ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

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BRASIL: Ata reforça intenção do Copom de normalização parcial da taxa de juros.

MUNDO: Inflação ao consumidor surpreende e tem forte alta nos EUA.

 

O Comitê de Política Monetária (Copom) reforçou a intenção de normalização parcial da taxa de juros. A ata da última reunião de política monetária, na qual o comitê elevou a taxa Selic em 75 pb, para 3,5%, trouxe mais informações sobre o cenário básico do Banco Central, assim como sobre as suas projeções considerando diferentes hipóteses para as variáveis econômicas. Em especial, os membros observaram que “elevações de juros subsequentes, sem interrupção, até o patamar considerado neutro implicam projeções consideravelmente abaixo da meta de inflação no horizonte relevante”. Isso sugere que o plano de voo traçado pelo comitê para atingir a meta de inflação em 2022 passa por deixar a política monetária no terreno estimulativo. Contudo, o documento afirma que essa estratégia pode ser alterada nos próximos meses caso haja mudanças no cenário ou no balanço de riscos. Adicionalmente, os membros mantiveram o diagnóstico de que os choques atuais que pressionam a inflação são temporários, mas revelaram uma visão mais favorável sobre a atividade econômica. Sobre esse último ponto, a avaliação é de que os últimos dados surpreenderam positivamente e que “a ociosidade na economia como um todo se reduziu mais rapidamente que o previsto”.

Em suma, o Banco Central segue indicando novas elevações na taxa de juros, mas sugere uma interrupção no ajuste ainda esse ano, neste momento. Acreditamos que a retomada econômica no segundo semestre aliada ao patamar elevado da inflação levará o Banco Central a continuar no ciclo de aperto monetário, aumentando a taxa Selic para 6,5% no início de 2022.

Inflação tem variação mensal de 0,31% em abril e acumula alta de 6,8% nos últimos 12 meses. O resultado do IPCA ficou um pouco acima da nossa projeção e do consenso de mercado, mas confirmou o arrefecimento frente à alta de 0,93% registrada em março. O alívio na passagem do mês foi consequência da menor pressão de combustíveis, como gasolina, etanol e gás de botijão. Por outro lado, tivemos surpresas altistas em bens industriais, como automóveis e produtos de higiene. Ainda, vale destacar a inflação de serviços, cuja variação divulgada na leitura de abril foi menor do que a esperada. Essa surpresa baixista indica uma provável dificuldade por parte das empresas de serviços de repassar a elevação de custos para os preços finais em um momento de restrição de mobilidade. Com relação aos núcleos de inflação, que são métricas que excluem ou suavizam a variação de preços de itens voláteis, houve melhora das medidas subjacentes do BCB na média móvel de 3 meses, mas a média dos núcleos segue bem próxima do teto da meta de inflação para esse ano.

Olhando à frente, projetamos alta de 5,2% do IPCA em 2021, mas ressaltamos que o cenário para a inflação segue assimétrico. Sobre os riscos de alta, destaque para a nova elevação do preço de commodities, o baixo nível de estoques na indústria e o realinhamento de preços de serviços. Por outro lado, pode haver alívio em preços administrados, em especial os relacionados a área da saúde, como medicamentos e planos de saúde.

Em março, o volume total de serviços prestados recuou 4,0% na comparação com fevereiro. Já na comparação anual, a variação foi positiva em 4,5%, resultado superior à nossa projeção (3,0%) e à mediana do mercado (2,3%). Com a contração na margem, o volume total de serviços voltou a se situar abaixo do nível pré-crise, em 3,2% abaixo da média de janeiro/fevereiro de 2020.  Entre os subsetores, tiveram crescimento na margem apenas os serviços de informação e comunicação (1,9%) e outros serviços (3,7%), que incluem as atividades financeiras e de seguros. As maiores contribuições negativas vieram de serviços prestados às famílias, que abrangem hospedagem e alimentação (-27%) e transporte, armazenagem e correio (-1,9%). Esses dois foram afetados pelo recrudescimento das medidas de isolamento social em março, sendo que o primeiro se situa 45% abaixo do nível pré-crise. Para abril, mês que contou com o abrandamento das restrições de mobilidade, espera-se estabilização do volume de serviços prestados, com retomada do nível observado antes da 2a onda em maio.

O Índice do Banco Central de atividade (IBC-Br) recuou 1,6% na margem em março. O indicador prévio do PIB registrou queda menos intensa do que nossa projeção e a mediana do mercado (ambas em -3,4%). O resultado refletiu as quedas da produção industrial (-2,4%), das vendas no varejo ampliado (-5,3%) e do volume de serviços (-4,0%) no mês. Na comparação interanual, o índice teve alta de 6,3%. Com isso, o IBC-Br passou a se situar 1,0% acima do patamar pré-pandemia (média de janeiro e fevereiro de 2020). Utilizando o mesmo método de ajuste sazonal do PIB, o indicador aponta para forte crescimento no trimestre, de 1,5% na margem. De posse dos dados completos de março, revisamos nossa projeção para o crescimento do PIB do 1º trimestre para 0,7%. Ademais, indicadores antecedentes de abril e maio sugerem uma contração inferior à anteriormente prevista no 2º trimestre. Como resultado dos últimos indicadores, revisamos nossa projeção de crescimento para 4,3% no ano.

No cenário internacional, a inflação ao consumidor nos EUA mostrou forte alta em abril, surpreendendo os mercados. O núcleo do CPI, métrica que exclui a inflação de componentes voláteis, mostrou alta de 0,9% na comparação com o mês anterior. O resultado ficou muito acima da mediana de projeções do mercado, de 0,3%, e representou uma aceleração do núcleo da inflação acumulada em 12 meses de 1,6% para 3,0%. Em relação ao índice geral, a variação em 12 meses subiu de 2,6% para 4,2% no período. A abertura revela que a inflação foi fortemente impactada pela alta de preço de carros usados e de passagens aéreas no mês – esses dois componentes explicam praticamente metade da alta do núcleo do CPI em abril. De toda forma, o avanço da vacinação no país, a reabertura da economia e os pacotes de incentivo fiscal sugerem novas pressões inflacionárias à frente, em especial no setor de serviços. Dessa forma, a preocupação com a reversão dos estímulos do Fed antes do esperado seguirá em elevação.

Ainda nos EUA, as vendas no varejo apresentaram estabilidade na margem em abril, abaixo da expectativa de alta de 0,8%. O núcleo do indicador de vendas (que exclui gasolina, automóveis, serviços alimentícios e materiais de construção) recuou 0,8% na comparação mensal, também abaixo da expectativa. Entre os componentes, os destaques de baixa foram vestuário e lojas de departamento, enquanto automóveis, eletrônicos e restaurantes apresentaram desempenho positivo. A frustração em abril ocorre após dois meses de forte crescimento, em especial no mês de março, que marcou a retomada no pagamento do auxílio de US$ 1.400 por mês, assim como o aumento da mobilidade. Nesse sentido, a combinação entre abril e março revela avanço de 6,8% na margem no núcleo do indicador de vendas. Esse mesmo indicador se situa 17,7% acima do nível pré-crise. De modo geral, apesar da frustração em abril, o cenário de continuidade da expansão do consumo se mantém, tendo em vista a sólida recuperação no mercado de trabalho, a retirada das restrições à mobilidade e os incentivos governamentais que deverão prosseguir até o final do ano.

Por fim, a indústria americana apresentou alta de 0,7% em abril, prejudicada pela produção de automóveis. O resultado ficou abaixo da expectativa do mercado (0,9%) e veio após crescimento de 2,4% do setor em março. Todos os setores tiveram avanço na margem, com exceção da produção de bens duráveis, que recuou 0,4%, repercutindo a queda de 4,3% na produção de automóveis. A produção industrial se situa 3% abaixo do nível pré-crise. A utilização da capacidade produtiva aumentou, passando de 74,4% em março para 74,9% em abril. A indústria deve permanecer em trajetória de recuperação em virtude do impulso da demanda e dos baixos estoques. Por outro lado, o suprimento de insumos produtivos deverá criar empecilhos nos próximos meses, em especial na cadeia de bens duráveis.

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