ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

BRASIL: Apesar da deflação do IPCA em junho, núcleos permanecem elevados

MUNDO: Desinflação em curso levará o Fed encerrar o ciclo de aperto monetário neste mês, subindo 25 pb

Eventos da semana

Nos mercados globais, o comportamento da inflação e suas implicações para as taxas de juros continuaram relevantes para os preços de mercado. O destaque desta semana foi a divulgação dos dados de inflação nos Estados Unidos, que mostraram alívio, aumentando as expectativas de que o Fed não faça as duas altas de juros que tem sinalizado. O resultado da inflação ao consumidor ficou abaixo das expectativas, acumulando alta de 3,1% em 12 meses. Apesar da surpresa baixista, o componente de serviços, foco dessa segunda etapa da desinflação global, seguiu em níveis elevados, subindo 6,2% na comparação interanual. Diante disso, o cenário mais provável, na nossa visão, é de que o Fed suba a taxa de juros em 25 pbs neste mês, encerrando o ciclo de aperto monetário. Além disso, no Canadá, o banco central (BoC) entregou a segunda alta de juros consecutiva de 25 pb, após ter mantido os juros inalterados em março e abril deste ano. Destaca-se, ainda, que o BoC deixou a porta aberta para novos aumentos, a depender das condições econômicas. No âmbito doméstico, destaque para a divulgação do IPCA (inflação ao consumidor) de junho: apesar da deflação na margem, a inflação de serviços seguiu elevada. Com isso, as expectativas do mercado em relação a um ciclo de corte de juros mais célere se reduziram. Por fim, os dados de atividade, referentes a maio, deram sinalizações mistas: de um lado, a pesquisa mensal de  serviços mostrou crescimento resiliente, puxado pelo setor de transportes; de outro, o volume de vendas no varejo recuou 1,0% em maio. Esses resultados, portanto, corroboram nossa avaliação de moderação do ritmo de crescimento econômico, em resposta ao aperto da política monetária.

Deflação do IPCA em junho se concentrou em bens, mas serviços seguiram em níveis elevados. Com a primeira queda no ano, o índice de inflação ao consumidor recuou 0,08% em junho (ante mediana das expectativas de -0,10%). Os principais responsáveis pela deflação foram os itens de alimentação no domicílio (-1,07%), combustíveis como gasolina e etanol, e automóveis novos (-2,76%). Importante notar que esse alívio dos dois últimos itens mencionados deve ser revertido nas próximas leituras. De fato, o programa de desconto para carros do governo federal foi um dos fatores que contribuiu para a queda da inflação do mês e, mesmo assim, nossa projeção era de uma queda maior dos preços do que a capturado pelo IBGE. Ao longo dos próximos meses, contudo, a expectativa é de alta dos preços, dado que o programa é temporário. Além disso, com a elevação dos tributos federais sobre combustíveis, também esperamos que o preço da gasolina volte a contribuir positivamente para a inflação em julho.

A despeito da deflação observada no índice cheio, o nível dos núcleos ainda demanda atenção, em linha com a parcimônia indicada pela autoridade monetária em relação aos seus próximos passos. Os núcleos da inflação, que são métricas que excluem ou suavizam itens voláteis, recuaram de uma alta de 5,1% para outra de 4,5%, considerando a média anualizada de três meses com ajuste sazonal. No entanto, as métricas de serviços, que têm sido o foco do Banco Central, continuam em patamares elevados, com altas superiores a 6,0% na variação acumulada em 12 meses, dando sinais ainda fracos de arrefecimento nas últimas leituras. Assim, a resiliência nos preços de serviços é um dos motivos pelo qual o Banco Central deverá ter cautela no início do ciclo de corte de juros. Por fim, mantemos nossa projeção de alta do IPCA de 4,8% e 3,5%, neste e no próximo ano.

Sinais vindos da atividade econômica continuaram mistos em maio. De um lado, o setor de serviços registrou alta de 0,9% no período, acima das expectativas. Após queda relevante em abril, o dado refletiu o crescimento de 4 dos 5 setores cobertos pela pesquisa, com destaque para serviços de transporte (2,2%). Os serviços prestados às famílias, que abrangem alojamento e alimentação, mais uma vez avançaram no mês (1,1%). Apesar do bom desempenho do mês, a média de abril e maio representa estabilidade em relação à média do primeiro trimestre de 2023. Por outro lado, as vendas no varejo recuaram 1,0% na margem em maio, abaixo das expectativas. Essa queda não foi disseminada, com as maiores contribuições negativas vindo de segmentos ligados à renda, como supermercados (-3,2%). No conceito ampliado, que inclui veículos, material de construção e atacado de alimentos, a queda das vendas chegou a 1,1% no período. Ainda assim, em termos de desempenho trimestral, a média de abril e maio do comércio ampliado representa alta de 0,2% em relação ao trimestre anterior. Para as próximas leituras, mantemos nossa expectativa de desaceleração mais clara da atividade, como resultado do menor crédito disponível e baixo crescimento da renda das famílias.

Tendência de desinflação nos EUA seguiu presente em junho, mas inflação ainda está em nível elevado. O índice de preços ao consumidor avançou 0,18% na margem em junho, levemente acima do registrado em maio (0,12%), mas abaixo das expectativas (0,3%). Na variação acumulada em 12 meses, a desaceleração foi mais pronunciada, passando de 4,0% para 3,0%, entre maio e junho. O núcleo da inflação, métrica que exclui energia e alimentação, por sua vez, registrou elevação de 0,16% no mês passado, desacelerando em relação ao mês anterior (0,44%). Para tanto, na margem e considerando o núcleo, os preços de serviços subiram 0,25% e bens recuaram 0,05%, alcançando 6,2% e 1,4% no acumulado em 12 meses, respectivamente. Adicionalmente, o índice de preços ao produtor e o indicador de salários do Fed de Atlanta também apresentaram sinais relevantes de desinflação. Nesse ambiente, o Fed  deve elevar a taxa de juros em 25 pb na reunião de julho, mas o outro aumento de 25 pb, indicado na última reunião do comitê, não deverá ser efetivado. Ao mesmo tempo, em virtude do elevado patamar de inflação e da solidez no mercado de trabalho, não vislumbramos a possibilidade de corte de juros pelo Fed até pelo menos meados do próximo ano.

Na China, a desaceleração da economia no segundo trimestre reforça as expectativas de novas medidas de suporte à economia, que tendem a ser limitadas. Em junho, as importações e exportações seguiram fracas, com quedas de 6,8% e 12,4%, respectivamente, na comparação interanual, surpreendendo negativamente as expectativas de retração de 4,1% e 10,0%. Reforçando o enfraquecimento da economia dos últimos meses, vale destacar a desinflação em curso no país. O índice de preços ao consumidor mostrou estabilidade em junho, na comparação interanual, ante alta de 0,2% esperada. E, seguindo a tendência dos últimos meses, o índice de preços ao produtor registrou deflação de 5,4% em junho. Portanto, após forte desempenho no primeiro trimestre, a desaceleração da economia chinesa tem se acentuado. Diante disso, crescem as expectativas de anúncio de estímulos adicionais, tanto fiscais como monetários. Nesse sentido, cabe mencionar o desempenho mais favorável do mercado de crédito no mês passado, com melhora das concessões tanto para empresas como famílias, possivelmente já refletindo a queda da taxa de juros ocorrida no mês.

Na próxima semana

 

Na agenda doméstica, destaque para a divulgação do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) referente a maio. No cenário internacional, as atenções da semana estarão voltadas para a publicação do PIB da China do segundo trimestre e dos dados de atividade dos EUA.

 

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