ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

BRASIL: Mercado de trabalho apresenta criação de vagas formais após 4 meses de destruição

MUNDO: Confiança em agosto sinaliza continuidade da recuperação

Dados de emprego formal (Caged) de julho mostraram a criação de vagas após 4 meses de saldo negativo. Quando consideramos os dados com ajuste sazonal, o saldo de  vagas foi positivo em 150 mil em julho, ante destruição de 25 mil vagas em junho, 389 mil vagas em maio e 958 mil vagas em abril. No mês, todos os setores apresentaram resultado positivo, com destaque para a indústria de transformação (+49 mil), o comércio (+40 mil) e a construção civil (+33 mil). O resultado demonstra o efeito do relaxamento parcial das medidas de isolamento social sobre o mercado formal de trabalho. Ao todo 1,3 milhão de postos formais de trabalho foram destruídos desde o início pandemia. Vale notar que o número de admissões, que estabelece maior correlação com o PIB, ainda segue 21% abaixo do patamar pré-crise. Nas próximas leituras, o resultado de saldo de vagas deve repercutir a recuperação gradual da atividade econômica.

O mercado revisou positivamente as projeções de atividade. No Relatório Focus, a mediana das projeções do PIB de 2020 aponta para retração de -5,5% (revisado de -6,0% há 4 semanas). Para 2021, a projeção se manteve estável em 3,5%, expressando uma devolução parcial do resultado de 2020. Para a inflação (IPCA), espera-se alta de 1,67% em 2020 e de 3,0% em 2021, ambas abaixo da meta do Banco Central. Por fim, as expectativas quanto à variação da taxa Selic para 2020 permaneceram inalteradas em 2,0%, enquanto a expectativa em relação à taxa Selic para 2021 foi revisada para 2,75% (ante 3,0% na semana anterior).

Em julho, arrecadação federal brasileira alcançou R$116 bilhões. O resultado representa um recuo de 17,7% em termos reais na comparação anual, refletindo a atividade deprimida e o total de R$ 10,6 bilhões concedidos em desonerações no mês. Se desconsiderássemos os fatores extraordinários no mês (renúncia de IOF, diferimentos e compensações tributárias), o recuo da receita teria sido menor, de 8,5% em termos reais. No acumulado do ano, a arrecadação foi de R$782 bilhões, um recuo de 15,2% em termos reais em relação ao mesmo período de 2019. Na margem, a melhora da arrecadação é fruto da gradual recuperação da atividade, demonstrando que o principal impacto da pandemia deve ter sido registrado no 2º trimestre. A continuidade da retomada da arrecadação, no 2º semestre, dependerá da recuperação da atividade, das discussões de refinanciamento e da prorrogação dos diferimentos.

Indicador de confiança da indústria de transformação apresenta sinal positivo para o setor. De acordo com a sondagem realizada pela Fundação Getúlio Vargas, o índice de confiança do setor com ajuste sazonal alcançou o patamar de 98,2 pontos em agosto, ante 89,8 pontos em julho. O resultado representa uma melhora expressiva da percepção de cenário dos empresários para o setor, que chegou a apresentar índice de 58,2 pontos em abril, pior momento da crise. O índice se aproxima cada vez mais do patamar pré-crise, de 101,4 pontos  em fevereiro. O indicador corrobora o crescimento da indústria apresentado pela pesquisa industrial do IBGE e aponta continuidade da recuperação.

Nos EUA, o Fed divulgou a ata da reunião que reforçou o cenário de cautela acerca da evolução da atividade nos próximos meses. Na reunião em que o Fed manteve a taxa de juros no intervalo de 0,25% a.a. e 0% a.a., os membros reforçaram que o cenário ainda contempla incerteza extraordinária para a economia, decorrente primordialmente da evolução do vírus. Tendo isso em vista, os membros reforçaram a necessidade de manter a política econômica acomodatícia até o retorno da atividade econômica aos seus níveis usuais. Entre as medidas de estimulo monetário adicional, o comitê demonstra preferência pelo “forward guidance”, orientação mais contundente sobre a condução futura da política monetária. Nesse caso, a maior parte dos membros defende uma comunicação sobre os próximos passos atrelada primordialmente ao comportamento ao alcance da meta de inflação. A aceleração da compra de ativos também é defendida como estratégia viável. Sobre a possibilidade de política de controle de curva de juros, os membros seguem céticos a respeito da sua eficácia, tornando essa política distante de ser adotada. Adicionalmente, o Fed introduziu a necessidade de uma revisão estrutural do ferramental de política monetária em um futuro próximo. Apesar de não mencionado explicitamente, se discute a possibilidade de elevação da meta de inflação como forma de sinalizar a manutenção da taxa de juros baixa por um longo período. Diante de toda a incerteza oriunda do vírus e do impacto sobre o mercado de trabalho, avaliamos que os estímulos permanecerão por um período prolongado.

A prévia dos índices de confiança (PMI) da Zona do Euro e dos EUA de agosto demonstram que a atividade permanece em patamar expansionista. O PMI Composto prévio da Zona do Euro, que incorpora as expectativas da indústria e dos serviços atingiu 51,6 pontos em agosto ante 55,0 em julho. Apesar da desaceleração inesperada, em especial no setor de serviços, o PMI sinaliza expansão da economia (acima de 50 pontos indica expansão). Já nos EUA, o PMI Composto dos EUA avançou de 50,3 pontos em julho para 54,7 pontos em agosto. Os índices são compatíveis com crescimento na margem acima de 15% no 3º trimestre, corroborando o cenário atual de reabertura econômica, mesmo que ainda com incerteza quanto à contenção da pandemia e a velocidade na retomada dos serviços. Os países mantêm estímulos monetários e fiscais que devem ajudar na continuação do processo de recuperação.  O PIB global deverá recuar cerca de 3% em 2020.

Novos pedidos de seguro desemprego têm alta nos EUA. Na semana terminada no dia 15 de agosto, levando em conta o ajuste sazonal, foram realizados 1,1 milhão de novos pedidos de seguro desemprego no país, ante 970 mil na semana anterior. O resultado foi maior que a mediana do mercado (925 mil), e representou a primeira semana de crescimento após 3 semanas de queda de novos pedidos. Até o início de agosto 28,1 milhões americanos solicitaram auxílios emergenciais no país. O resultado expressa uma recuperação ainda lenta do mercado de trabalho, mantendo a preocupação do Fed acerca da necessidade de ampliação dos estímulos. A melhora dos indicadores de mercado de trabalho nas próximas leituras dependerá da efetividade nas medidas de contenção da pandemia e de retomada da atividade.

Na próxima semana

No Brasil, destaque para a divulgação do índice prévio da inflação de agosto, IPCA-15, na terça-feira e para a divulgação do resultado primário do governo central na sexta-feira. Na agenda internacional, destaque para a divulgação do PIB alemão do segundo trimestre, na terça feira, e para os dados de renda dos EUA, na sexta-feira.

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