ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

BRASIL: Atividade extrativa impulsionou a produção industrial em maio   

MUNDO: Mercado de trabalho americano seguiu apertado em junho

Eventos da semana

No cenário internacional, o destaque desta semana ficou para os EUA, com a divulgação da ata da última reunião de política monetária do Federal Reserve e dos dados de mercado de trabalho. Em relação à ata do FOMC, o documento afirmou que a maioria dos membros do conselho de política monetária avaliou como apropriada a pausa da alta de juros em junho. No entanto, o texto ainda trouxe um viés cauteloso, dado que a maior parte dos membros reforçou a preocupação com a lenta desaceleração dos índices de inflação e concordou que deverão ser necessárias novas elevações de juros no país. Além disso, os dados de geração de emprego, divulgados na sexta-feira, reforçaram os sinais de pressão no mercado de trabalho. Mesmo abaixo das expectativas, foram registradas mais de 209 mil novas vagas e a taxa de desemprego recuou de 3,7% para 3,6% entre maio e junho. Em relação ao indicador de salário, a medida teve alta de 0,4% na margem, variação que ficou acima da projeção do mercado, de 0,30%. No Brasil, a aprovação do texto da reforma tributária na Câmara dos Deputados foi bem recebida pelo mercado. De forma resumida, o texto apresentado unifica os impostos do ISS, ICMS, PIS, Confins e IPI em três novos impostos, o Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), a Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS) e um Imposto Seletivo. O texto agora segue para análise do Senado.

Bom desempenho do setor extrativo explicou o crescimento da produção industrial em maio (0,3%), após recuo  em abril. O resultado observado no mês superou expectativas, podendo ser atribuído à alta de 1,2% da indústria extrativa, puxada pela produção de minério de ferro e petróleo, que mais do que compensou a queda de 0,1% da indústria de transformação. O desemprenho negativo da transformação foi concentrado em pouco setores:  o índice de difusão, que mede o percentual de produtos que registraram crescimento, avançou de 30% para 74% no mês. Dentre as atividades, as maiores contribuições positivas na margem derivaram de refino de petróleo (7,7%), máquinas e equipamentos (12,3%) e veículos (7,4%), contrabalançadas pelo recuo de  produtos alimentícios (-2,6%) e farmacêuticos (-9,7%). Vale notar que a produção de insumos típicos da construção civil (ITCC) teve novo recuo nessa leitura, passando a se situar abaixo do nível pré-crise. Por fim, em termos de carrego para o trimestre, a média móvel de abril e maio representa alta de 0,3% em relação ao primeiro trimestre de 2023, com a maior parte da alta concentrada na indústria extrativa (1,2%), enquanto a indústria de transformação apresentou elevação mais modesta, de 0,2%. Com isso, para os próximos meses, seguimos projetando desaceleração da indústria como resultado da menor demanda por bens de consumo.

Queda mais moderada das exportações tem favorecido os resultados positivos da balança comercial. Em especial, em junho, o superávit chegou a US$ 10,6 bilhões, superando o saldo registrado no mesmo mês de 2022 (U$S 8,9 bilhões). Para tanto, houve recuo das exportações (-8,1%) em menor magnitude do que o de importações (-18,2%). O desempenho favorável da safra doméstica de grãos nos primeiros meses do ano continua importante para explicar as exportações. Com isso, no acumulado de 2023, a balança comercial exibe superávit de US$ 45,5 bilhões, avanço de 32,9% em relação ao mesmo período do ano passado. Vale notar que o bom desempenho se deve ao maior volume exportado, posto que houve recuo de quase 7% do preço médio de exportação neste ano. Ao longo dos próximos meses, o saldo da balança comercial deverá ser impactado positivamente pela desaceleração doméstica, que continuará mantendo os volumes importados em níveis mais baixos.

A ata da reunião de junho, quando o Fed manteve a taxa de juros básico no intervalo entre, 5,00% e 5,25%, revelou que a interrupção das altas se deveu à necessidade de obtenção de mais informações dos efeitos do ciclo de aperto monetário. Os membros do Comitê novamente concordaram que as medidas de inflação permanecem acima dos  patamares aceitáveis e que, apesar da queda no índice cheio ao longo do ano, o núcleo da inflação não mostrou redução sustentável no período. Além disso, notou-se que mesmo com o mercado de trabalho apertado e os ganhos salariais em um nível incompatível com a meta de inflação de 2%, a expectativa é de melhor equilíbrio entre oferta e demanda de mão de obra, compatível com um cenário de crescimento do PIB abaixo do potencial. A avaliação do Comitê sobre o sistema bancário é de que o estresse foi reduzido e que a contração do crédito não foi muito além do esperado, ainda que a extensão do impacto sobre o crédito seja incerta. Tendo em vista a preocupação com a defasagem do ciclo de aperto monetário já executado, os membros decidiram manter a taxa de juros na reunião em referência, aguardando mais informações do cenário. Embora a decisão tenha sido unânime, alguns membros manifestaram a preferência pela elevação da taxa de juros em 25 pb nessa reunião. Nesse sentido, o comitê manifestou a preocupação em manter a mensagem de necessidade de manter o grau de aperto monetário na economia. A ata é compatível com a nossa expectativa de alta de 25 pb na reunião de julho.

O relatório de emprego mostrou que o mercado de trabalho segue bastante apertado, sem sinais contundentes de perda de força. Em junho, foram criados liquidamente 209 mil vagas de emprego em junho, abaixo da expectativa do mercado de 230 mil. A média de novas vagas nos últimos três meses reduziu levemente de maio para junho (de 247 mil para 244 mil). Em relação aos setores, destacam-se positivamente construção civil, serviços profissionais e empresariais, além de lazer e hospitalidade. Negativamente, houve a destruição de vagas no varejo e em transporte e armazenamento. Os salários avançaram 0,4% na margem e 4,4% na comparação interanual, mesmo patamar do mês anterior. Por sua vez, a taxa de desemprego apresentou leve recuo de 3,7% em maio para 3,6% em junho.

Desaceleração da economia global também tem sido observada no setor de serviços, enquanto a indústria seguiu enfraquecida. O índice PMI Composto global recuou de 54,4 para 52,7 pontos entre maio e junho. Ainda no campo expansionista, mas recuando, o índice de serviços passou de 55,5 para 54 pontos no período. A atividade manufatureira, por sua vez, entrou na região contracionista, caindo de 51,4 para 49,2 pontos, com queda de novos pedidos, produção, preços e continuidade da normalização dos gargalos do setor. De fato, parte dessa desaceleração da indústria global se deve ao alívio de restrições importantes do suprimento de insumos nas cadeias produtivas e isso tem favorecido a desinflação de bens. Destacamos, ainda, o desempenho de algumas regiões: nos EUA, o índice subiu de 53 para 53,2 pontos, com aceleração de serviços e queda da indústria. Já na Área do Euro e na China, o desempenho da indústria e, mais recentemente, dos setores não manufatureiros tem decepcionado nos últimos meses, e os índices PMI confirmaram essa perda de ritmo em junho. O índice composto europeu recuou de 50,3 para 49,9 pontos e o chinês (segundo indicador calculado pelo Caixin) mostrou queda de 55,6 para 52,5 pontos.

Na próxima semana

Na agenda doméstica, destaque para os indicadores de atividade econômica, com a divulgação dos dados do comércio varejista e do setor de serviços, referentes a maio. Também conheceremos o resultado do IPCA de junho. No cenário internacional, as atenções da semana estarão voltadas para a divulgação dos dados da inflação de junho dos Estados Unidos.

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