ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

BRASIL: Produção industrial recuou em novembro

MUNDO: Nos EUA, mercado de trabalho ainda aquecido

No cenário internacional, destaca-se a divulgação da ata da reunião de política monetária do Banco Central dos Estados Unidos. O documento reforçou o tom de preocupação do comitê de política monetária com os dados de inflação e emprego, ressaltando a necessidade de altas adicionais de juros nas próximas reuniões e a possibilidade de não haver cortes de juros em 2023. Discursos de dirigentes ao longo da semana reafirmaram esse cenário. Além disso, ainda nos Estados Unidos, os dados do mercado de trabalho referente a dezembro também repercutiram sobre o desempenho dos mercados. O relatório de emprego mostrou avanço de 223 mil vagas, acima das expectativas, porém com elevação de salários abaixo do esperado. No Brasil, os destaques ficaram para a divulgação dos dados da produção industrial de novembro e as discussões do novo governo no âmbito fiscal. Para a próxima semana, o resultado do IPCA de dezembro concentrará as atenções locais, definindo a inflação de 2022.

Em novembro, a produção industrial recuou 0,1% na margem. O resultado superou a nossa expectativa e a do mercado. No mês, houve queda da indústria extrativa (1,5% na margem), puxada por minério de ferro e petróleo, e ligeira alta da indústria de transformação, que se situa 1,9% abaixo do nível pré-crise. Dentre as atividades da transformação, as maiores contribuições positivas na margem vieram de alimentos (3,2%,), veículos (4,4%) e bebidas (10,3%). Contrabalançando parcialmente esses efeitos, as maiores contribuições negativas vieram de equipamentos de informática e eletrônicos (-6,5%), produtos têxteis (-5,4%) e vestuário (-3,8%). Dentre as categorias de uso, apenas tiveram recuo os bens de consumo duráveis (-0,4%), puxados por equipamentos de informática. A produção de insumos típicos da construção civil (ITCC) caiu 2,6% na margem e passou a se situar pela primeira vez abaixo do patamar pré-pandemia. Em linha com a tendência do último mês, os dados de novembro não mostram problemas de insumos. O núcleo da indústria de transformação, que expurga setores com problemas de oferta, recuou 0,6% no mês, abaixo do dado cheio. No entanto, o núcleo que expurga setores afetados pelo rebalanceamento entre o consumo de bens e serviços teve alta de 1,4%, sugerindo menor demanda no mês. Em linhas gerais, apesar do resultado  mais positivo, com maior difusão do crescimento entre atividades da transformação, as próximas leituras deverão contar com desaceleração da produção industrial refletindo a menor demanda.

A inflação medida pelo Índice Geral de Preços (IGP-DI) registrou alta de 0,31% em dezembro, encerrando o ano com alta de 5,03%. O resultado veio abaixo da nossa projeção (0,39%) e da mediana do mercado (0,44%). No ano, o índice acumulou alta de 5,00%. O Índice de Preços por Atacado (IPA), que representa 60% do IGP-DI, avançou 0,32% no mês, com produtos agropecuários ainda apresentando recuo (-0,31%), com destaque para a queda de 2,08% da soja e 5,25% em leite in natura. Pelo lado dos produtos industriais (0,58%), o principal vetor de alta foi o minério de ferro (16,75%), em virtude das políticas de reabertura da economia chinesa, como o estímulo ao setor imobiliário. Os demais componentes que formam o IGP-DI desaceleraram: o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) subiu 0,35% (ante 0,57%) e o Índice Nacional de Custa da Construção (INCC) avançou 0,09% (ante 0,36%). Para os próximos meses, além da expectativa de estabilização do preço do minério de ferro, existe um risco de pressão altista gerada pela depreciação do real em relação ao dólar observada nos últimos dias.

Nos EUA, a ata da reunião de dezembro — na qual o Fed elevou a taxa de juros para o intervalo entre 4,25% e 4,5% a.a. — revelou visão consensual a respeito da dinâmica pressionada de inflação e preocupação com o afrouxamento prematuro das condições financeiras. O mercado de trabalho, na visão do comitê, permanece muito forte, mesmo frente ao processo de elevação de juros. Sobre a inflação, os membros mantêm a visão de um patamar inaceitavelmente alto, embora reconheçam que as pressões de curto prazo apresentam algum arrefecimento com a queda dos preços de commodities e melhora da condições de oferta de bens. Ainda assim, os riscos de alta prevalecem para a inflação. A respeito da evolução da atividade, a expectativa é de crescimento abaixo do potencial, com viés de baixa em relação ao cenário base. Sobre o ciclo de aperto monetário, os membros avaliam o risco como simétrico, de um lado a possibilidade de tornar a inflação alta mais persistente ao realizar um ciclo abaixo do requerido, de outro a possibilidade de subestimar a defasagem do impacto do aperto monetário sobre a atividade, impondo perdas para a atividade acima do necessário para desinflar a economia. Em resumo, a ata do FOMC reforça o cenário de continuidade da alta de juros no ritmo de 50 pb na reunião de fevereiro.  Em nosso cenário, acreditamos no encerramento do ciclo de alta de juros em março, com uma alta de 25 pb, levando a taxa terminal para o intervalo entre 5% e 5,25% a.a.

Os EUA registraram criação líquida de 223 mil vagas de emprego em dezembro. O resultado ficou acima da expectativa do mercado de 203 mil vagas. Na média dos últimos três meses, o mercado de trabalho dos EUA criou 247 mil vagas. Entre os setores, destaque para a geração de 28 mil novas vagas no setor de construção (ante 15 mil em novembro) e 67 mil vagas no setor de lazer (ante 79 mil). A taxa de desemprego recuou de 3,6% para 3,5%, composta por um forte avanço da ocupação, que superou o aumento no número de pessoas à procura de emprego (a taxa de participação subiu de 62,2% para 62,3%). Os salários apresentaram surpresa baixista, com alta de 0,3% na margem, abaixo da expectativa de mercado de 0,4%. Na comparação anual, os salários desaceleraram de uma elevação de 4,8% em novembro para outra de 4,6% em dezembro. Em linhas gerais, o mercado de trabalho segue resiliente, compatível com a avalição do Fed de que as condições emprego continuam robustas.

Economia global mostrou discreta melhora da indústria e estabilidade do setor de serviços no final do ano passado, conforme sinalizado pelo resultado do índice PMI mundial. O indicador avançou de 48,0 para 48,2 pontos entre novembro e dezembro, com destaque para a alta do setor manufatureiro (de 47,8 para 48,5) e manutenção de serviços (em 48,1 pontos). Olhando à frente, a sinalização vinda do componente de novas ordens ainda é de continuidade da desaceleração do crescimento, em linha com a expectativa de expansão mais moderada do PIB global neste ano. Além disso, os preços – tanto de insumos como bens finais – manteve a trajetória de alívio, indicando que a desinflação de bens ainda deve ser observada nos índices de inflação nos meses seguintes. Por fim, considerando a passagem de novembro para dezembro, destacamos o desempenho dos EUA (recuo de 49,0 para 48,4 e de 56,5 para 49,6 pontos, para manufatura e serviços, respectivamente, e levando em conta o resultado do ISM), da Área do Euro (com alta de 48,8 para 49,3 pontos, refletindo a redução dos riscos de desabastecimento de energia) e da China (com queda de 47,1 para 42,6 pontos, em função do fim da política de Covid zero que levou ao aumento expressivo de casos de Covid e consequente piora da mobilidade).

Alívio da inflação na Área do Euro em dezembro não altera expectativa de continuidade do ciclo de aperto da política monetária. O índice de preços ao consumidor avançou 9,2% em dezembro na comparação interanual ante expectativa de elevação de 9,5%, desacelerando em relação à alta de 10,1% registrada em novembro. Na margem, houve queda de 0,3%. A despeito dessa surpresa baixista explicada principalmente por energia, há incertezas de como virão reajustes das tarifas de energia no início deste ano, o que pode voltar a pressionar o índice cheio. Além disso, o resultado do núcleo da inflação superou o esperado, ao subir 5,2% na comparação com dezembro do ano passado, mantendo a tendência de aceleração dos últimos meses. Levando em conta isso e os sinais de que a recessão na região será mais moderada do que o esperado meses atrás, acreditamos que o Banco Central Europeu seguirá com um tom mais duro de controle da inflação, reforçando que a taxa de juros precisa ir para o campo restritivo, mesmo que haja sinais de algum alívio da inflação. Acreditamos que os juros chegarão a 3,25% a.a. na primeira metade deste ano e os riscos ainda são de que a taxa terminal pode ser mais elevada.

Na próxima semana

Na agenda doméstica, destaque para a divulgação do IPCA de dezembro, na terça-feira, e dos dados de comércio e serviços, ao longo da semana. Além disso, atenção a possíveis anúncios de medidas fiscais. Na agenda internacional, teremos o dado de inflação nos EUA e a divulgação dos números de inflação, crédito e balança comercial da China, referentes a dezembro.

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