ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

BRASIL: Ata do Copom sinaliza remoção gradual do estímulo monetário extraordinário

MUNDO:  Fed  reafirma manutenção de estímulos monetários. PIB dos EUA desacelera no 4º trimestre

Comitê de Política Monetária (Copom) indica em ata que alguns membros questionam a manutenção do grau de estímulo extraordinariamente elevado. Na ata da última reunião, na qual a  Selic foi mantida em 2,00%,  o Comitê afirmou que, neste momento, considera adequado tal nível de estímulo monetário, mas que as condições de manutenção do forward guidance deixaram de ser satisfeitas. Sobre essas condições, o Copom destaca as projeções e expectativas de inflação, que já se encontram suficientemente próximas da meta para o horizonte relevante de política monetária. Com isso, o Copom deixa de se comprometer a não reduzir o grau de estímulo monetário, conduzindo a política monetária de acordo com a análise da inflação prospectiva e de seu balanço de riscos. De toda forma, o Banco Central defende que a retirada do forward guidance não implica mecanicamente em uma elevação da taxa de juros, mas a ata revelou que alguns membros do comitê julgam que o Copom deveria considerar o início de um processo de normalização parcial. Diante de um cenário mais pressionado de inflação, antecipamos o início do ciclo de retirada do estímulo extraordinário para a próxima reunião, em março. Para o encerramento do ano, mantivemos a Selic em 4%.

A prévia da inflação ao consumidor (IPCA-15) de janeiro ficou um pouco abaixo do esperado. Nessa leitura, o índice subiu 0,78% na comparação mensal, resultado aquém da nossa expectativa (0,85%) e da mediana do mercado (0,82%). A abertura entre os grupos, contudo, mostra que a maior parte do desvio de projeção foi causado por um arrefecimento mais intenso que o esperado na inflação de alimentos e na de combustíveis, componentes que costumam ter grande flutuação e, por isso, não compõem as principais medidas de núcleo de inflação. A média desses núcleos, que são métricas que justamente excluem ou suavizam itens voláteis, registrou variação um pouco acima do projetado, com 5,9% na média móvel de três meses. Os principais destaques para a alta dos núcleos em janeiro foram automóveis, vestuário e alimentação fora do domicílio. Com relação à inflação acumulada em 12 meses, o IPCA-15 subiu para 4,30% nessa leitura e a perspectiva é de novas escaladas nos próximos meses. Projetamos variação de 3,6% para o IPCA em 2021, valor próximo à meta do BCB, de 3,75%.

Dados de criação de emprego formal (Caged) de dezembro trouxeram nova surpresa positiva. Em dezembro, houve o fechamento de 68 mil vagas, ante expectativa de -130 mil. Vale lembrar que o último mês do ano usualmente apresenta saldo negativo por concentrar a dispensa de vagas temporárias criadas para atender a demanda de fim de ano. Quando consideramos os dados com ajuste sazonal, o saldo de criação de vagas no mês foi de 366 mil em dezembro, ante 390 mil em novembro e 363 mil em outubro.  A maior parte dos setores teve saldo positivo, sendo que a maior contribuição veio do setor de serviços, que criou 182 mil postos de trabalho. Vale lembrar que esse foi o setor mais impactado pelas restrições de mobilidade decorrentes da epidemia. Destaque também para a indústria de transformação (79 mil vagas). Com isso, o saldo com ajuste sazonal acumulado desde o início da pandemia, em abril, passou a ser positivo, em 55 mil vagas. Houve recuo de 1,2% das admissões e alta de 0,4% das demissões, com o patamar de admissões superando em 18% o nível pré-crise. O patamar alto de admissões corrobora a continuidade da recuperação da economia no quarto trimestre de 2020.

A taxa de desemprego atingiu 14,1% no trimestre encerrado em novembro. De acordo com os dados da PNAD, a taxa com ajuste sazonal se elevou de 14,4% para 14,6% na margem. Essa elevação foi causada por uma alta da população ocupada (0,5%) em ritmo inferior ao aumento da força de trabalho (0,6%). Assumindo um nível de população trabalhando ou procurando emprego semelhante a antes do início da pandemia, a taxa de desemprego com ajuste teria sido de 19,9%. A maior contribuição para o crescimento do número de ocupados veio do trabalho informal, que avançou 0,7% na margem, embora  a população ocupada no setor formal também tenha avançado (+0,3%). Dentre os setores, todos tiveram incremento dos postos de trabalho, à exceção da construção civil (-1,8%). A massa de rendimento real efetivo, que capta as reduções salariais ocorridas durante a pandemia, teve alta de 0,4% em outubro (há defasagem de um mês). Projetamos que a taxa de desemprego continue pressionada à medida que mais pessoas reingressem no mercado de trabalho, sobretudo em um contexto de retirada do auxílio emergencial.

Crédito atingiu o patamar de 54,2% do PIB em dezembro. Segundo nota do Banco Central, o saldo de crédito desacelerou de 15,6% em novembro para 15,5% em dezembro, na comparação anual. O crescimento segue mais forte no crédito destinado às empresas, cuja alta de 21,8% na comparação interanual foi liderada pelo crédito livre (21,1%), embora também tenha havido avanço expressivo das linhas direcionadas, sobretudo os empréstimos no âmbito do Pronampe. O crescimento do crédito às famílias se manteve em 10,9% na mesma base comparação. No mês, houve recuo das concessões de crédito livre no conceito média diária real com ajuste sazonal, tanto para famílias como empresas, o que corrobora a percepção de atividade mais fraca no último mês de 2020. Por fim, a inadimplência recuou de 2,2% para 2,1% em dezembro, beneficiada por medidas de postergação de pagamentos por parte das instituições financeiras.

No setor externo, o saldo em conta corrente registrou déficit de US$ 12,5 bilhões em 2020. Em dezembro, o resultado foi negativo em US$ 5,4 bilhões, próximo a nossa expectativa  mas inferior ao déficit de US$ 4,7 bilhões registrado em igual mês do ano anterior. O saldo comercial no mês foi negativamente impactado por importações fictas de plataformas de petróleo, que contribuíram para o resultado negativo em US$ 991 milhões. No entanto houve menor déficit de renda primária em relação a dezembro de 2019, em especial a rubrica de despesas com lucros reinvestidos, bem como um déficit menor na conta de serviços,  dada a redução das despesas com viagens e fretes de transporte. Com isso, o saldo acumulado da conta corrente fechou o ano em –0,9% do PIB, superior ao déficit de 2,7% em 2019. Contribuíram para esse melhor resultado o maior saldo comercial (com maior queda das importações por conta da retração da demanda doméstica) e as menores saídas de serviços e renda primária, também influenciadas pela pandemia. Quanto ao fluxo financeiro, os investimentos diretos no país (IDP) somaram US$739 milhões no mês, acumulando resultado de 2,4% do PIB em 2020. Ao longo dos próximos trimestres, a recuperação da demanda doméstica e, consequentemente, das importações deverá resultar em gradual piora do resultado de conta corrente.

O setor público consolidado registrou déficit de R$ 51,8 bilhões em dezembro. O resultado veio acima das expectativas de mercado, que apontavam déficit de R$ 59,6 bilhões

no mês, mas foi inferior aos R$ 13,5 bilhões registrados no mesmo mês do ano passado. Na composição do indicador, o Governo Central apresentou déficit de R$ 44,7 bilhões, enquanto os governos regionais foram deficitários em R$ 5,9 bilhões e as estatais em R$ 1,3 bilhão. Com isso, em 2020 o setor público consolidado registrou déficit de em R$ 703 bilhões (9,5% do PIB).  A dívida bruta encerrou o ano em 89,3% do PIB (ante 74,3% em 2019). O cenário segue desafiador do ponto de vista fiscal. A retomada da atividade econômica será importante para a recuperação das receitas e redução do déficit primário adiante.

 Nos EUA, o Fed manteve a taxa de juros entre 0% e 0,25% e indicou que o ritmo de recuperação moderou recentemente, com perda de força concentradas nos setores mais atingidos pela pandemia. O banco central  americano reafirmou que manterá o patamar da taxa de juros e o programa de US$120 bilhões mensais em compra de ativos, até avanço substancial em direção ao alcance das metas de pleno emprego e da estabilidade de preços. Na entrevista após a reunião, o presidente do Fed, Jerome Powell, revelou que segue com a avaliação de que a pandemia ainda apresenta riscos consideráveis para a economia no médio prazo e que, portanto, qualquer discussão sobre retirada de estímulos é prematura. Nesse sentido, o presidente do Fed reforçou a importância do estímulo fiscal.  Sobre a dinâmica de inflação, Powell defende que o Fed deve ser paciente, não reagindo a prováveis movimentos transitórios de alta nos preços. Diante de toda a incerteza oriunda da trajetória da epidemia e do impacto sobre o mercado de trabalho, avaliamos que os estímulos permanecerão presentes por um período prolongado.

No cenário global, os dados de atividade demonstram que o impacto das restrições impostas para combater a pandemia tem sido de menor magnitude durante a segunda onda. O PIB dos EUA teve crescimento de 1% na margem no 4º trimestre. O resultado representou uma desaceleração ante trimestre anterior (7,5%). Entre os componentes do PIB, o consumo das famílias teve alta de 0,6% e o investimento avançou 4,3%. O PIB ainda se mantém 2,5% abaixo do nível do final de 2019. Embora mais impactados pelas restrições, o PIB dos países da Zona do Euro surpreenderam positivamente as expectativas no 4º trimestre. Na Alemanha o PIB avançou 0,1% (expectativa: 0%), na França contraiu 1,3% (expectativa: -4%) e na Espanha houve avanço de 0,4% (expectativa: -1,4%). Em relação ao nível pré-crise, enquanto nos EUA o patamar deverá ser alcançado no 2º trimestre deste ano, na Zona do Euro esse ponto só deverá ser atingido no 1º trimestre de 2022.

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