NOSSA VISÃO CREDITO E MERCADO

Nossa Visão – 03/08/2020

Retrospectiva

Os ativos de risco fecharam a semana influenciados por uma agenda recheada, com a divulgação de indicadores de atividade em diversos países que proporcionaram uma forte volatilidade entre as sessões. Junto a tudo isso, a expansão de novos casos do “coronavírus”, especialmente nos EUA, segue fazendo vítimas e ameaçando a economia global. A esperança está no desenvolvimento de uma vacina que seja segura e eficaz. Há mais de 150 vacinas em desenvolvimento, sendo que 24 delas estão em fase de testes clínicos. No Brasil está sendo testada aquela considerada pela Organização Mundial da Saúde – OMS como a mais avançada, desenvolvida pela Universidade Oxford, no Reino Unido.
Nos EUA, ocorreu a reunião do comitê de política monetária do FED, o banco central americano. Em decisão unânime, seus membros decidiram pela manutenção das taxas de juros próximas de zero até 0,25%. No comunicado pós-reunião, o colegiado manifestou desejo de manter o juro nessa faixa até entender que a economia resistiu aos eventos recentes e de que está no caminho de cumprir seus objetivos de emprego pleno e estabilidade nos preços.
Em termos de emprego, dados recentes indicam que o mercado de trabalho norte-americano deu uma estagnada. O número de pedidos do auxílio-desemprego aumentou inesperadamente pela segunda semana consecutiva, após quatro semanas de queda. Foram 1,4 milhão de novos pedidos, elevando o total desde o início dos reflexos da pandemia a 54,1 milhões de pedidos.
Ainda por lá, foi divulgado pelo Departamento do Trabalho que o PIB sofreu uma contração recorde de -32,9% anualizados no segundo trimestre. Apenas como referência, no primeiro trimestre, o tombo havia ficado em -5,0%.
Na região do euro, também houve a divulgação do PIB em diversos países. Na Alemanha, o PIB do segundo trimestre encolheu -10,1%, aprofundando o processo recessivo do país. Na França, a queda foi de -13,8%, na Espanha contração de -18,5%, enquanto na Itália a queda foi de -12,4%. Na zona do euro como um todo, o encolhimento foi de -12,1%.
Por outro lado, dados da China indicam que a economia se recupera do tombo provocado pela paralisação das atividades por lá. O PMI industrial chinês de julho subiu para 51,1 pontos, mostrando expansão da atividade, enquanto o lucro das grandes indústrias cresceu 11,5% anualizado em junho, no ritmo mais forte em mais de um ano.
Para os mercados de ações internacionais, a semana foi de movimentos mistos. Enquanto o Dax, índice da bolsa alemã, recuou -4,69%, e o FTSE-100, da bolsa inglesa, desvalorizou -3,59%, o índice SP 500, da bolsa norte-americana, subiu 1,73% e o Nikkei 225, da bolsa japonesa, caiu -4,58%.
Por aqui, destaque para a divulgação da pesquisa semanal da Pnad contínua Covid (Pnad Covid), divulgada pelo IBGE, da semana entre 05 e 11 de julho. A taxa de desocupação ficou em 13,1%, acima tanto dos 12,3% registrados na semana anterior quanto dos 10,5% da primeira semana de maio – primeira semana de referência da nova pesquisa do IBGE, realizada por telefone devido à dificuldade dos pesquisadores irem a campo em razão do distanciamento social. Eram 12,2 milhões de desempregados, indicando que 2,4 milhões de trabalhadores passaram ao desemprego desde a primeira semana de maio. A população ocupada ficou em 81,1 milhões de pessoas, confirmando as quedas registradas nas duas últimas semanas. Na semana anterior, a população ocupada era de 81,8 milhões de trabalhadores. A comparação com a população ocupada na primeira semana de maio sinaliza para o fechamento de 2,8 milhão de vagas nesse período.
No campo político, destaque para os debates em torno da reforma tributária proposta pelo planalto. O plano do Ministério da Economia inclui a criação de uma “nova CPMF”, porém os discursos desencontrados dificultam o trâmite no Congresso. Pelo discurso das lideranças na Câmara e Senado, a reação promete ser intensa.
Para a bolsa brasileira a semana foi de leve alta, apesar da intensa volatilidade. O Ibovespa encerrou a semana com avanço de 0,52%, aos 102.912 pontos, acumulando valorização de 8,27% no mês, e desvalorização de -11,01% no ano. O dólar comercial encerrou a sessão de sexta-feira cotado a R$ 5,219 para a venda. Na semana, a moeda avançou 0,22% frente ao real, enquanto no ano acumula alta de 30,04%. Já o IMA-B Total encerrou a semana avançando 1,16%, enquanto no mês acumula alta de 4,39% e no ano valorização de 2,65%. Em 12 meses a valorização é de 8,10%.

Relatório Focus

No Relatório Focus revelado hoje, os economistas que militam no mercado financeiro ajustaram as estimativas para a inflação deste ano, ainda em meio à economia doméstica fragilizada. O documento revela que a expectativa, na mediana das projeções, para o IPCA deste ano foi reduzida pela segunda semana seguida, para 1,63%, ante projeção de 1,67% uma semana atrás. Um mês atrás a previsão para o IPCA deste ano era de 1,63%. O resultado continua distante da meta de inflação fixada pelo CMN para este ano, de 4,00%. Para 2021, o mercado financeiro manteve pela sétima semana seguida a expectativa de que a inflação encerre o ano em 3,00%. Em 2021, a meta central de inflação é de 3,75% e será oficialmente cumprida se o índice oscilar de 2,25% a 5,25%.
Para a Selic, o mercado manteve pela quinta semana consecutiva a estimativa de que a taxa encerre o ano em 2,00% ao ano. O número projeta um novo corte da Selic na próxima reunião do Copom, o que implicaria em uma redução de 0,25 ponto percentual frente ao atual patamar. Para o encerramento de 2021, a previsão para a taxa Selic foi mantida em 3,00% pela sétima semana consecutiva.
Entre os economistas que mais acertam as previsões, reunidos no chamado “top 5”, as estimativas para a taxa Selic ao final do ano foram mantidas em 1,88% na mediana das coletas. Para 2021 as apostas são de que a taxa Selic encerre o ano em 2,25% na mediana das coletas.
Os analistas do mercado financeiro voltaram a reduzir a expectativa de contração da economia brasileira medida pelo PIB. O mercado estima que o PIB brasileiro encolha -5,66% neste ano, ante expectativa de -5,77% uma semana atrás. Há quatro semanas, a estimativa era de queda de -6,50%. Para 2021, o mercado financeiro manteve a previsão de expansão do PIB pela décima semana consecutiva em 3,50%. Em junho, o Bacen atualizou, por meio do Relatório Trimestral de Inflação (RTI), sua projeção para o PIB em 2020, de variação zero para retração de -6,4%.
O documento mostrou que a projeção dos economistas para o câmbio ao final de 2020 foi mantida em R$ 5,20 pela sétima semana seguida. Para 2021, a projeção para o câmbio foi mantida novamente em R$ 5,00. Um mês atrás a projeção para o câmbio era de R$ 5,00.
Para o Investimento Estrangeiro Direto, caracterizado pelo interesse duradouro do investimento na economia, o mercado manteve a projeção de queda no ingresso de recursos de fora do país neste ano. A mediana das previsões para 2020 é de um ingresso de US$ 53,75 bilhões, ante previsão de US$ 53,95 na semana anterior, enquanto que para 2021 a expectativa foi elevada para US$ 65,96, ante previsão de US$ 64,10 bilhões na semana anterior. Há quatro semanas, a estimativa era de ingressos da ordem de US$ 55,00 bilhões e US$ 70,00 bilhões, respectivamente.

Perspectiva

Os mercados de risco iniciam a semana no azul, com a divulgação de uma série de indicadores de atividade positivos na região do euro e na China. Ainda no “front” externo, a expectativa é de que a nova expansão da pandemia no Hemisfério Norte será suavizada diante das medidas que vem sendo adotadas pelos países e, portanto, não será tão drástica quanto no primeiro movimento de contágios, levando a economia global a uma recuperação gradativa. China e EUA lideram essa recuperação da produção, e o Brasil, como celeiro de produtos primários, tende a se aproveitar desse momento exportando matéria prima, com o dólar valorizado frente ao real ajudando.
Enquanto isso, o Congresso dos EUA permanece discutindo a extensão de um pacote de ajuda econômica, que incluiria a retomada ou substituição do auxilio extra de US$ 600 no seguro desemprego, que expirou no fim de julho.
Na agenda da semana, destaque para a divulgação do relatório de emprego norte-americano de julho, conhecido como “payroll”. A estimativa é para a divulgação da criação de 1,5 milhão de postos de trabalho, indicando que a recuperação americana continua, apesar do ritmo lento.
Por aqui, destaque para a decisão do Copom sobre política monetária, e a aposta majoritária é de que o colegiado irá cortar a Selic possivelmente em 0,25%, levando a taxa para o patamar de 2,00%, e uma parada para sentir os efeitos da política monetária sobre a recuperação da economia.
Ainda no calendário, os investidores estarão atentos para a divulgação da produção industrial de junho, que deve seguir mostrando recuperação após a alta de 7% em maio, além da divulgação do IPCA, medida oficial de inflação do País.
No campo da política, o planalto deu aval para que o Ministro da Economia, Paulo Guedes, discuta com o Congresso sobre a criação de um novo imposto, nos moldes da antiga “CPMF”, alertando que não se trata de mais imposto, mas sim de substituição tributária.
Mantemos nossa recomendação de adotar cautela nos investimentos e acompanhamento diário dos mercados e estratégias. Mantemos a sugestão para que os recursos necessários para fazer frente às despesas correntes sejam resgatados dos investimentos menos voláteis (CDI, IRF-M1, IDkA IPCA 2A). Os demais recursos mantenham-os em “quarentena” esperando um melhor momento para realocar. Tomar decisões precipitadas enseja realizar uma perda decorrente da desvalorização dos investimentos sem possibilidades de recuperação na retomada dos mercados. Para aqueles que enxergam uma oportunidade de investir recursos a preços mais baratos, municie-se das informações necessárias para subsidiar a tomada da decisão.

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