ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

BRASIL:   PIB tem contração recorde no 2º trimestre. Produção industrial de julho sinaliza recuperação mais rápida

MUNDO:  Nos EUA, geração de vagas de emprego surpreende. Confiança global sinaliza continuidade da expansão

PIB do 2º trimestre registrou queda recorde de 9,7% na margem. O recuo foi mais intenso do que a nossa expectativa (-8,4%) e a do mercado (-9,2%). Em relação ao mesmo período do ano passado, o recuo foi de 11,4%. Na comparação trimestral, pela ótica da demanda, houve queda do consumo das famílias (-12,5%), investimento (-15,4%) e do consumo do governo (-8,8%). Na direção contrária, o setor externo contribuiu positivamente, com avanço das exportações (1,8%) e recuo das importações (-13,2%). Pela ótica da oferta, apenas a agropecuária apresentou crescimento (0,4%). Serviços tiveram queda de 9,7%, ao passo que a indústria contraiu 12,3%. Na indústria, todos os setores tiveram queda, com maiores contribuições da indústria de transformação (-17,5%) e da construção civil (-5,7%). No setor de serviços, as maiores contribuições negativas vieram de outros serviços (-19,8%), que abrangem serviços prestados às famílias, como alimentação e hospedagem, comércio (-13%) e administração pública (-7,6%). O impacto das medidas de isolamento social alcançou o seu auge no 2º trimestre. A despeito da queda maior do que a antecipada, mantemos a expectativa de contração de 5,2% no ano, pois os dados de alta frequência do 3º trimestre corroboram o cenário de recuperação mais rápida.

Nesse sentido, a produção industrial avançou 8,0% na margem em julho, refletindo a retomada gradual da economia. O resultado foi superior a nossa expectativa (5,3%) e contou com avanços da indústria de transformação (8,6%) e da indústria extrativa (6,7%). Na indústria de transformação, houve crescimento disseminado em 96% das atividades. Entre as categorias de uso, destaque para a elevação em bens de capital (+15,0%) e em bens de consumo (9,3%). Apesar dessa recuperação, a produção industrial segue 5,6% abaixo da média do pré-crise. Os dados do mês demonstraram uma retomada gradual da indústria em meio à mitigação das medidas de isolamento social, fato que deve se manter nos próximos meses. Com o resultado, nosso tracking do PIB no 3º trimestre segue ao redor de 6% na margem.

Dados da Pnad Covid mostram elevação da taxa de desemprego na segunda semana de agosto. De acordo com a pesquisa, embora a população ocupada tenha crescido em relação à primeira semana do mês (0,6%), houve elevação das pessoas buscando emprego (0,9%), o que fez com que a taxa de desemprego atingisse 13,6%. Por sua vez, a taxa de desemprego ajustada, que considera aqueles que deixaram de buscar emprego por causa da pandemia, recuou de 24,2% para 23,9% na semana. O percentual de pessoas afastadas de seu trabalho devido ao distanciamento social recuou de 5,7% para 5,2% no período.

O setor público consolidado registrou déficit de R$ 81,1 bilhões em julho. O resultado ficou em linha com a expectativa do mercado e, em virtude do contexto da pandemia, superou de forma significativa o déficit de R$ 2,8 bilhões em julho do ano passado. Os dados refletem o aumento de despesas para conter os impactos da pandemia, o crescimento das desonerações tributárias e o resultado da atividade. Na composição, o Governo Central apresentou déficit de R$ 88,1 bilhões, enquanto os governos regionais e as empresas estatais registraram superávit de R$ 6,3 bilhões e R$ 790 milhões, respectivamente. A dívida bruta continuou em elevação, atingindo 86,5% do PIB (+1,1 p.p ante junho). O cenário segue desafiador do ponto de vista fiscal. A retomada da atividade econômica será importante para uma menor queda das receitas. Nossa projeção é de déficit primário ao redor de 12% do PIB em 2020.

Ainda no escopo fiscal, o Ministério da Economia apresentou a proposta de orçamento para 2021 respeitando, conforme o esperado, o teto de gastos. O orçamento prevê déficit de R$ 233,6 bilhões, com a meta de resultado primário sendo ajustada de acordo com as receitas e o comportamento do PIB. Os gastos, por sua vez, são regidos pela regra do teto. O orçamento ainda contempla zero de aumento real no salário mínimo, que deverá ser de R$ 1.067,00. Em suma, a proposta abrange o cumprimento do teto de gastos por meio do corte nas despesas discricionárias, que devem atingir R$ 96 bilhões (6,1% do total de gastos), o menor patamar da história corrigido pela inflação.

Balança comercial encerrou agosto com um superávit de US$ 6,6 bilhões. O saldo do mês representa avanço de 120,4% na comparação anual (controlando pelo número de dias úteis), fruto de menor queda de exportações (-1,4%) do que de importações (-25,1%), que repercutem a menor demanda doméstica no período. No ano, o saldo comercial acumula US$ 36,6 bilhões, o que representa aumento de 13,8% em relação ao mesmo período do ano passado. Nos últimos dois meses, a melhora da atividade econômica no resto do mundo tem impactado positivamente as exportações. O ritmo de retomada doméstica, por sua vez, não deverá afetar substancialmente a geração de superávits. Nesse ano, projetamos saldo comercial de US$ 50 bilhões.

Nos EUA, houve surpresa positiva com a criação de 1,4 milhão de empregos em agosto. Com a geração de vagas formais, a taxa de desemprego no país atingiu 8,4%, ante 10,2% em julho. O resultado foi melhor do que o esperado pelo mercado (9,8%). Entre os segmentos, destaque para a recuperação consistente nos serviços privados, que criaram 984 mil vagas. Fundamentalmente, os dados refletem o aumento da mobilidade. Ainda em recuperação, o mercado de trabalho conta com 13,5 milhões de desempregados. Em fevereiro esse número não superava 6 milhões. Com a continuidade da normalização das atividades, os próximos meses devem seguir apresentando recuperação do mercado de trabalho nos EUA. Vale mencionar que o Fed projetava taxa de desemprego em 9,3% ao final deste ano. Na reunião de setembro, a revisão deverá ser expressiva.

Ao redor do mundo, os índices de confiança da indústria e serviços de agosto sinalizam a continuidade do crescimento. Na Zona do Euro, apesar do PMI composto (indústria e serviços) ter cedido de 54,9 para 51,9 pontos entre julho e agosto, em virtude de um novo aumento do número de casos de COVID-19 na Itália e na Espanha, o indicador segue acima de 50 pontos, indicando expansão da atividade. Nos EUA, o PMI da indústria avançou para 53,3 pontos em agosto, ante 50,9 em julho. Na China, primeiro país atingido pela pandemia, a indústria se situa em expansão pelo sexto mês consecutivo (51 pontos). No setor de serviços, o mais afetado pela crise, a confiança alcançou o seu maior patamar desde janeiro de 2018, 54,3 pontos. O processo de normalização da mobilidade, bem como a continuidade da adição de estímulos na economia, devem manter a atividade em expansão nos próximos meses.

Na próxima semana

No Brasil, destaque para a divulgação dos dados de julho do comércio (quinta-feira) e serviços (sexta-feira). Ademais, teremos a divulgação do IPCA de agosto (BRAM: 0,22%), na quarta-feira. No âmbito global, destaque para a reunião do Banco Central Europeu (BCE) na quinta-feira.

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