ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

BRASIL:   Copom mantém Selic em 2,0% a.a  e sinaliza estabilidade por período prolongado

MUNDO:  Fed sinaliza que a taxa de juros permanecerá no patamar atual até pelo menos 2023

O Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a taxa Selic com a indicação que a taxa de juros deve permanecer próxima do patamar atual por período prolongado. Em decisão unânime, a Selic foi mantida em 2,00% a.a., em linha com a expectativa de mercado e a nossa projeção. No comunicado, o Comitê afirma que a recuperação da atividade nas principais economias tem ocorrido de modo mais favorável, mas ressalta que o cenário ainda é de incerteza frente a uma possível redução dos estímulos governamentais e à própria evolução da pandemia. O Copom também destacou que a economia brasileira demonstra sinais de recuperação parcial, porém não de forma homogênea entre os setores. Ainda, foi frisada a incerteza acima do usual quanto ao ritmo de recuperação econômica, principalmente no final deste ano, com o possível fim ou arrefecimento das medidas de estímulo fiscal, notadamente o auxílio emergencial. A inflação de curto prazo, por sua vez, deverá contar com pressão temporária de alimentos e normalização parcial de alguns preços de serviços.

As projeções do BC apontam para inflação mais próxima à meta somente em 2022.  Considerando o cenário híbrido, com trajetória para a taxa de juros extraída da pesquisa Focus e taxa de câmbio constante em R$5,30/US$, as projeções do Copom situam-se em 2,1% em 2020 (ante 1,9% em agosto), 2,9% em 2021 (ante 3% em agosto), e 3,3% em 2022. No cenário com taxa de juros (2% a.a.) e de câmbio constantes, a projeção situa-se no mesmo patamar de 2,1% em 2020, 3% em 2021 e 3,8% em 2022. Em ambos os casos as projeções se situam abaixo da meta em 2020 e 2021. Somente para 2022 elas se situam próximas à meta (3,5%), com 3,4% no cenário híbrido (Selic em 4,5% a.a.) e 3,8% no de referência. Acreditamos que a continuidade da ociosidade elevada, agravada pela crise atual, permitirá uma trajetória benigna de inflação para os horizontes de médio prazo.

 A respeito do balanço de riscos para a inflação, o BC ressalta que permanecem riscos em ambas as direções. De um lado, a pandemia acarreta aumento de incerteza e maior poupança precaucional, e, com isso, potencial redução da demanda ainda maior e mais prolongada do que a estimada. Caso que se intensifica com uma reversão mais lenta da pandemia. Por outro lado, medidas fiscais em resposta à pandemia que gerem deterioração da trajetória fiscal de forma prolongada, aliadas à incerteza sobre a continuidade das reformas, podem elevar os prêmios de risco. Além disso, as políticas de recomposição da renda e estímulo creditício podem fazer com que a queda da demanda agregada seja menor do que a esperada, implicando trajetória de inflação acima do projetado no horizonte relevante para a política monetária.

Para o Banco Central, esse cenário continua a prescrever estímulo monetário extraordinariamente elevado, mas reconhece que o espaço remanescente de política monetária, se houver, deve ser pequeno. Mantendo a cautela necessária por razões prudenciais, o Copom segue com a “prescrição futura” (o “forward guidance”) que a Selic deve permanecer onde está até a expectativa de inflação estar próxima da meta no horizonte relevante da política monetária (2021 e, em menor grau, 2022). Se houver espaço para novos cortes, devem ser feitos de forma gradual e a depender da percepção sobre a trajetória fiscal e as expectativas de inflação. Avaliamos que a Selic deva permanecer nesse patamar até pelo menos o 2° semestre de 2021.

O Índice de atividade econômica do Banco Central (IBC-Br) avançou 2,2% na margem em julho. O indicador prévio do PIB, que apresentou crescimento abaixo  da nossa projeção e das projeções do mercado (3,4%), refletiu as altas da indústria (8%), do comércio (7,2%) e do setor de serviços (2,6%) no mês. Na comparação interanual, o índice recuou 4,9%. O indicador se situa 6,3% abaixo do patamar pré-crise. Como apontado por indicadores de alta frequência, o 3º trimestre do ano deve contar com maior ritmo de recuperação. Para 2020, esperamos queda de 5,2% do PIB.

O Fed decidiu manter as medidas acomodatícias e introduziu o forward guidance. Nos EUA, o Fed manteve a taxa de juros entre 0% a.a e 0,25% a.a e os programas de estímulo (compra de ativos) e de crédito no mesmo patamar. Como sinalização, o Fed afirmou que o vírus continua apresentando riscos consideráveis à economia. Como novidade, o Fed introduziu o forward guidance, política na qual se compromete em manter a taxa de juros no patamar atual até as condições no mercado de trabalho alcançarem o nível de máximo emprego, e a inflação exceda moderadamente a meta de 2% por algum tempo .

Apesar de projeções mais otimistas, o Fed sinaliza que a taxa de juros não será elevada até pelo menos 2023. Para a taxa de desemprego, o Fed projeta recuo para 7,6% ao final desse ano, e 5,5% em 2021. Para o PIB, a previsão é de retração de 3,7% em 2020 e crescimento de 4% em 2021. As projeções de inflação apontam cenário benigno, alcançando a meta de 2,0% (centro da meta) apenas em 2023. Jerome Powell, presidente do Fed, reconhece a melhora nas condições financeiras, porém reforça a fragilidade ainda presente no mercado de trabalho e a elevada incerteza relacionada à pandemia. Caso o cenário de risco se materialize, o Fed não descarta o aumento do grau de estímulo.

Ainda nos EUA, dados de atividade de agosto tiveram desempenho abaixo do esperado. As vendas do varejo avançaram 0,6% no mês, abaixo da mediana do mercado (1,1%). Na comparação com agosto de 2019, o resultado representou  alta de 0,1%, ante alta de 3,5% em julho na mesma métrica.  Apesar da frustração no mês, o nível das vendas nos EUA já recuperou o patamar pré-crise, A produção industrial, por sua vez, avançou 0,4% na margem, abaixo da expectativa de mercado (1%). Na comparação interanual o resultado da indústria ainda representou queda de 7,7%. Em nível, a indústria segue 7,2% abaixo do patamar pré-crise. Os resultados de julho para comércio e indústria nos EUA são compatíveis com retração ao redor  de 4% do PIB no ano.

Indicadores econômicos de agosto superaram as expectativas e sinalizam retomada difusa da atividade na China. As vendas no varejo avançaram 0,5%, após queda de 1,1% em julho, na comparação anual. O resultado veio acima da expectativa de mercado (0%) e interrompeu a trajetória de sete meses consecutivos de retração do comércio em termos interanuais. A produção industrial avançou 5,6% na comparação anual, também acima do esperado (5,1%). Os investimentos em capital fixo passaram de –1,6% em julho para –0,3% em agosto, todos em relação ao mesmo período de 2019. Após dados mais robustos da indústria nos últimas leituras, em agosto a demanda mostrou sinal de recuperação mais forte, em linha com a normalização dos serviços. O dados de confiança e de alta frequência corroboram o cenário de continuidade do crescimento em setembro, e são compatíveis com crescimento em torno de 2,5% do PIB em 2020.

Na próxima semana

Na agenda local, destaque para a divulgação da Ata do Copom na terça-feira e para o IPCA-15 (BRAM: 0,27%) na quarta-feira . Na agenda internacional, destaque para os dados de confiança (PMI) de setembro nos EUA e na Zona do Euro.

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