ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

BRASIL: PIB do 3º trimestre registrou alta de 0,4% na comparação trimestral

MUNDO: Nos EUA, mercado de trabalho registra criação de vagas acima do esperado

No mercado internacional, o destaque ficou para a divulgação dos dados de mercado de trabalho nos Estados Unidos que surpreenderam positivamente, em especial a reaceleração dos salários em 12 meses, o que deve reforçar o cenário de continuidade do aperto monetário pelo Fed. Na Europa, o índice de preços preliminar de inflação de novembro mostrou variação  abaixo do esperada pelo mercado, apresentando recuo de 0,1% em relação a outubro. No acumulado de 12 meses, a inflação alcançou 10,0%. Além disso, outro fator importante para os mercados nessa semana foi a expressiva alta do minério de ferro no mercado global. Depois de semanas oscilando na faixa dos US$ 80 ou pouco mais de US$ 90 a tonelada, os preços do minério de ferro voltaram ao nível de US$ 100 no mercado à vista no final do mês de novembro. No Brasil, o destaque dessa semana ficou para a divulgação dos dados do PIB do 3o trimestre de 2022,. O resultado da alta de 0,4% na comparação trimestral mostrou-se abaixo das expectativas, mas a abertura revela maior crescimento de serviços e do consumo das famílias. Este resultado ainda foi influenciado por demanda reprimida de serviços presenciais, sancionada pela maior renda disponível. Para a próxima semana, o foco do mercado estará na reunião de política monetária do Banco Central.

O PIB do 3º trimestre registrou alta de 0,4% na comparação com o trimestre anterior. O resultado veio abaixo da nossa projeção (0,5%) e da expectativa mediana do mercado (0,6%). Com este resultado, o PIB passou a se situar 4,5% acima do nível pré-crise. Na comparação trimestral, pela ótica da oferta, houve crescimento de dois grandes setores. O maior destaque foi o setor de serviços, com maiores contribuições positivas de outros serviços (1,4%), setor que contempla alojamento, alimentação, educação e saúde privadas e foi beneficiado pelos estímulos de renda – e administração pública (1,1%), beneficiado pelo retorno completo de serviços presenciais. No setor, a única contribuição negativa veio de comércio (-0,1%), afetado pelo processo de substituição do consumo entre bens e serviços. Outra contribuição positiva foi proveniente da indústria, com maiores destaques da construção civil (1,1%) e da indústria de transformação (0,1%). Por sua vez, a agropecuária teve recuo de 0,9% na margem, puxada por cana-de-açúcar e mandioca, segundo o IBGE. Pela ótica da demanda, o maior destaque foi o consumo das famílias (1,0%), seguido pelo surpreendente desempenho da formação bruta de capital fixo (2,8%), impactada pela construção civil e pelo desenvolvimento de softwares, segundo o IBGE. O desempenho líquido do setor externo foi negativo, com alta de exportações (3,6%) menor do que de importações (5,8%).

A abertura do PIB confirmou o maior consumo de bens e serviços pelas famílias. Esse movimento foi beneficiado pela demanda reprimida de serviços presenciais e sancionado por uma renda disponível maior, mesmo com disponibilidade de crédito menor. Na nossa visão, o último trimestre do ano deverá mostrar queda acentuada da atividade, devido aos efeitos do aperto monetário e ao esgotamento de medidas pontuais sobre a renda das famílias. No entanto, com a revisão da série histórica, nossa projeção de crescimento anual foi revisada para 3% em 2022.

Em outubro, a produção industrial avançou 0,3% na margem. O resultado veio em linha com as expectativas do mercado. A alta refletiu o crescimento da indústria extrativa (0,6% na margem), puxada por minério de ferro e petróleo, e estabilidade da indústria de transformação, que se situa 2,1% abaixo do nível pré-crise. Dentre as atividades da transformação, as maiores contribuições positivas vieram de produtos alimentícios (4,8%) e metalurgia (4,6%). Contrabalançando parcialmente esses efeitos, as maiores contribuições negativas vieram de veículos (-6,7%), máquinas e equipamentos (-9,1%) e bebidas (-9,3%). A produção de bens de capital teve queda de 4,1% no mês influenciada por máquinas e equipamentos, embora ainda se situe 11,2% acima do nível pré-crise. A produção de insumos típicos da construção civil (ITCC) teve alta de 0,4% na margem e passou a se situar 1,3% acima do patamar pré-crise. Em linha com a tendência do último mês, os dados de outubro não mostram problemas de insumos. O núcleo da indústria de transformação que expurga setores com problemas de oferta recuou 0,3% no mês, abaixo do dado cheio. Da mesma forma, o núcleo que expurga setores afetados pelo rebalanceamento do consumo de bens e serviços teve queda de 0,1% no mês e não traz evidências de problemas na demanda. Em linhas gerais, apesar do resultado positivo, a leitura desse mês contou com o fraco desempenho do índice de difusão para a indústria de transformação. Na nossa visão, as próximas leituras deverão contar com desaceleração da produção industrial por conta da menor demanda.

Em relação ao mercado de trabalho, os dados de outubro seguiram apontando evolução favorável, mas a população ocupada começa a dar primeiros sinais de reversão. A taxa de desemprego medida pela PNAD recuou para 8,3% no trimestre encerrado em outubro. Na série com ajuste sazonal, a taxa recuou de 8,7% para 8,5%. A menor taxa de desemprego na margem pode ser atribuída ao recuo de 0,4% da força de trabalho, dado que a população ocupada teve queda de 0,2%. Vale destacar que por trás da queda da população ocupada, há a queda de trabalhadores informais (-1,0% na margem), puxada por trabalhadores por conta-própria sem CNPJ e trabalhadores domésticos. Ao mesmo tempo, houve elevação de trabalhadores formais (0,3%), com maior influência de empregados no setor privado com carteira assinada. Dentre os setores de atividade, as maiores contribuições negativas para a variação do número de ocupados vieram do comércio (-1,0%) e alojamento e alimentação (-2,7%). O rendimento médio real habitual subiu 1,3% na margem em outubro. Com isso, a massa de rendimento real teve alta de 0,8% no mês.

Em linha com a desaceleração do emprego, o Caged registrou a criação líquida de 159,5 mil vagas de emprego formal em outubro, desapontando as expectativas do mercado. Na série com ajuste sazonal, o saldo foi positivo em 137 mil postos de trabalho, após 186 em setembro, 194 mil em agosto e 176 mil em julho. Por trás da desaceleração do saldo está a menor geração de vagas no comércio (20 mil, ante 33 mil em setembro), construção (5 mil, ante 16 mil) e indústria de transformação (0, ante 11,4 mil). O menor saldo de outubro é explicado pela alta na margem de admissões (2,3%) em ritmo inferior ao de demissões (5,3%). Em suma, os dados do mês de outubro sinalizam um mercado de trabalho ainda forte, mas com sinais de reversão da tendência de geração de empregos.

O crescimento interanual do saldo de crédito desacelerou de 16,4% em setembro para 15,8% em outubro. Segundo os dados do Banco Central, o resultado refletiu o menor crescimento de crédito às empresas (de 11,5% para 10,4% na comparação anual), embora o crédito às famílias também tenha apresentado ligeiro recuo (de 20,1% para 19,7% YoY), atribuído em grande parte pela desaceleração de crédito pessoal não consignado e cartão de crédito à vista. Com isso, o saldo de crédito total alcançou 54,9% do PIB em outubro. No caso das concessões, houve alta na margem de 3,0% da média diária das concessões de crédito livre para pessoas físicas com ajuste sazonal, que passaram a se situar 24% acima do patamar pré-crise e foram puxadas por cartão de crédito à vista e crédito consignado. No caso das empresas, houve queda de 1,3% das concessões de crédito livre na mesma base de comparação (21,4% acima do pré-crise), com maior contribuição de desconto de duplicatas, mas alta das concessões de crédito direcionado. Em resumo, a despeito da elevação dos juros, as concessões de crédito às famílias avançaram no mês, mas com expansão concentrada em modalidades emergenciais e para renegociação de dívidas. Com o ciclo de aperto monetário já se refletindo nas taxas de juros de empréstimos com recursos livres, esperamos desaceleração mais intensa das concessões de crédito nos próximos meses.

Por fim, o setor público consolidado apresentou superávit primário de R$ 27,1 bilhões em outubro de 2022, ante superávit de R$ 35,4 bilhões em outubro de 2021. O resultado veio em linha com a expectativa mediana do mercado. Na composição do indicador, o governo central e as empresas estatais apresentaram superávit de R$ 30, 2 bilhões e R$ 711 milhões, respectivamente. Os governos regionais foram deficitários em R$ 3,9 bilhões. Em 12 meses, o superávit primário acumulado foi equivalente a 1,8% do PIB, enquanto o resultado nominal, que inclui o cálculo dos juros, foi deficitário em R$ 400,1 bilhões (4,2% do PIB). A dívida bruta do governo geral atingiu R$ 7,3 trilhões, equivalente a 76,8% do PIB, com redução de 0,3 p.p. em relação ao mês anterior. Em relação a dívida líquida do setor público, o resultado atingiu 58,3% do PIB, cerca de R$ 5,5 trilhões. Para o ano, avaliamos que o resultado primário encerrará com superávit de R$ 151 bilhões. Para a dívida bruta projetamos 74,3% do PIB.

Os EUA registraram criação líquida de 263 mil vagas de emprego em novembro. O resultado ficou acima da expectativa do mercado de 200 mil vagas. Na média dos últimos três meses, o mercado de trabalho dos EUA criou 272 mil vagas. Entre os setores, destaque para a geração de 20 mil novas vagas no setor de construção (ante 9 mil em outubro) e 88 mil vagas no setor de lazer (ante 60 mil). Contrabalançando parcialmente as altas, houve diminuição de vagas nos setores de varejo (-30 mil) pelo terceiro mês consecutivo, e transportes (-15 mil) com destruição de vagas pelo quarto mês consecutivo. A taxa de desemprego se manteve em 3,7% no mês, composta por uma queda no número de pessoas ocupadas que foi compensada pelo recuo no número de pessoas à procura de emprego (a taxa de participação cedeu de 62,2% para 62,1%). A respeito dos salários, também houve surpresa altista, com alta de 0,6% na margem, acima da expectativa de mercado de 0,3%. Na comparação anual, os salários aceleraram de 4,9% em outubro para 5,1% em novembro. Em linhas gerais, o mercado de trabalho segue resiliente, compatível com a avalição do Fed de que as condições emprego continuam robustas. Nesse sentido, embora o Fed deva desacelerar o ritmo de alta de juros de 75 pb para 50 pb em dezembro, no nosso cenário ciclo de alta deverá ser encerrado em março, quando a taxa de juros 5,25%.

Na Zona do Euro, a inflação ao consumidor apresentou seu primeiro ponto de inflexão desde o início da pandemia. No resultado prévio de novembro, quando comparado com o mesmo período do ano passado, o índice de preços ao consumidor desacelerou, passando de uma alta de 10,6% em outubro para outra de 10,0% em novembro. Esse resultado foi influenciado principalmente pelos preços de energia, que recuaram de 41,5% para 34,9%, na mesma base de comparação. Merece atenção o resultado do núcleo de inflação, métrica que exclui alimentos e combustíveis, que permaneceu estável na margem, com elevação de 5,0% na comparação anual. Reforçando essa tendência de descompressão dos preços de energia, o índice de preços ao produtor recuou 2,9% na passagem de setembro para outubro, chegando a uma elevação de 30,8% na comparação com mesmo período do ano passado (o que representa importante alívio ante a alta de 41,9% do mês anterior). Com base na inflação já observada e no arrefecimento já indicado dos preços no atacado, esperamos alívio gradual da inflação nos trimestres à frente. Diante disso, acreditamos que o Banco Central Europeu anunciará na semana que vem uma alta da taxa de juros de 50 pb, reduzindo o ritmo das reuniões anteriores (quando tinha subido 75 pb).

Economia chinesa desacelerou de forma espraiada em novembro, com a retomada das medidas de restrição. O índice PMI da Indústria recuou de 49,2 para 48,0 pontos entre outubro e novembro, enquanto o indicador que engloba serviços e construção civil caiu de 48,7 para 46,7 pontos no mesmo período. Ambos os indicadores permaneceram em território contracionista (abaixo de 50 pontos), frustrando as expectativas de mercado. Com esse resultado, o índice Composto passou de 49,0 para 47,1 pontos, sugerindo que o PIB do quarto trimestre pode ser mais fraco do que o esperado anteriormente. O que esses resultados reforçam é que a mobilidade recuou bastante ao longo do mês passado, diante do aumento de casos de Covid-19, mesmo com alguma flexibilização das medidas restritivas de controle da pandemia. Na nossa visão, gradualmente, a China vem reabrindo a economia, mas esse processo deve levar alguns meses, com bastante volatilidade, dado que os casos precisam estabilizar e a vacinação avançar bastante e, no curto prazo, a economia segue fragilizada. Projetamos crescimento de 3,3% e 4,5% para 2022 e 2023, respectivamente.

Na próxima semana

Na agenda doméstica, destaque para a decisão da taxa de juros pelo Copom na quarta-feira e para a divulgação do IPCA de novembro na sexta-feira. No cenário internacional, destaque para a divulgação resultado do PIB do terceiro trimestre da Zona do Euro e dos dados de inflação ao consumidor e produtor da China, na quarta e quinta-feira, respectivamente.

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