ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

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BRASIL: IBC-Br, proxy para atividade econômica, avançou 2,9% em 2022

MUNDO: Persistência da inflação nos EUA reforça que juros seguirão subindo

Eventos da semana

No cenário internacional, o movimento dos principais mercados foi impulsionado pela leitura de que os riscos de recessão da economia mundial vêm se reduzindo, ao mesmo tempo em que a inflação tem se mostrado mais persistente, o que elevou as expectativas para a taxa de juros terminal, especialmente nos países desenvolvidos. Nesse contexto, destaca-se o resultado do índice de preço ao consumidor nos EUA: embora a alta de 0,5% em janeiro não tenha surpreendido as expectativas do mercado, a composição do indicador mostrou uma piora em relação aos últimos meses, principalmente na parte de serviços. Além disso, os investidores globais foram surpreendidos com a forte elevação de 3% das vendas no varejo no EUA no primeiro mês deste ano. Com isso, nos mercados de renda fixa no país, a semana foi marcada pela elevação das taxas futuras de juros. A discussão, portanto, se concentrou na necessidade de o Federal Reserve elevar ainda mais os juros para conter a inflação. Ao mesmo tempo, no Brasil, além dos debates relacionados à política fiscal e monetária, a semana foi marcada pela divulgação dos dados de atividade do Banco Central. O IBC-Br registrou expansão de 0,2% em dezembro, acumulando alta de 2,9% em 2022. Levando em conta esse resultado e os sinais vindos de outros indicadores de comércio, indústria e serviços, projetamos retração de 0,1% na margem do PIB brasileiro no quarto trimestre de 2022, compatível com crescimento de 3,0% no ano passado.

Inflação no atacado deve mostrar moderação nos meses à frente. A inflação medida pelo Índice Geral de Preços (IGP-10) avançou 0,02% em dezembro, acumulando alta de 2,26% em 12 meses. O resultado veio acima da nossa projeção (-0,06%) e da mediana do mercado (-0,12%). O Índice de Preços por Atacado (IPA), que representa 60% do IGP-10, recuou 0,14% no mês, com produtos agropecuários ainda em queda (-0,76%), com destaque para a deflação de produtos pecuários (-1,7%) e trigo (-2,7). Pelo lado dos produtos industriais (0,1%), o principal vetor de alta foi o minério de ferro (3,8%), ainda refletindo a reação do mercado à reabertura da economia chinesa e aos estímulos direcionados ao setor imobiliário. Os demais componentes que formam o IGP-10 aceleraram: o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) subiu 0,55% (ante 0,47%), enquanto o Índice Nacional de Custa da Construção (INCC) avançou 0,33% (ante 0,09%). Para os próximos meses, além da expectativa de estabilização do preço do minério de ferro, esperamos variações mais moderadas dos preços dos produtos agropecuários, diante da perspectiva positiva para a safra brasileira de 2023.

Economia brasileira encerrou o ano passado com crescimento puxado pelo comércio e setor de serviços, conforme apontado pelo IBC-Br. O indicador de atividade do Banco Central registrou alta de 0,29% na margem em dezembro de 2022, revertendo quatro quedas consecutivas. O resultado foi superior às expectativas do mercado (0,1%) e da nossa projeção (0,22%). Na comparação interanual, o indicador avançou 1,4%, encerrando 2022 com crescimento de 2,9%. Na análise do resultado de dezembro, o IBC-Br refletiu as altas das vendas no varejo ampliado (0,4%) e do resultado positivo do setor de serviços (3,1%). Contrabalanceado essas altas, a produção industrial manteve-se estável em dezembro do ano passado. Com isso, mantemos nossa projeção de leve retração de 0,1% do PIB no 4º trimestre de 2022. Assim, o PIB brasileiro deve ter crescido 3,0% em 2022 e para este ano esperamos expansão de 0,8%, impulsionada principalmente pelo setor agrícola. Por outro lado, os efeitos defasados da política monetária contracionista limitam retomada mais forte da atividade neste ano.

A inflação nos EUA apresentou inflação de 0,5% em janeiro, em linha com o esperado. A inflação ao consumidor nos EUA subiu 0,5% em janeiro, em linha com o esperado. O núcleo da inflação, métrica que exclui a inflação com alimentos e energia e recebe mais atenção por parte das autoridades monetárias, avançou 0,4% no mês. Em termos anuais, o CPI total variou 6,3%, enquanto o núcleo do índice teve variação de 5,6%, com alta de 7,2% em serviços e de 1,3% em bens. A composição do indicador mostrou revelou uma persistência esperada da inflação de aluguel, mantendo o ritmo de alta de 0,7% no mês. Excluindo aluguéis, o CPI de serviços apresentou alta de 0,6%, ante média de 0,3% nos últimos três meses. No mesmo sentido de alta, a inflação de bens interrompeu as três últimas leituras deflacionárias, com alta de 0,1% na margem.  Em linhas gerais, apesar do resultado em linha, notamos um processo de desinflação menos intenso em bens e, especialmente, uma maior resistência na inflação de serviços (excluindo aluguéis), métrica que tem recebido maior atenção do Fed.

Em termos de atividade, as vendas no varejo apresentaram forte surpresa positiva em janeiro.  Em termos nominais, as vendas avançaram 3% na margem, ante expectativa de 2% e queda média de 0,4% nos últimos três meses. O núcleo do indicador de vendas (que exclui automóveis, gasolina e materiais de construção) apresentou avanço de 1,7%, após recuo médio de 0,3% nos últimos três meses. Após um final de ano fraco, a forte reversão de janeiro revela resiliência do consumo frente ao aperto das condições financeiras, ainda que parte do movimento possa ser atribuído ao efeito de distorções da sazonalidade. A produção industrial apresentou estabilidade em janeiro, ante recuo de 0,7%. A indústria de transformação avançou 1%, após queda de 1,8% em dezembro. Já utilidade pública, componente volátil e afetado pelo clima,  recuou 10% na margem, comprometendo a leitura do indicador composto. De modo geral, os números mais fortes de inflação e atividade nesse início de ano reduzem a discussão sobre o final do ciclo de aperto de juros pelo Fed no curto prazo, e ganha força o debate sobre quantas altas adicionais além do cenário serão necessárias para garantir a desinflação da economia. Em nosso cenário contemplamos duas altas de 25 p.b, elevando a taxa de juros para 5,25% ao ano.

Perspectivas para a economia chinesa neste ano dependem da evolução do setor imobiliário. Ainda que o fim da política de covid zero, ocorrido no final do ano passado, garanta retomada favorável do consumo das famílias, há muitas incertezas sobre a reação da atividade ligada do setor proprietário residencial, que também tem tido suas políticas aliviadas nos últimos meses. Dessa forma, destaca-se o indicador de preços de imóveis residenciais conhecido nesta semana. Em janeiro, houve leve alta na margem e considerando uma amostra de 70 cidades, observa-se elevação dos preços em 36 dessas, revertendo a tendência dos últimos meses. Ainda, contudo, que esse seja um sinal de retomada do setor, as vendas de imóveis, em janeiro e fevereiro, seguiram fracas, mantendo nossa cautela para a economia do país neste ano, compatível com a expectativa de crescimento do PIB de 5,5%.

Na próxima semana

Na agenda doméstica, teremos o IPCA-15 de fevereiro e a nota do setor externo, referente a janeiro. No cenário internacional, destaque a divulgação da ata do FOMC e as prévias de fevereiro do índice PMI dos EUA e da Área do Euro.

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