ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

BRASIL: IPCA-15 tem variação acima do esperado em julho

MUNDO:  BCE sinaliza manutenção dos estímulos monetários por período prolongado

Em julho, a prévia da inflação ao consumidor (IPCA-15) variou 0,72%. O resultado  surpreendeu a nossa projeção de 0,62% e a mediana do mercado de 0,65%. A inflação acumulada em 12 meses apresentou nova aceleração,  de 8,1% em junho para 8,6% em julho. A principal surpresa altista ocorreu em Transportes, com aceleração mais intensa do que o esperado (1,07% ante 0,7%). Nesse componente, Passagem Aérea avançou 35,6%.  Em relação aos demais componentes,  destaque para a alta acima do esperado em Despesas Pessoais (0,36% ante 0,25%) e Alimentação e Bebidas (0,49% ante 0,41%). Na outra ponta, Vestuário teve avanço abaixo do esperado (0,58% ante 0,83%). Com relação aos núcleos, que são métricas que excluem ou suavizam itens com inflação volátil, a leitura de julho também revelou uma piora no quadro. A média dos núcleos avançou 0,6% e no acumulado em doze meses, o indicador  subiu de  4,8% para 5,3%.

De modo geral, as leituras mais recentes de inflação confirmam o realinhamento de preços de serviços com a reabertura da economia.  A inflação de bens, por sua vez,  não sinaliza tendência de desaceleração diante do espaço para repasse do aumento de custos. O cenário inflacionário para os próximos meses, portanto, segue bem pressionado. Os riscos de alta seguem evidentes com o elevado patamar dos preços de commodities, problemas na oferta de produtos in natura, baixos estoques de matérias-primas e reabertura mais rápida da economia, pressionando o setor de serviços. Amenizando a pressão de alta, o cenário de aumento de juros mais tempestivo pelo Banco Central poderá beneficiar o câmbio. Para o final desse ano revisamos a nossa projeção de IPCA de 6,4% para 6,7%.

Arrecadação Federal  abaixo do esperado em junho, após meses consecutivos de surpresa altista. A arrecadação total atingiu R$ 137 bilhões,  resultado abaixo da nossa expectativa (R$ 143 bilhões) e do mercado (R$ 140 bilhões). O resultado representa alta de 46,8% em termos reais na comparação interanual com 2020 e 3,3% com relação a 2019. No ano, a arrecadação acumula R$ 882 bilhões, avanço de 25% e 6,2% em termos reais ante 2020 e 2019, respectivamente.

Segundo a Receita Federal, o resultado positivo pode ser explicado por fatores não recorrentes, como recolhimentos extraordinários e compensações, mas a instituição reconhece o avanço mesmo sem esses fatores. Em nossos cálculos, considerando apenas a arrecadação recorrente e com ajuste sazonal, nos últimos três meses houve avanço de cerca de 9% na margem, refletindo o crescimento da atividade no período, em especial da indústria e do setor de serviços. A recuperação da arrecadação deverá ter prosseguimento em virtude da perspectiva de melhora da atividade econômica.

O Banco Central Europeu (BCE) manteve o patamar da taxa de depósito em -0,5%, da taxa de refinanciamento em 0,0% e da taxa de empréstimo em 0,25%. O total do Programa Pandêmico de Compras Emergenciais (PEPP na sigla em inglês) foi mantido em € 1,85 trilhão em compra de ativos, com horizonte de compras até março de 2022 ou até o BCE julgar que a crise atual tenha se encerrado. Como novidade, essa foi a primeira reunião sob a nova estratégia de política monetária, anunciada há duas semanas. Reconhecendo que as taxas de juros estão no seu limite inferior há algum tempo, enquanto as perspectivas de médio prazo para a inflação ainda estão muito abaixo da meta, o BCE assumiu o compromisso de manter a política monetária persistentemente acomodatícia até alcançar a meta de 2%. Nesse sentido, o comunicado adiciona que o aumento da taxa de juros apenas ocorrerá se o BCE estiver seguro que a meta de inflação será atingida em um horizonte curto. Sobre o cenário de retomada da economia, a presidente do BCE, Christine Lagarde, segue construtiva apesar de ainda reconhecer os riscos relacionados à pandemia. Em suma, a reunião com o mais novo escopo adotado pelo BCE reforça o quadro de manutenção do estímulo monetário por um período prolongado.

A prévia dos índices de confiança (PMI) de julho reforçou o cenário de retomada disseminada entre indústria e serviços. O PMI Composto prévio da Zona do Euro, que incorpora as expectativas da indústria e dos serviços atingiu 60,6 pontos em julho ante 59,5 em junho, sinalizando continuidade da expansão da economia (nível acima de 50 pontos indica expansão). Enquanto a indústria se mantém com forte expansão (62,6 pontos), o PMI de serviços mostrou avanço significativo nos últimos meses diante da reabertura da economia, alcançando 60,4 pontos em julho. Nos EUA, o PMI Composto  manteve o patamar robusto, apesar do recuo de 63,7 pontos para 59,7 pontos entre junho e julho. A desaceleração na margem se concentrou em serviços, que recuou de 63,7 para 59,7 pontos. A dificuldade em encontrar em mão de obra, em meio ao aumento da demanda com o fim das restrições à mobilidade, prejudicou a leitura em julho.

De modo geral, os números revelam o efeito positivo sobre a demanda de consumo e investimento diante do aumento da mobilidade, mas ressaltam o problema do aumento de custos. O atraso nas entregas persiste, assim como a sinalização da elevação dos problemas em encontrar mão de obra. Aliás, o avanço mais recente da pandemia com a variante delta é mencionado como um risco potencial para novos problemas na oferta de produtos. Portanto, o ambiente de inflação pressionada não deverá arrefecer no curto prazo.

Na próxima semana

No Brasil, destaque para a divulgação dos dados de emprego, crédito, fiscal e setor externo. Na agenda internacional, as atenções se voltam para a reunião de política monetária do Federal Reserve, na quarta-feira.

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