ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

BRASIL: IPCA tem alta de 0,59% em outubro, acumulando 6,47% em 12 meses

MUNDO: Inflação ao consumidor nos EUA exibiu desaceleração de núcleos

No âmbito externo, as atenções dos mercados nesta semana se voltaram para a divulgação do dado de inflação dos EUA, que mostrou variação abaixo do esperado (7,7% ante expectativa de 7,9% na comparação anual). A leitura reforçou a possiblidade de passo menor pelo Fed, ainda que mantenha a necessidade de aperto (afinal, a inflação continua pressionada) e não mude nossa visão de que a autoridade deva encerrar o ciclo em 5,00%. No cenário doméstico, as atenções se dividiram entre a divulgação dos dados de inflação e atividade e as medidas fiscais sinalizadas pelo governo eleito, que geraram volatilidade acima da usual nos preços dos principais ativos. A inflação medida pelo IPCA teve variação na margem de 0,59% (alta de 6,5% em doze meses), acima do esperado. O volume de serviços e as vendas no varejo também surpreenderam positivamente, inserindo viés de alta para o resultado do PIB do 3º trimestre. O comportamento do mercado local foi em direção contrária à melhora dos ativos globais nesta semana: o Ibovespa recuou 5,1%, ao passo que o S&P 500 subiu 5,1%, e a taxa de câmbio desvalorizou 5,2%, enquanto o índice DXY (que mede o dólar em relação a uma cesta de moedas) recuou 1,5%.

A inflação medida pelo IPCA registrou alta de 0,59% em outubro, acumulando 6,47% em 12 meses. O resultado ficou acima da nossa projeção (0,47%) e da mediana do mercado (0,49%). A principal contribuição altista ficou por conta de Vestuário, com avanço de 1,22%, enquanto a maior contribuição baixista veio do grupo de Comunicação, com recuo de -0,48%. Alimentação no Domicílio (0,80% na margem) registrou forte aceleração, ante deflação (-0,86%) no mês anterior. A inflação do conjunto de serviços registrou leve desaceleração, com variação acumulada em 12 meses passando de 8,50% em setembro para 8,11% em outubro. O recuo ainda apresentou contribuição da queda de preços em serviços de telecomunicação, devido à redução tributária. O alívio de serviços também pode ser observado em uma métrica mais restrita, que exclui itens mais voláteis, como o conjunto de Serviços Subjacentes, que apresentou desaceleração de 9,53% pra 9,19%. Em relação aos bens industrializados (10,73% em doze meses acumulado), seguimos com tendência de leve desaceleração puxada por bens duráveis (9,65% ante 11,08% em setembro na mesma base de comparação). Enquanto semiduráveis, como vestuário, continua em patamar elevado, com variação acumulada de 16,19%. Os núcleos de inflação, que são métricas que excluem ou suavizam a variação de preços de itens voláteis, continuam bastante pressionados. A média dos núcleos dessazonalizados passou de 0,41% para 0,46% neste mês. Em 12 meses, o indicador atingiu elevação de 9,58%.

Os sinais de inflexão já perduram por algumas leituras, embora ainda sejam de magnitude pequena. A principal expectativa segue de desaceleração em bens semiduráveis, principalmente vestuário, que apesar de apresentar preços mais acomodados na indústria, ainda não refletiu nos preços ao consumidor. Além disso, o núcleo de serviços subjacentes já parece ter atingido seu pico, iniciando um processo de desaceleração da variação acumulada em 12 meses. A velocidade e o momento desses dois movimentos serão cruciais para que tenhamos mais conforto em projeções para 2023 dentro das bandas da meta de inflação do Banco Central. Nossa projeção de IPCA para 2022 e 2023 é de 6,0% e 5,2%, respectivamente.

Em setembro, o volume total de serviços avançou 0,9% na margem. Na comparação anual, a variação foi de 9,7%, acima de nossa projeção (8,4%) e da mediana das expectativas de mercado (8,2%). Com isso, o volume total de serviços passou a se situar 11,9% acima do nível pré-crise. Três dos cinco grandes setores subiram na margem. A maior contribuição positiva veio de serviços de informação e comunicação (2,0%), puxados por telecomunicações e tecnologia da informação, passando a se situar 15,5% acima do nível pré-crise. A seguir, os serviços prestados às famílias tiveram alta de 1,0% na margem em setembro. Apesar do crescimento, o setor, que abrange alojamento e alimentação, é o único que ainda não se recuperou ao nível anterior à pandemia (ainda se situa 3,8% abaixo). A maior contribuição negativa veio de serviços de transporte (-0,1% na margem), puxados por transporte terrestre, sobretudo de cargas, em linha com o fraco desempenho da indústria em setembro. Por fim, outros serviços (que contemplam, dentre outros, serviços financeiros e seguros) recuaram 0,3%, embora ainda se encontrem 4,4% acima do nível pré-crise. Em termos de carrego trimestral, a média do terceiro trimestre representa alta de 3,2% em relação à média do segundo trimestre de 2022. Em linhas gerais, a leitura mostrou desempenho acima do esperado, ainda que concentrado em poucas modalidades. Os serviços às famílias têm sido beneficiados pelo rebalanceamento entre o consumo de bens de serviços e ainda há espaço para crescimento. No entanto, com base no que apontam os dados de alta frequência, a atividade do setor de serviços deve desacelerar nas próximas leituras.

Ainda em relação à atividade, as vendas no varejo no conceito restrito registraram expansão de 1,1% na margem em setembro. O resultado veio acima de nossa projeção (0,5%) e da expectativa mediana de mercado (0,3%). As maiores contribuições positivas vieram de bens essenciais, refletindo a alta de recursos às famílias com o maior valor recebido de auxílio emergencial. As vendas de hiper, supermercados e produtos alimentícios (1,2% na margem) foram as mais beneficiadas, seguidas por combustíveis e lubrificantes (3,6%), que foram influenciados adicionalmente pela queda de preços no mês. Também foram beneficiadas as vendas de tecidos, vestuário e calçados (0,7%), embora ainda se situem 18% abaixo do pré-crise, e artigos farmacêuticos (0,6%). Por sua vez, as contribuições negativas vieram de outros artigos de uso pessoal e doméstico (-1,0%), setor que engloba lojas de departamentos, óticas, joalherias, artigos esportivos e brinquedos, e móveis e eletrodomésticos (-0,1%). O comércio ampliado, que inclui vendas de automóveis e material de construção, também registrou alta de 1,5% na margem e 1,0% na comparação anual. Houve recuo de 0,1% das vendas de veículos na margem (destoando dos dados da Fenabrave), mas estabilidade das vendas de materiais de construção. Com esse resultado, o volume de vendas no varejo ampliado está 1,3% abaixo do nível pré-crise. Em termos de desempenho trimestral, a média do terceiro trimestre do comércio ampliado representa queda de 1,2% em relação à média do segundo trimestre. Em linhas gerais, o resultado do comércio restrito foi melhor que o esperado. Nesse sentido, os estímulos fiscais, iniciados em agosto, parecem ter passado a se refletir nesse mês em maior consumo de bens essenciais. Para as próximas leituras, a tendência é de desaceleração das vendas no varejo, por conta tanto do processo de substituição entre o consumo de bens e serviços como pelo menor volume de crédito às famílias.

A inflação nos EUA trouxe surpresa baixista em outubro, mas ainda permanece em patamar elevado. No mês, a inflação ao consumidor (CPI) variou 0,4% na comparação mensal, abaixo da expectativa de mercado (0,7%). Já o núcleo da inflação, métrica que exclui a inflação com alimentos e energia e recebe mais atenção por parte das autoridades monetárias, avançou 0,3% no mês, ante expectativa de alta de 0,5%. Entre as principais pressões, destaque no mês para os preços de energia que avançaram 1,8% no mês, ante deflação de 2,1% em setembro. A inflação de aluguéis, que corresponde a um terço do CPI, avançou 0,8% na margem e 6,9% na comparação anual. Em termos anuais, o índice cheio variou 7,8%, enquanto o núcleo teve variação de 6,3%, com alta de 6,8% em serviços e de 5,1% em bens. Em linhas gerais, o quadro inflacionário continua pressionado, mas, na margem, deve-se reconhecer a tendência de desaceleração em bens, o que deve favorecer o cenário de redução do ritmo de alta de juros pelo Fed de 75 pb nas quatro últimas reuniões para 50 pb em dezembro.

Por fim, na China, a deflação no atacado reforça a tendência de desinflação no mundo. A inflação ao produtor segue sinalizando descompressão dos preços globais, mantendo a tendência dos últimos meses, passando de uma alta de 9,1% no começo do ano para deflação de 1,3% no mês passado, na comparação interanual. Somado a isso, refletindo principalmente o fraco desempenho da economia chinesa e o alívio dos preços de alimentos, o índice de preços ao consumidor desacelerou de uma alta de 2,8% em setembro para outra de 2,1% em outubro, considerando a variação ante mesmo mês do ano anterior, ficando abaixo do consenso das projeções. O núcleo da inflação (que exclui os itens mais voláteis da amostra) apresenta trajetória estável, subindo 0,6% no mês. Em linhas gerais, essa desaceleração da inflação ao produtor reflete a normalização dos gargalos de oferta e a queda dos preços das commodities, em linha com alívio de preços de bens no mundo. Pelo lado do consumidor, com a demanda interna ainda continua fraca, não enxergamos pressão dos preços. Dessa forma, a desaceleração da atividade segue como o principal objetivo para a política econômica do país.

Na próxima semana

Na agenda doméstica, destaque para a divulgação do IBC-Br de setembro. No cenário internacional, destaque para a divulgação dos dados de atividade na China na segunda-feira e dos EUA na quarta-feira.

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