ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

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BRASIL: Copom sinaliza alta de juros de mesma magnitude na próxima reunião

MUNDO: Liderada pela indústria, confiança na Zona do Euro retorna para patamar de expansão

O Comitê de Política Monetária (Copom) reafirmou o cenário de normalização parcial da taxa de juros. Em dois documentos divulgados na semana, o Banco Central avaliou que, com base na recente evolução da inflação e da atividade econômica, o cenário não mais prescreve grau de estímulo monetário extraordinário.

Na ata da última reunião do comitê, na qual a Selic foi elevada de 2,00% para 2,75%, os membros reafirmaram que o aumento das expectativas de inflação, superando a meta estabelecida para esse ano, bem como a surpresa positiva recente com a atividade, foram aspectos fundamentais para a redução do grau de estímulo. Mais detalhadamente, o comitê apontou que o atraso da normalização das cadeias produtivas sugere que há um choque positivo de demanda atuando. Diversos membros também demonstraram incômodo com a possibilidade das pressões inflacionárias em 2021 contaminarem as expectativas para 2022.

Sobre a atividade econômica, a ata revelou que o comitê discutiu a respeito do nível de ociosidade da economia e manteve a percepção que “a pandemia continua produzindo efeitos heterogêneos sobre os setores econômicos”, mas adicionou que os dados de atividade e mercado de trabalho formal revelam uma redução da ociosidade mais rápida que o previsto. A avaliação mais prospectiva sobre o tema, por sua vez, foi desenvolvida no Relatório Trimestral de Inflação. No cenário base do Copom, a ociosidade da economia reduz ao longo do tempo, chegando a níveis neutros em 2022. Essa redução, entretanto, ocorre de forma mais lenta do que no cenário do relatório anterior (dezembro), em função principalmente da trajetória mais alta de taxa Selic utilizada nas simulações (fruto do descolamento para cima da expectativa para a trajetória de juros na pesquisa Focus).

Em resumo, os dois documentos reforçam o cenário de aperto monetário de mesma magnitude na próxima reunião, em linha com o objetivo do Copom de reduzir o estímulo extraordinário de modo mais célere. Vale ressaltar que o Copom reconhece a incerteza acima da usual, principalmente em relação aos efeitos sobre a atividade do aumento de restrições de mobilidade em resposta ao crescimento do número de casos de Covid-19 no país. Esperamos que o ciclo de elevação da taxa de juros continue nas próximas reuniões, com a Selic alcançando 5% ao final deste ano.

Em março, a prévia da inflação ao consumidor (IPCA-15) variou 0,93% na comparação mensal. O resultado, apesar de ter ficado um pouco abaixo da nossa projeção (0,99%) e da mediana do mercado (0,96%), é bastante elevado para o mês. O principal fator para a inflação atual mais pressionada – nos últimos quatro anos, por exemplo, a média desse indicador para março ficou em 0,37% – é a alta de combustíveis. Itens como gasolina e óleo diesel tiveram forte aceleração nesta leitura, refletindo os recentes reajustes dos preços na refinaria. O etanol, por ser, em geral, um produto substituto aos demais combustíveis, também se elevou. Por outro lado, tivemos alívio modesto na inflação de alimentos, com quedas em produtos in natura e leite. Em termos de núcleos, que são métricas que excluem ou suavizam itens com inflação volátil, a leitura de março mostrou variações em linha com o esperado. De toda forma, a média dos núcleos segue acelerando no acumulado em doze meses, subindo de 3,0% para 3,3% na passagem do mês.

O cenário inflacionário para os próximos meses segue bem pressionado. Esperamos que a inflação interanual ultrapasse 7,5% em meados do ano, à medida que as variações atipicamente baixas registradas no segundo trimestre de 2020 sejam substituídas por resultados mais elevados, como os atuais. Uma descompressão da inflação deve acontecer apenas na segunda metade do ano, em especial se tivermos uma trajetória mais benigna para os preços de commodities e para a taxa de câmbio. Projetamos inflação de 4,7% em 2021.

No setor externo, o saldo em conta corrente registrou déficit de US$ 2,3 bilhões em fevereiro. O resultado foi inferior à nossa expectativa (US$ -1,7 bilhão) mas menos negativo que o déficit de US$ 4,7 bilhões registrado em igual mês do ano anterior. O déficit acumulado em 12 meses passou de 0,6% do PIB em janeiro para 0,5% em fevereiro. O saldo comercial no mês foi mais uma vez negativamente impactado por importações fictas de plataformas de petróleo, registrando modesto resultado positivo, de US$ 0,4 bilhão. No entanto, houve menor déficit de renda primária em relação a janeiro de 2020, em especial a rubrica de despesas com lucros reinvestidos, bem como um déficit menor na conta de serviços,  dada a redução das despesas com viagens e fretes de transporte. Quanto ao fluxo financeiro, os investimentos diretos no país (IDP) somaram US$ 9,0 bilhões no mês, acumulando 2,8% do PIB em 12 meses. Ao longo dos próximos trimestres, a melhora do saldo comercial deve reduzir os déficits em transações correntes. Para o ano projetamos déficit de R$ 3,1 bilhões.

A prévia dos índices de confiança (PMI) de março revelou melhora da percepção na Zona do Euro. O PMI Composto prévio da Zona do Euro, que incorpora as expectativas da indústria e dos serviços, atingiu 52,5 pontos em março ante 48,8 em fevereiro, sinalizando uma reversão do sentimento na região (nível acima de 50 pontos indica expansão). A melhora da atividade na região ficou concentrado na indústria, enquanto o setor de serviços segue em contração. Nos EUA, o PMI Composto cedeu de 59,5 pontos em fevereiro para 59,1 pontos em março. Ao contrário da Zona do Euro, o setor de serviços na economia americana aponta expansão, em linha com a melhora da perspectiva de mobilidade com o avanço da vacinação.

 

Na próxima semana

No Brasil, destaque para a divulgação da produção industrial de fevereiro na quinta-feira e para o CAGED de fevereiro (BRAM: 260 mil) que será divulgado na segunda-feira. No cenário internacional, os EUA divulgam o relatório mensal de emprego de março na sexta-feira.

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