ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

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BRASIL: Copom mantém Selic em 2,0% e sinaliza estabilidade por período prolongado

MUNDO: EUA e Zona do Euro mostram recuperação do PIB no 3º trimestre

O Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a taxa Selic com a indicação que a taxa de juros deve permanecer próxima do patamar atual por período prolongado. Em decisão unânime, a Selic foi mantida em 2,00%, em linha com a expectativa de mercado e a nossa projeção. No comunicado, o Comitê afirma que a forte retomada nas principais economias parece ter sofrido alguma desaceleração por conta da segunda onda da pandemia. Ademais, há incerteza frente a uma possível redução dos estímulos governamentais e à própria evolução da pandemia. Ainda assim, o ambiente segue relativamente favorável para as economias emergentes. O Copom também destacou que a economia brasileira demonstra sinais de recuperação desigual entre os setores. Ainda, foi frisada a incerteza acima do usual quanto ao ritmo de recuperação econômica, principalmente no final deste ano, com o possível fim ou arrefecimento das medidas de estímulo fiscal, notadamente o auxílio emergencial. O comitê ressaltou que as últimas leituras de inflação foram acima do esperado por conta da alta dos preços de alimentos e bens industriais, causada pela depreciação cambial, elevação de preços de commodities e programas de transferência de renda. A avaliação é de que esse choque é temporário, mas que deve ser monitorado com atenção.

As projeções do BC apontam para inflação mais próxima à meta somente em 2022.  Considerando o cenário básico, com trajetória para a taxa de juros extraída da pesquisa Focus e taxa de câmbio partindo de R$ 5,60 e evoluindo segundo a paridade do poder de compra (PPC), as projeções do Copom situam-se em 3,1% em 2020 (ante 2,1% em setembro), 3,1% em 2021 (ante 2,9%), e 3,3% em 2022. No cenário com taxa de juros constante em 2% e de câmbio evoluindo segundo a PPC, a projeção situa-se no mesmo patamar de 3,1% em 2020, passando para 3,2% em 2021 e 3,8% em 2022. Em ambos os casos, as projeções se situam abaixo da meta em 2020 e 2021. Somente para 2022 se aproximam da meta (3,5%), com 3,3% no cenário básico (Selic crescente até 4,5% ao final de 2022) e 3,8% no alternativo (Selic constante em 2%). Acreditamos que a continuidade da ociosidade elevada, agravada pela crise atual, permitirá uma trajetória benigna de inflação para os horizontes de médio prazo.

A respeito do balanço de riscos para a inflação, o BC ressalta que permanecem riscos em ambas as direções. De um lado, o maior nível de ociosidade, notadamente concentrada no setor de serviços, pode produzir trajetória de inflação abaixo do esperado, risco que se intensifica em ambiente de alta incerteza e maior poupança precaucional. Por outro lado, o prolongamento de medidas fiscais em resposta à pandemia que piorem a trajetória fiscal do país ou frustrações em relação às reformas podem elevar os prêmios de risco.  Nesse sentido, o risco fiscal gera uma assimetria altista no balanço de riscos.

Para o Banco Central, o cenário continua a prescrever estímulo monetário extraordinariamente elevado, mas reconhece que o espaço remanescente de política monetária, se houver, deve ser pequeno.  Mantendo a cautela necessária por razões prudenciais e de estabilidade financeira, o Copom segue com a prescrição futura (o forward guidance) que a Selic deve permanecer no nível atual até que a expectativa de inflação se encontre próxima da meta no horizonte relevante da política monetária (2021 e, em menor grau, 2022). O Copom avalia que as condições para o forward guidance, a saber, expectativas de inflação abaixo da meta e ancoradas e regime fiscal inalterado, seguem sendo atendidas. Avaliamos que a Selic deva permanecer nesse patamar até pelo menos o final do 1° semestre de 2021, encerrando o próximo ano 3m 3,5%.

Dados de emprego formal (Caged) de agosto mostraram criação de vagas acima do esperado em setembro. Segundo a Secretaria do Trabalho, houve geração de 313,6 mil vagas no mês. Quando consideramos os dados com ajuste sazonal, o saldo foi positivo em 255 mil , ante 176 em agosto e 124 mil em julho. Com isso, a perda de postos formais por conta da crise recuou para 700 mil, contra 1,4 milhão no pior momento. Todos os setores apresentaram saldo positivo em setembro, com destaque para serviços (73 mil), indústria de transformação (68 mil) e comércio (58 mil). O resultado demonstra o efeito da flexibilização das medidas de isolamento sobre o mercado formal de trabalho. Vale notar que o número de admissões, que apresenta alta correlação com o PIB, teve alta de 11,2% no mês na série com ajuste sazonal, recuperando o patamar pré-crise. As próximas leituras devem seguir repercutindo a recuperação gradual da atividade econômica.

A taxa de desemprego atingiu 14,4% no trimestre encerrado em agosto. De acordo com os dados da PNAD, a taxa com ajuste sazonal aumentou de 13,9% para 14,4% na margem. A elevação foi causada tanto pela queda da população ocupada (-0,5%)  como pelo aumento de pessoas buscando emprego (a força de trabalho se elevou em 0,1%). A taxa de participação com ajuste recuou de 55,3% para 55,2%. Sem os recuos da força de trabalho desde o início da pandemia, a taxa de desemprego com ajuste teria atingido 21,8%. A queda do número de ocupados foi devida ao emprego formal, que recuou 1,1% na margem. Entre os setores, a maior contribuição negativa veio da administração pública, educação e saúde (-1,4%). A massa de rendimento efetivo em julho (possui defasagem de um mês), que capta também as variações salariais ocorridas na pandemia, teve alta de 0,3% no mês. A perda acumulada de massa de renda até agosto foi de R$ 102 bilhões, mais do que compensada pelos programas emergenciais de transferência de renda. As próximas leituras devem apresentar elevação do desemprego por conta da volta das pessoas ao mercado de trabalho

O setor público consolidado registrou déficit de R$ 64,6 bilhões em setembro. O resultado é significativamente maior do que o déficit no mesmo período do ano passado (R$ 20,5 bilhões). Os dados negativos refletem o aumento de despesas para conter os impactos da pandemia, o crescimento das desonerações tributárias e o resultado mais fraco da atividade. Na composição, o Governo Central apresentou déficit de R$ 75,1 bilhões, enquanto os governos regionais foram superavitários em R$ 10 bilhões. A dívida bruta continuou em elevação, atingindo 90,6% do PIB (+1,8 p.p ante agosto). O cenário segue desafiador do ponto de vista fiscal. A retomada da atividade econômica será importante para uma menor queda das receitas. Nossa projeção é de déficit primário ao redor de 12% do PIB em 2020.

Crédito acelera em setembro e chega a 52,8% do PIB. Segundo dados do Banco Central, o saldo total de crédito acelerou de 12,1% em agosto para 13,1% em setembro na comparação anual. A aceleração do saldo pode ser atribuída em maior parte ao crédito às empresas (18,3% A/A), puxado pela modalidade capital de giro. O crédito à pessoa física também acelerou, passando de 8,8% para 9,3% na comparação anual, com destaque para o crédito pessoal. Por fim, a inadimplência recuou de 2,6% para 2,4% no mês. Apesar desse patamar baixo de atrasos, vale notar que a proporção de crédito renegociado em relação ao total da carteira de recursos livres para as famílias atingiu seu ponto máximo no mês, o que acende um sinal de atenção em relação à inadimplência futura.

 No cenário global, o PIB dos EUA teve crescimento de 7,4% na margem no 3º trimestre, demonstrando recuperação mais rápida que o esperado. O resultado veio após uma queda de 9% no trimestre anterior. Entre os componentes do PIB, a maior contribuição positiva veio do consumo privado (8,9%), embora o investimento doméstico também tenha crescido (16,3%) no trimestre. Apesar do resultado recorde de crescimento no trimestre, o PIB do país ainda se mantém 3,5% abaixo do nível do final de 2019. O ritmo de continuidade da retomada econômica ainda permanece incerto, dependendo do controle da pandemia no país e da dinâmica econômica após a retirada de estímulos fiscais.

Na Zona do Euro, o PIB do 3º trimestre mostrou expansão recorde de 12,7% na margem, resultado melhor que a expectativa.  Por país, o crescimento mais expressivo ocorreu na França (18,2%), seguida pela Espanha (16,7%) e Itália (16,1%). Na Alemanha, maior PIB da região, a expansão foi de 8,2%. O resultado demonstra a retomada econômica após a flexibilização das medidas de restrição para o controle da pandemia e os efeitos das políticas de estímulo fiscal e monetário. Entretanto, o aumento recente dos casos de Covid-19 nas principais economias e o anúncio de novas medidas de isolamento associadas à esta segunda onda, elevam a incerteza a respeito da continuidade da retomada econômica no 4º trimestre. No ano, a região deverá contrair ao redor de 8%.

Ainda na Zona do Euro, Banco Central Europeu (BCE) indica possibilidade elevada de anunciar novos estímulos na reunião de dezembro. O BCE manteve a política emergencial de compra de títulos e ativos financeiros além de manter o patamar da taxa de depósito em    -0,5%, da taxa de refinanciamento em 0,0% e da taxa de empréstimo em 0,25%. Na entrevista após a reunião, a presidente do BCE, Christine Lagarde, destacou que a recuperação econômica na região se torna incerta com a segunda onda de COVID-19 e as novas medidas de restrição adotadas na França e Alemanha para conter a pandemia. O viés é claramente baixista para a atividade. Diante desse cenário, o BCE reforçou que observará os efeitos das novas medidas de restrição, assim como a taxa de câmbio e a dinâmica fiscal nos próximos meses, indicando que a instituição irá avaliar todas as opções de novos estímulos de política monetária na reunião de dezembro. Deixando claro que o BCE segue determinado a manter o grau necessário de política monetária acomodatícia, Lagarde não descartou nenhuma ferramenta de política econômica para atenuar o impacto negativo sobre a atividade. Avaliamos que o BCE irá anunciar a ampliação do programa de compra de títulos em pelo menos € 500 bilhões.

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