ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

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BRASIL: Copom eleva Selic em 75pb e qualifica a sinalização de normalização parcial

MUNDO:  Mercado de trabalho nos EUA surpreende negativamente em abril

 

O Banco Central elevou a  taxa básica de juros em 75 pb. Em decisão unânime, a autoridade monetária decidiu por aumentar a taxa Selic de 2,75% para 3,50%. O movimento marca a continuidade do processo de ajuste da taxa de juros iniciado na reunião de março. No comunicado divulgado após a decisão, o Banco Central manteve a sinalização de normalização parcial.  O documento frisou que a evolução recente da atividade econômica tem surpreendido positivamente a despeito da segunda onda da pandemia, e que os preços internacionais de commodities permanecem em elevação, gerando pressão sobre a inflação no curto prazo. Além disso, as expectativas de inflação atualmente se situam acima da meta estabelecida para 2021 e ao redor da meta para 2022.

Para a próxima reunião, o Banco Central indicou um aperto monetário de mesma magnitude. Segundo o comitê, essa visão continuará dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação. O documento reforça que a incerteza a respeito do ritmo de crescimento da economia segue acima da usual. Nesse sentido, a autoridade monetária avalia que o cenário indica ainda ser apropriada a manutenção de algum estímulo monetário ao longo do processo de recuperação econômica, embora essa posição possa ser revista no futuro de modo a garantir o cumprimento da meta de inflação. Esperamos que o ciclo de elevação da taxa de juros continue nas próximas reuniões, com a Selic alcançando 6,50% ao final do ciclo de ajuste.

 A produção industrial recuou 2,4% na margem em março. O resultado foi superior à nossa projeção (-3,2%) e à mediana do mercado (-3,0%). A alta da indústria extrativa (5,5%), puxada pela produção de petróleo, foi mais do que compensada pelo recuo da indústria de transformação   (-3,2%), que ainda se situa 1,1% acima do patamar pré-crise. A principal contribuição negativa veio da fabricação de veículos (-8,4%), que sofreu com a falta de peças e paradas de produção no mês. Outras quedas relevantes vieram de vestuário (-14,1%) e outros produtos químicos (-4,3%). Dentre as categorias de uso, foram registradas quedas em bens de capital (-6,9%), bens de consumo semi e não duráveis (-10,2%) e bens de consumo duráveis (-7,8%), esses dois últimos puxados por vestuário e veículos, respectivamente. A exceção foram os bens intermediários, cuja produção teve modesta alta, de 0,2%, influenciada sobretudo pela atividade de refino de petróleo e pela produção de alimentos. A produção de insumos típicos da construção civil teve queda de 1,8% no mês, embora ainda se situe 13,8% acima do nível pré-crise. A média da produção industrial no 1º trimestre apresentou queda de 0,4% em relação ao 4º trimestre de 2020. As próximas leituras deverão continuar sendo prejudicadas em parte por problemas no fornecimento de insumos e pela intensificação das medidas de isolamento social ao menos até abril.

As vendas no varejo no conceito restrito tiveram queda de 0,6% em março frente a fevereiro. Em um mês no qual as restrições de mobilidade foram intensificadas, o resultado surpreendeu positivamente, uma vez que a mediana do mercado previa uma queda de 5,1%. Dentre os componentes, apenas hiper e supermercados tiveram alta no mês, de 0,8%, beneficiados pelo deslocamento de demanda em virtude da restrição à mobilidade. As vendas de artigos farmacêuticos permaneceram estáveis no período (-0,1%). Por sua vez, as maiores contribuições negativas vieram de tecidos, vestuário e calçados (-41,5%) e móveis e eletrodomésticos (-22,0%). O volume de vendas deste último setor, que em 2020 foi largamente influenciado pelo auxílio emergencial, passou a se situar abaixo do nível pré-crise. O varejo ampliado, que inclui todos os componentes do conceito restrito e adiciona as vendas de automóveis e materiais de construção, apresentou queda de 5,3% na margem em março. As vendas de automóveis tiveram recuo de 20% e foram somadas à queda de 5,6% das vendas de materiais de construção. Com o resultado de março, o volume de vendas em ambas as métricas (restrito e ampliado) voltou a se situar abaixo do patamar pré-crise. No trimestre, o volume de vendas no varejo ampliado registrou retração de 3,9% em relação ao 4º trimestre de 2020. Nos próximos meses, o comércio será  beneficiado pela nova rodada de auxílio emergencial e gradual reabertura de atividades econômicas. O risco de uma terceira onda, contudo, requer monitoramento.

Indicadores de confiança (PMI) de abril apontam continuidade da recuperação nas principais economias desenvolvidas. Nos EUA, o PMI composto, que incorpora a expectativa da indústria e dos serviços, subiu de 59,7 para 63,5, melhor resultado desde o início da pandemia e em nível bem acima da marca de 50 pontos que separa expansão e contração da atividade. Em patamar mais baixo, mas também em alta está o índice da Zona do Euro, que fechou o quarto mês do ano em 53,7, ante 53,2 em março.

O setor de serviços é o principal responsável pela diferença entre os indicadores das duas economias. Por um lado, os EUA já mostram forte retomada desse setor, impulsionado pela reabertura das atividades presenciais. O índice de serviços do PMI acelerou de 60,4 para 64,7 pontos na passagem do mês. Já na Zona do Euro, o mesmo índice avançou de 49,6 para 50,5, sugerindo expansão modesta. O que é comum nos indicadores é a força do setor manufatureiro, com o componente de confiança da indústria registrando nível acima de 60 pontos em ambas as economias. 

Apesar do aumento da confiança, os EUA registraram surpresa negativa no mercado de trabalho, com a criação de 266 mil vagas de emprego em abril. A expectativa era de criação de 1 milhão de vagas. A taxa de desemprego aumentou para 6,1%, ante 6,0% em março. Esse aumento é explicado pelo avanço da população ocupada abaixo do aumento da população à procura de emprego. A taxa de participação da população economicamente ativa (PEA) subiu de 61,5% para 61,7%.  Por setor, destaque para a criação de 331 mil vagas no setor de lazer, se beneficiando da perspectiva de melhora na mobilidade. No lado negativo, a indústria destruiu 18 mil vagas. Os salários, por sua vez, aceleraram acima do esperado, com alta na margem de 0,7%, ante expectativa de estabilidade. O número de empregados ainda se mantém cerca de 8 milhões abaixo do pré-crise. Medidas qualitativas do mercado de trabalho mencionadas pelo Fed, como a taxa de desemprego de grupos vulneráveis e número de desempregados em caráter permanente, não apresentaram melhora. Em suma, o relatório é condizente com o cenário de retomada robusta. No entanto, seguindo a leitura dos últimos comunicados do Fed, a economia ainda segue distante de uma recuperação plena que implique a redução do grau de estímulo monetário no curto prazo.

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