), o que representa alta de 10,8% em termos reais na comparação com 2020 e 14,3% com relação a 2019. No ano, a arrecadação somou R$ 1.878,8 bilhões, avanço de 17,4% e 9,3% em termos reais ante 2020 e 2019, respectivamente. Segundo a Receita Federal, sem considerar os efeitos não recorrentes, o avanço é de 11,3% no período acumulado. O resultado apresenta surpresa favorável, sendo o ano com melhor desempenho arrecadatório desde 2000. Esse desempenho não deverá ser repetido nesse ano em virtude da inflação menor e do avanço da recuperação cíclica, o que implicará em aumento do déficit primário.

O PIB dos EUA avançou 6,9% na margem no 4º trimestre de 2021 em termos anualizados.  O resultado ficou acima da expectativa de mercado (5,5%). Com isso, o PIB dos EUA encerrou 2021 com crescimento de 5,5%, mais do que superando a queda de 3,4% no ano anterior.  A aceleração em relação ao 3º trimestre (2,3%) foi reflexo sobretudo da alta de estoques (com contribuição de 4,9 p.p. para o total). O consumo das famílias (3,3%, ante 2,0%) contou com contribuição positiva de serviços (sobretudo lazer e transporte) e de bens duráveis. Já os investimentos residenciais retraíram 0,8%, mas foram compensados pelo crescimento de investimentos não-residenciais. Neste ano, nossa expectativa para o PIB dos EUA é de crescimento de 3,6%.

Nos EUA, o Fed confirmou o fim do programa de compras  de ativos em março, sinalizando alta de juros em breve. Conforme esperado, o Comitê manteve a taxa de juros entre 0% e 0,25%, mas a novidade no comunicado foi a sinalização de iminente aumento de juros, o que indicaria alta de 25 pb já na reunião de março. Sobre o balanço do Fed, a nota divulgada em conjunto com o comunicado reforçou que a taxa de juros segue como o principal instrumento de política monetária, de forma que a redução do balanço ocorreria apenas após alta de juros, muito provavelmente a partir do 3º trimestre. No comunicado, as preocupações com o mercado de trabalho aquém do esperado pelo Fed foram substituídas pela qualificação de “mercado de trabalho forte”. O Fed também reconheceu que a inflação está “bastante acima da meta de 2%”.

Na entrevista após a reunião, o presidente do Fed, Jerome Powell, surpreendeu com sua postura mais preocupada com a inflação. Powell mostrou alerta com o cenário de inflação alta e não descartou aumento de juros em todas as reuniões deste ano, tampouco se comprometeu com um ritmo fixo de ajuste da política monetária. Ademais, Powell afirmou que existe um amplo espaço para aumentar os juros sem impactar o mercado de trabalho. Com isso, mantemos nosso cenário em relação às decisões do Fed, que contempla seis altas de juros em 2022, levando a taxa básica de juros a 1,5% a.a.

Os índices de confiança (PMI) de janeiro apontam desaceleração nos EUA e Zona do Euro. O PMI Composto final da Zona do Euro, que incorpora as expectativas da indústria e dos serviços atingiu 52,4 pontos em janeiro ante 53,3 em dezembro. O índice da indústria apresentou alta na margem de 58,0 para 59,0 em janeiro, enquanto o de serviços teve redução na margem de 53,1 para 51,2. Nos EUA, o PMI Composto apresentou queda, com recuo de 57,0 pontos para 50,8 pontos em janeiro, embora ainda se situe no nível de expansão econômica (nível acima de 50 pontos). Essa desaceleração se concentrou em serviços, de 57,6 em dezembro para 50,9 pontos em janeiro, embora o índice da indústria também tenha apresentado redução na margem (55,0 ante 57,7 em dezembro).

De modo geral, em ambas as regiões o que chama atenção é a resiliência da demanda e a dificuldade da oferta em atender os pedidos, principalmente pela falta de insumos e de mão de obra. Os novos casos de Covid-19 ainda têm persistente influência no setor de serviços. Na indústria, o acirramento das restrições para conter os novos casos da variante ômicron implicaram atrasos na cadeia de suprimentos e congestionamento portuário. Entretanto, o nível de deterioração da cadeia de suprimentos recuou em comparação com grande parte do segundo semestre do ano passado, aliviando pressões nos preços dos insumos. Ademais, em especial na Zona do Euro, o aumento dos salários e dos custos de energia compensaram a menor pressão dos preços do insumo, frustrando as expectativas de resfriamento da inflação.

Na próxima semana

Na agenda doméstica, destaque para a reunião do Copom (BRAM: 10,75%) e para os dados de produção industrial de dezembro, ambos na quarta-feira. No cenário internacional, destaque para o Relatório do Emprego nos EUA na sexta-feira, decisão da taxa de juros do BCE na quinta-feira e dados de inflação da Zona do Euro na quarta-feira.

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