ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

BRASIL: IPCA-15 tem variação de 0,57% em abril

MUNDO: PIB dos EUA avança 0,26% no 1º trimestre de 2023

Eventos da semana

No âmbito internacional, o destaque foi a divulgação da prévia do PIB do 1º trimestre dos Estados Unidos. O resultado mostrou uma taxa de crescimento anualizada de 1,1% em relação ao trimestre anterior, abaixo das expectativas do mercado de 1,9%. Houve redução de estoques pelas empresas e aceleração do consumo na região, o que na nossa visão corrobora o cenário que uma recessão ainda em 2023 no país não deve ocorrer. No Brasil, a semana foi marcada pela divulgação de dados de atividade de fevereiro, dados de mercado de trabalho de março e o IPCA-15 de abril. Dentre aqueles, o destaque foi a forte abertura de vagas de emprego formal reportadas pelo CAGED, com saldo de 195,2 mil vagas, expressivamente superior às expectativas.  Os demais dados foram mistos, mostrando que a desaceleração econômica é lenta e ruidosa. Por último, o IPCA-15 de abril mostrou a continuidade da desaceleração da  inflação, acumulando variação de 4,2% em 12 meses.

O IPCA-15, prévia da inflação mensal, variou 0,57% em abril. O resultado veio abaixo da nossa projeção (0,58%) e da mediana do mercado (0,61%). Com isso, a prévia da inflação atingiu variação acumulada em 12 meses de 4,2%, ante 5,4% em março. A maior variação positiva veio de Transportes (1,44%), em função dos reajustes das passagens de ônibus urbanos em algumas cidades e da alta preço da gasolina (3,47%) e etanol (1,10%), refletindo parcialmente efeitos da reoneração de impostos. Já o grupo com a menor variação na margem foi Alimentação e Bebidas (0,04%), influenciado pela variação negativa de alimentação no domicílio (-0,15%), com destaque para frutas e carnes. Os preços administrados tiveram a maior contribuição para a desaceleração na margem, tendo variado 1,41%, ante 1,90% em março. Por trás desse movimento está o arrefecimento das altas de combustíveis e energia elétrica, contrabalançado parcialmente pelo reajuste autorizado para produtos farmacêuticos. Em relação aos núcleos da inflação, que são métricas que excluem ou suavizam itens voláteis, a média anualizada de três meses com ajuste sazonal registrou elevação de 6,5%, acelerando ante a leitura anterior (5,9%). Já no acumulado em 12 meses, o índice arrefeceu de uma alta de 7,9% para 7,5%, seguindo em nível elevado. Projetamos variação de 6,1% para o IPCA de 2023.

O saldo em conta corrente registrou superávit de US$ 0,3 bi em março, acumulando déficit de 2,66% do PIB em 12 meses . Em março, a balança comercial teve superávit de US$ 9,5 bi em março, ante saldo de US$6 ,1 bi no mesmo período do ano passado, resultado de alta de 12,1% das exportações na comparação interanual e de 0,9% das importações. A conta de serviços registrou déficit de US$ 2,9 bi, ante –US$ 23,3 bi em março de 2022. por conta dos menores déficits nas contas de transportes e viagens internacionais. Em direção contrária, o déficit em renda primária aumentou passou de -US$ 6,0 bi para -US$ 6,4 bi no período.  Por sua vez, investimento direto no país (IDP) registrou um ingresso líquido de US$ 7,7 bi em março, acumulando US$ 89,7 bi em 12 meses (4,57% do PIB). Em linhas gerais, o fluxo de investimento estrangeiro direto no país tem mais do que compensado a piora da conta corrente. Os próximos meses deverão contar com melhora do déficit pela desaceleração mais intensa de importações e menores despesas com serviços em virtude da desaceleração da economia.

O saldo de crédito registrou recuo expressivo das concessões de crédito às famílias e empresas em março. Segundo os dados do Banco Central, a expansão interanual do estoque de crédito total passou de 12,7% para 12,0% entre fevereiro e março. O resultado refletiu tanto a desaceleração interanual do crédito às famílias (de 17,4% para 16,5%) como às empresas (de 6,0% para 5,5%). De acordo com nossos cálculos, houve queda na margem de 2,2% das concessões de crédito para pessoas físicas na série com ajuste sazonal, puxada por cartão de crédito à vista e crédito consignado. No caso das empresas, a desaceleração foi mais acentuada, com queda de 2,6% das concessões de crédito livre na margem. Em relação à inadimplência, apesar de estabilidade do total em 3,3%, houve alta na carteira de recursos livres para das pessoas físicas, 6,1% para 6,2%. Desde junho de 2022, os dados mostram alta de 1,0 p.p. da inadimplência das famílias e de 0,7 p.p. da inadimplência das empresas no crédito livre.  Diante do aperto das condições de crédito e do avanço da inadimplência na carteira de recursos livres, esperamos desaceleração mais intensa dos empréstimos nos próximos meses.

A atividade econômica no primeiro bimestre mostrou resiliência, ainda que os efeitos da política monetária e o aperto adicional no mercado do crédito sustentem nossa expectativa de desaceleração mais pronunciada à frente. Em fevereiro, o volume de vendas do varejo restrito registrou queda de 0,1% na margem, em linha com as expectativas.  Dentre os setores que o compõem, houve recuo generalizado, as com maiores contribuições negativas vindo de tecidos, vestuário e calçados (-6,3%), hiper e supermercados (-0,7%) e outros artigos de uso pessoal e doméstico (-2,0%) – setor que engloba lojas de departamentos, óticas, joalherias, artigos esportivos e brinquedos. O varejo ampliado, por sua vez, registrou alta de 1,7% na margem, com avanço de 1,4% das vendas de veículos, mas queda de 2,0% das vendas de materiais de construção.

Em sentido oposto, o volume total de serviços voltou a crescer em fevereiro, com alta de 1,1% ante janeiro, impulsionado por transportes. Na comparação interanual, houve alta de 5,4%. Analisando a abertura do indicador, nota-se melhora concentrada nos segmentos voltados às empresas, com a maior contribuição positiva veio de serviços de transportes (2,3%), impactado pela alta de serviços auxiliares do transporte e correios e transporte terrestre. A seguir, os serviços de informação e comunicação cresceram 1,6% e a categoria de outros serviços, que inclui serviços financeiros e seguros, exibiu alta de 0,6% no mês. Na direção contrária, serviços profissionais, administrativos e complementares recuaram 1,0%, em linha com o desempenho da indústria no mês. Serviços prestados às famílias, que incluem alojamento e alimentação, caíram 0,7%, chegando ao patamar 3,8% abaixo do nível pré-crise. Nas próximas leituras, esperamos desaceleração do setor por conta do menor crédito disponível e baixo crescimento da renda das famílias.

Repercutindo os indicadores de atividade, o IBC-Br avançou 3,3% na margem em fevereiro. O resultado veio acima das expectativas de mercado, o que pode ser explicado pelo desempenho forte do setor agropecuário no período. Na comparação anual, houve alta de 2,8%. Por trás dessa alta está o crescimento de 1,1% do volume de serviços e de 1,7% das vendas no varejo ampliado no período, parcialmente compensados pela queda de 0,2% da produção industrial. Vale ressaltar que algumas dinâmicas presentes no início deste ano apontam para direções opostas. Se por um lado, a elevada safra agrícola e a substituição ainda em curso de bens para serviços sustentam crescimento ainda elevado, por outro, o aperto do crédito – resultante dos efeitos do aperto da política monetária e da inadimplência em alta – seguirá determinante para a moderação do ritmo de crescimento.

Em março, o mercado de trabalho novamente apresentou sinais mistos. De um lado, o CAGED registrou saldo de 195,2 mil vagas formais, acima das expectativas. Com ajuste sazonal, o saldo na margem foi positivo em 206 mil vagas, após 173 mil em fevereiro, com saldo positivo em todos os setores. Houve desaceleração da geração de vagas no comércio, construção civil e serviços. O maior saldo em fevereiro provém da queda na margem das admissões em ritmo inferior à das demissões. Por outro lado, os dados mensalizados da PNAD Contínua em março trouxeram uma leitura pior da ocupação. De acordo com nossos cálculos, a taxa de desemprego no mês se elevou de 8,1% para 8,5% na série com ajuste sazonal, devido tanto à queda de 0,2% da população ocupada como à alta de 0,3% da força de trabalho no mês. Se mantivéssemos a força de trabalho no nível médio de 2022, a taxa de desemprego estaria em 9,2%. A divergência entre os dados de emprego formal do Caged e da PNAD permaneceu relevante no mês, com a segunda indicando maior perda de tração do emprego formal. Ainda pela métrica mensal, o rendimento médio teve queda de 0,3% em relação a fevereiro em termos reais, passando a se situar 2,3% abaixo do nível pré-crise. Por sua vez, a massa de rendimento habitual real recuou 0,8% no período. Em suma, apesar da divergência verificada em fevereiro, acreditamos que os dados de mercado de trabalho têm sugerido perda de tração do emprego, tendência que deve se intensificar nos próximos meses.

O resultado do setor público consolidado mostrou déficit primário significativamente acima das expectativas. O setor público consolidado exibiu déficit primário de R$14,2 bilhões em março, ante superávit de R$ 4,3 bilhões no mesmo período do ano passado. O resultado ficou bem acima da expectativa de déficit de R$ 1 bilhão. Em termos de composição, o governo central apresentou déficit de R$ 9,7 bilhões, os governos locais apresentaram déficit de R$ 4,6 bilhões, enquanto as empresas estatais foram superavitárias em R$ 154 milhões. Em doze meses, o superávit primário acumulado foi 74,8 bilhões, equivalente a 0,74% do PIB.  Já o resultado nominal, o qual inclui no cálculo os juros nominais, registrou déficit de R$ 79,5 bilhões, evidenciando piora do setor público consolidado no mês, com déficit nominal avançando de 5,6% para 6,1% do PIB entre fevereiro e março. Ademais, a Dívida Bruta do Governo Geral (DBGG), composta por Governo Federal, INSS, e governos estaduais e municipais, atingiu 73,0% do PIB (R$ 7,4 trilhões), avanço de 0,1 p.p. em relação ao mês anterior. Ao longo do ano, a queda das receitas e o avanço das despesas deverão implicar deterioração das contas públicas. Nesse sentido, o resultado do setor público consolidado deverá apresentar déficit de R$ 99 bilhões nesse ano.

No cenário internacional, o desempenho da economia chinesa segue surpreendendo positivamente, com destaque para o consumo das famílias, reflexo da reabertura ocorrida no final do ano passado. Além disso, o crescimento das exportações e a resiliência dos investimentos em infraestrutura também explicam a expansão de 4,5% registrada no primeiro trimestre deste ano. Entendemos que a normalização das atividades, em especial da demanda interna, continuará determinante para a recuperação deste ano, com crescimento do PIB estimado em 5,7%. Mantemos, contudo, a cautela em relação à sustentabilidade dessa retomada, levando em conta as incertezas acerca da melhora do setor imobiliário e ao retorno da confiança das empresas e famílias aos níveis pré-pandemia.

Na Área do Euro, o balanço de riscos segue assimétrico para uma inflação mais elevada e os resultados mais favoráveis da atividade econômica apontam para expansão do PIB de 0,8% em 2023. Mesmo que a inflação ao consumidor venha cedendo nos últimos meses, com elevação de 6,9% em março (ante pico de 10,6% verificado em outubro do ano passado), isso se deve em grande medida à queda dos preços de energia. O núcleo de inflação, entretanto, continua pressionado, chegando a uma alta de 5,7% no mês passado, reflexo dos preços de bens e de alimentos processados, ainda elevados, além da aceleração em curso de serviços, respondendo aos ganhos salariais que avançam na maioria dos países da região. Dessa forma, entendemos que o cenário de inflação demanda mais elevações da taxa de juros, que deve chegar a 3,75% a.a., ao final deste ciclo, em meados de 2023.

PIB dos EUA teve avanço de 0,3% na margem no 1º trimestre, abaixo da expectativa de 0,5%. O principal vetor positivo do avanço foi o consumo das famílias, com crescimento de 0,9%, ante crescimento de 0,3% no trimestre anterior. No que concerne ao investimento, o indicador recuou 3,3%, contando com forte recuo nos estoques. Ainda no investimento, repercutindo o efeito da política monetária restritiva, o investimento residencial recuou 1%, o oitavo trimestre consecutivo de contração.  Já o consumo do governo teve alta de 1,2%, após alta de 0,9% no trimestre anterior. Em linhas gerais, o crescimento abaixo do esperado ocorreu em virtude de fatores pontuais (estoques), ao passo que a principal fonte de crescimento dos EUA que é o consumo das famílias se manteve resiliente. Já o relatório de preços ao consumidor (PCE) sinaliza estabilização da inflação nos EUA em nível elevado. O núcleo da inflação avançou 0,3% na margem em março, mesma variação de fevereiro. Na comparação interanual o indicador desacelerou de 4,7% em fevereiro para 4,6% em março. Em ambas as métricas, o aumento nos preços ficou em linha com as expectativas do mercado, apesar da relativa preservação dos patamares, a medida ainda se situando distante da meta de 2%. Por fim, o índice do custo de emprego (ECI) apresentou surpresa altista, com variação na margem de 1,2% no trimestre, acelerando em relação ao trimestre anterior (1,1%). De modo geral, os dados reforçam a necessidade de continuidade das condições restritivas de política monetária. Nesse sentido, na próxima semana o Fed deverá elevar a taxa de juros em 25 pb para o intervalo entre 5%-5,25%, e manter nesse patamar por pelo menos todo o restante do ano.

Na próxima semana

Na agenda doméstica, destaque para a divulgação da decisão de política monetária do Copom na quarta-feira. No cenário internacional, as atenções da semana estarão voltadas para os Estados Unidos, com a divulgação taxa de juros determinada pelo Fed na quarta-feira e a publicação dos dados de emprego na sexta.

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