Enfoque Macro – Bradesco Asset

ENFOQUE MACRO SEMANAL
11 de outubro de 2024

BRASIL:  IPCA registrou alta próxima à expectativa em setembro

MUNDO: Inflação nos EUA surpreendeu desfavoravelmente

EVENTOS DA SEMANA

No ambiente global, o mercado concentrou suas atenções nos dados de inflação nos EUA e nas medidas de estímulo anunciadas pelo governo chinês. A inflação ao consumidor teve variação acima da esperada em setembro, reforçando o cenário de mais cautela por parte do Fed em suas próximas decisões. Diante da solidez do relatório de emprego divulgado na última semana e dos sinais de estabilização no cenário de desinflação, o mercado reforçou a visão de redução do ritmo de corte de juros pelo Fed de 50 pb em setembro para 25 pb na reunião de novembro. Na China, a semana iniciou com mais uma rodada de anúncios para estimular a demanda doméstica. A falta de detalhamento das medidas, no entanto, acabou frustrando a expectativa dos agentes ao longo da semana, implicando recuo de aproximadamente 10% das ações em relação ao pico alcançado nesse ciclo recente de recuperação do mercado acionário do país. Diante do ambiente de incerteza elevada, avaliamos que o governo chinês será cauteloso em entregar um pacote capaz de reverter o ceticismo em relação ao crescimento chinês no médio prazo. No Brasil, o foco esteve voltado para os números de inflação e atividade. Em relação ao resultado da inflação de setembro, apesar do número ligeiramente abaixo do esperado, a composição do IPCA se mostrou um pouco pior, em especial a alta dos preços dos alimentos. Na atividade, os números de agosto de comércio e serviços indicaram um quadro de acomodação no final do terceiro trimestre. Além da percepção do Fed menos agressivo no corte de juros, as discussões sobre novos estímulos fiscais internamente também pressionaram a curva de juros local.

Inflação avançou 0,44% em setembro. O resultado do IPCA veio abaixo da projeção mediana do mercado (0,46%), após deflação de 0,02% em agosto. A principal contribuição para a aceleração do índice partiu do grupo de Habitação (1,80%), em decorrência do aumento em energia elétrica residencial pela mudança de bandeira tarifária no mês (vermelha patamar 1). A seguir, também contribui para o maior índice no mês o grupo Alimentação e bebidas (0,50%), puxada sobretudo por carnes (2,97%) e leite e derivados (1,00%). Por fim, destacaram-se o avanço de passagens aéreas (4,64%) e higiene pessoal (0,56%). Em relação às principais métricas observadas pelo Banco Central, houve resultados mistos. Os serviços subjacentes avançaram 4,7% na média móvel de três meses com ajuste sazonal anualizada, ante 5,4% na leitura de agosto, e os bens duráveis passaram de 3,3% para 3,2%, embora a média dos cinco núcleos acompanhados pelo Banco Central tenha passado de 4,6% para 4,9% na mesma métrica. De forma geral, o diagnóstico do processo inflacionário indica que preços de serviços seguem em patamar acima do compatível com o cumprimento da meta de inflação, em adição à maior pressão advinda de preços de alimentos e possibilidade de elevação do núcleo de bens nos próximos meses por conta da desvalorização cambial.

Vendas no varejo recuaram em agosto, embora sigam mostrando tendência positiva. De acordo com os dados do IBGE, as vendas no varejo tiveram queda de 0,3% no mês, resultado em linha com nossa expectativa. Dentre os setores, apenas artigos farmacêuticos avançaram na margem em agosto (1,3%). A principal contribuição negativa veio do setor de outros artigos de uso pessoal e doméstico (-3,9%), que engloba lojas de departamentos, óticas, joalherias, artigos esportivos, brinquedos, entre outros, seguido por móveis e eletrodomésticos (-1,6%). Por sua vez, o varejo ampliado, que adiciona ao índice veículos, material de construção e atacarejo, registrou queda de 0,8% na margem em agosto, causada principalmente pelo negativo das vendas resultado de veículos, motos, partes e peças (-5,2%). Ainda assim, na média de 3 meses, o comércio continua registrando tendência positiva, com crescimento gerado sobretudo por setores relacionados a crédito. Em termos de carrego, a média de julho e agosto do varejo ampliado representa crescimento de 0,1% em relação à média do 2T24.

O volume de serviços prestados teve queda em agosto, embora o segmento de serviços às famílias siga em aceleração. Conforme os dados do IBGE, o volume total de serviços prestados registrou queda de 0,4%, frustrando as expectativas do mercado de avanço de 0,2%. Dos cinco setores acompanhados pela pesquisa, dois apresentaram recuo, com a principal contribuição negativa partindo de serviços de informação e comunicação (-1,0%), seguidos por transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio (-0,4%), influenciados por transporte aéreo e serviços de armazenagem e correio. No entanto, serviços prestados às famílias tiveram avanço de 0,8% em agosto, influenciados tanto por alojamento e alimentação como por outros serviços. Em termos de carrego, a média de julho e agosto do volume de serviços representa alta de 0,8% em relação ao 2º trimestre. Em suma, apesar do resultado negativo no mês, a tendência do setor de serviços segue positiva, o que corrobora nossa expectativa de crescimento do PIB no 3º trimestre no ano.

Inflação nos EUA teve surpresa altista em setembro. O índice de preços ao consumidor (CPI) teve alta de 0,18% no mês, acima da projeção do mercado (0,1%). Na comparação interanual, o indicador apresentou alta de 2,6%, ante avanço de 2,5% em agosto. O núcleo da inflação, métrica mais relevante para o Fed, passou de 0,28% para 0,31% na margem, resultado também superior ao esperado (0,2%). Na comparação em 12 meses, o núcleo da inflação avançou de 3,2% para 3,4% entre agosto e setembro. O número de agosto também apresentou piora nos indicadores qualitativos, com avanço da inflação de serviços (excluindo aluguéis). Em linhas gerais, os últimos três meses revelam um processo de desinflação com sinais de estagnação, indicando uma inflação variando entre 2,5% e 3% nas mais diversas métricas. O CPI deverá reforçar o tom de cautela pelo Fed, que já sinalizou que deverá reduzir o ritmo do corte de juros de 50 pb para 25 pb.

Ata do Fed revelou o debate acerca do início do ciclo do corte de juros em setembro. No documento, apesar de reconhecerem que a inflação segue relativamente elevada, os membros expressaram confiança de que o processo desinflacionário está convergindo à meta de 2%. Os participantes também observaram a expansão sólida da economia, mas destacaram o arrefecimento da criação de vagas, implicando o aumento da taxa de desemprego. Diante do progresso na redução das pressões inflacionárias, a maioria do FOMC entendeu que os riscos para os objetivos de inflação e de emprego estavam mais balanceados, o que tornaria apropriado afrouxar a política monetária, levando-a para um patamar mais próximo do neutro, caso os dados venham de acordo com o esperado. O documento mostrou que o debate sobre o início do ciclo do corte entre 50 pb e 25 pb foi mais intenso do que a decisão em si revelou (apenas um membro votante votou por corte de 25 pb). Embora alguns membros tenham dito que havia plausibilidade em uma redução de 25 pb, dado o quadro de inflação e atividade econômica exigirem cautela, o temor preponderante foi de uma desaceleração mais intensa do mercado de trabalho, o que determinou o corte de 50 pb.

NA PRÓXIMA SEMANA

Na agenda doméstica, destaque para a divulgação do IBC-Br de agosto. No exterior, as atenções se voltam para dados de atividade dos EUA, para a decisão de política monetária na Área do Euro e para os resultados de atividade da economia chinesa, em especial o PIB do 3º trimestre.

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