ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

BRASIL: Comércio varejista e serviços avançaram em março

MUNDO: Expansão da economia chinesa perdeu ritmo em abril

Eventos da semana

No cenário internacional, o comportamento dos preços dos ativos foi pautado principalmente pelos indicadores de atividade dos EUA e da China. Se por um lado, chama atenção a resiliência da economia americana, por outro lado, a perda de ritmo chinês, após a reabertura, tem sido mais intensa do que a esperada anteriormente. De fato, os resultados dos indicadores de atividade de abril frustraram as projeções do mercado e aumentaram as expectativas de anúncio de novos estímulos, que sejam capazes de melhorar a confiança e ajudar a recuperar o setor imobiliário. Os dados de atividade dos Estados Unidos, por sua vez, reforçaram a nossa visão de um cenário de atividade mais resiliente no país, principalmente com a recuperação do comércio varejista em abril. Além disso, as atenções do mercado também se voltaram para as discussões sobre o aumento do teto da dívida americana, que pode ainda ser votado na próxima semana, como forma de evitar qualquer problema de pagamento das obrigações do tesouro americano. Essas discussões, portanto, levaram a uma leve valorização do dólar em relação à grande maioria das moedas e reforçaram a tendência de preços de commodities em patamares mais baixos. No cenário doméstico, o foco da semana se concentrou nos dados de atividade, com foco principal para as pesquisas mensais de serviços e comércio de março. O avanço no período – apontando pelos indicadores – confirmou o bom desempenho da economia brasileira no primeiro trimestre. De um lado, os dados de serviços mostraram alta nos segmentos voltados às empresas, com grande influência do setor agropecuário; de outro, a expansão do comércio se concentrou em poucos setores, com destaque para veículos. Apesar desse início de ano mais forte, mantemos nossa expectativa de desaceleração da atividade nos próximos trimestres.

Indicadores de atividade referentes a março, conhecidos nesta semana, confirmaram nossa expectativa de forte crescimento do PIB brasileiro no primeiro trimestre. Em março, o volume total de serviços cresceu 0,9% ante fevereiro. Na comparação interanual, houve alta de 6,3%, acima da nossa projeção (3,8%) e da mediana do mercado (4,8%). Três das cinco atividades observadas avançaram, com a maior contribuição positiva vindo de transportes (3,6%), influenciado pela alta de transporte terrestre (3,3%), repercutindo a maior movimentação de cargas agrícolas, e serviços auxiliares do transporte e correios (5,9%). A seguir, o setor de serviços profissionais, administrativos e complementares cresceu 2,6% no mês e serviços de informação e comunicação subiram 0,2%. Na direção contrária, serviços prestados às famílias recuaram 1,7% e outros serviços (que incluem categorias como serviços financeiros e seguros) mostraram queda de 0,6% na margem. Em termos de carrego, a média do primeiro trimestre de 2023 representa queda de 0,3% em relação à média do quarto trimestre de 2022. Em suma, o bom desempenho do setor de serviços verificado em março se deveu a segmentos relacionados a empresas, sobretudo do segmento agropecuário. Ao mesmo tempo, o recuo de atividades voltadas às famílias reforça nossa expectativa de desaceleração do setor de serviços à frente.

Favorecidas pelo segmento automotivo, as vendas do comércio varejista no conceito ampliado cresceram 3,6% em março, superando as projeções de mercado. Excluindo os setores automotivo e de material de construção, a expansão foi mais moderada: o volume de vendas do varejo restrito subiu 0,8% na margem. Dentre os setores, destacam-se o crescimento de: materiais para escritório e informática (7,7%), artigos farmacêuticos (0,7%) e móveis e eletrodomésticos (0,3%). As maiores contribuições negativas, por outro lado, vieram de tecidos, vestuário e calçados (-4,5%) e de outros artigos de uso pessoas e doméstico (-2,2%), setor que engloba lojas de departamentos, óticas, joalherias, artigos esportivos e brinquedos. No varejo ampliado, as vendas de automóveis e de materiais de construção avançaram 3,7% e 0,2% na margem, respectivamente. Em termos de desempenho trimestral, a média do 1º trimestre do varejo ampliado representa alta de 3,7% em relação à média do quarto trimestre de 2022.

Por fim, mesmo com as altas observadas da produção industrial, do comércio varejista e de serviços em março, o índice de atividade do Banco Central registrou queda de 0,2% no mês. A divergência em relação aos principais indicadores mensais se deve ao desempenho do setor agropecuário, cujo maior impacto deve ter se concentrado em fevereiro. Dessa forma, após um primeiro trimestre forte, mantemos nossa expectativa de moderação do crescimento no restante deste ano, reconhecendo, contudo, que a resiliência do mercado de trabalho pode contribuir para um processo de desaceleração mais lento. Assim, apesar dessas surpresas positivas com o desempenho da atividade econômica no início deste ano, entendemos que os efeitos do aperto da política monetária ficarão mais evidentes a partir deste trimestre.

Resiliência da atividade econômica nos Estados Unidos seguiu presente em abril. As vendas no varejo subiram 0,4% no mês passado, embora abaixo das expectativas do mercado, após dois meses de queda (0,7% em fevereiro e março). O núcleo do índice de vendas (que exclui serviços de alimentação, concessionárias, materiais de construção e postos de gasolina) cresceu 0,7% na margem, superando a expectativa (0,4%) e a queda observada no mês anterior (-0,4%). Das 13 categorias que compõem o indicador, 7 avançaram, reforçando a sustentação do consumo em nível elevado. A produção industrial também exibiu expansão na margem, de 0,5%, superando as expectativas de estabilidade, após dois meses de permanência no mesmo nível. Os principais responsáveis pelo aumento foram os bens duráveis (1,4%), principalmente pela fabricação de veículos. Dessa forma, os sinais vindos da atividade econômica, bem como do mercado de trabalho, indicam que a desaceleração da economia americana tem sido modesta, a despeito do aperto da política monetária implementado até então, mantendo os desafios para uma desinflação mais rápida, especialmente do núcleo da inflação.

Perda de ritmo da economia chinesa, após reabertura, sugere que crescimento deste ano pode ser mais moderado do que o esperado inicialmente. Confirmando os sinais de moderação já apresentados pelos dados de comércio exterior e crédito, os resultados dos indicadores de atividade de abril – divulgados nesta semana – frustraram as expectativas e sugerem que a retomada da economia chinesa ainda depende de uma melhora mais espraiada da confiança e não deve contar com o reaquecimento do setor imobiliário. Vale ainda lembrar que as estatísticas de abril deste ano estão fortemente influenciadas pela base de comparação, uma vez que no mesmo mês do ano passado parte relevante do país enfrentou fortes restrições de mobilidade (como forma de controle da pandemia). A produção industrial – que reflete tanto a demanda externa como interna – avançou 5,6% em abril em relação ao mesmo mês de 2022, abaixo do esperado (10,9%), mas acima do verificado em março (3,9%). As vendas do comércio registraram expansão interanual de 18,4%, ante projeção do mercado de alta de 21,9%, após crescimento de 10,6% no mês anterior. Refletindo principalmente a retração do setor imobiliário, os investimentos em ativos fixos mostraram alta de 4,7% no acumulado do ano, frustrando o consenso das expectativas (5,7%) e desacelerando em relação a março (5,1%). Para os próximos meses, acreditamos que o crescimento do consumo é sustentável e as exportações devem ceder. As incertezas, por sua vez, seguem concentradas no setor imobiliário residencial, cujas vendas recuaram nos últimos meses e os lançamentos ainda não exibiram recuperação neste ano. Nesse cenário, entendemos que o governo deve lançar mão de alguns estímulos como forma de estancar a desaceleração, compatível com nossa projeção de crescimento do PIB de 5,7% em 2023.

Banco Central do México (Banxico) manteve a taxa básica de juros inalterada em 11,25% a.a., em decisão anunciada nesta semana. Dessa forma, encerra-se o ciclo atual de ajuste da política monetária, iniciado em junho de 2021, somando 725 b.p de alta da taxa de juros. No comunicado, o Banxico afirmou que a economia já está em processo de desinflação, mas antecipou um panorama complexo e incerto para a inflação ao longo de todo o horizonte relevante, com riscos altistas em seu cenário base. Houve pouca alteração para o cenário prospectivo, considerando as projeções para inflação geral e núcleo (que exclui os itens mais voláteis na cesta), mantendo-se a convergência para a meta de inflação (de 3%) apenas para o 4º trimestre de 2024. Além disso, o Banco Central reforçou que a atividade econômica doméstica tem mostrado resiliência, com destaque para o mercado de trabalho. Assim, para alcançar uma convergência ordenada e sustentada da inflação para a meta, considera que “será necessário manter a taxa básica de juros no nível atual por um período prolongado”. Na nossa visão, o Banco Central do México deverá manter as taxas de juros inalteradas no restante de 2023 e, portanto, o espaço para cortes deve acontecer apenas no ano que vem.

Na próxima semana

Na agenda doméstica, destaque para a divulgação dos dados de inflação, com a publicação do resultado do IPCA-15 de maio. No cenário internacional, as atenções da semana estarão voltadas para os dados de inflação nos Estados Unidos, com o relatório do PCE de abril. Além disso, conheceremos a ata da última reunião do Fed e as prévias dos índices PMI, já referentes a maio, dos EUA e da Área do Euro.

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