ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

BRASIL: Copom eleva Selic em 75 pb e sinaliza elevação da taxa de juros para o patamar neutro

MUNDO:  Projeções do Fed indicam alta de juros antes do esperado

 

O Banco Central elevou a  taxa básica de juros em 75 pb. Em decisão unânime, a autoridade monetária decidiu aumentar a taxa Selic de 3,50% para 4,25%, alcançando o patamar pré-pandemia. O movimento marca a continuidade do processo de ajuste da taxa de juros, confirmando as expectativas do mercado e a alta sinalizada em sua última reunião.

No comunicado, o Copom eliminou a referência a uma sinalização de normalização parcial, indicando ser apropriado elevar a taxa de juros para patamar considerado neutro para mitigar a disseminação dos choques sobre a inflação. Na avaliação sobre o cenário, o Copom admite que a evolução recente da atividade econômica tem surpreendido positivamente, com redução significativa dos riscos para a recuperação econômica. A pressão inflacionária, por sua vez,  revela-se mais persistente que o esperado, em especial entre os bens industriais, segundo o Banco Central.

Para a próxima reunião, o Banco Central indicou um aperto monetário de mesma magnitude. Entretanto, o comunicado deixou em aberto uma possível alta de 100 pb, caso ocorra uma deterioração das expectativas de inflação para o horizonte relevante (2022). As dificuldades para a normalização nas condições de oferta e a resiliência da demanda contribuem para manter a inflação elevada no curto prazo, enquanto o patamar mais valorizado do câmbio pode gerar algum alívio. Esperamos que o Banco Central aumente a taxa Selic em 75 pb em agosto e, a seguir, reduza o ritmo de alta para 50 pb, elevando a taxa de juros para 6,50% ao final do atual ciclo de política monetária.

O Índice do Banco Central de atividade (IBC-Br) avançou 0,4% na margem em abril. O indicador prévio do PIB registrou alta abaixo de nossa projeção (1,7%), e da mediana do mercado (1,3%). O resultado refletiu as altas das vendas no varejo ampliado (3,8%) e do volume de serviços (0,7%) no mês, contrabalanceado pela queda da produção industrial de (-1,3%). Vale notar, que a agricultura também compõe o indicador. Embora a abertura não seja divulgada pelo Banco Central, os problemas climáticos devem ter afetado o desempenho do setor no mês. Na comparação interanual, o índice teve alta de 15,9%. O IBC-Br se situa 0,6% acima do patamar pré-pandemia (média de janeiro e fevereiro de 2020). Em relação ao trimestre anterior, o indicador aponta queda de 0,1%.

Nos EUA, o Fed manteve a taxa de juros entre 0% e 0,25% e sinalizou a possibilidade de iniciar a discussão sobre a redução das compras de ativos nos próximos meses. O banco central  norte-americano reafirmou que manterá o patamar da taxa de juros e o programa de US$120 bilhões mensais em compra de ativos, até o avanço substancial em direção ao alcance das metas de pleno emprego e da meta de inflação. No comunicado, o Fed manteve a avaliação que a inflação avançou, mas em decorrência de fatores transitórios. Na entrevista após a reunião, o presidente do Fed, Jerome Powell, revelou que a recuperação econômica segue incompleta, e que a discussão sobre a retirada de estímulos ainda requer que se observe por um período maior o comportamento da inflação e da atividade.

A principal novidade da reunião do Fed, no entanto, ficou por conta da revisão das projeções, incluindo a possibilidade de antecipação da alta de juros. Para a inflação, a projeção do núcleo (exclui itens voláteis) do PCE em 2021 subiu de 2,2%  em março para 3%. Para 2022, o indicador passou de 2% para 2,1%, com mesma variação esperada para 2023. As revisões para emprego e PIB também foram mais otimistas. Corroborando esse cenário, a mediana dos membros do comitê para os juros passou a considerar duas altas em 2023. Em março a expectativa era de estabilidade por todo o horizonte. Para 2022, o comitê projeta manutenção dos juros, entretanto, mais dois membros se juntaram aos quatro membros que na reunião de março projetavam alta de juros. Essa reunião marca o primeiro passo do Fed no sentido de sinalizar a redução dos estímulos nos próximos meses. Avaliamos que esse debate se tornará mais intenso a partir do 3º trimestre, com potencial redução das compras de ativos a partir do final do ano ou início de 2022.

Ainda nos Estados Unidos, as vendas no varejo desapontaram no mês de maio. As vendas no varejo apresentaram queda de 1,3% em maio. O núcleo do indicador de vendas (que exclui gasolina, automóveis, serviços alimentícios e materiais de construção) recuou 0,7% na comparação mensal. Entre os componentes, os destaques de baixa foram materiais de construção, eletrônicos e eletrodomésticos, enquanto serviços de alimentação e vestuário apresentaram desempenho positivo. As vendas no varejo se situam 17,8% acima do patamar pré-crise. De modo geral, apesar da frustração em maio, o cenário de continuidade da expansão do consumo se mantém, tendo em vista a sólida recuperação no mercado de trabalho e a continuação da retirada das restrições à mobilidade.

A indústria nos EUA, por sua vez, apresentou alta de 0,8% em maio, com avanço de 0,9% da indústria de transformação. O resultado ficou em linha com a expectativa do mercado, após crescimento de 0,1% do setor em abril. Destaque para a produção de bens duráveis (1,0%), em especial a produção de motores e peças de veículos (6,7%), setor prejudicado por problemas no fornecimento de insumos. A indústria de transformação segue 0,5% abaixo do patamar pré-crise. A utilização da capacidade instalada (NUCI) aumentou, passando de 74,6% em abril para 75,2% em maio.  O NUCI segue 4,4 p.p. abaixo do nível da média histórica. A indústria deve permanecer em trajetória de recuperação em virtude do impulso da demanda e dos baixos estoques. Por outro lado, o suprimento de insumos produtivos ainda deverá criar empecilhos nos próximos meses, em especial na cadeia de bens duráveis.

Na China, os dados de atividade frustraram as expectativas em maio. Na comparação interanual, a produção industrial avançou 8,8%, abaixo do consenso de mercado (9,2%). Já as vendas no varejo tiveram expansão de 12,4%, também abaixo da expectativa (14%), enquanto os investimentos em ativos fixos (FAI) expandiram 15,4%, ante expectativa de 17,0%. De uma maneira geral, mesmo com a perspectiva de que o governo remova gradualmente os estímulos adotados em 2020, a atividade econômica segue condizente com a meta de crescimento de pelo menos 6% estabelecida para esse ano. Nossa expectativa é de crescimento de 8,5%, embora as recentes frustrações insiram viés de baixa para a projeção, em especial diante do desempenho aquém do esperado do consumo, mesmo com o aumento da mobilidade.

Na próxima semana

No Brasil, destaque para a divulgação da ata do Copom na terça-feira, e para o IPCA-15 na  sexta-feira. Na agenda internacional, o foco estará na divulgação dos dados de confiança na Zona do Euro e EUA, assim como indicador de inflação (PCE) dos EUA na sexta-feira.

Selo-Gestao-Recursos-Positivo-01

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui